segunda-feira, 28 de maio de 2012

MEMÓRIAS DO F STUDIO - 6 - ROMERO AMORIM (parte 2)

Capa do CD "Esses Blocos", criação de Val Amorim
O disco de Romero Amorim, "Esses Blocos", foi um dos que tive grande prazer em gravar, porque reuniu o melhor dos Blocos do Recife. 
Com Sevy Nascimento e Arimatéia
A partir da sua capa (criação da filha Valéria (Val) Amorim), ficou expressada a vontade de Romero de fazer um tributo aos blocos por ele amados. Reuniu fotos dos flabelos (para quem não sabe, são os cartazes que indicam o nome dos blocos e antecedem o desfile das pastorinhas e orquestras) dos Blocos para os quais compôs músicas hoje imortalizadas.
Não sei por que (e continuo a criticar e insistir sobre isso) as nossas emissoras de rádio (exceção feita à Rádio Universitária, com os programas de Hugo Martins e Miriam Leite) não divulgam nossas músicas tão belas e que tanto agradam a todos que as conhecem. 
Sendo assim, dificilmente teremos entre as "paradas de sucesso" obras premiadas, como foi o caso de "Saudade Azul", uma perfeição de poema e canção, que ficou esquecida nas prateleiras das discotecas, delas somente saindo quando algum fã dos Blocos a solicita expressamente.

Vejam o que perde a coletividade, por mero desconhecimento e pela falta de divulgação das emissoras comerciais.   A música ficou a cargo da Orquestra de Ademir Araújo, com arranjo do próprio Ademir, acompanhando as vozes de Ângela Luz, Valdênia Melo e Vanda Lu que estão na foto abaixo abraçadas a Romero. 
Valdenia, Romero, Vânia e Ângela






SAUDADE AZUL (Romero Amorim - letra e música)

Que bloco é esse de azul singelo
que faz mais belo esse azul da tarde
e à tarde vem anoitecer flabelo
no desmantelo azul desta cidade?

Que luz é essa, azul que invade
e traz no azul esse azul etéreo
como se fosse uma saudade azul
a derramar-se em seu próprio espelho

Que lira é essa de azul tonal
que tange notas de azuis festejos
e bebe a taça de azuis desejos
no desmantelo azul do carnaval?

É a saudade azul, azul poema
lembrança azul, azul de Carlos Pena !

Ainda voltarei ao tema "Romero Amorim", nessas Memórias do F Studio.  O Poeta da Aurora merece!

domingo, 27 de maio de 2012

MEMÓRIAS DO F STUDIO - 5 - ROMERO AMORIM

Romero Amorim declama "Esses Blocos", no F Studio, 2002

Ele já era nome consagrado nas letras e na música de Pernambuco.  Campeão de Festivais de âmbito estadual ou nacional, quando o conheci, nos idos de 1994/95, quando participei, pela primeira vez do VI Recifrevo, com a primeira música que compus, um frevo-de-bloco chamado "Saudade de Olinda".  Romero participava com "Saudade Azul", em homenagem ao poeta Carlos Pena Filho.  Um frevo-de-bloco lindo, que anos depois tive a honra de gravar, no F Studio.

Romero tinha iniciado fazia pouco tempo, o Encontro de Blocos da Rua da Aurora, no Movimento por ele fundado "Aurora dos Carnavais", do qual -desde a primeira versão- o nosso Bloco Flor da Vitória-Régia participou, até 2006, quando desfilamos pela última vez.

Quando fundamos o Bloco, Romero fez questão de participar, como compositor, escrevendo um lindíssimo poema que foi musicado por Getúlio Cavalcanti, "Voltando ao Jardim".
Nele, o Poeta da Aurora relembra os tempos vividos em Casa Forte, com uma ternura que somente quem vive ou viveu por ali pode entender.

A noite é de festa 
e o riso é de graça
no banco da Praça
defronte à Matriz
A Vitória-Régia
no olhar do poeta
escuta a promessa 
de amor que eu já fiz

Voltando aos encantos
de um tempo tão belo
meu sonho é castelo
que a ânsia criou
Um cheiro de mato
vagueia rasteiro
e um banjo festeiro
meu riso escutou:

Vitória-Régia,
redonda barcaça
Sereia da Praça
beleza floral !
És o poema, 
o tema e a lira
a flor que inspira
nosso Carnaval !

Pois foi no F Studio, entre outubro e dezembro de 2002, que esta pérola musical e mais outras 15 jóias foram gravadas, para minha alegria e orgulho.  Romero acompanhou tudo com o carinho e desvelo de um pai, convidando uma legião de amigos e de blocos para cantar suas composições, dirigidas aos seus queridos Blocos de Pau e Corda do Recife.

No Encontro de Blocos da Rua da Aurora
Somente quem acompanhou de perto o trabalho diuturno de Romero para realizar com todo o brilho esse evento hoje eternizado no bronze de Abelardo da Hora, no trecho final da Rua da Aurora e que se tornou um marco no nosso Carnaval, pode avaliar a emoção que lhe tomava por inteiro quando, ano a ano, vencendo dificuldades e saltando obstáculos, conseguia realizá-lo com todo o sucesso e participação da comunidade dos blocos do Recife. "Esses Blocos", o nome do poema por ele também musicado, dá título ao CD. São 16 faixas de ternura, lirismo e amor aos Blocos do Recife.

