sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

CRÔNICA PARA UM ANO QUE SE VAI




O ano agoniza.  Cai, desfalecido, céu abaixo, amortecendo a queda num colchão de nuvens. Da minha janela eu observo tudo. Saudade dos momentos bons, também dos momentos tristes.


Duas faces da mesma moeda, duas texturas diversas da mesma massa que nos modela: sentimentos.  Sentimentos, o motor dos humanos. Animais, dizem alguns, também os têm. Mas, penso eu, não tão exacerbados quanto os humanos (os seres e os Sentimentos).

(E, apesar de tudo, o ano agoniza.)

Vai embora, aos pouquinhos, sem pensar na gente. Cumpre sua rotina:  amanhecer, anoitecer, amanhecer, anoitecer, amanhecer.. 
O ano resume-se em cada dia que lhe cumpre existir. Amanhece a primeiro de janeiro, anoitece a trinta e um de dezembro. 

(E, apesar de tudo, o ano agoniza.  E agonizamos nós, solidários.)





Cada dia nos acrescendo bons e maus momentos. Não maus de todo. Tristes, apenas.  Tristes momentos de que temos até saudade. Cada dia, sua agonia. Cada dia, um fio de cabelo branco, um segundo que se foi.  Desperdiçado, algum.   aproveitado, outro.


Todos passando, todos desfalecendo, todos agonizando.

Negro, o céu agora.  Em repouso mortal.  
Para ressuscitar em janeiro.  Sob o barulho dos fogos, sob o clarão do Ano Novo.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

VENDE-SE JESUS




"Vende-se Jesus."
Sintomático.  Misturam-se as coisas, no Natal de hoje.
Vende-se o Natal, vendem-se os sonhos, vende-se a alma.
Qualquer coisa tem seu preço, incluindo a virgindade leiloada.
Incluindo a honestidade e os princípios morais.
Quem dá mais por um deputado ?  quanto vale um Senador ?
Compra-se e vende-se de tudo neste mundo corrupto.
Vende-se a alma.  Não faltam Luciferes compradores.
A preço de banana...ou de uma pedra de crack.  
Vendem-se ilusões a granel.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

MEMÓRIAS DO F STUDIO 13 - ERALDO LEITE E MADEIRAS DO ROSARINHO

Há exatos 10 anos, o meu caro amigo Eraldo Alves Leite, Sociólogo, concluía seu Curso de Ciências Sociais, na Universidade Federal de Pernambuco.  Apaixonado pelo Carnaval recifense, Eraldo foi um dos grandes colaboradores do Bloco Flor da Vitória-Régia que lhe deve a maior parte do acervo filmográfico, bem como excelentes fotografias dos desfiles que ele acompanhava com devoção.

Estudioso da Cultura Popular, Eraldo esmerou-se numa pesquisa de campo à qual juntou farta documentação, entrevistas, vídeos e fotografias, tudo isso resultando num precioso documento enfeixado no seu trabalho sobre o mais conhecido e amado Bloco Carnavalesco Misto do Recife, "Madeiras do Rosarinho".

Como fio condutor do seu trabalho, Eraldo dissecou com precisão cirúrgica os elementos formadores desse "mythos" do Carnaval recifense e pernambucano, o frevo de bloco "Madeira que o Cupim não rói", composição de Capiba (Lourenço da Fonseca Barbosa).

A música tem origem no Carnaval de 1963, em decorrência do resultado do Concurso Carnavalesco daquele ano, em que o BCM Madeiras do Rosarinho perdeu o campeonato para o seu arquirival  "Batutas de São José".
Depois de concluído o trabalho, Eraldo, com suas muitas horas de gravação de vídeo, procurou-me no F STUDIO, para fazermos a montagem do documentário que agora, com sua autorização, reproduzo aqui.


Comemoramos esses 10 anos com muito orgulho, porquanto sabemos registrada para a posteridade esse belo trabalho de pesquisa e essas imagens com toda a sua pureza documental que a gente simples do bairro de Rosarinho, no Recife, construiu com muito amor pelas cores do seu Bloco que há oitenta e seis anos incendeia corações pelo Recife afora.

