quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

DJANGO LIVRE, TARANTINO E A SERPENTE OUROBOROS


Ouroboros - A serpente mitológica
Tarantino sempre surpreende.  E mais uma vez me pegou de jeito.
Para um diretor que abusa da violência na sua obra, se bem que mais das vezes metaforicamente, dessa vez fiquei surpreso foi com o seu humor azedo, mas sempre humor.
Fui ver Django Livre, mais por curiosidade mesmo. E tive a melhor impressão, como sempre do trabalho desse diretor.  A partir da abertura, tomei um banho de velhos "western", que a gente chamava de "filme de caubói".  Até mesmo a tipologia dos títulos de abertura, num vermelho sangue, é condizente com os anos 40/50 fase áurea do gênero, penso eu.
A música então, bem "faroeste spaghetti", lembra, não por acaso, as grandes trilhas sonoras de Enio Morricone, que aliás, tem participação especial nesta.
Do início ao fim a ênfase nos grandes cenários de montanhas e pradarias, também remete àquele tempo das matinês do Cine Luan, de Casa Forte, onde assisti belas fitas e seriados com Hopalong Cassidy, John Mc Brown, Roy Rogers, John Wayne e seus inúmeros e heróicos personagens.

Foxx e DiCaprio - belo duelo de interpretação

Um banho de passado, enfim...
Vieram-me à mente memoráveis brigas de "saloon", intercaladas com duelos e tiroteios pelas ruas enlameadas de pequenas cidades do Oeste americano, num tempo de violência pela  ocupação de terras e pelo banditismo tornado quase profissional.  O que gerava uma profissão macabra, qual seja a dos caçadores de recompensa representados pelos personagens Dr Shultz e o recém liberto escravo Django.  Momentos de humor num filme assim?  Foram muitos. O mais marcante me fez rir de tossir discretamente por alguns bons minutos.  A cavalgada dos mascarados da Ku-Klux-Klan.  Patética e muito engraçada.  A gente fica esperando um massacre em cima dos dois personagens e o que acontece é uma cena que nem os "Trapalhões" conseguiriam repetir.  Logo em seguida, o tempero "tarantiano" faz mais uma das suas, numa explosão fenomenal a dinamite, que aliás também é reprisada na cena final.  Tão violenta que termina nos fazendo rir pelos impossíveis rios de sangue e dos tiroteios dos quais o diretor faz uso abusivo. Nunca um pistoleiro deu tantos tiros por segundo numa fita de caubói, pelo menos das centenas que eu já vi.
Enfim... eu até havia comentado com meu primo José Leão, colaborador do Blog, que iria assistir Django Livre logo depois do almoço, numa daquelas excelentes salas do novo shopping Rio-Mar, dizendo mais ou menos isto: "minha sobremesa hoje vai ser Pudim de Sangue.  Vou ver um filme de Quentin Tarantino." Um vampiro adoraria.
Nada disso...  A Violência Raivosa ali teve o condão de se juntar ao seu oposto, o Humor Debochado, pela via do "non sense".  
Outra imagem recorrente, aqui: a da esotérica serpente Ouroboros mordendo a própria cauda.  A sabedoria encontrada na junção dos opostos.  Tudo metafórico, claro.  Tudo "Tarantiano", lógico !  Vou ver de novo e comprar o "blue-ray" tão logo encontre por aqui. Gostei demais.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

CHAVE DE OURO

Alto Paraíso de Goiás

Meus amigos e fiéis leitores.  No dia 1° o blogueiro estará tirando mais umas férias.  Já aconteceu algumas vezes nestes dois anos, mas estas serão especiais.
Na volta, aguardem uma série de "posts"  bem legais.
Já falei por aqui que conheci quase todos os Estados brasileiros debaixo de uma barraca de camping ou dentro de um trailer.

Eu, a mulher e os filhos fizemos viagens inesquecíveis, a partir de 1970.

