segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

MÚSICAS PARA O BLOCO FLOR DA VITÓRIA-RÉGIA (6) DEUSA AMAZONA


Flor da Vitória-Régia, o Bloco de Casa Forte
Em 1935, o grande paisagista Burle Marx inaugurou uma carreira de sucesso quando projetou sua primeira grande obra pública no Recife, a Praça de Casa Forte. Até então uma área aberta, conhecida como Campina da Casa Forte, em frente à Igreja Matriz do bairro que tinha sido, no passado, a sede do histórico Engenho da Casa Forte, onde batalhas se travaram na luta contra o invasor Holandês em idos do Século XVII.

Faz 61 anos que moro no Poço da Panela e em Casa Forte e tenho um grande amor por esses bairros (o primeiro originado de uma "povoação" à beira do Rio Capibaribe, terra de José Mariano, o Libertador e o segundo um solo sagrado de onde o nascente exército brasileiro venceu mais uma batalha para expulsar do solo pátrio o exército invasor).

Pois Burle Marx, no projeto grandioso do ajardinamento da Praça de Casa Forte, utilizou-se largamente de espécimes da flora amazônica, incluindo árvores de grande porte, destacando, em seu canteiro central um lago circular, em que reinou absoluta em meio a outras plantas do Rio Amazonas, como ninfeias, tinhorões e aningas, a singular "vitória-régia" dominando tudo, por sua beleza e excentricidade.

Assim, com o decorrer do tempo, esse parque que é um verdadeiro patrimônio da Cidade Maurícia, tornou-se conhecido, também, como a Praça da Vitória-Régia. Tanto assim é que, em 26 de janeiro de 1936, o Diário da Manhã publicou com todo o destaque reportagem fotográfica sob a manchete "O MAIS BELLO JARDIM DO RECIFE", destacando a beleza das suas ninféias e em especial "o encanto das victórias-régias".

Aos sete anos de idade eu, menino de curso primário da Escola Padre Donino, naquela Praça, ansiava pelo término das aulas, para ficar passeando pelos seus jardins e, principalmente, admirando aquela planta fantástica que, segundo ouvia falar, aguentaria o peso de uma criança em sua enorme folha de um metro de diâmetro que de tempos em tempos se ornava com uma belíssima e enorme flor cuja cor cambiava do violeta ao branco mais puro, em alguns dias.

Assim, quando fundei, com minha família, o Bloco Flor da Vitória-Régia, procurei ressaltar nas suas cores e símbolos todo o amor que lhe dedicava e logo após o Carnaval de 2001, compus "Deusa Amazona", a música que ilustra este "post". Note-se que no título permiti-me uma "licença poética" quanto ao termo "amazona". O correto seria, naturalmente, "amazônica", por se referir à sua origem daquele Estado brasileiro.

Aqui, a letra desta música do nosso Bloco:

DEUSA AMAZONA (marcha de bloco de Fred Monteiro)

Oh, flor da vitória-régia
Rainha de Casa Forte
Sem ti não há quem suporte
Tanta saudade so Carnaval
A lua prateia as águas
Em que repousas serena
E as mágoas se tornam amenas
à tua presença real

Se Deus, ao criar as flores
Em noite tão soberana
Ungiu-te com Seus favores
Oh, minha deusa amazona
Cobriu-te então de amores
E nunca mais te esqueceu
Pois dentre todas as flores
A preferida Ele te escolheu


Este frevo-de-bloco (ou marcha-de-bloco, como usualmente prefiro), foi gravado também numa versão bem seresteira pelo grande músico e amigo Geraldo Azoubel, num arranjo especial para a sua gaita de boca ou "realejo", como preferia chamar. Incluo aqui as duas versões, a primeira com a nossa orquestra de pau-e-corda (destaco o bombardino floreado do meu amigo músico da Banda Sinfônica do Recife, o Américo e o flautista Valdemir); a segunda com arranjo meu e participação também do Valdemir, na flauta.

Deusa Amazona versão do Bloco FVR



Deusa Amazona versão solo Geraldo Azoubel







sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

MÚSICAS PARA O VITÓRIA-RÉGIA (5) - INALDO LIMA

O Bloco Flor da Vitória-Régia desfila no Recife Antigo (Ponte Maurício de Nassau)













Desde o início do Bloco, o compositor e amigo Inaldo Lima, Professor aposentado da UFPE, músico criativo e recordista de gravações de frevo e choro, Prefeito da Praça do Choro (na sua residência) onde congrega a nata dos "chorões" daqui e de fora nos prestigiou com seu talento.

Inaldo é pai de duas exímias musicistas (já falei sobre elas aqui) as gêmeas Mayra e Moema (bandolinista e cavaquinista respectivamente -ou será o inverso?... eu sempre me atrapalho) além de Iuri, um contrabaixista de primeira. O próprio Inaldo foi também músico, clarinetista da Banda do Liceu Pernambucano.

Apaixonado pelos blocos líricos do Recife, Inaldo compôs para todos eles.  Para o Vitória-Régia nos presenteou com duas pérolas musicais. Este "Voltando ao Vitória-Régia" foi a primeira que nos ofertou e cuida do arrependimento de uma das nossas coralistas e do seu retorno ao Bloco.