sábado, 15 de dezembro de 2012

ACAMPAMENTO FRUSTRADO

Trailer Turiscar Briliant
Quando estudava em Baturité, no Ceará, participei ativamente de caminhadas longas pela Serra, no grupo de escotismo improvisado na Escola, e tomei gosto pelas atividades ligadas à Natureza, coisa que até hoje me fascina e que pautou toda a minha vida, nisso incluído haver viajado por todo o Brasil, com meus filhos, praticamente sem ocupar um quarto de hotel, somente acampando, quer em campings organizados, quer em áreas de praias e montanhas, quer usando um trailer ou barracas simples de lona e nylon.
Conheci assim os principais pontos turísticos e as atrações naturais dos Estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Minas Gerais, Bahia, Espírito Santo, Goiás e Distrito Federal.
Aos demais, minhas viagens foram feitas por avião, dadas as distâncias enormes que nos separam deles.
Esse amor pela terra brasileira está bem solidificado em toda a minha família e cada vez me sinto mais apaixonado por esta pátria tão cheia de contrastes e ao mesmo tempo tão farta de beleza, de sol, de música e alegria.
Nas férias de 57, quando voltei do Ceará, após um semestre afastado de casa, resolvi acampar no fundo do quintal, embaixo de uma frondosa mangueira.
Passei uma corda do seu tronco para um cano grosso de ferro das pilastras que sustentavam o telhado lateral da casa, deixando-a bem esticada e por sobre ela lancei um cobertor de lã axadrezado, de casal, que "tomei emprestado" do varal onde secava.
Era de tardinha, por volta das 5, o sol já querendo se recolher, e o pessoal estava todo lá pela frente, de forma que "trabalhei" muito tranquilo na execução dos meus planos para armar minha tenda.
Esses planos incluíam uma ação meio nefasta, qual seja: armado de umas seis estacas de madeira, com cerca de um palmo cada, afiadas com faca de cozinha e originárias de um cabo de vassoura quebrado, passei a enfiá-las no cobertor, fixando-o no chão de terra do quintal e furando um buraco de bom tamanho, a cada estaca que batia.
Isso posto, com a minha cabana triangular perfeitamente esticada e fixada ao chão, providenciei um piso muito confortável: uma esteira de piri-piri, de propriedade de minha madrinha Dedé que, também desconhecendo a minha expropriação, ajudava Mãezinha com os pequenos, lá na frente da casa.
E prosseguia minha "trela"... fui ao quarto e, de cima da minha "cama patente" Faixa Azul, arrastei o colchão de palha seca, revestido de um tecido rústico de algodão listrado de azul, vermelho e branco, numas tonalidades meio desbotadas, creio que pela economia de tintura na fábrica de tecidos que o distribuía.
Colchão de palha..ô tempo bom ! 
Colchão em cima da esteira, fechei as abas da barraca com duas toalhas de banho e, calado, fui pra sala jantar.
Como já estava escuro e ninguém mais achou de ir até o fundo do quintal, naquela hora, meu "acampamento" ficou lá, camuflado pelas sombras da noite.
Terminada a ceia, anunciei meu segredo: iria acampar no fundo do quintal e, solenemente, pedi a Paizinho a permissão.
Ele, não contendo o riso, a concedeu e acrescentou:
-Vá, meu filho..mas se o medo apertar de noite, pode bater na porta que eu abro a casa pra você.
Fiquei feliz pelo voto de confiança e, muito ancho, recolhi-me ao meu acampamento particular. Por via das dúvidas, levei uma lanterna de pilhas, que naquele tempo a gente chamava de "flash-light" e era de metal cromado, da marca "Eveready".
lanterna eveready das antigas 
Valentemente fiquei lendo alguma coisa à luz da lanterna, até o sono chegar, enquanto escutava os risos dos irmãos, som que aos poucos foi sendo substituído pelo chiado dos grilos e miados de gatos da vizinhança; mais tarde, apenas um ou outro latido de cachorro e - distante- o assovio agudo e tranquilizante do apito do guarda-noturno.
Não sei se cheguei a dormir... acho que cochilava quando, de repente, um piado de coruja ou bacurau me fez arrepiar todo e saí em disparada pelo quintal, batendo várias vezes na janela do quarto dos meus pais.
Paizinho, que estava acordado, esperando mesmo este momento, abriu a porta da casa e me ajudou a botar o colchão pra dentro.
Chato foi ter que aguentar as gozações do dia seguinte, acompanhadas do jogral da irmanzada:
- "Escoteiro de marca fobó, que mija na cama e diz que é suor"....
E eu, que havia até pensado numa desculpa bem conveniente para a desistência, esqueci meu imaginário "gato-do-mato quase do tamanho de uma onça", que seria meu álibi para a corrida de volta ao sossego das quatro paredes de um quarto, sorri amarelo, disfarcei e entrei no coro.

(do meu livro de crônicas "Caçador de Lagartixas")



segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

CORDEL - A TRISTE HISTÓRIA DO PINTO ZÉ



1.
Morava lá nas Queimadas
a Raimunda Buretama
mestiça trabalhadora
e que por ali fez fama
 "cevando" sua mandioca
deitando galinha choca
vivendo a vida sem drama

2.
Raimunda sempre dizia
que pra galinha chocar
e sem perder nenhum ovo
teria que acobertar
onze ovos, nada mais
pros pintos nascerem em paz
e em galinhos se tornar

3.
Certo dia, nesse afã
sentindo-se "afuleimada"
e conforme ela dizia
com "a priquita queimada"
sem querer, na conta errou,
doze ovos arrumou
no ninho atrás da latada 

4.
Ela tanto conhecia
seu ofício, que gostava
de botar nome nos ovos
que a galinha chocava..
e o ovo Zé sobrou
pois quando ela recontou
do ninho logo o afastava

5.
Mas, a galinha, sabida
uma mãe muito amorosa
empurrou o Zé pra dentro
da quenturinha gostosa
e chocou a dúzia inteira
o Zé foi, na brincadeira,
chocado pela penosa

6.
Cismada com suas contas
Raimunda foi conferir
de novo contou os doze
e de novo fez sair
o Zé de dentro do ninho
foi parar, o coitadinho
na "cesta de consumir"


7.
E quando os pintos nasceram
Raimunda fez um almoço
matou uma galinha gorda
que era só carne, sem osso
e serviu para o marido
aquele ovo escolhido
que foi frito sem sobroço

8.
Foi quando um pintinho saiu
piando com alarido
até encontrar o ovo
no prato lá do marido
Piava de fazer dó
que a Raimunda ficou só
lhe dando o maior "sentido"

9.
A Raimunda ouvindo o pinto
piando sua latomia
começou a chorar tanto
que chega dava agonia
traduziu na mesma hora
isso tudo, sem demora
o que o pinto dizia

10.
O marido da Raimunda
ficou triste como que
quando a mulher lhe falou
o que o pinto quis dizer :
" Zezinho, fala comigo!,
meu irmãozinho, meu amigo,
que saudade de você !"