João Pessoa-PB
Itacoatiaras do Ingá-PB
Atalaia-SE
Transpantaneira-MT
No início praias próximas, depois praias mais distantes, sempre pelo Nordeste, nos Estados vizinhos:^Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte.  Depois, fomos alçando vôos maiores, até um dia em que fizemos uma viagem de 8.000 quilômetros, seguida de outra de 5.000, no ano seguinte. Na maior, saímos do Recife, rumo a Feira de Santana, depois Lençóis, na Chapada Diamantina, Barreiras, Brasília, Caldas Novas, atravessamos pelo triângulo mineiro para Araguari, Araxá, até chegar em Belo Horizonte, depois Ouro Preto, Guarapari, no Espírito Santo, subindo pela costa da Bahia, até retornarmos ao Recife quase um mês depois.  No percurso só ficamos em hotel/pousada duas vezes, por conta de dois acidentes: a quebra do parabrisas dianteiro, na Bahia e de um vidro lateral, em Goiás. Exemplifiquei nossa saga de ciganos com esta viagem, porque na época ninguém falava em turismo ecológico e os campistas eram vistos como excêntricos  espécimes.  Mas desses anos todos guardamos as melhores recordações. Desde filmes Super8 mm nos anos 70, passando pelas enormes fitas de vídeo, depois compact-video, ainda depois vídeo-digital e agora digital HD.  São dezenas, acho que mais de uma centena de horas de filmagens em que toda uma vida está resumida. Vale dizer que sempre atualizo esses arquivos, hoje todos em dezenas de DVDs bem guardados e com várias cópias.  Fotografias, desde as antigas preto-e-branco, em câmeras simples e sem o menor recurso até as atuais, são milhares. Somente cópias em papel, mais de 4.000, as digitais puras vão em mais de 15.000.  Dá um trabalho imenso cuidar disso tudo, mas a recompensa é grande demais.  De vez em quando nos reunimos para reviver nossa infância e juventude. E quando digo nossa é a da família inteira mesmo.  Meus filhos nos acompanhavam desde  os 6 meses de idade, até mesmo porque não tinhamos muita opção de viagem, por conta da grana curta.  E assim, varamos anos a fio, passeando juntos, nos divertindo pra valer e conhecendo o Brasil por dentro da alma e dos costumes do seu povo tão diverso, dos seus sotaques tão maravilhosos, da sua cultura tão rica, da sua gastronomia tão farta e saborosa.  Com o tempo, fomos prosseguindo só nós dois, eu e Edla, porque os "meninos" e a "menina" casaram, tiveram ou vão ter filhos e foram cuidar das suas vidas e fazer os seus passeios. Mas, nós continuamos e assim fomos conhecer Estados mais distantes, como o Amazonas, o Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, os dois Mato Grosso.  Faltava um destino que foi "criado" enquanto viajávamos com a "criançada": o Tocantins.  E nele, um fascínio: o deserto do Jalapão, que é assim chamado talvez somente pelas dunas imensas lá no meio do cerrado do que antes era o Norte de Goiás, Estado dividido ao meio.  E é pra lá que vamos agora. Viajamos no dia primeiro de março e voltamos no dia 7.  Tenho certeza de que será uma viagem inesquecível, tanto pelas paisagens que todos já conhecemos de tantas reportagens televisivas, quanto pelo clima de aventura/safári fotográfico, imersão num Brasil original, nativo, intocado.  Por isso tudo, minha ansiedade está indo aos picos máximos.  Lá onde vamos ficar, é o meio do nada.  Não há eletricidade, não há telefone, internet, televisão, mas em compensação, há a terra imaculada, o céu de puro azul, o cerrado a perder de vista, há montes e dunas a escalar, há rios puríssimos para mergulhar, cachoeiras, nascentes, capim dourado único. Há, também, remanescentes de quilombos que visitaremos, na sua vida simples e rotineira de convivência com a natureza original do lugar. Enfim, tenho a certeza de que estaremos fechando com "chave de ouro" essa etapa de vida de campista. Afinal, 43 anos depois, vamos enfim nos dedicar a outras viagens para destinos um pouco distantes: alguma coisa ainda da América do Sul, várias da América do Norte, onde mora meu filho mais velho, os países da Europa que nos interessam, um pouco da África e quem sabe do Oriente.  "O mundo é grande e a Felicidade até existe", dizia aquela canção do Roberto.  E eu acredito que ele tinha razão.

Pratagi-AL

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

MEMÓRIA DO BLOG - AS MAIS LIDAS POR ASSUNTO (7)

Sob esse marcador, publico de tudo: crônicas, poesia, cordel. Afinal tudo é literatura e se não é da melhor qualidade, debitem o blogueiro pela decepção. Mas a intenção é a  melhor possível. Portanto, relevem as falhas, as faltas de estilo ou de inspiração e tenham paciência com esse aprendiz das coisas.  O post mais lido e que é reproduzido aqui foi o da edição do dia 30.07.2012, com 399 visitas e 4 comentários. Teve o título VERSOS A GRANEL 4 (CORDEL VIRTUAL - POESIA E PARCERIA).

No Jornal da Besta Fubana (JBF), comandado pelo Escritor Luiz Berto, autor do premiado Romance da Besta Fubana e de inúmeros sucessos editoriais como "A prisão de São Benedito", "A Serenata", "Nunca houve guerrilha em Palmares", a Poesia corre solta, junto à crítica, à sátira e ao humor político sempre presente.  
Gente famosa da literatura nordestina e brasileira em geral ali pontifica, mantendo colunas e participando ativamente dos comentários às postagens sempre interessantes e atuais.