O humor é uma característica de Inaldo, além dos hilários títulos que ele põe nos seus frevos de rua, muito técnicos e bem arranjados (ele próprio é arranjador).

Segue a letra e a música do Mestre Inaldo que um dia, no texto de uma capa de disco seu, eu disse ser (e é, sem dúvida) uma "represa humana de talento".  Isso porque, num curto espaço de tempo Inaldo gravou centenas de músicas, todas de excelente qualidade.

VOLTANDO AO VITÓRIA-RÉGIA (Inaldo Lima)


Eu acho é pouco que você esteja sofrendo
Pela mania de falar sempre demais
Dizendo coisas que você nem sente
Deixando a gente na beira do cais

Você pegou um barco e foi embora
Em outro bloco você foi cantar
E agora retorna chorando
Ao Vitória-Régia pedindo pra voltar

Eu não sei que fazer pra resolver o seu problema
Pois o Coral já está "na medida"
Com Tatiana, Henny, Karina e Mida
Dulce e Dalila afinando o cordão

Você precisa mudar menina
Se aconselhar pra não ficar sempre na mão
Procure Fred que é "macaco velho"
Que logo, logo, ele acha a solução...

VOLTANDO AO VITÓRIA-RÉGIA
Interpretação: Coral Edgard Moraes

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

MÚSICAS PARA O BLOCO FLOR DA VITÓRIA-RÉGIA (4) - O HINO DO BLOCO

O autor, ladeado pela filha e esposa, com os flabelos dos
dois Blocos que fundou com a família: Cinema Mudo e Vitória-Régia
Em 12 de Setembro de 1998, numa reunião da família para comemorar aniversário de casamento dos nossos pais, resolvemos fundar um Bloco Carnavalesco Misto para brincar em paz nosso carnaval em Casa Forte.

Eu havia composto meses antes um frevo-de-bloco com essa intenção mas precisa sondar a turma toda pra ver se topavam a empreitada, que não é fácil.

Só gravei oficialmente esta música quando o Bloco completou 10 anos, ou seja em fins de 2008.  É que o compositor Getúlio Cavalcanti solicitou uma parceria, para compor uma melodia para a minha letra.

Aceitei e durante 7 anos em que desfiliamos nas ruas de Casa Forte, o Bloco cantou essa versão, que ficou bem mais conhecida, em virtude do longo tempo de exposição.

Mas, por questão de respeito e amor à história do Bloco, gravei a versão original com melodia e letra de minha autoria.  Não é o primeiro caso, na história da música brasileira, de termos uma letra de música cantada com duas melodias diferentes, nem será a última.

A letra vai aqui transcrita e as gravações logo abaixo.
Por favor, entendam que esta divulgação não tem o caráter de comparar o que é incomparável.
São dois trabalhos de criação diferentes e completamente diversos, cada melodia com o clima que o compositor (eu e Getúlio, respectivamente) imprimiu à obra, com o seu próprio sentimento.

HINO DO BLOCO FLOR DA VITÓRIA -RÉGIA
(Letra e música de Fred Monteiro)

Escuta, Casa Forte!  Teu Bloco vai sair
E a Flor da Vitória-Régia
Outra vez na Praça vai se abrir
Viemos para cantar glórias e tradições
De um bairro secular
À luz dos seus eternos lampiões

Relembra, Casa Forte
O Engenho de Anna Paes
As lindas sinhazinhas
Correndo em seus quintais
E à luz do sol poente
Ao som das cigarras daqui
Saudamos José Mariano
E a Liberdade que ele fez surgir


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FLOR DA VITÓRIA-RÉGIA
(Música: Getúlio Cavalcanti / Letra: Fred Monteiro)


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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

DOUTOR, EU NÃO SOU POETA !


Nessa atividade diária com a poesia de cordel, de dois anos pra cá, tenho aprendido -e muito- com amigos poetas já consagrados.  
O Jornal da Besta Fubana é um polo de desenvolvimento e luta pela manutenção desSa tradição maravilhosa que os poetas nordestinos não deixam morrer.
A literatura de cordel é uma marca na cultura do Nordeste brasileiro que interessa a estudiosos e pesquisadores da literatura universal, tanto pelo seu aspecto folclórico, como do ponto de vista histórico.
Fincou raízes por aqui de tal maneira que é difícil dissociar seus elementos com os da cultura ibérica de onde evoluiu e aqui aportou trazido pelos colonizadores.
Apaixonei-me de tal modo por essa arte que sempre admirei desde a infância, ouvindo os emboladores, cantadores, repentistas em geral, mas nunca havia tentado escrever poesia de cordel. 
Até que, instigado pelo movimento cordelista abundante no Jornal da Besta Fubana, que congrega gente de todo o Brasil, passei a praticar e estudando sempre as formas e modos de versejar, tentando sempre obedecer às rígidas regras dessa arte, tenho hoje algum reconhecimento dos meus pares.
E uma forma de agradecer a eles é divulgar as suas glosas, no meu espaço literário, que são os blogs SETE INSTRUMENTOS e PROSA & RIMA (este desativado, no momento) e também na minha coluna do JBF (Mascate das Lembranças).
Trago então um mote do caro poeta JESUS DE RITA, de Acari, RN, que foi glosado pelo nosso grupo de apaixonados por cordel, destacando Maria de Lourdes Catunda, de Ipu (CE), a nossa querida DALINHA CATUNDA.
O mote é: "Doutor eu não sou poeta, sou curioso somente."  Vamos às glosas:



Jesus de Rita de Miúdo

Queria cumprir a meta
De viver só de poesia
Mas descobri outro dia
DOUTOR, EU NÃO SOU POETA.
Isso muito me afeta
Chegando a ser comovente
Meu esforço diligente
Pra fazer verso perfeito
Mas creio que não tem jeito
SOU CURIOSO SOMENTE.  

Dalinha Catunda 

Nunca tiro o meu da reta
Na hora de versejar.
Não tenho medo de errar
DOUTOR, EU NÃO SOU POETA.
Mas est’arte predileta,
Remexe com minha mente
É mágica e envolvente,
E ninguém me contradiz
Porém sou só aprendiz
SOU CURIOSO SOMENTE.

 Fred Monteiro

Eu atiro a minha seta
mas não acerto no alvo
porque além de ser calvo
DOUTOR, EU NÃO SOU POETA
pois nesta arte seleta
só tem cabra inteligente
daquele tipo de gente
que é difícil encontrar
por isso posso afirmar:
SOU CURIOSO SOMENTE !

Jesus de Rita

Minha alma se inquieta
Triste está meu coração
Pois cheguei à conclusão
DOUTOR, EU NÃO SOU POETA.
Sou apenas um atleta
Aplicado e penitente
Vivendo o meu presente
Aprendendo bem ligeiro
Não sou um Fred Monteiro
SOU CURIOSO SOMENTE.

Fred Monteiro

Eu posso ser até atleta
pois corri a Maratona
sete dias por semana
MAS DOUTOR, NÃO SOU POETA
Passo o chapéu na coleta
pra servir ao indigente
que eu sou neste repente
eu juro e não acreditam
e peço que me repitam:
SOU CURIOSO SOMENTE !

Jesus de Rita

Mas como bom estafeta
Sou atalaia de linha
Aprendendo com Dalinha
DOUTOR, QUERO SER POETA.
Meu espírito arquiteta
Um prédio de bela frente
Com mil versos num repente
Sempre em boa companhia
Pois nessa engenharia
SOU CURIOSO SOMENTE.

Fred Monteiro

Me interessei nessa meta
de glosar esse bom mote
eu sei que sou um pixote,
DOUTOR, EU NÃO SOU POETA..
sou somente “versão Beta”,
Esforçado e persistente,
destemido e renitente,
posso ser, e eu admito
mas digo, muito contrito:
SOU CURIOSO SOMENTE !

Mauricio Santos 

Tentei atingir a meta
Mas não passei do tentar
E sou franco ao declarar
DOUTOR, EU NÃO SOU POETA
Por isso peguei a reta
E saltei do meu batente
Me afastei do repente
Segui outra profissão
Pode anotar meu patrão
SOU CURIOSO SOMENTE

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

MÚSICAS PARA VITÓRIA-RÉGIA (3) SAMUEL VALENTE

Na Praça de Casa Forte, o Bloco Flor da Vitória-Regia prepara-se para desfilar
No Festival de Frevo da Prefeitura do Recife, ano de 2006, o compositor e amigo Samuel Valente, grande pesquisador da música brasileira e do frevo em especial, escreveu para o nosso Bloco uma marcha-de-bloco belíssima.
Classificada para aquele festival a música agradou em cheio os amantes do gênero e foi gravada com a Orquestra do Festival e Coral Edgard Moraes, que fez uma apresentação emocionada dessa canção.
Ficamos por demais orgulhosos de ter no nosso repertório uma música de tão grande qualidade poética e melódica.
Uma prova do carinho de todos os maiores e melhores carnavalescos de Pernambuco para com a nossa agremiação, que embora já fora dos desfiles, pois desde o ano de 2005 já não participava do Carnaval, continuou inspirando nossos poetas e brincantes.

Ouçam aqui o motivo de tanto orgulho:


E aqui o belo poema de Samuel:

FLOR DA VITÓRIA-RÉGIA
(Samuel Valente)
interp: Coral Edgard Moraes

No Bloco da Vitória-Régia
Se planta a saudade de antigos carnavais
Porque a beleza desta vida é a flor
A esperança verde de cantar o amor

No Bloco da Vitória-Régia
Se planta a saudade de antigos carnavais
E o seu perfume tange primas e bordões
Na harmonia viva de mil violões

Vitória-Régia na avenida desfolhando
Toda a ternura de um sonho que passou
São as lembranças de um lança-perfume
Na fantasia que a brisa carregou

Vesti palhaço porque sei que a própria vida
É carnaval dentro de nossos corações
Pra refolhar pedaços de uma serpentina
Que se entrelaçam no cordão das ilusões