segunda-feira, 28 de novembro de 2011

ZÉ LIMEIRA, O POETA DO ABSURDO

Paisagem dos Cariris Paraibanos

Conforme falei um dia desses, aqui na coluna, durante o ano de 2001, produzi e apresentei, através da Rádio Pacoland FM 106.1 MHZ, uma rádio comunitária/cultural, dois programas com a duração de uma hora cada, em dias alternados. 

O primeiro, dedicado à música pernambucana, chamava-se “PERNAMBUCO MUSICAL”; o outro, dedicado à música pop brasileira e internacional, era o  “POP 60. 

Tenho gravados todos esses Programas e vou trazer aqui pra vocês alguns deles. 

Como o de hoje, em que fiz um pequeno apanhado a respeito do folclórico cantador sertanejo Zé Limeira, retratado pelo escritor e poeta paraibano Orlando Tejo, cuja livro “Zé Limeira, o Poeta do Absurdo”, tornou-se rapidamente um sucesso, por estas bandas nordestinas. 

O áudio é um pouco longo, eu sei, (cerca de 9 minutos) mas o assunto é bem interessante e vale a pena ser ouvido.


sábado, 26 de novembro de 2011

O CARDÁPIO DOS MONTEIROS

bolo de rolo
Boas mesmo eram as comidas que a gente fazia ou inventava.

Oriunda de Palmares, a família tinha lá seus quitutes consagrados nos livros de receita de Vovó Anna e Dindinha, que passavam pelas mãos das filhas e netas e até hoje são conservadas e, principalmente, apreciadas pelas novas gerações.


Vovó Anna e Dindinha eram peritas em doçaria: ninguém ganhava de Dindinha nos doces em caldas e compotas, devidamente acondicionados em compoteiras de cristal e oferecidas, com carinho, às visitas e principalmente aos netos.

Lembro-me, de água na boca, dos doces que eu gostava mais... todos: banana cortadinha em rodelas muito finas, com uma calda em que sempre havia uns cravos da índia para dar aquele sabor especial; batata doce, numa pasta deliciosa e macia; goiaba em calda, inesquecível; compota de doce de jaca, então, nem me fale...

Vovó Anna
Vovó Anna cuidava mais dos bolos.  E como! A gente ficava pedindo bis, quando ela nos servia seu famoso bolo de rolo. Propositalmente, não por economia, ela, na sua santa paciência, cortava umas fatias de bolo tão fininhas que a gente dizia logo:
-Vovó Anna, meu bolo tá transparente.. dá pra ver a senhora do outro lado !

A velhinha ria gostoso e nos repetia a dose. Agora, bom mesmo eram seus pastéis de nata. Ah, meu Deus, que delícia ! derretiam na boca e eram lindos de se ver: douradinhos na cobertura e com uma massa fina e macia, no ponto mesmo.

Também, pudera ! Ambas criadas em engenho de cana, conheciam os segredos dos doces pernambucanos e portugueses como ninguém. Vovó Anna, então, tinha um livro de receitas todo manuscrito, numa letra caprichada num português que às vezes eu nem entendia, tão cheio de enes, tês e erres dobrados, mais umas medidas estranhas, como libras de qualquer coisa, pitada disso ou daquilo, pontos enigmáticos, enfim, uma cabala gastronômica que, somente pelo seu mistério, nos atraía.

Dindinha (Maria Felipa)
Quando ela e Dedé de juntavam na cozinha, a meninada corria atrás. Primeiro, para saber que gostosura iria sair daquela reunião; segundo para lamber os alguidares em que sempre restava um pouco daquela massa doce e untuosa que iria ser transformada, pouco tempo de forno depois, num bolo maravilhoso, num pão-de-ló do outro mundo, num pastel de nata dos anjos celestiais.

Mas, havia uma certa ordem na hora da esperada "lambida do alguidar", e ninguém ficava chupando dedo... Vovó Anna e Dedé distribuiam, com justiça, a vasilha de barro pela fila de "lambões”, formada num canto da cozinha.

Com isso tudo, era natural que a gente procurasse imitar essas fadas dos sabores e quem levava mais jeito eram as meninas, claro... eu, de mestre cuca, até hoje, só aprendi a fazer duas comidas tipicamente "monteiro da cruz": arremate de feijão e mingau de cachorro. E continuo viciado nesses dois pratos.