Entre estas está a poetisa Dalinha Catunda, membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, entusiasta dessa forma de versejar e que viaja o Brasil de Norte a Sul promovendo esta Arte poética multisecular, que encontrou solo fértil no Nordeste prodigalizado por um número que vai, certamente, aos milhares de poetas populares, que cantam seus versos de repente, acompanhados pelas suas violas, pandeiros ou ganzás, vendendo nas feiras seus cordéis ou promovendo entre si "pelejas" poéticas inolvidáveis, muitas delas antológicas.
O cordel, como movimento literário vem passando atualmente por uma revitalização impressionante e chama a atenção do público interessado nessa forma popular de poesia, a grande quantidade de eventos sobre o tema.  
Nossa seção de hoje tem a finalidade de apresentar a vocês algo do trabalho que Dalinha e eu vimos desenvolvendo nos comentários e "pelejas" virtuais nessa importante arena literária, que é o JBF.  Aliás, em breve, um projeto da Dalinha Catunda estará saindo às ruas: um cordel enfeixando uma dessas "pelejas virtuais", bastante interessante. Aguardem. Enquanto isso, curtam essas estrofes que, de ontem para hoje, escrevemos no Blog Cantinho da Dalinha e no JBF.
Trata-se de um conjunto de estrofes rimadas (na parte de Dalinha) em versos de sete sílabas, nas modalidades quadra, sextilha, septilha, oitava e décima (estrofes com 4,6,7, 8 e 10 versos, respectivamente).
Na minha parte, eu inverti a ordem das estrofes, começando pela décima e terminado pela quadra, mas com versos decassílabos (de dez sílabas), também conhecidos como heróicos.



MEU CANTO CRESCENTE
(Dalinha Catunda)
*
Sou lua nova crescendo
Do Jeitinho que eu queria
Assim vou resplandecendo
Nos braços da poesia.
*
Minha cantiga de amor
Eu canto na lua cheia
Porque tenho meu barqueiro
Que me chama de sereia
Com ele cato conchinhas
Que o mar sacode na areia.
*
Em noite de plenilúnio
Eu dispenso meu colchão.
No alpendre, numa rede,
Eu me deito em meu sertão
Pra ver a lua surgindo
De prata à noite tingindo
Com seu mágico clarão.
*
Eu sou uma retirante
E da minha terra amante.
Foi numa lua minguante
Que deixei o meu rincão.
Caminhei léguas a fio
Senti sede senti frio
Mas venci o desafio,
E voltei pro meu sertão.
*
A lua é sua madrinha
Me disse mamãe um dia
Confirmou a minha tia
E acreditar me convinha,
Pois quem se chama Dalinha,
E foi no sertão parida,
É pra lua prometida
Reza a lenda do lugar.
Eu que não vou contestar!
Gosto de ser iludida.
*

DECRESCENDO
(Fred Monteiro)
*
A Dalinha, poeta consagrada
aportou pelas praias do cordel
aumentando o valor do menestrel
sugerindo um estilo na jornada
e eu aqui vou topar essa parada
começando nas décimas tão boas
pra cantar todas essas minhas loas
à poesia e à cultura sertaneja
pois, então, doravante que assim seja
para a oitava eu remo essa canoa
*
Oito versos e também outras idéias
vou buscar entre terras galiléias
tal inseto vagando entre as colméias
busco o mel pr 'uma rima num floral
nordestinos terrenos parecidos
feito a terra de Cristo são feridos
pela seca e o calor tão repetidos
mas com tanta beleza visual
*
Pois agora no meio do percurso
da poesia ordenada como quis
minha amiga e parceira de cantar
a Dalinha do verso Imperatriz
Poesia ela guarda na su'alma
e transborda de forma leve e calma
cristalina qual canto do concríz
*
Em seu blog bebi sabedoria
pura fonte de rimas bem traçadas
conduzidas na pena da magia
uma arte por Deus presenteada
Academicamente ela porfia
dos cordéis pela vida consagrada
*
Finalmente chegando a porto firme
decassílabos em quadra eu confirmo
para que a parceira me confirme
se está certa a chegada que afirmo !