11.
Esse drama de novela
aconteceu tal e qual
estou contando a vocês
e eu choro de passar mal
quando lembro que o Zé
não foi um pinto qualquer
d'uma tragédia rural

12
Essa história foi contada
a mim, desse mesmo jeito,
pelo amigo José Ramos
Cabra de muito respeito
morador de Imperatriz
E tudo o que ele diz
pode crer: é sem defeito !

Recife, 10.12.12
Fred Monteiro

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

MEMÓRIAS DO FSTUDIO - 12- FRADE E FRED


Ele era baixinho, careca e meio gordinho.  Idade, por volta dos 80 anos.
Estava parado num ponto de ônibus defronte à Praça de Casa Forte.
Eu tinha acabado de sair de casa e ia fazer uma caminhada até o centro da cidade, para o estúdio.
Começou a chover e fui me abrigar na marquise do ponto de ônibus.
O Frade, vim saber depois, era apelido. Seu nome era José. Um cara muito engraçado e de fala e sorriso fáceis.
Começou uma conversa.  Contou que estava meio perdido. Tinha ido a uma consulta num posto de saúde próximo,
teve vontade de andar e vinha meio sem saber onde estava, até começar a chuva. Aí, ficou naquela parada esperando
o primeiro ônibus que fosse para o centro da cidade.
- Eu vou pro centro e pego um ônibus para o bairro de San Martin.  Na hora que chegar chego bem, porque minha velha fica até feliz quando eu estou fora de casa. Ela diz que eu perturbo muito.
Eu já achei o velhinho simpático e sorri do seu bom humor.  Era cego de um olho (hoje a gente tem que chamar deficiente visual, que saco!)
Mas estava feliz como um menino levado e começou a cantar baixinho uma marchinha.  Em certo ponto, parou.  Aí voltou com a carga toda:
- Tá ouvindo essa música?  Eu comecei a fazer.  A letra eu sei todinha, mas a música mesmo eu não sei como termino. Só tem esse pedaço.
Interessei-me na conversa.
- E o senhor é compositor?
- Nada.  E eu sei lá o que é isso ? Eu faço umas coisas e invento umas poesias. às vezes eu termino, às vezes não.
E eu:  - E por que o senhor não grava, pra não esquecer ?
- Ah, meu filho, e eu lá tenho dinheiro pra isso?
- Mas eu tenho um estúdio de gravação.  Se quiser gravar, terei o maior prazer. Gostei muito da sua marchinha.
O velhinho acendeu o olhar.
- Tá brincando comigo ? 
- Nada.. e eu sou de brincadeira.  Se quiser gravar, vamos lá no Estúdio e gravamos. Depois eu dou um acabamento e o senhor não esquece mais sua música.
- De graça?
- De graça, claro. Não sou eu que estou oferecendo o estúdio?
- Ave Maria, meu fio ! De graça até injeção na testa. Agora é que eu vou virar artista mesmo.
Chega o ônibus.  Entramos. Eu pela porte de trás, porque naquele tempo ainda não era idoso (tinha 55 anos), ele pela porta da frente, com a carteira de identidade na mão, feliz da vida.
Nos encontramos novamente no corredor.
Traçamos os planos.  Ele cantaria a parte que sabia da sua música, eu completaria o que faltava de melodia para o restante da letra e faria os arranjos.
Já no Estúdio, Frade soltou a voz e cantou.  Eu peguei o violão, compus na hora o restante da melodia, na intuição mesmo, em cima do que ele já tinha feito.  Passamos o resto da manhã fazendo as bases com a sanfona (teclado) e o ritmo (zabumba, triangulo, reco-reco e agogô).  Na hora  de cantar o Frade rejeitou a parada.  Não tinha jeito de afinar. Tentamos muitas vezes, mas cadê ritmo e afinação ?  Não deu...
- Deixa comigo, Frade, eu canto.
De tanto repetir, eu já tinha decorado melodia e letra e mandei ver.
Mas eu queria gravar a voz do novo amigo.  Afinal, o tempo todo ele falava:
- Minha velha não vai acreditar que eu agora sou artista e gravei minha música !  Eu quero ver a cara do pessoal lá da rua, quando ouvir essa música no Rádio.  O senhor conhece alguém de Rádio pra tocar minha música ?
- Conheço, Frade... Fique tranquilo. Vou levar seu disco para a Jovem Cap e para a Rádio Universitária, no programa de Ivan Ferraz. Agora você é um artista de verdade !
E inventei um diálogo que gravamos e depois mixamos, com os solos no meio e no final da faixa.  Tudo improvisado também.  Afinal, o que eu queria era ver o velhinho feliz.
E está aí o nosso trabalho. A voz dele fica meio ininteligível, no diálogo, mas parece muito com a do personagem "Coronel Ludugero" de saudosa memória.  Matutão desenrolado, o Frade ainda passou várias vezes lá pelo Estúdio.  Conversamos e rimos muito da sua aventura musical.  Levei, efetivamente, o Frade e seu disco para a Jovem Cap e o apresentei a Carminha Pereira, proprietária da emissora e animadora de diversos programas.  Ela adorou a figura.  Ivan Ferraz também.  Enfim, o Frade tocou bastante naquele São João e nos que se seguiram.  Faz tempo que não o vejo, e espero que ele esteja bem.
Como ele próprio diz, no final da música, com toda a alegria de quem está de bem com a vida, apesar de tudo :
- É, Compadre Fred. Agora vai... vai e vai bonitinho !!!






quinta-feira, 29 de novembro de 2012

NÃO É POR SER MINHA FILHA NÃO, MAS...

