quarta-feira, 25 de maio de 2011

TÁRTAROS, O FESTIVAL


A partir de hoje, vou publicar aos poucos crônicas do meu livrinho "Tártaros, os Seis do Recife", que escrevi para comemorar, em 1995, os nossos trinta anos de fundação.  O nome tem a ver, vocês já devem ter percebido, com "os quatro de Liverpool".  Não fomos apenas seis.  Passaram pelos Tártaros, depois que o grupo original se dissolveu em março de 1969 (qualquer semelhança com a dissolução dos Beatles foi realmente mera coincidência..), dezenas de excelentes músicos do Recife.

Portanto, aguardem muito mais desse livro que teve a extraordinária tiragem (copiada em meu computador pessoal, inclusive a capa por mim desenhada) de ... 6 (seis) exemplares, um para cada um dos componentes; Zé Araújo, Djilson, Walter, Didi, Raimundo Carrero e eu.

Divirtam-se !

"Não tínhamos quase nenhuma experiência de palco e encaramos de frente, em 1965 (setembro/outubro) o I Festival do Iê-iê-iê do Recife, no Teatro Santa Isabel.  Nos bastidores, discutia-se à boca miúda qual dos oito ou dez conjuntos presentes, afora mais de uma dezena de cantores e cantoras que concorriam à parte, venceria o concurso.

As preferências eram para The Silver Jets, quarteto liderado por Reginaldo Rossi, que imitava descaradamente os Beatles e, em seguida, para The Lords, grupo bem arrumadinho que, para variar, também imitava descaradamente os Beatles.

Nós havíamos ensaiado, salvo engano, umas canções do Roberto Carlos. Mas, na última hora, resolvemos inovar.  Faltando apenas uns dez minutos para a nossa entrada em cena, reviramos tudo: o único que permaneceu tocando o seu próprio instrumento foi o Djilson, o baterista, pois o Zé Araújo, contrabaixista, fez o violão-base; o Walter, guitarrista-solo, passou ao contrabaixo e eu, que fazia a guitarra-base, executei o solo.

A música (como esquecer?) foi "Consolação", de Baden Powell.  Pois é: uma bossa-nosa da melhor qualidade, num Festival de Iê-iê-iê ! A platéia, "puxada" pela nossa torcida (quase toda de alunos do Colégio Marista e familiares) surpresa pela mudança inesperada de planos e de gênero, aplaudiu para valer.  Tanto que, apesar de termos perdido o primeio lugar para os Silver Jets, ficamos com a medalha de vice-campeões e a simpatia, daí para a frente, de todo o contigente de fãs da bossa-nova e da música romântica do Recife.

Foi nesse Festival que marcamos (quase por acaso), a nossa linha de atuação, que mantivemos até o final: tocar qualquer gênero musical, do baião ao erudito, embora a intenção inicial do grupo fosse a de seguir a influência do Rock'n'roll.

Outro detalhe que marcou essa nossa apresentação, foi o despojamento.  Enquanto mudavam o cenário do palco, que continha elementos decorativos condizentes com o clima jovem do Festival (guitarras, fotos grandes dos Beatles e outros ícones, faixas coloridas, etc) pedimos ao pessoal do teatro para passar uma cortina no palco, deixando vazia a área frontal, exceto por um banquinho, onde sentou o Zé Araújo, um estrado, onde ficou o Walter e uma escada-tesoura, onde apoiei-me para, de pé mesmo, executar "Consolação".

Deu certo.  AfinaL, a gente nunca teve a pretensão de ser "Os Reis do Rock" ...