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

SAUDADE DE OLINDA

Capela de S.José dos Pescadores
Sempre que vou a Olinda, bate uma saudade da infância. Morei lá por dois anos. A casa não existe mais, hoje é mar.  Uma grande ressaca em 1951 e o avanço constante do mar naquela área destruíram toda essa parte da orla.
Meu pai havia alugado uma casa à beira-mar, na então Avenida Getúlio Vargas, no trecho próximo à capelinha de São José dos Pescadores, que fica de frente para a Rua do Sol.  Entrando à esquerda do oitão da capela, a quarta casa da rua era a nossa.  Terreno grande, como os das cerca de dez casas desse quarteirão.  
A praça Dantas Barreto
Na esquina havia um "Balneário" com bar. Era ali que os banhistas de fim-de-semana tomavam banho de água doce e trocavam de roupa para pegar o ônibus ou o bonde de volta para o Recife. Da rua do Balneário, avistava-se a Pracinha em que Dedé, minha madrinha levava a mim e aos meus irmãos, para brincar à tarde. Uma rua que sai da Praça sobe a ladeira lateral do Seminário de São Francisco, ladeada de coqueiros .
Casa da Rua do Sol, provável endereço do
Instituto Santo Elói, minha primeira escola
Na Rua do Sol ficava a minha primeira Escola, onde cheguei a fazer o Jardim da Infância durante um ano: o Instituto Santo Elói.   Uma casa grande, com janela arredondada.  Não tenho certeza se era exatamente essa da fotografia, mas se não for, era geminada com ela. Havia umas seis casas assim, uma espécie de vila, todas iguais, na minha época. Mas as cores, recordo bem, eram essas amarelo ocre nas paredes e vermelho escuro nas portas e janelas. 
A casa do Papa-Figo e o Fortim do Queijo
Mais adiante, quase na Praça do Carmo, havia um casarão antigo com muitas janelas, sempre fechadas.
A casa tinha um porão cheio de grades que ficava ao nível da calçada e ainda hoje está exatamente igual há 62 anos atrás como, de resto todos esses imóveis das fotos.  Eu morria de medo de passar por ali.  Diziam que no porão do casarão morava um "papa-figo".

Um pouco depois, o Fortim do Queijo mirando o mar azul da Marim dos Caetés, hoje restaurado, exibe a rusticidade das fortificaçõescoloniais portuguesas.
Teria muito a dizer de Olinda dos 
meus tempos de menino, mas fico aqui  remoendo as lembranças da minha vizinhança mais próxima.
E para ilustrar musicalmente tudo isso, deixo para vocês uma imagem sonora das minhas lembranças carnavalescas da velha cidade.  O nome da marcha-de-bloco não poderia ser outro: Saudade de Olinda, ora pois !


ESTE POST É UMA HOMENAGEM AO MEU PAI FREDERICO MONTEIRO DA CRUZ QUE HOJE FARIA 96 ANOS.  ELE SE EMOCIONAVA ÀS LÁGRIMAS QUANDO EU TOCAVA E CANTAVA PARA ELE ESTA MARCHINHA.








terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

MEMÓRIA DO BLOG - AS MAIS LIDAS, POR ASSUNTO (6)

Fico feliz por ter feito algumas músicas que de certa forma tiveram seu público. Tive uma atividade bastante prazerosa como compositor e cantor. Meu público sempre foi muito modesto: família e amigos, eventualmente também ouvintes da Rádio Universitária, a única, que eu saiba, que já tocou minhas canções.  Afora, por motivos óbvios, uma Rádio FM ( Pacoland, 101.3 MZ, do Recife) porque lá eu tinha dois programas, que produzia e apresentava (Pernambuco Musical e Pop 60).  Então, ao lado de artistas de sucesso, eu também às vezes divulgava meu trabalho.  Mas, durou pouco, apenas 6 meses.  Então, surpreendi-me por ter, aqui no blog, um post sobre música que alcançou 853 acessos até hoje. "Travesseiro de Macela" é o nome desse xote, que fala sobre lembranças de um adolescente e das suas vivências interioranas, no Agreste pernambucano.  E a postagem foi esta, no dia 31 de outubro de 2011.

TRAVESSEIRO DE MACELA

Flores de macela
Vou começar este texto de hoje dando uma de botânico.
Assim, transcrevo a definição científica dessa planta cujas flores ilustram o post:
A Achyrocline Satureioides, da família asteracea, vulgarmente conhecida como macela ou marcela e por eloyatei-caá em Tupi-guarani.
As flores da macela costumam ser usadas pela população como estofo de travesseiros para os bebês, por se acreditar que tenha efeitos calmantes.
De fato, lembro bem de quando era pequeno de observar que minha mãe fazia uso, para acalmar o sono dos meus irmãos ainda bebês, de um travesseirinho pequeno e muito cheiroso.
Como fui asmático até os dez anos, ou um pouco mais, acho que usei bastante esse artifício, porque as recordações me acompanharam por muitos anos.
Então, uns anos atrás, bateu uma saudade inexplicada das férias que eu passava no interior, observando a vida simples do povo do campo e tentando ser e pensar como um nativo.
Remoendo essas lembranças, achei por bem perpetuá-las num xote que chamei de “Travesseiro de Macela”. Aqui vai a letra dele:

Já faz tempo que eu não vou lá na terrinha
Pra comer mel com farinha, rapadura e munguzá
Assar um milho bem na brasa da fogueira
Dançar xote a noite inteira, ouvir o galo cantar

À tardinha, montar no meu burro velho
Prosear com “seu” Orélio, encostado na porteira
Ah que saudade eu sinto da minha terra
Ver o rio descendo a serra, tomar banho de cachoeira

Quando eu chego lá em casa é o latido
Do cachorro preferido e um cheirinho de canela
De madrugada o travesseiro de macela
Vai saber que eu estou chorando, morto de saudade dela

Saudade dela, ai, ai, saudade dela ai, ai
Eu estou roendo é morto de saudade dela...

Gravei a música, que consta do repertório do cd “Eu sou assim”, juntando composições que fiz para os meus familiares: pai, mãe, avó, madrinha, esposa, filhos.
Aos poucos vou trazendo essas lembranças aqui para o nosso espaço.

Aqui o link para a música


domingo, 17 de fevereiro de 2013

MEMÓRIA DO BLOG - AS MAIS LIDAS, POR ASSUNTO - (5)

Nesse dia-a-dia de blogueiro a gente aprende coisas interessantes.  Como, por exemplo, verificar que embora seja bastante acessadas, certas matérias não despertam no leitor a vontade de comentar.  Nessa postagem de hoje, uma das mais concorridas, com 873 visitas, não há sequer um comentário.  Por que ? Não tenho a menor idéia. Absolutamente ninguém, nem o próprio entrevistado quis comentar o texto.  Aí eu penso numa resposta a isso. É que certos textos e suas ilustrações se bastam a si mesmo e a quem os lê. E aí não dá vontade mesmo de comentar.  É por aí, eu acho. Então vamos relembrar essa pequena e útil viagem a Bezerros, terra de artistas e poetas.  O post é de 31 de maio de 2011.



Estive semana passada em Bezerros-PE, cidade das cavalhadas, dos Papangús, da Serra Negra e principalmente, da Xilogravura e dos Cordéis do poeta J. Borges e da sua privilegiada família de artistas (irmão, cunhada, filhos, sobrinhos que trabalham com a xilogravura e literatura de cordel.)

Um verdadeiro clã de artistas espalhando há décadas, de Pernambuco para o Mundo, a sua visão mais pura do homem da região, seu trabalho, seu lazer, sua vida, muitas vezes atribulada pela necessidade da sobrevivência e pela inclemência do clima e da terra.  
 Gosto de visitar Bezerros e sempre que posso estou por lá, ora para curtir um pouco de frio na Serra Negra e de lá admirar a paisagem ainda tranquila da região, ora para pular atrás dos blocos de papangús no Carnaval autêntico daquela boa terra.
Desta vez fui com uma missão específica de comprar umas xilogravuras para mandar para o meu filho Fred, que reside nos Estados Unidos e pensa dia e noite na terrinha aqui. Na oportunidade, conheci um Atelier exemplar, a Casa da Xilogravura, do Sílvio Borges, de quem fiquei amigo e fã. Um artista, filho de artistas (sua mãe Nena Borges, é cunhada de J.Borges , casada com Amaro Francisco, irmão já falecido do líder do clã.)

Gravei um depoimento do Sílvio, que disponibilizo aqui para vocês, a fim de que possam conhecer melhor o seu trabalho e o seu amor por essa Arte tão nossa. A música de abertura e encerramento do vídeo, esqueci de colocar nos créditos, é de minha autoria, executada pela Banda de Pífanos Flor de Taquari.
Chama-se "O pife de Rico" e é uma homenagem que fiz ao meu filho flautista Enrico.  Ouçam aqui:

sábado, 16 de fevereiro de 2013

MEMÓRIA DO BLOG - AS MAIS LIDAS POR ASSUNTO (4)

Os marcadores de assunto que elegi para distinguir os posts do Blog são meros indicadores por área de interesse. Muitos posts podem se enquadrar em mais de uma categoria, como esse, que diz respeito a música, vídeo e literatura de cordel. São sete marcadores ao todo, já que o blog é "sete instrumentos"... tem a ver, portanto.  Fiz essa brincadeira de improviso, com a própria câmera do computador, aproveitando umas décimas a respeito do temor que o Ministro Joaquim Barbosa incute nos políticos desonesto do Brasil.  Não gosto de tratar de política no blog, mas a matéria é tão notória que não há como escondê-la.  Se alguém não gostar da abordagem, minhas desculpas, mas Verdade é Verdade. Curtam aí como foi essa postagem, na categoria VÍDEOS, que teve 10 comentários e foi vista 268 vezes.