O arremate era simplesmente caldo de feijão já pronto, em que a gente acrescentava um pouquinho, quase nada, de farinha de mandioca e uma porção de coentro picadinho, mais um tiquinho de manteiga. Ficava uma delícia ! O mingau de cachorro, ou pirão de ovo, também não tem mistério, tanto que até eu aprendi a fazer: alho, tomate, cebola, coentro e cebolinha picados, um pouquinho de molho de pimenta, água e sal, uma colher e meia de farinha de mandioca e, depois de mexida essa sopinha rala, um ovo quebrado em cima, só para ficar mal-cozido mesmo. Depois, mais uma colherzinha de manteiga, de preferência a de garrafa, e só.

Com as meninas ficavam os "cozinhados", feitos nos batizados de boneca, numa trempe armada no fundo do quintal, tudo feito em suas panelinhas de barro, que Mãezinha comprava na feira de Casa Amarela.

Havia, ainda, os lanches de última hora: churrasco de pão com manteiga, com um pão espetado no garfo, que era torrado diretamente na boca do fogão; sanduíche de pão com bolacha cream-cracker (esse foi invenção de Paizinho); pão quentinho (logo que chegava da padaria) com manteiga e açúcar; e outras maluquices mais que a gente inventava, somente pra enrolar a barriga antes do almoço ou do jantar e voltar depressa às nossas eternas brincadeiras.

(do meu livro de crônicas "Caçador de Lagartixas", Recife, 2008, ed. Livro Rápido)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O RELÓGIO DO MEU BISAVÔ E O ARTESÃO DAS HORAS

The Ansonia Clock Co. - New York - 1870
Não cheguei a conhecer meu bisavô, o cidadão português Joaquim Monteiro da Cruz, que chegou ao Recife nos idos de 1860, e que comprou um Engenho de cana em Palmares, chamado Barra do Dia.   Meu avô Casimiro, nascido por volta de 1894, herdou a propriedade e lá nasceu meu pai Frederico, em 1917.

Tudo isso e o quanto mais aconteceu até hoje, foi assistido por um ancião, que agora conta quase 122 anos de idade.

Seu corpo é de mogno escuro, seu coração é de bronze polido como ouro. Seu cérebro são engrenagens precisas e sua garganta emite badaladas ritmadas de meia em meia hora.

Ouço a sua voz desde que me entendo por gente.

O Ansonia Queen Elizabeth
Ele tem nome e sobrenome:   É um “Ansonia Queen Elizabeth”.  Nasceu em 1890, na maior fábrica de relógios do mundo então conhecido, a Ansonia Clock Co. Veio de New York para o Recife de navio a vapor, naturalmente, como todos os seus irmãos gêmeos da mesma época. E daqui foi para o Engenho Barra do Dia, marcar o ritmo de vida dos meus ancestrais.

Um dia, início de setembro de 2003, seu coração parou, sua garganta/serpentina de aço calou.

Meu pai havia sofrido uma queda, o que lhe impediu de andar durante seis anos e meio, até sua morte aos 93 anos, em 2010.

Sem corda, o único alimento de que precisava, o relógio ficou longos 8 anos estático e mudo.

Até que, mês passado, resolvi que ele deveria voltar aos seus bons dias de confiável marcador do tempo.

Levei-o a um especialista. Waldecy, é o nome dele. Um artesão das horas. 

E hoje meus ouvidos se encantam quando o relógio bate novamente –solene como todo ancião- suas horas e meias-horas. Do mesmo jeito e com o mesmo som que embalou minhas noites de insônia, quando eu o ouvia, acordado, na minha cama de menino, depois rapaz e homem feito, no meio da noite ou da madrugada.

Meu amigo “Ansonia Queen Elizabeth” me foi confiado pela família. Tenho muito orgulho de ser seu guardião. E de certa forma, de guardar também as memórias de Bivô Joaquim, de Vovô Casimiro, do meu pai Frederico e de todos os irmãos.