Quando terminamos as gravações, eu perguntei, certa manhã ao Romero se ele não gostaria de participar dessa faixa cantando acompanhado pelo Coral Feminino.  Ele recusou, de imediato, e de imediato eu insisti em que pelo menos ele declamasse o poema, a fim de perpetuar sua voz no disco.  Depois de muita resistência, o Poeta aceitou e o declamou, com a emoção à flor da pele, que sempre o fazia chorar (e Romero, nesse particular, era um emotivo incorrigível: chorava mesmo, como todos sabem!).

Pois aí vão, nos arquivos abaixo, a voz do imortal Poeta da Aurora e a sua música para o nosso Vitória-Régia e o seu querido bairro de Casa Forte.








Pouco antes de ter início o calvário que levou o nosso amigo Romero para uma nova dimensão, tive um último recado dele, quando anunciei pelo Facebook o fim do FStudio e que aqui reproduzo:

"sábado às 10:17 · Curtir (desfazer) · https://s-static.ak.facebook.com/rsrc.php/v1/yw/r/drP8vlvSl_8.gif 2
Romero Amorim Fred, já tô com saudade, irmão."

Eu também, Poeta.  Principalmente daqueles papos que batíamos todos os dias, praticamente, na "Sertanense"  ou no "Beco da Fome" da Rua Bulhões Marques, junto com Hamilton Florentino, Vila Nova, Américo do Bombardino e tanta gente boa que passava por ali na hora do almoço.

Fique em Paz, Poeta ! e continue inspirando com o seu lirismo os Blocos do Recife, "Esses Blocos" que você tanto amou !

domingo, 20 de maio de 2012

O RECIFE AINDA É VERDE

Da Índia para o Poço da Panela - azeitonas ou jamelões

Verde e calmo. Dentro do possível, claro.
Ao lado da minha nova varanda, há uma azeitoneira povoada de pássaros de toda espécie.

Para quem não sabe, a azeitoneira a que me refiro é um pé de Jamelão, ou jambolão.
Aqui no Nordeste é conhecido como azeitona preta, esse fruto delicioso que já me lambuzou as roupas, para desespero de minha mãe, quando eu era menino, e pintou de roxo minha língua de moleque do Poço da Panela e de Casa Forte.

Pois durante 31 anos morando no Poço da Panela (entre 1955 e 1973, (com meus pais) e entre 1977 e 1991, (na minha primeira casa, um pequeno duplex que comprei pouco depois de casar), alimentava sempre o desejo de voltar ao Poço.

E voltei. Como diria Roberto Carlos, voltei para ficar, pois aqui, aqui  é o meu lugar...

Sabiá, um canto e tanto !

Por outro lado passei exatos 21 anos morando em Casa Forte, bem junto à Praça e atrás da Matriz (um endereço bem comum em vilazinhas do interior.  Toda cidadezinha pelo Brasil afora tem uma praça e uma igreja, não é mesmo?.

Socorro-me da Wikipedia, para resumir o Poço da Panela:

Eu te vi  (e te ouvi, também !)

“O Poço da Panela surgiu por volta do séc.XVIII, pertencia as terras do Engenho Casa Forte. No início era um simples povoado em meio às grandes plantações de cana-de-açúcar, porém a partir de 1746 este perfil começou a ser modificado. Naquele tempo uma grande epidemia possivelmente de cólera) tomou conta do Recife e alguns médicos divulgaram que os banhos, durante o verão, no trecho do Rio Capibaribe que banhava a povoado, eram um milagroso remédio no combate à doença. A notícia se espalhou muito rápido e fez com que essa região começasse a ser frequentada pelos ricos do Recife, que logo construíram ali casarões de veraneio. O povoado cresceu e em 1772 ganhou uma igreja dedicada a Nossa Senhora da Saúde.”

Hora do lanche do frei-vicente (Tangara cayana)
Mas, o que me interessa hoje, em meio à paz desta manhã de domingo, é mostrar para vocês essas fotos dos meus vizinhos de moradia.

Na paz verde do Poço

Eles na azeitoneira, eu na varanda, câmera na mão, atento à folhagem, coisa de um mês atrás, bisbilhotando suas vidas simples e felizes.

Então, flagrei-os na hora da refeição ou dos ensaios de canto: freis-vicentes, bentevis, sabiás,  estão aqui presentes.  Mas eu já presenciei ariscos sanhaços, sibitos, bicos-de-lacre, um gaviãozinho amarelo, um bando de maritacas (essas somente voando por perto, no seu alarido característico) e um carcará que toda tarde aparece no teto do bloco vizinho.