Como vocês já devem saber (se não souberem estão sabendo agora) eu tenho uma coluna chamada "Mascate das Lembranças", no Blog Jornal da Besta Fubana (bestafubana.com) onde publico matérias exclusivas, que também reproduzo aqui, e vice-versa, as matérias aqui publicadas.
Ontem, devido ao sucesso da publicação do cordel "Mensalão Vergonha Nacional", tive a idéia de fazer uma sessão de video-clipes com meus cordéis, publicados ou inéditos.  Como sou aprendiz de novato na arte da cantoria, ficou bem improvisado mesmo.  E assim é que eu acho bom, porque afasta o defeito da mistificação.. Pois então, curtam (se conseguirem, hahaha) e caso aprovem me dêem um retorno na área de comentários ou por email fredcrux@gmail.com ...  Abração !



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

MEMÓRIA DO BLOG - AS MAIS LIDAS, POR ASSUNTO (3)

1032 acessos, 12 comentários. Num post que cuida de coisas da família ?  A quem tanto interessaria ?  pergunto-me todo dia.  E a resposta é fácil: à família mesmo !  Principalmente aos meus irmãos e irmãs. que vêm sempre aqui, num preito de gratidão e amor por nossa mãezinha Maria tão amada por todos nós e 
por todos que a conheceram.  Repito, pois, com muita gratidão por tudo o que ela
representa para nós, essa homenagem singela à nossa querida.


Um dia especial ?   
Demais ! Mas, por quais motivos ? 
Nunca foi para nós o "dia do trabalho".   
1° de maio, para nós, filhos de Maria Monteiro da Cruz, é o dia DELA !  O dia da nossa querida. Da Mãe mais amada e mais BELA !
Procurei muito, nos meus arquivos por esta foto.  Era a sua foto preferida. Tinha então o frescor dos seus 18 anos e a beleza que sempre teve. Desde pequenininha.
Um sorriso aberto, franco, lindo..A pureza no olhar, no gestual. O amor no coração, que transbordava nas atitudes e no carinho por nós filhos e por todos que a cercavam.
Maria, minha mãe, Maria nossa mãe.  
Sempre nos nossos corações. 
FELIZ ANIVERSÁRIO, MINHA LINDA !

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

MEMÓRIA DO BLOG-AS MAIS LIDAS, POR ASSUNTO (2)

cerejeira rosa - Redmond, WA-USA primavera 2009

cerejeira branca - Redmond, WA-USA, primavera 2009
 Prosseguindo a série de posts mais lidos por marcador, trago hoje um dos mais concorridos do blog. Ipês e Cerejeiras, publicado em 1° de fevereiro de 2011, com 954 visitas e 7 comentários.   É da série "Fotografias" e trata do contraste entre belas flores do cerrado brasileiro (ipês) e do Estado de Washington-USA (cerejeiras). Tenho um carinho grande por essas fotos, que me trazem boas lembranças de viagens bem diferentes: ao Pantanal do Mato Grosso e a Redmond, região de Seattle, onde mora meu filho que visito de vez em quando.


Ipês e cerejeiras; Rosas e brancos; Brasil e Estados Unidos; Pantanal e Pinheirais.
Tantos contrastes, datas diversas, lugares ainda mais..
Mas a beleza é uma só; as flores são flores. 
Aqui e lá falam a mesma linguagem. A linguagem da Natureza, a linguagem das cores.. 
Um viva às flores, um viva à Vida !  
Que elas permaneçam vivas. No mato, num pote, numa lembrança, numa foto..



ipê branco - Pantanal MS primavera 2010


ipê rosa - Pantanal, MT, primavera 1996

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

MEMÓRIA DO BLOG - AS MAIS LIDAS, POR ASSUNTO

Essa é a primeira postagem de uma série que reeditará as postagens mais lidas e também -eventualmente- algum comentário dos leitores e respostas do blogueiro.
O critério utilizado foi meramente o estatístico, uma vez que o "Blogger", provedor que abriga nosso blog no Google, fornece diariamente esses números ao assinante.  Começo pelo marcador ESPORTES, que tem 18 postagens (é o menos aquinhoado, uma vez que o blogueiro prefere, por motivos óbvios correr, nadar, pedalar, caminhar, do que escrever sobre isso, hehehe).  O post selecionado teve o título DIÁRIO DO CORREDOR - PARA AFERIR O PROGRESSO e até que nem foi muito comentado: apenas 5 comentários, contra 14 de "CORREDORES E "CORREDORES".  Vamos relembrar !