Aqui, a entrevista com o Waldecy, que cuida de "pacientes" de todas as idades e origens. Louvado seja o Artesão das Horas que trouxe vida ao nosso relógio !

terça-feira, 22 de novembro de 2011

BONECAS "SORRISO DE MARIA"


Há uma tradição na nossa família bem interessante.

Desde minha avó Maria Anna, suas filhas e netas têm dedicado um pouco do tempo disponível ao voluntariado.

E tanto Vovó Anna quanto Maria, minha mãe, fizeram muito enxovais para doação às crianças de creches e orfanatos, normalmente no final do ano, mas muitas vezes durante o ano também, para os necessitados mais próximos, no bairro.


Com o falecimento de minha mãe, ano passado, Dulce, uma das minhas irmãs mais novas, mobilizou toda a turma de irmãs e sobrinhas, para engajar-se num Projeto que ela chamou “Sorriso de Maria”.

Trata-se de manufaturar bonecas em tecido alcochoado,  para presentear às menininhas durante o ano, principalmente no Dia das Crianças e no Natal.





As bonecas são doadas para distribuição a  entidades assistenciais a que temos acesso, até pelo exercício de voluntariado através delas.


Assim é que neste ano de 2011 Dulce vai completar até o Natal a doação de cerca de 600 bonequinhas.




Conversando com ela, ontem, resolvi postar aqui no Blog este texto, visando difundir a idéia entre outras famílias que tenham um pouco de tempo (e a habilidade artesanal necessária, a fim de manter a qualidade do produto) para levar ao maior número de pessoas possível, o prazer de um sorriso, a visão da alegria estampada no rosto de uma menininha a abraçar sua boneca e a amenizar suas carências materiais.


A carga de Amor enviada ao próximo numa atitude assim, volta renovada e ampliada para nós, quando agimos nesse sentido.

Nas fotos, detalhes do trabalho de minhas irmãs e sobrinhas e do lindo produto final.

As pessoas que necessitarem dos moldes e instruções para confecção das bonequinhas, bem como do tipo e padrão dos tecidos e demais materiais, podem enviar email para o Blog neste endereço: fredcrux@gmail.com


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

MINIBIOGRAFIAS DOS TÁRTAROS (DJILSON)


DJ, de Djanira, ILSON, de Nilson.
Esquisito, o nome?  Nada. Interessante demais.
Um dia, descobri o restante da charada, nos irmãos restantes.
Son-Dja; Dja-Lson; Nil-Dja;   legal, né?
Cariocas.
De um tempo em que ser carioca era uma das coisas mais admiradas do Brasil.
Bom humor e picardia, alegria e molejo.




Pareciam estrangeiros de um país distante, onde todo mundo só sabia rir e bem-viver.
Só poderia ter sido baterista, claro !
Conversava com os tambores, acariciava os pratos, brincava com as baquetas.
Piadas para toda hora. Até de velório, se tivesse sido o caso.
Mas, na hora do trabalho, transmutava-se.
Responsabilidade na medida certa.  Consciência de que a base do Conjunto, o rítmo, estava em suas mãos e pés.  Perfeccionista ao extremo, detalhava os mínimos compassos.
Tão profissional, que o seu pai, o saudoso Comandante Beirão, da Panair do Brasil, sugeriu-lhe contribuir para a Previdência Social.  Nós, ainda meio-amadores, achávamos o máximo.

sábado, 19 de novembro de 2011

FREVANÇA, RECIFREVO, festivais..




O atual Festival de Música Carnavalesca da Prefeitura, hoje realizado a portas fechadas, perdeu muito do seu brilho e do clima dos antigo festivais.  Quando estes eram patrocinados pela TV Globo, com o nome de Frevança, ou pela TV Jornal, com o nome de Recifrevo, mobilizavam os recifenses, que lotavam os auditórios, desde as primeiras eliminatórias até a finalíssima, sempre realizada em Praça Pública.  Isso fazia com que o público comparecesse em massa, torcidas fossem organizadas, com faixas, aplausos, dança e canto em plena rua.  Um clima festivo, enfim, como exige a ocasião e o nome do certame.