Tatiana fazendo de conta no contrabaixo

Se eu fosse publicar aqui somente minhas besteiragens musicais e poéticas, eu estava era ferrado!  Porque, aqui pra nós, não tenho mesmo muito o que mostrar.
Por outro lado, tenho... e é prata de casa, digo melhor, ouro de casa, no caso, meus filhos artistas.  Artistas, vírgula !  Artistas amadores, mas amadores competentíssimos.
Tatiana, cantora, poetisa e compositora festejada e premiada em alguns Festivais de Música.  
Fred Filho, bandolinista e cavaquinista, também compositor, também premiado em Festivais.
Enrico, saxofonista (alto) e flautista, compositor, arranjador e pianista.

Fazer o que?  Ora, mesmo a contragosto deles, que não gostam de aparecer, feito eu, que sou muito "amostrado", vou passar a trazer aqui, de quando em vez, alguma coisa do trabalho deles.

Feito esse clipe, que faz parte de um DVD amador que produzi, filmando com duas câmeras (uma fixa e outra na mão fazendo "takes" de outros ângulos,  e fazendo a edição em casa mesmo.  

Este "show" que ela fez, com a antes denominada Bande Ciné (hoje Bande Dessinée), aconteceu num espaço bacana, o Teatro da Livraria Cultura, onde apresentações de muito bom gosto e para um público seleto sempre acontecem.  Foi em 2007, outubro ou novembro, não estou bem certo.  O repertório da banda era bem eclético, com músicas dos anos 60, a maior parte  do repertório de artistas franceses, italianos, alguma coisa de música latina, também. 

Um detalhe, neste clipe, é curioso: A cantora DALIDA, que fez uma famosa dupla com Alain Dellon, não pronunciava corretamente a palavra "PARÔLE" (em francês, palavra, mesmo.)  Talvez por conta de sua naturalidade (egípcia) tinha dificuldade de falar o "R" dobrado ("parrole").

Mas assim ficou e todas as suas gravações e apresentações.  E Tatiana, fiel à pronúncia da Dalida, assim também o fez.  Esquisito, mas faz parte da História, já.

Curtam, então, o som dessa excelente Banda e a voz limpa e afinada da minha maior Musa, Tatiana, mãe de Theo, neto querido, e esposa do Bruno, que faz o contrabaixo elétrico (embora prefira o acústico, que também domina à perfeição).

E depois não me digam que eu sou CORUJA..  Podem me chamar de CORUJÃO, mesmo !




segunda-feira, 26 de novembro de 2012

MEMÓRIAS DO FSTUDIO - 11 - BETO DO BANDOLIM

Beto do Bandolim, em ação

Um grande amigo, um imenso músico, compositor, arranjador e, mais que isso tudo, um grande ser humano.
Gravei 3 CDs com o Beto do Bandolim (Adalberto Cavalcanti) e em todos eles me surpreendi com a qualidade da sua execução.  Beto é, sem dúvida nenhuma, um dos maiores bandolinistas do Brasil.  Além do que, como compositor, escreve belíssimas páginas musicais em todos os gêneros, dedicando-se principalmente ao chorinho e ao frevo.

Campeão de Festivais, agenda cheia o ano inteiro, Beto toca e compõe de tudo e na área da música nordestina é muito solicitado para gravações, o que faz com perfeição, sempre.

Quando inventei o Bloco Cinema Mudo, Beto entusiasmou-se com a idéia e saiu conosco fantasiado de "Carlitos", brilhando com seu bandolim pelas ruas do Recife Antigo.  Um perfeito ator, reproduzindo todo o gestual e até as características físicas do Mestre Chaplin, do qual é fã confesso.

No Bloco Cinema Mudo (Beto é o Carlitos, à direita)
 e da esquerda para a direita eu, (o Magro),
a melindrosa Dalva Torres e  Fred Filho (o Gordo)
Gravamos os CDs " Um Bloco em Poesia ", "Inspirações" e  "Felix Silva - Cantando com o Coração", um disco de seresta co-produzido por nós e que contou com a participação brilhante de Dalva Torres, Henrique Annes, Bozó 7 Cordas, Valdemir Silva (flautista), e outros feras da música pernambucana.

O que mais gostei de ter feito, foi Inspirações.  Um dos primeiros trabalhos autorais de Beto, contendo frevo-de-rua, valsa, maxixe, xote, baião, seresta e polka.  Inspirações, que deu nome ao disco é um choro fantástico que ele fez em parceria com o imortal Rossini Ferreira, que escreveu a segunda parte e o qual reproduzo aqui.  


O frevo-de-rua, foi um presente que o Beto me deu e do qual muito me orgulho.  Chama-se  "Pé-de-Vento" , apelido que ele me concedeu, por conta da minha condição de Maratonista. É um frevo de execução bem difícil, dada a intensidade do ritmo, que Beto sabe explorar muito bem, calcado nos poucos frevos para bandolim de autoria do imortal Jacob.  Reproduzo-o, a seguir.


Dos tempos da minha primeira sala (aquela foto de cima já foi feita na mais recente), tenho esta foto com o Beto e seu bandolim e eu, dando uma da flautista, coisa que nunca fui (mas que tive vontade de aprender esse instrumento, isso tive!)

Bandolinista de ouro e Flautista de araque
Somente para provar que não estou exagerando quando digo que Beto é um multi-artista, mostro aqui um outro presente especial: a minha caricatura (ele é exímio caricaturista e se diverte desenhando os colegas enquanto espera sua vez de gravar).  Fiz uma montagem do desenho sobre a partitura da melodia, devidamente oferecida, como vocês podem ver aí abaixo.

