Não era uma sopa qualquer, de legumes ou canja de galinha. Nada disso.
Falo de outra "sopa".. um ônibus antigo que fazia a linha Recife - Rio Doce e cuja última viagem, no finalzinho da tarde, por volta das cinco horas, deu margem a esse apelido original.
Chegando no destino ao escurecer, na hora da ceia noturna, isto é, da sopa, era natural que o povo, na sua criatividade, assim a nomeasse.
Nesse pequeno ônibus a gente ia para a praia, nas férias de verão.
Sempre tinha algum tio que alugava casa para a temporada, ou mesmo para um mês (janeiro ou fevereiro) e a gente era convidado pra passar uma ou duas semanas por lá.
As casas de veraneio naquele tempo eram pouco mais do que cabanas de pescador e nisso estava a beleza delas: na sua simplicidade.
De madeira ou de taipa, com cobertura quase sempre de palha de coqueiro, às vezes de telhas sem forro, não tinham água encanada e a gente tinha que bombear água de poço, que ficava invariavelmente nos fundos ou no oitão da casa.
O quintal e a varanda?.. de areia da praia mesmo. Era muito gostoso botar, à noitinha, uma cadeira na frente da casa e ficar com os pés enterrados na areia olhando a lua nascer e ouvindo o marulho das pequenas ondas de uma maré baixa nos acalentando para mais uma noite de sono reparador.
De manhã, a gente ganhava o mundo e passava boa parte do dia dentro d'água, ora pescando, ora mergulhando nas piscinas formadas nos arrecifes para olhar os peixes coloridos e ariscos, como saberés, mariquitas e budiões, cuidando sempre de não pisar nos ouriços que enchiam trechos das "pedras", junto aos escorregadios "beiços de boi", corais lisos e traiçoeiros.
As "pedras", como chamávamos os arrecifes de coral, eram o nosso mundo e de tanto andar sobre elas, quase nunca nos acidentávamos.
Saíamos procurando um bom pesqueiro, ora num pequeno poço, ora numa piscina maior e quase nunca voltávamos pra casa de mãos vazias.. ao menos uns siris e mariscos carregávamos de volta nessas pescarias infantis.
De tarde a ocupação era outra: “pelada”, voleibol ou "pega". Perto das seis da tarde, ainda arranjávamos tempo pra ir comprar o pão do jantar e algum outro complemento, como uma bolacha d'água redonda chamada "bolacha praieira". A da Padaria de Rio Doce era excepcionalmente gostosa.
Depois de uma canja ou um peixe frito, um "bate-papo" na frente de casa onde muitas histórias de assombração faziam tremer os menores, até que o sono chegava e todo mundo se recolhia.
E assim se passavam nossas férias de verão, naquele tempo em que o relógio era mais preguiçoso, os dias eram mais claros, a lua mais prateada e a areia da praia mais fina e branca.
Saudades de Catu!:)
ResponderExcluirTati
Catuama foi a praia de Rio Doce de vocês, Pretinha.. Eu também tenho, e muito.
ResponderExcluirDe tanto que eu ouço e vejo por fotos e filmes falar de Recife, fico cada dia mais tentado a passar minhas próximas férias nessa bela cidade.
ResponderExcluirMe aguarde, qualquer dia a gente se encontra!
Feliz 2012 para você e toda a sua família!
Augusto, meu camarada, vou ter o maior prazer em ser seu cicerone na cidade mais musical do mundo. Venha mesmo, Recife será honrada com sua presença ! E um Feliz Ano Novo !!
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