sábado, 8 de janeiro de 2011

VIOLONCELLO

Desde os oito anos de idade comecei a tentar fazer-me ouvir como músico.
Já tinha tentado ser cantor aos dois ou três anos de idade... e tem mais, cantor internacional !
Pois é.. eu arremedava umas canções em espanhol, boleros de Bienvenido Granda, tangos de Carlos Gardel, etc. Isso tudo varando as noites de insônia, esse fantasma que até hoje ainda me acompanha.
Aos oito anos, ganhei de presente da minha tia Mary uma gaita de boca Hering na qual aprendi a tocar algumas melodias da época,entre as quais a canção "Boiadeiro" de Armando Cavalcanti e Klecius Caldas, interpretada pelo eterno Luiz Gonzaga.
Com o tempo, fui-me atrevendo mais e mais no campo da música e comprei um violão aos 15 anos. Aos 17, uma guitarra elétrica, que me levou à profissão, nos anos 60, embarcando na onda da Jovem Guarda, como guitarrista e posteriormente organista do Conjunto "Os Tártaros". Mais recentemente, compositor mais ou menos conhecido entre os adeptos da MPP (Música Popular Pernambucana) totalizo no meu catálogo umas 90 peças musicais, todas gravadas no meu estúdio de gravação (F Studio Audio e Video). Há também inúmeras regravações de músicas minhas por cantores, cantoras e grupos daqui de Pernambuco, São Paulo e Rio de Janeiro, o que me deixa muito feliz.
Mais recentemente, em abril do ano passado, dei um passo que temo seja maior que minhas pernas: meti-me a estudar violoncello. Pois é: o meu sonho de consumo musical sempre foi este.
Estudar um instrumento erudito, que contenha em si um grau de dificuldade tal que me obrigue a voltar à teoria, ao solfejo, às partituras, à audição de obras clássicas, enfim a um universo musical mais complexo do que o dia-a-dia da música popular entre as paredes do meu estúdio e entre o left/right dos fones do meu player Zune.
Não desdenho nada do que fiz até hoje, mas tenho dado muita atenção ao meu cello. E tenho agradecido imensamente a Sinichi Suzuki, o grande Mestre que criou um excelente método para o aprendizado das cordas que -dirigido a crianças, inicialmente- hoje entusiasma um fiel seguidor de (por enquanto) 65 anos de vibração musical.

FLORES, SORRISOS DE DEUS - NINFÉIAS


Tenho uma paixão muito grande pelas flores.

Certa vez, num site de fotografia muito bom, que infelizmente acabou, chamado "Photografos", onde fiz excelentes amizades com fotógrafos profissionais e amadores do Brasil e da Europa, havia publicado uma das dezenas de fotos de flores que eu fiz por aí, Brasil afora, algumas também em Redmond, WA, onde mora meu filho Fred.

Faltava-me, porém, um título para aquela foto..Era uma flor muito singela, dessas flores cujo nome a gente nem procura saber, tão belas são.

Ocorreu-me então uma imagem poético/filosófica bastante divulgada cuja autoria, por incerta, é melhor não citar: "Se a Rosa tivesse outro nome, por acaso seria menor a sua beleza ?"

Afinal, tantos e grandes poetas e escritores já disseram tudo sobre as flores que isso é tão secundário quanto o nome daquela florzinha que eu fotografei, numa manhã, no sítio do meu irmão, em Aldeia, muito apropriadamente chamado "Granja Paraíso".

Chamei aquela flor, na verdade um cacho de pequenas flores lilases, de "O sorriso de Deus".

Realmente, considero que as flores só podem ter sido criadas num momento de extrema felicidade do Pai Eterno.

Na letra de um frevo-de-bloco de minha autoria, chamado "Deusa Amazona" em uma das estrofes eu afirmo: Se Deus ao criar as flores/em noite tão soberana/ungiu-te com Seus favores/oh minha deusa amazona..tomou-se então de amores/ e nunca mais te esqueceu/pois dentre todas as flores/a preferida Ele te escolheu..

Pois bem..Símbolo do Bloco Flor da Vitória-Régia que nossa família fundou em setembro de 1998 em Casa Forte e que desfilou por 7 anos nos carnavais do bairro, a flor da Vitória-Régia tem na sua beleza uma legião de apaixonados, e nela eu me incluo.

Assim, divido com vocês essa paixão, com uma foto de uma ninféia, cuja família conta com o prestígio de abrigar também a Vitória-Régia, uma deusa amazona/amazônica/universal e tão amada.