(Agradeço ao Professor Galileu Coelho, Ornitólogo, pelos ensinamentos preciosos sobre os pássaros de Pernambuco)

quinta-feira, 10 de maio de 2012

BUSCANDO AS RAÍZES – BEZERROS É CULTURA

Um dia desses tomei o rumo de Bezerros, aqui pertinho do Recife, para beber um pouco das nossas raízes culturais. Em Bezerros, a tradição e o artesanato comandam as atividades o ano inteiro. Do Mestre J.Borges e sua operosa família, surgem trabalhos belíssimos de xilogravura e cordel.

A tradição dos Papangus, no Carnaval, dita o ritmo da cidade, atraindo milhares de turistas do Brasil e do Exterior. O Centro de Artesanato é um capítulo à parte, muito bem cuidado, apresentando sempre exposições de muito bom gosto e variedade. A Serra Negra, além da beleza natural, também guarda sempre surpresas culturais inesquecíveis, principalmente em Junho, tempo de muito forró, coco e xaxado, em meio a uma natureza exuberante e um clima com temperaturas mais baixas nas suas montanhas.

Um passeio que vale sempre a pena ser feito, no mínimo para matar a saudade das coisas da terra nordestina. Quem é de fora não perderá tempo e além de apreciar e comprar peças dessa rica cultura popular, terá oportunidade de conversar com os artesãos, sempre muito solícitos com quem lhes procure. Sendo ou estando de passagem pelo Recife, não deixe de visitar Bezerros, cidade cultural por excelência.

Abaixo uns fragmentos em vídeo do meu último passeio por lá. No final, ainda testei uma rabeca bem artesanal. Música de fundo de um artista do pífano, o Gilson do Pife, de Bonito-PE.

Divirtam-se !



quarta-feira, 2 de maio de 2012

CORREDORES E "CORREDORES"

No camping, à véspera da Maratona da Paraíba
Existe um blog direcionado a corredores de rua, mantido pela revista Veja e escrito por um jovem professor de educação física. Deve ter uma boa aceitação, vez que é vinculado a uma das maiores e mais conceituadas revistas brasileiras, da qual, aliás, sou assinante.
Decepcionado pela falta de resposta a um comentário meu (sinal de que o jovem mestre não é lá muito de aceitar críticas, mesmo fundamentadas, reproduzo-o aqui no meu blog.
Muitos dos meus leitores por certo discordarão de mim. Não sei se o professor sequer vai tomar conhecimento deste post agora publicado, mas com certeza, como todo blogueiro, leu e (como alguns avessos ao princípio da livre opinião dos seus leitores) deve ter meditado sobre ele. E achado por bem jogá-lo na lixeira virtual.  Julguem vocês mesmos se tenho ou não razão em rebater semelhante afirmativa (ao que tudo indica, feita com certa revolta – vide o ponto de exclamação na manchete.  A propósito, o título do tal artigo era “PRATICAR CORRIDA: ISSO JÁ FOI MAIS BARATO ! “ 

Com minhas desculpas antecipadas ao jovem colunista, este foi o artigo mais ridículo e sem fundamento que li na minha vida de corredor de rua.

Chegando na I Maratona do Recife

Referir-se à corrida como esporte caro é no mínimo um contrasenso. Creio que o post visa a despertar polêmica mesmo, senão vejamos: a corrida é o ÚNICO esporte que você pode praticar sozinho, a qualquer hora do dia ou da noite, em qualquer lugar, de qualquer cidade ou região do mundo. Desde que você esteja vestindo (pra não ser preso por nudismo) um mero calção, até mesmo descalço você pode correr sem malefícios maiores para a saúde. Desde que esteja bem alimentado (o que não significa entupir-se de “produtos para corredores” e líquidos miraculosos que não chegam aos pés da boa e velha água potável, você pode correr a vida toda e gerar saúde para si mesmo e estimular seus semelhantes a fazerem a mesma coisa. O que ocorre, meu caro, é que querem tornar a corrida um esporte comercial, que rende lucros inimagináveis para fábricas, produtores de qualquer coisa vendável a uma multidão de “corredores da moda”, gente que quer correr porque hoje correr é chique, dá status e aumenta a sensação de prestígio na sociedade. Estou falando, agora, dessa corrida fashion, com academias promovendo seus "personal trainers" e outros berloques completamente desnecessários à atividade. Quem quiser correr, a qualquer hora pode simplesmente levantar-se da cadeira, colocar um pé à frente do outro e iniciar o movimento mais antigo que o homem realiza desde que se pôs sobre duas pernas e ergueu a coluna. Sou corredor há exatos 29 anos e um mês. Ajudei a fundar um clube de corredores aqui no Recife, o CORRE, defendo a corrida como atividade básica e não como esse “esporte” de que o nobre colunista fala, com medalhinhas, chips, tênis que valem fortunas, “maratonas” de 5 quilômetros e que ainda admitem “revezamento”.. Tenham dó ! Acho que a “popularidade” da corrida não interessa à atividade física mais básica, mais barata, mais popular, mais simples, tanto que era praticada pelos pré-históricos, quando saiam das suas cavernas para correr atrás da caça ou entravam nelas pra fugir dos predadores. Se o enfoque de corrida que tem a sua coluna é esse, perdão: entrei na caverna errada ! Grande abraço e boas corridas… de verdade...não corridinhas sociais !