Parti-cari-catura
Resumindo, um dos grandes momentos do FSTUDIO com Beto, foram vários, porque além dos seus discos  o meu querido amigo Adalberto Cavalcanti foi assíduo frequentador do meu modesto estúdio, tocando dezenas de vezes com os conjuntos e Orquestras que comigo gravaram.

sábado, 24 de novembro de 2012

UM XOTE NA PRAIA (UMA PARCERIA FRUSTRADA)

Lagoa do Mundaú-AL
Um dia desses publiquei aqui um post que é um dos mais lidos do Blog, onde eu conto a história de minha música "Travesseiro de Macela".Só que eu não contei a história completa. Por que? Para não falar sobre uma parceria que morreu no nascedouro. Eu explico. Tatiana, minha filha, que é uma poetisa de primeira, cantora, compositora, advogada, e mãe do meu querido neto Theo, tinha feito um poema falando sobre a casa que ela gostaria de ter numa praia imaginária. Achei que o texto tinha um ritmo pra lá de gostoso que me lembrou desde logo um xote. E, depois da primeira leitura, já comecei a reler o poema cantando e e batucando com os dedos o ritmo. Para fazer surpresa, gravei de maneira bem simples o "nosso" xote e à noite, em casa, botei pra tocar. Tati realmente tomou um susto, ficou meio sem jeito mas, sincera como sempre foi me disse que não era bem num xote que ela tinha pensado e que fez o poema na brincadeira, sem a menor intenção de divulgá-lo. Eu entendi e disse a ela que também tinha feito a gravação somente para agradá-la, sem intenção de divulgar. Mas, passados mais de 12 anos, acho que ela não se importará se eu mostrar a vocês a sua "casinha na praia". E aqui pra nós: eu bem que forcei a barra, porque xote e praia não têm mesmo nada a ver, um com o outro. É como surfar lá na Praia da Joaquina, (Joáca, para os íntimos) , em Santa Catarina, vestido de vaqueiro...


 CASA NA PRAIA
(Tatiana Monteiro)


Quatro quartos, um banheiro, uma cozinha
Meu amor, duas salinhas: a do som e a do café
Um terracinho, a varanda com a rede
Encostado na parede um distinto canapé
Pelo chão, meu violão e mil tapetes
e um quadro de bilhetes, de cortiça, feito à mão
Na  minha casa, lá na praia, que sossego
vou contar-te meus segredos,
ver minha constelação

Ter as estrelas e o mar como vizinhos
Acordar com os passarinhos,
se não despertar te chamo
E no meu quadro, branco e verde, de bilhetes
vou pregar com alfinetes
um recado, que te amo.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

55.555



55.555...
Número mágico.  Cinco números 5.  Na fila, feito menino entrando em sala de aula, com a mão no ombro do menino da frente, marchando e cantando alguma cantiga antiga e saudosa.

Um sorriso na carinha gorda, de bochechas avermelhadas. Uma mão no ombro, outra segurando a lancheira.

Mas, que história é essa ? 
Acho que a imagem infantil voltou à tela mental, por conta do mais novo poema do Mestre Jessier Quirino, que acabo de ler, intitulado "Merenda Corriqueira". Que, por sinal, termina assim:

"A mais doce ventura desta vida
É a lancheira, os recreios e a lição."


O número apareceu na tela do computador, hoje de manhã;  na verdade o que apareceu, logo que eu entrei no Blog foi o número 55.552.  

Fiquei ligado.  Ansioso e como se dizia antigamente, "com um olho no padre e outro na missa".  
Lia um dos muito emails e voltava de quando em quando para a página.  Numa dessas voltas, está lá estampado o número mágico.  55.555 acessos.  

Gostei tanto, que mandei logo um "print screen", copiei a tela pelo "paint" e  aí em cima está o arquivo para a posteridade. 

Mais uma vez agradeço a vocês.  Afinal, foram 55.555 vezes que me concederam a honra de suas visitas.
Eu queria muito estar "ligado" de novo, no dia em que o contador marcar 555.555 ou 5.555.555, o que já é
pedir demais... 

Mas 55.555 é um número único, uma filinha de cinco cincos, de mão esquerda no ombro do colega da frente e mão direita segurando a lancheirinha de lembranças. 

Muito obrigado a todos !

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

MINIBEE



A abelhinha era menor que uma mosca.

A flor, menos de um centimetro de diâmetro.

A lente, sim,  foi uma macro-zoom. 

A paciência também foi macro.

Uns cinco ou seis minutos esperando que ela  parasse um pouco até eu conseguir enquadrá-la e, finalmente, fazer este registro.

Mas eu acho que valeu a pena e divido com vocês.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

CASA DE FARINHA




















Eu nunca participei
de festa de farinhada
Porém já vi num terreiro
debaixo de uma latada
em redor do forno quente
um meio mundo de gente
entretida na empreitada

É homem girando a roda
É mulher que vai rapando
É mandioca moendo
e outras vão peneirando
e enquanto a lenha esquenta
um cheirinho bom aumenta
e a farinha vai secando

Como eu sou um praciano
que nasceu pela cidade
sigo assim bem satisfeito
com toda felicidade
de provar dessa receita
tão gostosa e tão perfeita
branca preciosidade !

A raiz da mandioca
produz a farinha fina
mas se tem coisa que eu gosto
é do olhar da menina
desencaroçando a goma
depois sentir o aroma
da tapioca divina

Com um pouco de manteiga,
com queijo ou coco ralado,
purinha mesmo, bem quente
como até ficar impado
Mas pra ficar na medida
ela tem que ser servida
com café bem caprichado

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

PICHADORES: PORCOS NUMA CIDADE EMPORCALHADA



Esse país um dia vai ter jeito.  Vai deixar de ser o valhacouto dos imbecis e o alvo dos idiotas.
Eu tenho certeza de que isso termina por acontecer, mais dia, menos dia.