Faz muito tempo que não mais participo desse Festival.  À época do Recifrevo, fui 3 vezes finalista, obtendo dois segundos lugares, com frevos-canção e um primeiro lugar, com maracatu.  A premiação era simbólica e me foi entregue um ano e meio depois. Hoje, é bem substancial,  em contraste com um público cada vez menor, infelizmente.  Talvez até pela péssima divulgação e pela praticamente inexistente motivação. Trago aqui uma amostra da animação reinante no Pátio do Carmo, quando da apresentação –em 1996- do meu frevo “Pimenta no Pé”, cantado por Ivanildo Silva, com a Orquestra do Maestro Duda.  Bons tempos de fartura de alegria espontânea, em que o outrora gordinho Ivanildo Silva se esbaldava no frevo e no passo. Confiram no vídeo.

E aqui, um áudio com a gravação do mesmo frevo por Claudionor Germano, com Orquestra de Edson Rodrigues.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

PRAIAS DE ALAGOAS

Mirante da Sereia
Tronco na praia - Mundaú


Alagoas tem seus problemas?   Tem.. 
Pena que no Brasil todo o quadro seja o mesmo, guardadas as proporções dos Estados, dos seus políticos e do tamanho dos seus Cofres.  Beleza x Corrupção.  Uma luta eterna entre o Bem e o Mal, entre o Belo e o Feio.














Mas Alagoas tem belezas?  Muito mais do que se imagina.   Disso eu não tenho dúvida.
As praias ainda selvagens, o mar azul-turquesa, areias alvíssimas, sol o ano inteiro..

Piscinas Naturais em Maceió- Restaurante aquático
O que mais se precisa para ser feliz, para sentir orgulho de ter nascido lá?
Não vou me estender neste texto.  Não precisa.  Deixo que estas fotos falem por mim.  Um passeio pela orla de Maceió, Mirante da Sereia, Praia do Carro Quebrado, Lagoa do Mundaú, Praia de Porto de Pedras.

Maria-farinha em Carro Quebrado
Que me perdoem os amigos sulistas, nesse verão que sofrem, com chuvas e toda espécie de problema decorrente delas.   Usem e abusem da beleza de Alagoas.  O ano inteiro.

Remando no seco - Carro Quebrado

terça-feira, 15 de novembro de 2011

COISAS DE IRMÃOS – A MESINHA DE CANTO & OUTRAS ..

Meu mano mais velho, Jaime, é um figuraço.
Puxou ao Tio Mauro, tremendo gozador, que gostava de fazer umas brincadeiras bem humoradas e com uma boa dose de ironia.
Jaime nunca perde a oportunidade para uma boa brincadeira. 
Quando minhas irmãs começavam um namoro, na primeira ocasião para se manifestar, lá estava Jaime com uma presepada.
Como no dia em que botou uma toalha de mesa na cabeça, segurou um vaso de flores por cima e ficou acocorado perto das cadeiras onde sabia que minha irmã Ana Maria e o cunhado Paulino iriam sentar para conversar.  Quando chegaram e viram aquela figura mal-disfarçada no canto do terraço, Ana logo reclamou: 
- Que palhaçada é essa ?  Quem está aí?
E  Jaime, com uma voz de falsete: 
- Eu sou uma mesinha... Eu sou uma mesinha... podem namorar à vontade...Risos gerais, claro !
  
***
Já casado, minha cunhada Elena tinha acabado de tirar carta de motorista, e ia feliz dirigindo pela BR-101, à altura de Igarassu.  Percebendo de longe uma blitz da Polícia Rodoviária, Jaime pede para Elena lhe entregar a direção. Dá rapidamente a volta pela frente do carro e assume o volante.  Logo adiante, naturalmente, são parados pelo guarda que tudo viu.
O guarda pede a documentação de Elena.   Ela atende prontamente, com a carteira nova, agora inaugurada.
O guarda desapontado pede a documentação de Jaime. Ele apresenta, sorridente. 
O guarda sem ter mais o que perguntar, ataca: 
- O senhor tem alguma arma  no carro?
E Jaime, rápido na resposta:
 - Tenho dois 38..  Quentes !
E aponta para o par de sapatos nos pés.
O guarda disfarçou o riso e saiu de perto, com medo, na certa, de outra gozação.