Nunca foi bom em Matemática.. Eu me virava, nem sei como, pelo Ginasial.  Como queria fazer Direito, cursei o Clássico (hoje seriam Humanas). Livrei-me assim de uma só vez de alguns fantasmas terríveis, como Física, Química, Trigonometria e outras coisas que não me entravam pelo cocoruto.  Mas, alguma coisa sempre você tem que utilizar, em que letras são substituídas por números.  É a linguagem da vida se metamorfoseando em valores, sejam financeiros, de avaliação, de equiparação, sei lá..  Valores numéricos são símbolos primordiais na civilização e você termina tendo que lidar com eles.  Eu preferia que não fosse assim.   Mas, desde os pré-históricos que mantinham seus calendários riscados na pedra contando luas e colheitas, até os "managers" de Wall Street, muito número rolou por esse mundo velho sem fronteiras.  Enfim, o Universo é Matemática pura ! No Esporte não seria diferente.. Em treinamento esportivo temos que nos basear nos nossos números particulares para melhorarmos ritmo, resistência e velocidade.  Somente com uma observação constante de certos valores numéricos isso é possível. Eles se referem -principalmente- a: frequência cardíaca, ritmo, distância percorrida e o próprio peso corporal.  Tudo isso está mais do que relacionado, os números se entrelaçando numa equação simples, porém aparentemente indecifrável para quem não gosta de lidar com eles.  Portanto, à medida em que o corredor evolui, se ele anota seus números e os acompanha com cuidado, vai verificar que, na medida em que ele melhora seu condicionamento, sua frequência cardíaca basal e o seu peso corporal diminuem em proporção inversa ao aumento do ritmo de corrida e das distâncias percorridas. É muito importante que se observem também fatores  subjetivos e objetivos que interferem no treinamento, como:  indisposições, pequenas lesões de estresse, condições físicas gerais, condições do percurso escolhido, topografia, temperatura, etc.  Um treino pode ser perfeito num determinado dia e no mesmo percurso e terrível no outro.  Basta a umidade do ar, o aumento anormal da temperatura, uma gripe mal-curada, uma entorse de que descuidamos no dia anterior, um estado emocional conturbado por algum problema doméstico ou profissional, para estragar a melhor das corridas.  Para tudo isso, não há nada melhor do que anotações diárias desse desempenho geral.  Se você mantém um "diário", vai ter muito melhor condição de se observar do que um corredor que não o mantém.
Aprendi, com  Ayrton Ferreira, corredor baiano, veterano e muito competente, a anotar tudo que se relacionasse com meus treinamentos e fiz disso um hábito diário, tão constante como vestir o calção, amarrar os sapatos e sair correndo pela madrugada. Durante 11 anos, os mais produtivos dos meus mais 28 de atividade constante, anotei religiosamente  os valores de cada treinamento e competição realizada.  Com isso constitui uma ótima base de dados que ainda hoje guardo como um dos troféus importantes que consegui na prática da corrida.  Hoje dispomos de programas e tabelas pre-moldados em softwares dirigidos a corredores de todos os níveis.  No meu tempo de iniciante, 1983, não havia nada disso, que fosse do meu conhecimento.  As anotações era em papel mesmo e a sua interpretação idem.  A partir desses dados  desenhei gráficos para um período de 36 meses de autoavaliação, em três fatores que me interessavam: frequência cardíaca basal, distância e ritmo. Coisa simples, somente para entender mesmo o porque dos resultados muito bons que eu obtive com a corrida. Passo para vocês agora uma amostra do meu "diário de corredor" e desses mal-desenhados gráficos.  O primeiro volume do "diário" foi o próprio livro do Ayrton Ferreira.  O segundo mandei fazer numa gráfica de um amigo, com tabelas idênticas às do livro original.  Claro que hoje há maneiras mais fáceis de se manter essas anotações.  Mas as minhas, eu garanto, nunca sofreram com o surgimento de vírus, "bugs" de softwares, queima de HDs e outras mazelas eletrônicas. O papel dos livros está amarelado pelo tempo, mas as anotações estão lá, testemunhas dos meus progressos. Escolhi aleatoriamente 2 páginas desses diários para comentar.

Abrindo a tabela 01 , vocês poderão observar o treinamento de um iniciante, com um ano de corrida, quilometragem baixa e tempos ainda muito abaixo do exigido para me considerar um corredor razoável.  Depois de uma corrida de 9,2 km num ritmo de 5,25/km, por exemplo,  tive um resfriado por dois dias, apesar de fazer uma recuperação..e já vinha sentindo dor no tendão dois dias antes..típico de iniciante, mesmo.

