(Getúlio Cavalcanti)
Vitória-Régia está dizendo adeus
A nossa Praça vai silenciar
Tempos de glória foram tantos seus
Onde o passado soube caminhar
Cruzando ruas seduzindo nós
Extasiados pela emoção
Fantasiados de evocadores
Cativando as flores soltas pelo chão
Casa Forte deixou de rir
Um silêncio esvaiu-se em dor
O Recife se despediu
De quem foi seu amor
Nosso "Banjo de Ouro" sai
Da História que aconteceu
E um pranto do rosto cai
Pela dor que doeu
Da esq para a dir: Getúlio, Hamilton, Fred e Tatiana, numa noite de despedida |
Foi assim que Getúlio Cavalcanti fez a homenagem final ao nosso Bloco dias após o Carnaval de 2006.
O ponto alto do desfile era quando o Bloco chegava ao Largo do Poço da Panela e nós prestávamos uma homenagem a José Mariano, um dos patronos da Abolição em Pernambuco.
Diante do seu busto em bronze encimando a figura de um escravo com grilhões arrebentados, sempre nos deixávamos tomar pela emoção daquele lugar histórico.
No Largo do Poço, a casa de José Mariano, seu busto e a estátua do escravo liberto |
Os moradores do bairro festejavam demais esse momento com fogos de artifício que pintavam de verde a noite, refletindo nossas cores nas paredes da multicentenária Capela de Nossa Senhora da Saúde.
Nesta noite, em especial, após tocarmos muitos frevos de Bloco, estávamos eu, Getúlio e minha filha Tatiana, a Presidente do Bloco conversando sobre a decisão, que havíamos tomado em família, de recolhermos o Flor da Vitória-Régia por prazo indeterminado. Foi um momento triste; não havia como evitar a despedida. Num abraço final, foi impossível conter a emoção e evitar as lágrimas.
Sem deixar transparecer essa tristeza às centenas de pessoas ali reunidas, retornamos à Praça de Casa Forte, já sabedores de que, pela última vez, o Bloco regressava ao seu ponto de partida.