sábado, 12 de novembro de 2011

CUBA LIBRE

A igrejinha do Poço

Moro em Casa Forte há quase 60 anos.  Cheguei aqui com sete.   Pois lhes asseguro: não há, no Recife, lugar tão aconchegante, onde a gente se sinta tão à vontade com a vida, como Casa Forte.  Mesmo depois de tanto progresso, debaixo de tantos problemas de crescimento, o bairro ainda conserva e transmite uma paz colonial, como um afago de mãe-preta, nas noites frias de julho.
E  desse clima “Os Tártaros” aprenderam a gostar, quando aqui estiveram várias vezes, em 1966, trazidos por mim e pela turma do Bairro.
Na época, éramos muito organizados.  Digo éramos, referindo-me à turma do Bairro: participei, com outros amigos e vizinhos, da fundação e das primeiras diretorias do Clube Ícaro de Casa Forte.
O Ícaro desenvolveu muitas atividades na área da cultura e do lazer, direcionadas à juventude daqui, a exemplo de teatro, cinema, shows e bailes (os chamados “assustados”.)
Fazíamos montagens de pequenas peças, no palco da sede do Rotary Clube, onde também projetávamos filmes de arte, em geral conseguidos gratuitamente nos Consulados e Embaixadas sediados no Recife.  Promovemos, também, um excelente show musical no Colégio da Sagrada Família cuja atração principal foi, logicamente... Os Tártaros.
O primeiro dos dois bailes que o conjunto fez em Casa Forte foi na casa do Sítio dos Donino, no Chacon, já próximo ao Rio Capibaribe.
Era também, diga-se de passagem, um dos primeiros bailes que os Tártaros tocavam, profissionalmente.   A responsabilidade do momento chegava a ofuscar parte do orgulho dos cinco (principalmente o meu) de estarem se apresentando em “casa alheia”, alvo das atenções de todos.
Show no Sagrada Família
Para quebrar o gelo, antes do início da festa, os organizadores nos ofereceram uma bebidas, à moda da época: cuba libre, ou seja, rum com coca-cola.  Não deu muito certo, não... A turma, que era abstêmia, desacostumada com o calor do rum, foi ficando de mão pesada e dentro de umas duas horas não havia instrumento em condições de ser tocado.  As guitarras de cordas quebradas, a bateria com as peles rasgadas, os amplificadores chiando e roncando, um desastre...
O resto do baile foi, então, à base da chamada “radiola”, com Renato e Seus Blue Caps, Roberto Carlos, Wanderléa e The Pops, embalando a madrugada.
Dia seguinte, na casa do Zé Araújo, meio ressacados, prometemos solenemente nunca mais beber em serviço.  Promessa cumprida.  Realmente, as poucas cervejas  que tomamos juntos, daí por diante, foram servidas nas refeições que sempre fazíamos ao final de cada festa.
Casario no Poço da Panela