Na tabela 02 (quando já tinha alguma experiência) nota-se um ritmo bem melhor e mais regular (correndo 12 km x 2 no final de semana a um ritmo de 4,35/4.40) no tempo de  55 a 58 min..e a frequência basal chegando até 38 bpm .. se bem que geneticamente eu fui privilegiado.. na época pesava 63 ks, para 1,78 altura.
No gráfico 02 podemos acompanhar o aumento da quilometragem da minha época de maratonista iniciante (a primeira maratona em 1985) numa mínima de 80 km mensais  e máxima de 280 km mensais, em finais de período de treinamento. No gráfico 01, a queda bastante acentuada dos tempos para os 10 km (entre 54 min de 1984 a 39 min em 1987.. nas últimas anotações  que tenho cheguei a correr os 10 km para 37 minutos). O gráfico é inversamente proporcional ao aumento da quilometragem.. No mesmo sentido, inversamente proporcional à melhoria de ritmo e aumento de quilometragem é a queda acentuada também da frequência basal, indo de uma média de 56 bpm em 1984 até uns 40 bpm em 1987, como se vê no Gráfico 03.





Uma última tabela resume minhas últimas competições.. ao todo foram 62, entre dezembro de 1983 e outubro de 1991. Desde uma corrida de 2km que terminei em 6min13 segs (ritmo de 3min06 segs p/km) até o meu melhor tempo na Maratona, de 3hs49min, curti com muito prazer e continuo curtindo até hoje, esse esporte maravilhoso que é a corrida rústica ! Por tudo isso, considero de vital importância anotar tempos, percursos, sentimentos durante e depois da corrida, tomar a frequência basal (antes de levantar da cama para o treinamento), anotar tempos de treinamento, de competições, etc.. Claro, tudo isso sem estresse, tornando-se um hábito como de resto a corrida se torna um hábito e automatizamos todas essas coisas.  Relembrar, muitos anos depois, de tudo isso, é estender o prazer e colher os dividendos do que plantamos por toda uma vida sadia. Espero que estas lembranças sejam úteis, de alguma forma. E boa corridas para todos !

sábado, 2 de fevereiro de 2013

CORDELARIA MONTEIRO

Cordéis - minha nova mania definitiva
Tem gente que pensa que eu só acumulo manias.  Pode até ser verdade. Mas eu penso que minhas manias têm durado a vida toda. Foi assim com a música, que começou aos 8 anos de idade, quando Tia Mary me deu uma gaita cromática de presente. Nunca mais parei de tocar (mal, diga-se de passagem) vários instrumentos (daí no nome deste Blog).
Viagens, campismo, turismo ecológico, trilhas, caminhadas, natação, corridas e bicicleta, nem conto mais como manias.  Tudo isso faz parte, desde sempre, da minha vida. É escolha mesmo, de um estilo de vida que pratico, curto e propago.  Quem me conhece de perto, sabe  disso.  E não abro mão, há dezenas de anos.  Só abri mão, nesse ponto, de uma péssima mania: fumar.. isso eu larguei em 1978, pra nunca mais voltar. 
Com a fotografia, comecei também ainda muito pequeno, quando meu Pai me deu de presente uma câmera (não tenho certeza mais se era Agfa ou Kodak) modelo caixão.  Idem com o cinema Super-8 e depois o Vídeo ( isso desde 1970).
Literatura talvez seja a mais recente, pelo menos considerando a impressão do primeiro livrinho de crônicas (1980), outro de poemas e crônicas (2002) e mais um de crônicas (2008).
Pois dentro dessa última "mania", inclui há um ano a chamada "Literatura de Cordel".  Comecei devagar, pé-ante-pé, pisando em ovos, porque o terreno é movediço, escorregadio. Ao mesmo tempo, íngreme.  São tantos modos, tantas regras, tanta coisa por estudar e aperfeiçoar, que muita gente desiste logo de início.  Atinge-se muito menos pessoas com o Cordel do que com outras modalidades literárias. 
Mas, apesar das dificuldades, é gratificante encontrar a rima certa, manter a cadência e métrica corretas, encontrar o caminho para desenvolver bem qualquer tema, e, principalmente, viver o Cordel como ele pode e deve ser vivido.  
Como uma forma remanescente de poesia medieval, como se fôssemos um trovador dos caminhos ibéricos, um contador de histórias, um humorista sarcástico, um narrador de romances de cavalaria... Assim o fizeram e fazem os nossos grandes trovadores e poetas nordestinos, já consagrados no meio, muito embora, mais das vezes, ilustres desconhecidos do grande público consumidor de literatura.  Não por ignorância, mas por falta de maior divulgação do Cordel nos grandes centros urbanos.  Em áreas rurais, por incrível que pareça, principalmente nos Estados mais pobres do Nordeste, o Cordel é, muitas vezes, a CARTA DO ABC de centenas, milhares, dos nossos conterrâneos.  Na foto, meus primeiros e recentes cordéis editados. Quem quiser conhecê-los deixe seu email ou endereço na área de comentários, para que possamos combinar forma de envio (impressa ou eletrônica).