sábado, 10 de março de 2012

COITADOS DOS JUMENTOS

Notícia recente dá conta de um fato um pouco mais antigo. Nos dois casos, coitado do jumento "nosso irmão", como diria a letra da música popularizada por Luiz Gonzaga, este ano centenário. É que os orientais, agora os chineses, estão tratando de importar, do Brasil 300 mil jumentos por ano, para alimentação e fabricação de sabão.  Um animal cuja existência no Nordeste sempre esteve ligada ao trabalho e ao homem do campo, servindo-lhe de transporte, de tração para os arados e carroças vai ser, dentro de pouco tempo, a julgar pela voracidade dos números chineses, extinto de vez.  Ameaças de extinção, em outras épocas, de "charqueadas" com carne de jumento e cavalo, aqui mesmo pelo Nordeste, já houve. Então, abatido pela notícia e com uma comiseração justa pelo pobre animal, escrevi essas estrofes em décimas, para louvá-lo, como tantos já fizeram.


Uma coisa me faz contrariado
Nessa terra que não dá mais valor
Aos valores que merecem penhor
Animais deste chão nordestinado
Numa seca que deixa o chão crestado
Com barrocas de terra quente e dura
O castigo maior da mãe Natura
Não consegue parar essa alimária
O trator de um sertanejo pária
Salvação dessa pobre agricultura

Veja que um jumento na cangalha
Come pouco, não se faz de rogado
Dá as horas zurrando seu recado
Passa o dia suando e só trabalha
Ara a terra, e também carrega a tralha
Do seu dono pra onde ele quiser
Inda puxa a carroça da mulher
Pras crianças serve de montaria
Sem jamais reclamar dessa agonia
Labutando sem férias seu mister

Mas agora me chega uma notícia
Que atormenta a cabeça de um cristão
Lá pras bandas da China ou do Japão
Mais parece um caso de polícia
Ou de gente que age com malícia
Querem exportar nossos animais
Os jumentos que são tradicionais
Nesta lida diária do sertão
Vão virar bife, couro e até sabão
Só para enriquecer orientais

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