*****
 
Mais uma de Jaime.
Eu estava cortando a grama no jardim da minha casa em Aldeia e ele, que mora numa granja lá perto, vai me visitar, acompanhado do seu caseiro Edmilson.
Quando me vê suado, empurrando o cortador manual, pesadão, pergunta:
- Mano, você deve estar com um monte de calos nas mãos,  né?
Eu, orgulhoso, mostro as mãos, realmente calejadas.
E Jaime, sério, me diz:
- Eu também trabalhei um bocado ontem na Granja. Também estou cheio de calos ...
E, mais sério ainda, dirigindo-se ao Edmilson:
- Edmilson, mostre aí pra Fred como minhas mãos estão calejadas ! 
Edmilson, aprendiz de gozador, meio sem jeito, estica as mãos abertas e espalmadas num riso amarelo.  E Jaime vai ao delírio !  Eu, tossindo de tanto rir...

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A LÓGICA DOS VELHINHOS

O Maestro Lafayette, decano da música olindense, co-autor do Hino de Fernando de Noronha, tinha umas tiradas muito bem humoradas.

Segundo relato de sua neta Junita, odontóloga e também musicista ele, já bem velhinho, passado dos 90, costumava ficar assistindo às novelas com sua esposa Donzinha.

Sempre muito apegados, dividiam suas lembranças, nas horas fartas da velhice, conversando sobre amenidades e revivendo o passado.

Uma certa noite, passando pelos dois, a neta Junita ouviu o seguinte diálogo:
-Donzinha, você pode me trazer um copo d’água?
 -Vou buscar, meu velho.. e vou trazer um para mim também...
E saiu em busca da água.  Voltou, entregou  o copo ao Maestro e sentou  ao lado dele.

 E o Maestro, puxando um envelope de comprimidos do bolso do pijama:
- Donzinha, eu vou tomar uma Cibalena **.  Você quer uma também?
- Quero meu velho. Me dê uma dessas..

Vai Junita até a sua avó e diz:
-Vovó, você não deve tomar remédio assim não. Pode lhe fazer mal.

Responde Donzinha:
- Mas minha filha, ele me deu com tanto carinho que  eu já tomei. E outro dia,  tomei também  um Beserol** e um Vagostesil**.

> > > > > > > >
                                              
Isso me fez lembrar uma história de Capiba, que ele gravou em depoimento do Museu da Imagem e do Som.

Tinha deixado de fumar e um belo dia, passando por um “fiteiro” (para os que não conhecem o termo, bem pernambucano, fiteiro é uma barraca para vender cigarros, balas, canetas, miudezas em geral).   

Parou e pediu ao comerciante um maço de cigarros.  Atendido, abre o maço e sai pitando o seu cigarrinho.  Logo encontra um conhecido que lhe pergunta:
- O que é isso, Capiba?  Voltou a fumar?

Responde o Mestre:
- Eu passo todo dia por aquele fiteiro e o dono está sempre arrumando uma fileira de maços de cigarros com tanto cuidado.   Tudo tão arrumadinho, tão colorido. Fiquei com pena dele e comprei um maço...e já que comprei, vou fumar !

Vá entender a lógica dos velhinhos !

**  Para os mais moços: Cibalena, Beserol e Vagostesil eram remédios muito populares para dor de cabeça, estômago e calmante, respectivamente.

