sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

MISSÃO CUMPRIDA.. QUE VENHA 2012 !

Caminhar é preciso... Lembrar dos caminhos é necessário, para  que voltemos às origens
Último dia do ano.. Tempo de reflexão e agradecimentos.

Comecei este Blog em janeiro deste ano, pensando nele como uma forma de conversar com meus familiares e amigos, contar minhas histórias, compartilhar experiências, fatos, fotos, vídeos, músicas, retalhos de vida...No fim de tudo, coisas que parecem pessoais, mas na essência pertencem a todos nós.

É bom saber que temos tanto em comum, senão não estaríamos aqui, nos olhando nesse espelho cristalino que é a Vida, refletida em todos nós pela luz do Tempo.

Uma memória qualquer, que parecida tão íntima, tão pessoal, pode e deve ser compartilhada, porque às vezes basta uma pequena faísca de algo vivido por outrem, para que se acendam em nós sensações e sentimentos de um trecho de vida que também foi nosso.

Comecei fazendo isso no "Caçador de Lagartixas", cujas crônicas tenho publicado aqui, por partes. Jaime, meu irmão que o prefaciou, já me cobrava uma continuação.  Talvez, por generoso que é, achando que eu realmente tinha dons de escriba. 

Dizia ele, naquele texto tão lindo que abre o meu livro:

"Fred, de forma despretenciosa, faz uma narrativa de vários episódios que ora desnudam a alma do menino de então e ora nos reporta aos valores que estão sendo esquecidos nos tempos atuais.... Espero que o mano, em outra ocasião, se sinta estimulado a dar continuidade a este desafio, relatando as suas peripécias, nos outros estágios de sua vida."  

E é exatamente isso o que eu estou fazendo, querido irmão, queridos irmãos, queridos leitores, que vêm aqui me prestigiar e dar atenção a este sonhador.  Nunca tive pretensões literárias. Aliás, textualmente, falei na contracapa do livrinho: 

Em Diogo, revivo meus sonhos de menino
"Na verdade, o que eu queria era apenas registrar umas lembranças de infância, umas saudades que teimavam em se apresentar, sem hora certa e sem motivo aparente, verrumando aqui e ali meus pensamentos, pedindo para vir à tona, sem mais aquela."

Se tenho conseguido esse objetivo, compete a vocês dizer.  Pelo que tenho visto e pela participação valorosa e gentil de vocês, estimulando, comentando, aplaudindo e me fazendo ficar emocionado a cada resposta que me dão, acho que venho sim, atingindo meu objetivo, que é o nosso objetivo, afinal: fazer vivas nossas lembranças, congelando o tempo naqueles minutos em que nos deparamos com nós mesmos, conduzidos por um texto de um blogueiro ao nosso baú comum de memórias.

Agradecer, finalmente, de coração a todos vocês que vieram comigo nesta caminhada por todo este 2011.  Agradecer pelo carinho e pela participação, é o que me resta fazer.   E abraçá-los.  Com todo carinho, também.  Como um irmão que acabou de chegar de longe.  Do longe dos tempos, do longe das memórias e também por que não, do longe das distâncias.  Mas, sempre voltando para contar como foi, maravilhado com as descobertas, entusiasmado porque vocês estão me ouvindo.  Muito obrigado a todos. Feliz 2012 !

A SOPA DE RIO DOCE

Não era uma sopa qualquer, de legumes ou canja de galinha. Nada disso.

Falo de outra "sopa".. um ônibus antigo que fazia a linha Recife - Rio Doce e cuja última viagem, no finalzinho da tarde, por volta das cinco horas, deu margem a esse apelido original.

Chegando no destino ao escurecer, na hora da ceia noturna, isto é, da sopa, era natural que o povo, na sua criatividade, assim a nomeasse.

Nesse pequeno ônibus a gente ia para a praia, nas férias de verão.

Sempre tinha algum tio que alugava casa para a temporada, ou mesmo para um mês (janeiro ou fevereiro) e a gente era convidado pra passar uma ou duas semanas por lá.

As casas de veraneio naquele tempo eram pouco mais do que cabanas de pescador e nisso estava a beleza delas: na sua simplicidade.

De madeira ou de taipa, com cobertura quase sempre de palha de coqueiro, às vezes de telhas sem forro, não tinham água encanada e a gente tinha que bombear água de poço, que ficava invariavelmente nos fundos ou no oitão da casa.

O quintal e a varanda?.. de areia da praia mesmo. Era muito gostoso botar, à noitinha, uma cadeira na frente da casa e ficar com os pés enterrados na areia olhando a lua nascer e ouvindo o marulho das pequenas ondas de uma maré baixa nos acalentando para mais uma noite de sono reparador.

De manhã, a gente ganhava o mundo e passava boa parte do dia dentro d'água, ora pescando, ora mergulhando nas piscinas formadas nos arrecifes para olhar os peixes coloridos e ariscos, como saberés, mariquitas e budiões, cuidando sempre de não pisar nos ouriços que enchiam trechos das "pedras", junto aos escorregadios "beiços de boi", corais lisos e traiçoeiros.

As "pedras", como chamávamos os arrecifes de coral, eram o nosso mundo e de tanto andar sobre elas, quase nunca nos acidentávamos.

Saíamos procurando um bom pesqueiro, ora num pequeno poço, ora numa piscina maior e quase nunca voltávamos pra casa de mãos vazias.. ao menos uns siris e mariscos carregávamos de volta nessas pescarias infantis.

De tarde a ocupação era outra: “pelada”, voleibol ou "pega". Perto das seis da tarde, ainda arranjávamos tempo pra ir comprar o pão do jantar e algum outro complemento, como uma bolacha d'água redonda chamada "bolacha praieira". A da Padaria de Rio Doce era excepcionalmente gostosa.

Depois de uma canja ou um peixe frito, um "bate-papo" na frente de casa onde muitas histórias de assombração faziam tremer os menores, até que o sono chegava e todo mundo se recolhia.

E assim se passavam nossas férias de verão, naquele tempo em que o relógio era mais preguiçoso, os dias eram mais claros, a lua mais prateada e a areia da praia mais fina e branca.