terça-feira, 13 de março de 2012

LAND ROVER 1951

Foto: Google Images

Meu primeiro sonho de consumo que continua a ser o mesmo até hoje: um jipe Land Rover modelo Defender, verde-oliva e creme.
Carroceria de alumínio, toda rebitada, tração nas quatro rodas e a disposição de um camelo no deserto...
Por força da profissão de vendedor-viajante, meu pai possuiu bons automóveis cuja compra era financiada pelo Laboratório Raul Leite, onde trabalhou durante muitos anos.
Em 1951, morávamos em Olinda, à beira-mar, numa casa alugada, que pouco tempo depois começou a ser coberta pelas águas verdes do mar, numa nada poética ressaca de agosto.

A beira-mar de Olinda, naquele tempo, era de uma beleza inesquecível.
Arrecifes que se fundiam com a areia branca e solta, por onde nadavam, nas marés baixas, peixes de todos os tamanhos, loucos para serem fisgados pela legião de pescadores de fim de tarde.
Em certas épocas, golfinhos, que -pernambucanamente- chamávamos ainda de bôtos, mostravam suas barbatanas dorsais e respiradouros, nadando aos pares para lá da linha dos arrecifes, alegrando nossos entardeceres olindenses.
Corria a lenda de que esses animais salvaram muitas e muitas vidas, trazendo às praias do Carmo e dos Milagres os quase-afogados banhistas que se atreviam a nadar para mais distante da costa. Eram para mim heróis-animais encantados e encantadores.

Foto: Google Images
Um dia, Paizinho chegou mais cedo para o almoço, anunciando que à tarde iria ao Cais do Porto do Recife, buscar o seu carro, que acabava de chegar de navio, vindo de Liverpool, Inglaterra.
Fiquei ansioso pela novidade e logo pedi pra que ele me levasse junto... e assim aconteceu.
Quando chegamos de volta, eu estava pra lá de orgulhoso, sentado no banco de couro verde do jipe.
A única coisa que não me agradou foi o fato de o carro ter vindo com uma meia-capota de aço creme e o restante em lona verde escura.
Por engano o carro foi assim despachado na fábrica inglesa, mas isso foi depois resolvido, pelo revendedor Renê de Pontes, com a colocação de uma capota de aço inteiriça.
Foto: Google Images
Daquele dia em diante, durante alguns anos em que o jipe ficou conosco, ele foi o modelo predileto nos meus desenhos de criança.
Sou capaz de desenhá-lo ainda hoje, se tanto me for pedido... decorei mentalmente cada detalhe dos seus traços austeros, um carro de trabalho, sem muito luxo e rebuscamento de linhas, mas de uma funcionalidade que até hoje é reconhecida por todos que gostam de carros e de viagens.