terça-feira, 18 de setembro de 2012

DE POESIA E REALIDADE - UMA GOTA DE ORVALHO

Serra da Capivara, Piauí - foto do autor
Enquanto as águas do Rio São Francisco servirem só de pretexto para os falsos profetas iludirem até mesmo os intelectuais "engajados" e crentes nos seus falsos milagres; enquanto efetivamente elas não chegam para aplacar a sede do nordestino; enquanto os velhos e novos "imperadores" não cumprirem suas promessas ilusórias e mentirosas, digo e repito: resta-nos a Poesia para matar a nossa sede, resta-nos o Orvalho (sim, esse abominável orvalho que os cientistas dizem fazer mal à lavoura) para ser objeto da nossa admiração ! Porque, através da pequena lente da sua lágrima - pois a gota de orvalho tão pequenina é, para o poeta,  a lágrima da chuva que não caiu - o sol inclemente é transmutado numa Alquimia mágica, em diamante valioso  que, por fração de segundo, dessedenta uma minúscula formiga e ao mesmo tempo enche de esperança o coração de um sertanejo sofrido.

Escravo da Poesia
carrego a sua bandeira
feito a água na biqueira
nos lava na invernia
levando a melancolia
porque no quente verão
que penaliza o rincão
o orvalho é jóia rara
aplicada na tiara
de um sofrido coração

Mas, se cai chuva no chão
é demais a diferença
e aumenta minha crença
de fartura no Sertão
Pois dá-se a transmutação
do cinza que angustia
no verde que alumia
os olhos do sertanejo
realiza-se o desejo
e a vida é só alegria !