sexta-feira, 30 de agosto de 2013

ASCENSO FERREIRA, A VOZ DO NORDESTE


Lembro bem dele . Manhã de sábado de um dia qualquer por volta de 1959 ou 1960.

Um tio nosso morava perto da Praça do Hipódromo, em cujas vizinhanças também morava Ascenso Ferreira. Um gigante, na minha visão de adolescente. Chapelão de palha imenso, terno branco, caminhava lento. Fazia sempre esse percurso. Acho que havia uma padaria na esquina da rua que vinha da Praça com a Estrada de Belém.

Nesse dia Ascenso estava inspirado. E bem solene, à vista de todo mundo que estava por perto, parou na esquina, escorou a mão direita no muro, olhou para os lados, talvez para conferir se a meninada estava mesmo observando, e ... soltou um tremendo traque ! Um trovão, no meio da manhã, entre os gritos dos bem-te-vis e as flautas dos sabiás. Em seguida, ainda escorado, e de cima dos seus quase dois metros de altura, balançou a perna direita, passou o rodo com o olhar e prosseguiu calmamente com sua caminhada matinal.

Ontem, passando em frente ao Cais da Alfândega, vejo de novo o velho Ascenso. Estava lá vivo e pensativo, sentado em cima de uma enorme pilha de livros, ladeada por mais duas. Sempre há gente por perto dele.

Tive sorte em - pelo menos desta vez, das muitas que passei por ali, a caminho da Livraria Cultura- conseguir tirar uma fotografia abraçado ao Poeta. Ajudou-me um turista que acabava de fotografa-lo, também. Ascenso, paciente, permitiu. 

 E, em "homenagem" ao recente apagão, que deixou em em trevas 8 Estados do Nordeste, o Poeta declamou "Black-Out". Estão duvidando? Pois eu gravei tudo e mando para vocês. Com os cumprimentos do Grande Vate Palmarense. Ascenso Ferreira, A Voz do Nordeste. Ele mesmo. E eu, um privilegiado, porque também tenho algo a ver com Palmares. Minha família é de lá. Talvez por isso eu tenha muita vontade de ser poeta.