1.
Casquinho era um cururu
que não gostava de rima
porque embaixo ou em cima
nunca rimam com caju
esse final jururu
do nome que ele leva
E "aquela" rima lhe entreva,
o faz ficar deprimido
mas sendo um sapo contido,
esse problema releva
2.
Porém Casquinho teve sorte
de encontrar nessa vida
de sapo, difícil lida,
amigo a lhe dar suporte
E assim tornou-se forte,
um cururu respeitado,
bem tranquilo e alimentado
seu emprego era guardar
do dono do seu lugar
um pote bem reforçado.
3.
O pote era um tesouro
num lugar de seca só
pobrezinho de dar dó
ali nunca se viu ouro
Num tamborete de couro
o pote tinha seu trono
E de inverno a outono
o Casquinho vigiava
Inseto ali não chegava,
pois ficava em desabono
4.
Casquinho só na vigia
jogava a língua e pegava
todo inseto que passava
ali naquela coxia
O cururu lhe lambia,
a lingua nele alcançando
Mesmo o inseto voando
o Casquinho lhe jantava
e nunca se aperriava,
estava sempre almoçando
5.
Pois um dia o seu patrão,
que por João é conhecido,
"Caneiro" por apelido,
foi fazer sua devoção
Passando um dia em ação
de bebedor veterano,
bebeu mais do que o plano
quase perdeu o caminho,
chegou assim de mansinho,
com cara de desengano
6.
Foi direto para o pote,
bebeu água a mais de quilo,
mas entalou-se com um grilo,
que na boca deu pinote
Pois João pegou um barrote
de aroeira, bem pesado,
vingou-se no seu criado
gritando: " Feladaputa,
você não tá na labuta
e eu lhe trato bem tratado ?"
7.
"Cururu cabra safado
você passa a pão de ló
e aqui me engana só
sem cumprir o seu riscado
de pegar bicho avuado
que no pote queira entrar ?
Pois você vai apanhar
uma surra de cacete
é agora que o porrete
no seu lombo vai cantar"
8.
Era o cururu pulando
e o João batendo o pau
com uma cara de mau
que o sangue foi jorrando
e o sapo escorraçando
de casa botou pra fora
Casquinho sem mais demora
foi jogado no terreiro
e o cururu sem berreiro
foi se finando na hora
9.
De manhã João saiu
procura o sapo e não vê
começa a se arrepender
vendo que o sapo sumiu
disse: "putaquipariu !
será que matei meu sapo?
eu tou me sentindo um trapo
homem desqualificado"
todo desmoralizado,
foi ao pé de jenipapo
10.
Lá na árvore frondosa
um cururu estirado,
por formigas devorado,
junto à moita de babosa
Criatura tão bondosa
que outrora lhe serviu..
João de joelhos caiu
pediu perdão ao amigo:
"Cururu, que fiz contigo?"
e então no choro abriu !
11.
Essa história que eu contei,
deste mesmo jeito assim,
ouvi tim-tim-por-tim-tim
de um poeta que é Rei
um cearense de lei,
José de Oliveira Ramo,
escritor que eu aclamo,
que é grande jornalista
e também é colunista
do Jornal que frequentamos
12.
Sua coluna é bacana
se chama "Enxugando Gelo"
ali ele monta a pelo
a tal da Besta Fubana,
criatura soberana
que reina só pelos ares,
navegando sete mares,
com suas asas de aço,
medindo a régua e compasso
suas rimas e cantares.
Recife, 30.12.12
Fred Monteiro