Um dia desses publiquei aqui no Blog uma matéria com um grafiteiro profissional, com fotografias e filme
de uma pequena entrevista que ele me concedeu, a meu pedido. Veja no link abaixo:


Era um trabalhador da Arte, ganhando o pão com o suor do seu rosto.

Pintava com spray colorido, traços precisos e emoção de artista reconhecido um muro e portão de um Centro Educacional, em Casa Amarela.  Um exemplo digno de como ganhar a vida sem dilapidar o patrimônio alheio, alegrando a cidade, sem emporcalhá-la. 

Hoje, pela manhã, no mesmo bairro de Casa Amarela, descendo a Rua Ana Xavier rumo ao Bompreço Supermercado, deparo-me com mais uma das milhares, talvez dezenas de milhares de pichações de vadios inescrupulosos que se julgam filósofos, políticos, líderes, sei mais o que.   Mas que no fundo são isso mesmo que você, caro leitor civilizado, está pensando: uns marginais recalcados que usam a liberdade que a democracia lhes concede para sujar a cidade que lhes abriga.

Já morei em casa térrea, já tive um muro pichado e sei qual a sensação que toma conta da gente quando vê seu patrimônio, seu lar, invadido por um bandido desses. 

A falta de policiamento, a falta de vergonha dos mandatários, a falta de fiscalização, a falta de educação e principalmente a falta de punição a este tipo de, vá lá....  "gente", nos irrita e nos deixa com sede de justiça.

Por mim, um corretivo muito eficaz para esses vândalos seria fazer com que todos os que fossem apreendidos com seu spray criminoso nas mãos fossem obrigados a limpar, manualmente, com lixa e tinta pagos por eles mesmos, dez imóveis sujos pela sua falta do que fazer, como "prêmio" à sua idiotice, imbecilidade e falta dos mais simples conceitos de cidadania.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

ULTRASSOM, O MARTÍRIO



Sala de espera dá um tédio de doer.  Principalmente sala de espera de consultório.

Para concluir meu check-up anual, fui providenciar um ultrassom, solicitado pelo médico.  Saí de casa às 9 em ponto e às 9,30 estava na clínica pensando que iria ser rapidamente despachado para voltar à minha rotina.
Qual o que... Saí de lá às 12,30, praguejando contra a porcaria de serviço médico brasileiro que nos transforma em otários cada vez que precisamos cuidar da saúde.  Pagamos uma pequena fortuna para manter um plano de saúde particular de primeira linha e o que temos ?  Um SUS melhorado !
Inevitavelmente nos sentimos otários explorados por um governo displicente e malversador dos recursos dos nossos impostos.  Principalmente nós idosos, que passamos a vida inteira contibuindo para a previdência social e hoje -contratos rasgados- mesmo aposentados, ainda somos mensalmente descontados por um serviço inexistente e que temos de comprar aos espertos planos de assistência médica particular.  Em resumo, uma vergonha !  
Mas voltemos ao tema, de que me desviei.  Voltemos à sala de espera.
Nessas três horas de espera, numa sala com cerca de 50 pessoas sentadas, sob o frio desregulado de um aparelho de ar condicionado e a voz cabulosa de uma atendente a chamar os pacientes, vez em quando, ouve-se de tudo.
Ontem mesmo, fiquei sabendo de todos os detalhes de uma festinha de aniversário que será realizada neste fim de semana, num diminuto "salão" que fica no terminal de ônibus de um bairro em Abreu e Lima.  A mãe da criança falava, digo melhor, gritava, ao telefone celular, todo o roteiro da festa da sua filha para o contratado, do outro lado da linha. E soube que, como o salão era pequeno, e o dinheiro curto, ela só iria querer, de equipamentos, uma "piscina de bolas".
Enquanto isso, próximo ao meu ouvido esquerdo, um palavreado rápido entre duas mulheres que até poucos minutos atrás eram ilustres desconhecidas, dava conta de toda a vida conjugal de uma delas, incluída aí a performance atlética (modalidade "pulo de cerca") do marido, o gênio ruim da sogra, as doenças do filho caçula e naturalmente, as dificuldades financeiras.  Nem sair de perto eu podia, visto que todas as cadeiras da sala estavam ocupadas.   Uma tortura chinesa a mais, outra a menos, não fariam diferença.
Enquanto isso, rolava o papo da festinha:
-  Mas a Elisângela, minha amiga que lhe indicou disse que você faria uma diferença.  180 reais só por uma piscina de bolas? Tá muito caro. E eu vou combinar ainda com o "pai da minha filha".  Vê se faz por R$ 150, moço, vai...

*****
- O senhor tem que tomar 6 copinhos de água, no máximo.  E devagar.  Quando a bexiga estiver cheia, me avise.

Ouvi essa recomendação a pelo menos 3 ou 4 pacientes que, naturalmente, iam fazer o competente ultrassom de próstata, bexiga e vias urinárias, que era também o meu caso. 

****
- Mas você não imagina a cara-de-pau dele.  Estava de mãos dadas, na hora do expediente, com uma loura "piriguete", desfilando no Shopping Recife, já pensou.. Ah, se eu estivesse lá !  Quem viu tudo foi Marina, minha amiga de infância.. e o safado ainda chegou em casa ontem com cheiro de perfume.  