sábado, 12 de novembro de 2011

CUBA LIBRE

A igrejinha do Poço

Moro em Casa Forte há quase 60 anos.  Cheguei aqui com sete.   Pois lhes asseguro: não há, no Recife, lugar tão aconchegante, onde a gente se sinta tão à vontade com a vida, como Casa Forte.  Mesmo depois de tanto progresso, debaixo de tantos problemas de crescimento, o bairro ainda conserva e transmite uma paz colonial, como um afago de mãe-preta, nas noites frias de julho.
E  desse clima “Os Tártaros” aprenderam a gostar, quando aqui estiveram várias vezes, em 1966, trazidos por mim e pela turma do Bairro.
Na época, éramos muito organizados.  Digo éramos, referindo-me à turma do Bairro: participei, com outros amigos e vizinhos, da fundação e das primeiras diretorias do Clube Ícaro de Casa Forte.
O Ícaro desenvolveu muitas atividades na área da cultura e do lazer, direcionadas à juventude daqui, a exemplo de teatro, cinema, shows e bailes (os chamados “assustados”.)
Fazíamos montagens de pequenas peças, no palco da sede do Rotary Clube, onde também projetávamos filmes de arte, em geral conseguidos gratuitamente nos Consulados e Embaixadas sediados no Recife.  Promovemos, também, um excelente show musical no Colégio da Sagrada Família cuja atração principal foi, logicamente... Os Tártaros.
O primeiro dos dois bailes que o conjunto fez em Casa Forte foi na casa do Sítio dos Donino, no Chacon, já próximo ao Rio Capibaribe.
Era também, diga-se de passagem, um dos primeiros bailes que os Tártaros tocavam, profissionalmente.   A responsabilidade do momento chegava a ofuscar parte do orgulho dos cinco (principalmente o meu) de estarem se apresentando em “casa alheia”, alvo das atenções de todos.
Show no Sagrada Família
Para quebrar o gelo, antes do início da festa, os organizadores nos ofereceram uma bebidas, à moda da época: cuba libre, ou seja, rum com coca-cola.  Não deu muito certo, não... A turma, que era abstêmia, desacostumada com o calor do rum, foi ficando de mão pesada e dentro de umas duas horas não havia instrumento em condições de ser tocado.  As guitarras de cordas quebradas, a bateria com as peles rasgadas, os amplificadores chiando e roncando, um desastre...
O resto do baile foi, então, à base da chamada “radiola”, com Renato e Seus Blue Caps, Roberto Carlos, Wanderléa e The Pops, embalando a madrugada.
Dia seguinte, na casa do Zé Araújo, meio ressacados, prometemos solenemente nunca mais beber em serviço.  Promessa cumprida.  Realmente, as poucas cervejas  que tomamos juntos, daí por diante, foram servidas nas refeições que sempre fazíamos ao final de cada festa.
Casario no Poço da Panela


quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O CARNAVAL DOS TEIMOSOS




Pouca gente se lembra deles, na hora da Folia.  
Talvez porque o luxo ali não exista, permanecendo apenas a alegria de botar na rua a sua “brincadeira”. 
Pode ser um bumba-meu-boi, com suas catirinas, emas, burras-calus, morto-carregando-o-vivo, mateus e bastiões, cavalos-marinhos, caiporas, la ursa, caçador e até o dr. Pinico Branco. 
As fantasias são muito simples.  Chita, papelão, penas da galinha que um dia serviu de almoço. 
Crianças, adultos e idosos não se distinguem na rua.  
A música é rudimentar, monocórdia. 
Mas o que lhes importa é esquecer as agruras da vida monótona e sofrida. 
E brincar, beber, dançar, cantar.  Só isso.  
Tão pouco para eles, tanto para a manutenção da nossa cultura rica e diversa.  
Que eles nunca deixem de nos transportar aos seu Reino Mágico da Alegria e da Simplicidade.  
Olhemos por nossos Brincantes...Oremos...

domingo, 6 de novembro de 2011

PROGRAMA PERNAMBUCO MUSICAL

Ozi dos Palmares

    Durante alguns meses produzi e apresentei numa Rádio FM Comunitária, a FM 106.1 dois Programas que tinham por objetivo divulgar a Música Pernambucana e a Música Pop internacional.  
    Pernambuco Musical, o primeiro, era dedicado à música regional, em todas as suas vertentes, seus artistas e suas histórias; assim também POP 60, que relembrava os artistas pernambucanos em especial e os brasileiros em geral que fizeram sucesso no Rádio e TV, na época da chamada Jovem Guarda, movimento musical que veio na esteira do Pop Internacional representado pelos Beatles e Rolling Stones e uma miríade de grupos espalhados pelos cinco continentes, uma revolução musical e de costumes sem precedentes. 
    A partir de hoje e de vez em quando, vou trazer aqui para este espaço o áudio de partes desses programas,  que tinham a duração de uma hora inteira de música e entrevistas, sem intervalos comerciais. 
    Começo com um programa “Pernambuco Musical” em que entrevistei o compositor-cantor palmarense OZI dos Palmares.  Como todo palmarense, um inovador, um malassombrado.   Cardeal da ICAS, a Igreja Católica Apostólica Sertaneja, uma criação do também palmarense, escritor Berto Filho, Ozi é radicado em São Paulo e de lá sempre está nos mantendo informados do seu trabalho grandioso em prol da nossa música.