MUITO REAL

Mal soou o sinal de largada, os quase 100 corredores esqueceram a distância que teriam de enfrentar e precipitaram-se rumo à Avenida Rosa e Silva, início da "I Maratona da Jaqueira", numa quente tarde recifense de Novembro.

Logo após a confusão das primeiras centenas de metros, os grupos foram-se formando, alguns logo se destacando, em razão da velocidade dos corredores que os compunham.Formei num pelotão intermediário, com cerca de dez corredores e entramos numa cadência uniforme, até os primeiros nove quilômetros.A esta altura, já havíamos vencido parte do trecho urbano da prova (Parnamirim, Casa Forte, Apipucos, Dois Irmãos) e seguiamos pela BR-101 (Cidade Universitária) em direção ao Aeroporto, via Avenida Recife.  Por volta do km.12, o pelotão dispersou-se: alguns seguiram à minha frente, outros foram ficando para trás.


Concentrado na corrida, prossegui sozinho até o km. 21, após haver cruzado toda a extensão da Avenida Recife, com seus muitos conjuntos habitacionais, fábricas e depósitos. O trecho da orla marítima de Boa Viagem amenizou o calor dessa primeira hora e meia de corrida. Além do mais, com o sol posto, a temperatura tenderia a cair. Até os 28 quilômetros, acompanhei outro pequeno pelotão que, aos poucos, foi seguindo em frente.

Novamente corria sozinho, ao subir o Viaduto Joana Bezerra. No posto d'água do km. 30 verifiquei meu tempo de corrida: 2 horas e 36 minutos. O desgaste provocado pelo calor e pela distência começaria a pesar bastante, nesse trecho apropriadamente chamado de "barreira".
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Foi a partir do km. 32 que notei, ao meu lado, uma presença estranha... travamos um diálogo feito de frases curtas:

- Bastante quente o tempo aqui, não ?

- É, respondi. A umidade também está muito alta...

- Na minha terra, o clima é quente, mas um pouco mais seco, disse o estranho.

- E você, o que faz por lá, afora correr?

- Exatamente isso... corro. Sou mensageiro profissional. Estou sempre correndo.

Notei que ele usava uma roupa esquisita e calçava sandálias antigas de couro, amarradas com tiras, nas pernas. Corria com um desembaraço e estilo que não deixavam dúvidas quanto à sua afirmativa: era, realmente, um profissional. Mas, se assim era, por que acompanhava um corredor mais velho e lento, como eu ?

- Desde quando você começou a correr ? perguntei para reiniciar a conversa

- Desde que entrei para o Exército, respondeu. Atualmente, sirvo ao General Milcíades.

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A essa altura, já havíamos subido o Viaduto de Olinda e tomado o retorno do Centro de Conveções. Estávamos no km. 36 e ainda faltavam seis quilômetros para o final. Nesse trecho mais crítico da prova, esqueci o corredor e continuei, concentrando meu pensamento no momento da chegada, a fim de amenizar um pouco o desconforto físico geral, provocado por mais de três horas de corrida.

Depois da curva do Clube Português, na retomada da Avenida Rosa e Silva, um súbito "estalo" de memória fez-me olhar para o lado.

O corredor continuava firme, trocando passadas no exato ritmo em que eu prosseguia. Seu aspecto era de absoluta tranquilidade. Não se notava nele o menor vestígio de suor, enquanto que as minhas roupas estavam completamente encharcadas.

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Faltando menos de um quilômetro para a meta de chegada, em frente ao Parque da Jaqueira, mal contendo a emoção, arrisquei uma pergunta:
- Antes da Batalha, você correu mesmo aqueles 240 quilômetros até Esparta ?

- Claro !, respondeu-me o corredor. Ida e volta, em dois dias e duas noites. Logo depois, o General Milcíades pediu-me que fosse até Atenas para levar ao Rei a notícia da nossa vitória. Então, corri de Maratona a Atenas e transmiti o recado.
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Emudeci... um nome, apenas um nome, ocupava agora toda a minha mente: FIDÍPEPES.. a lenda da Batalha de Maratona. FIDÍPEDES, o semi-deus ! Faltavam poucos metros. No asfalto, em grandes letras amarelas, alguém da Organização havia escrito: 'VOCÊ É UM HERÓI !"

A minha batalha estava ganha. Cruzei a meta, desta vez sorrindo. Fidípedes seguiu à minha frente, em direção ao Parque. Ainda voltou-se e dirigiu-me um aceno. Depois, sumiu na noite.

Recife, novembro de 1989