Já havia falado aqui das minhas lembranças de coisas do Engenho Barra do Dia, de Palmares, que foi de propriedade do meu bisavô, do meu avô, e que depois da morte deste permaneceu por muito tempo ainda na propriedade de membros da família.
Um dos meus tios, Casimiro Monteiro da Cruz Filho, conhecido em Palmares por "Monteirinho", continuou, depois da morte do meu avô, com alguma atividade ligada à cana-de-açucar.
Ele tinha uma distribuidora de bebidas (aguardente, vinho de jurubeba, vinagre) chamada C.Cruz, em Palmares, zona urbana.
Quando pequeno, eu me divertia muito com o rótulo da aguardente por ele comercializada, tendo-o fixado na mente até hoje. Tratava-se de um rótulo colorido muito sugestivo, para o nome da aguardente "Pega Ele".
E assim, recordo que o rótulo continha os seguintes elementos: Num retângulo amarelo claro, uma gravura de paisagem bem agrária. Um canavial que se estendia até a linha do horizonte, cortada por um céu bem azul. No primeiro plano, uma cerca de arame farpado que está sendo pulada por um moleque que leva nas costas um feixe de cana e, segurando seus fundilhos, um cachorrinho preto-e-branco, bem determinado a rasgar-lhe as calças.
Como eu sou um fiel guardião das lembranças da família, comecei a procurar, com todo o empenho, uma garrafa dessa aguardente e significaria muito para mim ter uma dela na minha coleção da memória familiar.
Uma dias desses, consultando pela Internet nos sites de busca, encontrei finalmente uma referência à Pega Ele. O Museu da Cachaça, em Lagoa do Carro, na nossa zona da Mata Norte, disporia de uma única garrafa da aguardente. Fui até lá, sábado passado e confesso que fiquei extasiado diante do denodo com que o proprietário montou aquele fantástico Museu, sobre o qual falarei um dia. Até porque o Museu é classificado no Livro Guiness de Recordes como a maior coleção de aguardentes do mundo, com mais de 15.000 rótulos, dos quais 5.500 em exposição permanente.
E lá, Eureka !, encontrei uma garrafa de "Pega Ele" e a fotografei. É um exemplar bem mais antigo do que o que eu conheci, e cujo rótulo, já pelo amarelado do tempo, e o estilo da gravura indicam que, provavelmente, teria mais de 70 ou 80 anos.
Ainda vou procurar um bom desenhista para reproduzir o rótulo um pouco mais recente (eu tinha na época que o conheci cerca de 10 ou 12 anos, isto por volta de 1956, 58, significando dizer há 56, 54 anos atrás.)
Mas, a idéia geral do rótulo está lá, com o cachorrinho a defender bravamente o "furto" do feixe de cana, sob o olhar surpreso do moleque.
Mas, a idéia geral do rótulo está lá, com o cachorrinho a defender bravamente o "furto" do feixe de cana, sob o olhar surpreso do moleque.
Não lembro exatamente se era aquela aguardente uma das preferidas pelos hoje conhecedores e admiradores dessa nossa bebida tão especial e que, consumida moderadamente, nos faz mais felizes.
Eu mesmo, que nunca fui muito de beber, -até pela nostalgia do tema- comecei ultimamente a apreciar as boas aguardentes, de Minas Gerais, do Ceará, da Paraíba e- naturalmente - de Pernambuco, em especial a nomeada "Quilombo", dos Palmares. Podem considerar bairrismo. Talvez seja isso mesmo !