****

Examezinho cruel, esse !  Quando você está no ponto de virar uma fonte ambulante, um Manequinho de carne e osso. vem a atendente e lhe manda entrar na sala do ultrassom.
E haja pressão justamente em cima da .... bexiga,  que está quase estourando, feito os balões do aniversário da menininha da festa.  A única coisa em que eu pensava, no momento, era num alvo e lindo sanitário, num banheiro cheirando a lavanda, onde eu pudesse descarregar toda a água acumulada em seis copinhos de plástico de 100 ml cada. E haja barreiras mentais de contenção.  Ganha a batalha, terminado o ultrassom, corri ligeiro para o banheiro, que estranhamente ficava no início do corredor e não no final, feito aquelas casas de cidadezinha de interior e, quase chorando de prazer, deixei lá, naquele trono branquinho e asseado, cheirando a lavanda, todo o líquido ingerido à força da necessidade do exame.

Ainda bem que outra tortura dessas somente no ano que vem, se Deus quiser !

sábado, 10 de novembro de 2012

ESTÃO VOLTANDO AS FLORES... E O FREI-VICENTE TAMBÉM !


Um caju apressadinho
Estão voltando as flores. A Primavera as trouxe de volta e junto com elas, o prenúncio do Verão.
O deste ano parece que está meio apressado, pois começam a subir as colunas de mercúrio dos termômetros. 
Das flores aos frutos é um passo e um passarinho.

Frei-Vicente voltou !
E aqui da minha varanda, das minhas janelas, observando com avidez as cores e as flores, os frutos e os pássaros que se apressam a veranear conosco, faço da minha ânsia de Sol e de Luz, aquilo que a fotografia, essa mágica ao alcance de todos me autoriza a fazer.

Registrar a Vida é um dos maiores prazeres que o ser humano pode ter.  E eu aproveito minhas idas e vindas curiosas a varandas e janelas, para escrever com luz (foto - grafar) os tons e os sons da vida.  Como nessas fotos de um caju apressado emergindo de um mar de folhas no imenso cajueiro do Sítio vizinho.

E também flagrar a beleza de um "frei-vicente" que veio extemporaneamente pesquisar o inquieto mercado imobiliário local da azeitoneira do nosso Condomínio.  Não sei se é o mesmo do Outono passado, mas está tão belo quanto aquele que foi objeto de uma pequena crônica aqui no Blog.   



Uma nota de correção.  Estou sempre dando fora em matéria de ornitologia.  O caro Professor Galileu Coelho, que já me corrigiu na matéria anterior, quando chamei de guriatã-de-coqueiro um frei-vicente (tangara cayana), acaba de me dar mais uma aula, Na verdade esse pássaro aí é que é a guriatã (euphonia violacea).  Feita a correção, onde está o "frei-vicente", leiam "guriatã".. Desta vez é ela mesma !  Nada como ter um amigo que é a maior autoridade em Ornitologia do Nordeste !!  Obrigado, Mestre Galileu !  O texto anterior, a que me refiro, está aqui: http://www.seteinstrumentos.com/2012/05/o-recife-ainda-e-verde.html 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

CAÇADOR DE LAGARTIXAS - REPOST

Deu trabalho, mas um dia ficou pronto
Não adianta discutir.. menino é menino, em qualquer circunstância.  Antigamente, aliás, a meninice durava muito mais tempo que hoje.  Uma afirmação aparentemente temerária  como essa, é facilmente comprovável por alguém que tenha 50 anos ou mais. 

Apesar de ter meu trabalho, meu próprio dinheiro e relativa independência, aos 14 anos de idade, nunca abdiquei do meu direito de ser criança.  Assim, aproveitei ao máximo as brincadeiras da idade e até estiquei-as pela adolescência afora, enquanto pude.  Não necessariamente tentando tornar-me um Peter Pan, de quem sou fã, assistindo ainda hoje, em dvd o antológico desenho animado de Walt Disney, com o mesmo prazer que experimentei ao vê-lo na tela do Cine Trianon, nos idos de 1953, 54, por aí..

Mas, é interessante lembrar essa minha vida dupla entre o homem-feito, com emprego registrado em carteira de trabalho de menor e tudo, e o menino de pés no chão, correndo pelas ruas de Casa Forte e do Poço da Panela.

Autografando no lançamento do livro
Com o mesmo entusiasmo eu brincava e trabalhava, não fazendo muita distinção entre a obrigação e o lazer porque, em ambas as situações, o que contava era o prazer. Além de empinar papagaios atormentei, ( e hoje me arrependo disso) as lagartixas do meu bairro.  Fazia laços para apanhá-las, com o talo das folhas de coqueiro.  Retirava da folha a parte verde, sobrando o talo central.  Na pontinha dele, fina e maleável, fazia o laço e partia para as minhas aventuras de caçador. 

Engraçado, como há poucas lagartixas hoje em dia por aí... os edifícios, as ruas calçadas, o barulho e o movimento da cidade, foram expulsando esses bichinhos simpáticos, que punham ovos à vontade nos quintais do meu tempo e ainda se prestavam a conversar conosco:
- Lagartixa, você é uma bobona ?  
E elas assentiam, balançando a cabeça pra baixo e pra cima.



lagartixa na Chapada Diamantina
(Sem quintais, pra onde fugiram as lagartixas?  São uma espécie em extinção ?)

Embora essas preocupações me aflijam hoje, naquele tempo nem passavam pela minha cabeça.  O desafio era chegar perto delas, sem assustá-las, ariscas que eram, colocar bem devagar o laço à frente das suas cabeças e, num movimento rápido e preciso, finalizar a operação, prendendo-as pelo pescoço.