Ouçam e se deliciem com a apresentação da “Saga de Lampião”, música e letra de Ozi dos Palmares, cujo “demo”  tive o prazer de gravar pela primeira vez no FSTUDIO.  Ozi faz toda a percussão, voz e efeitos vocais, além de se acompanhar ao violão.  Vale a pena !

sábado, 5 de novembro de 2011

MINIBIOGRAFIAS DOS TÁRTAROS (ZÉ ARAÚJO)


"Bandleader".  Até mesmo pelas circunstâncias.  Ensaiávamos na sua casa, fornecia os amplificadores, carro para transportar a turma, sua paciência e sua amizade.  Cara legal, o Zé.  Até hoje, o mesmo.  Pacato feito o pai, o bom Sr. Antônio, calmo e tranquilo, um Lorde inglês em pleno bairro do Espinheiro.  A educação personificada.


Dona Mariinha, a mãe do Zé, era a nossa Madrinha.  Sempre providenciando alguma coisa para a gente lanchar.  Vovó Calú, a caseira e amiga da família, trazia a bandeja, passos lentos, diria quase estudados, uma ternura só.  Riso sedoso, voz macia:

- Olha a hora do lanche.  Saco vazio não se pôe em pé.

A turma parava o rock ou a bossa nova e haja brincadeira, confraternização em torno do suco de laranja e dos sanduíches da Vovó Calú.


Na hora do sério, Zé virava empresário.  Formal, engrossava mais um pouco a voz, já bastante grave, mais parecendo o contrabaixo que tocava:


- Turma, agora a coisa é pra valer.
- Vamos ser mais profissionais, por favor !
- Ninguém se atrase, pelo amor de Deus..
- Assumimos um compromisso, empenhei minha palavra.
- Existe um contrato assinado !
- Brincadeira tem hora, Djilson..
- WALTER, SEU DISPLICENTE !!

Aí a coisa engrossava e o pau não quebrava por pouco.

(A continuação desse diálogo está aqui: http://www.seteinstrumentos.com/2011/10/minibiografias-dos-tartaros-walter.html )

Extraído do livro "Tártaros: os seis do Recife"

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

PANTANAL SUL - AQUIDAUANA


Quando estivemos no Mato Grosso do Sul, em setembro do ano passado, além de curtir Bonito, e arredores, fizemos questão de visitar o Pantanal Sul.  Já conhecíamos o Pantanal do Mato Grosso, na região de Poconé e Transpantaneira, quando visitamos Cuiabá e Chapada dos Guimarães.

O Pantanal Sul é bem diferente.  



A região, mais explorada, tem fazendas imensas, com criação extensiva de gado e outras que hoje se dedicam também ao turismo rural e ecológico.
O Pantanal Norte, mais selvagem e preservado, caracteriza-se - a meu ver - pela sua fauna mais diversificada, em especial quanto às aves. 
De Bonito, você pode atingir a região pantaneira por várias entradas.  Uma delas é Aquidauana.  Nesse município há vários Hotéis-Fazenda, em plena atividade, mas reservando também espaço para receber turistas interessados em viver o dia a dia dos pantaneiros.



Ficamos numa dessas fazendas, a Santa Inês, onde fomos muito bem recebidos e igualmente bem tratados.
Atividade por lá não faltou.  Focagem noturna de animais, safaris fotográficos, cavalgadas e caminhadas à vontade.  Tudo regado a muito tereré, mate bem gelado, tomado de bomba e guampa, um chifre especialmente preparado para servir de "caneca" para essa bebida tão gostosa e estimulante.






