quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

DJANGO LIVRE, TARANTINO E A SERPENTE OUROBOROS


Ouroboros - A serpente mitológica
Tarantino sempre surpreende.  E mais uma vez me pegou de jeito.
Para um diretor que abusa da violência na sua obra, se bem que mais das vezes metaforicamente, dessa vez fiquei surpreso foi com o seu humor azedo, mas sempre humor.
Fui ver Django Livre, mais por curiosidade mesmo. E tive a melhor impressão, como sempre do trabalho desse diretor.  A partir da abertura, tomei um banho de velhos "western", que a gente chamava de "filme de caubói".  Até mesmo a tipologia dos títulos de abertura, num vermelho sangue, é condizente com os anos 40/50 fase áurea do gênero, penso eu.
A música então, bem "faroeste spaghetti", lembra, não por acaso, as grandes trilhas sonoras de Enio Morricone, que aliás, tem participação especial nesta.
Do início ao fim a ênfase nos grandes cenários de montanhas e pradarias, também remete àquele tempo das matinês do Cine Luan, de Casa Forte, onde assisti belas fitas e seriados com Hopalong Cassidy, John Mc Brown, Roy Rogers, John Wayne e seus inúmeros e heróicos personagens.

Foxx e DiCaprio - belo duelo de interpretação

Um banho de passado, enfim...
Vieram-me à mente memoráveis brigas de "saloon", intercaladas com duelos e tiroteios pelas ruas enlameadas de pequenas cidades do Oeste americano, num tempo de violência pela  ocupação de terras e pelo banditismo tornado quase profissional.  O que gerava uma profissão macabra, qual seja a dos caçadores de recompensa representados pelos personagens Dr Shultz e o recém liberto escravo Django.  Momentos de humor num filme assim?  Foram muitos. O mais marcante me fez rir de tossir discretamente por alguns bons minutos.  A cavalgada dos mascarados da Ku-Klux-Klan.  Patética e muito engraçada.  A gente fica esperando um massacre em cima dos dois personagens e o que acontece é uma cena que nem os "Trapalhões" conseguiriam repetir.  Logo em seguida, o tempero "tarantiano" faz mais uma das suas, numa explosão fenomenal a dinamite, que aliás também é reprisada na cena final.  Tão violenta que termina nos fazendo rir pelos impossíveis rios de sangue e dos tiroteios dos quais o diretor faz uso abusivo. Nunca um pistoleiro deu tantos tiros por segundo numa fita de caubói, pelo menos das centenas que eu já vi.
Enfim... eu até havia comentado com meu primo José Leão, colaborador do Blog, que iria assistir Django Livre logo depois do almoço, numa daquelas excelentes salas do novo shopping Rio-Mar, dizendo mais ou menos isto: "minha sobremesa hoje vai ser Pudim de Sangue.  Vou ver um filme de Quentin Tarantino." Um vampiro adoraria.
Nada disso...  A Violência Raivosa ali teve o condão de se juntar ao seu oposto, o Humor Debochado, pela via do "non sense".  
Outra imagem recorrente, aqui: a da esotérica serpente Ouroboros mordendo a própria cauda.  A sabedoria encontrada na junção dos opostos.  Tudo metafórico, claro.  Tudo "Tarantiano", lógico !  Vou ver de novo e comprar o "blue-ray" tão logo encontre por aqui. Gostei demais.