Boas fotos e vídeos, foram o resultado dessa experiência fantástica de conhecer mais um pedaço desse Brasil maravilhoso, que a cada dia ainda nos surpreende.



terça-feira, 1 de novembro de 2011

SAUDADE DA FAZENDA PEREIROS

Um jeep Willys, do tempo da Guerra, buzinava na frente de casa.. Dentro já estavam Tio Moacir e tia Maria, mais uns três primos e primas, mas sempre cabia mais gente. E bicho também...
Aí subíamos, Paizinho, Mãezinha, eu e mais um ou dois irmãos, afora nossa cadela setter, perdigueira, chamada Cherry, que ia fazer companhia a Doroty, a setter de meu tio, ambas exímias caçadoras de codornizes.
E no meio dessa balbúdia, seguíamos em direção a Lajedo, numa época em que só havia estrada pavimentada até Caruaru. Depois daí, até a fazenda Pereiros, eram só estradas de terra, de piçarra, cheias de pedras e buracos, delimitadas pelas cercas de aveloz das propriedades à margem.
Pereiros fez parte dos meus melhores dias de criança.
Era uma Fazenda bem grande, no agreste pernambucano, e pertencia em comum ao esposo da minha tia Neda, Paulo Otaviano e seu irmão José.
Tio Paulo, grandalhão e bem humorado, apesar de calado e aparentemente sisudo, tinha sempre o maior prazer em receber a família em Pereiros e nos dava toda a atenção.
Nas férias de julho, quando o inverno pintava de verde a região e enchia os açudes da Fazenda, o friozinho agradável convidava a gente a soltar a imaginação e viver, ali, nossos sonhos infantis, alimentados pelos muitos filmes de faroeste que assistíamos no Cine Luan.
Poder cavalgar, como a gente fazia, era simplesmente fantástico e tudo o que queríamos, mal chegávamos em Pereiros, era pegar um pedaço de corda e sair pelo campo atrás dos cavalos que -daí por diante- iriam ter muito trabalho.
Eu tinha uma preferência especial por Asa Branca, um rudado baixinho e amigável, que se transformava num raio quando era solicitado; principalmente quando uma rês escapava da boiada. Reflexo condicionado da lida com os vaqueiros no meio da caatinga, por ocasião da "junta do gado" ou das tarefas de "apartação", que sempre ocorriam nos diversos "cercados" do pasto bem cuidado da propriedade.

Quando visitei Pereiros pela primeira vez, eu ainda pequeno, lembro-me de haver montado os dois carneiros da raça merino que lá havia: Jasmim e Guarani, donos de uma lã macia, bem fortes e altos.    Se ficavam meio parados, a gente tinha um truque para fazê-los correr na hora: um puxão na sua cauda curta. Os carneiros disparavam, e muitas vezes nos deixavam largados no chão, sob as vaias dos primos que aguardavam sua vez de montá-los.

Em Pereiros, sempre acompanhavámos os nossos pais e tios nas caçadas.  Havia muita codorniz e nhambu, ou lambu, por lá.  Quando eu estava mais taludo, junto com outros primos, fizemos algumas caçadas com espingardas soca-soca. As vítimas eras as rolinhas caldo-de-feijão, que chegavam em bandos, à beira dos açudes.  A gente se escondia, ficando nas "esperas" do mato, e quando as bichinhas pousavam, era uma chacina... sempre matávamos umas dez ou quinze mas, depois da caçada, nós mesmos as depenávamos e -bem assadas- comiamos com prazer e farofa.
Claro que hoje eu jamais repetiria isso, mas na época era muito natural e não ficávamos com o menor traço de remorso dessas caçadas.    Luiz Gonzaga cantou magistralmente essa situação, num baião muito conhecido: "Teve pena da rolinha que o menino matou.. mas depois de assar a bichinha e comer com farinha, gostou..  Por conta disso tudo, um dia desses resolvi versejar sobre essas lembranças do interior, e saíram essas quadras :

Jumento zurrando
A besta no cio
E a onça esturrando
Na beira do rio

Lagoa coalhada
De jia e caçote
A cobra no bote
já desenrolada

a lua brincando
c’ a nuvem  vadia
na boca do dia
os "passo" piando

É essa a lembrança
Qu’ eu guardo , cansado
De um tempo passado
Na velha fazenda
Cigano sem tenda
Sem muita esperança
Um velho-criança
Um pobre coitado.



O texto inicial faz parte do livro "Caçador de Lagartixas", Recife, 2008-Ed.LivroRápido.  As quadras estão publicadas no Jornal da Besta Fubana -www.bestafubana.com)