Mas, de uma coisa podem ter certeza: jamais matei alguma, nas minhas caçadas infantis.  Como nesses programas de pesca esportiva de hoje, tão comuns nas estações de TV, tão logo as capturava, eu as soltava para, se elas deixassem, capturá-las em seguida e soltá-las outra vez.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

SÃO PAULO. UM TOQUE BRASILEIRO DE CLASSE- REPOST

Um realejo no Ibirapuera
Alguma coisa acontece nos nossos corações quando, vindo de outros Brasís,  nos deparamos com uma terra tão diferente, de ares europeus, com grandes espaços abertos e bem cuidados, embora com uma população tão diversificada de raças, origens e culturas.  Alí, o caldeirão humano resume toda a intrincada formação desse povo brasileiro tão querido e tão pouco entendido. Tanto já disseram sobre São Paulo, que é missão ingrata descrever suas belezas, cantar suas grandezas.


Theatro Municipal

Edf Banespa

Catedral da Sé
Jardins do Ipiranga
Os jardins do Ipiranga, seu Museu fenomenal, em construção e em acervo, em história e em imponência arquitetônica, contrastam com a modernidade do MASP, a agitação febril da Avenida Paulista e o ambiente cosmopolitano do centro velho, ora lembrando New York, quando nos deparamos com o Edf. Banespa, ao fundo de uma alameda de prédios sóbrios, com calçadas largas, convidando a um passeio tranquilo pelo Parque do Ibirapuera, com seu verde repousante e seus monumentos colossais em homenagem a todos os Bandeirantes brasileiros que desbravaram essa terra sem igual.  No Ibirapuera, um velho toca a manivela do seu realejo enquanto um papagaio "tira a sorte" dos passantes, ao lado de gente correndo ou caminhando em meio a ávores frondosas e crianças curiosas.

A beleza de São Paulo salta aos olhos, no seu Theatro Municipal, no vale do Anhangabaú, no Pátio do Colégio, no Parque do Ipiranga..  Querem minha opinião sobre São Paulo?  Sinceramente.. São Paulo não se discute: admira-se ! E ponto final.

Theatro Municipal
Vale do Anhagabau

(Todas as fotos são de autoria do blogueiro.. S.Paulo, 1997. camera Cannon, analógica)

sábado, 27 de outubro de 2012

A TOGA DO JOAQUINZÃO

Como vocês já devem saber (se não souberem estão sabendo agora) eu tenho uma coluna chamada "Mascate das Lembranças", no Blog Jornal da Besta Fubana (bestafubana.com) onde publico matérias exclusivas, que também reproduzo aqui, e vice-versa, as matérias aqui publicadas.
Ontem, devido ao sucesso da publicação do cordel "Mensalão Vergonha Nacional", tive a idéia de fazer uma sessão de video-clipes com meus cordéis, publicados ou inéditos.  Como sou aprendiz de novato na arte da cantoria, ficou bem improvisado mesmo.  E assim é que eu acho bom, porque afasta o defeito da mistificação.. Pois então, curtam (se conseguirem, hahaha) e caso aprovem me dêem um retorno na área de comentários ou por email fredcrux@gmail.com ...  Abração !



quinta-feira, 25 de outubro de 2012

MENSALÃO, VERGONHA NACIONAL


Para os que gostam de literatura de cordel, e para os que acompanharam a história do maior escândalo de todos os tempos no Brasil.  Um resumo cronológico dessa página vergonhosa da nossa História, que nos envergonha  mas que, por outro lado, nos enche de esperança de dias melhores, com Justiça e Decência para um país tão desigual.



MENSALÃO, O MAIOR ESCÂNDALO 
DA HISTÓRIA DO BRASIL

Corria 2005
era o dia 10 de maio
quando um mero burocrata
com a cara de lacaio
dos quadros da ECT
(Correios, como se vê)
deu uma de papagaio

Meteu a língua nos dentes
entregou todo o serviço
pra dizer a um empresário
que sem muito rebuliço
aceitava uma propina
pra poder abrir a mina
e assumia o compromisso

O empresário sabido
filmou a reunião
e o Seu Maurício Marinho
que era um perfeito ladrão
embolsou de logo a grana
e esse filme bacana
passou na televisão

O cabra tinha respaldo
de um deputado sacana
que era  o tal do Roberto 
Jefferson, rei da chicana
do partido PTB
ora veja então você
era uma grande ratazana

Pois pegado na botija
da tramóia dos Correios
O gorducho deputado
perdeu de vez os arreios
e entregou o PT
que essa altura como vê
já tinha afrouxado os freios

Partido metido a sério
metido a ser esquerdista
o PT era uma pulha
com chefe sindicalista
que só queria subir
e o Poder usufruir
sob a capa comunista

O Chefão desse PT
era um cabra nordestino
com uma cara de herói
e mente de sibilino
um profeta de araque
esse herói de almanaque
não engana nem menino

No dia 9 de junho
de 2005 dito
instalou-se no Congresso
a contragosto do mito
uma CPI de vera
pra entrar no mei' das fera
botar tudo por escrito

Chamaram logo os banqueiros
que entravam com a grana
e o tal do Marcos Valério
carequinha bem sacana
foi logo indiciado
e haja muito deputado
com medo de entrar em cana

E assim no mês de junho
lá no dia 16
que Zé Dirceu, o ministro
da Casa Civil já fez
seu pedido de renúncia
pois diante da denúncia
viu chegada a sua vez

No dia 8 de julho
mais um canalha foi preso
era o irmão do Presidente
do PT então coeso
Assessor de Deputado
pela polícia pegado
sua cueca era um peso

Um peso de tanta nota
só de dólar eram 100 mil
Genuino ficou doido
porque o irmão traiu
o plano mirabolante
de transferir num instante 
todo o ouro e prata vil

No dia 20 de julho
a coisa ficou mais preta
outra Comissão criada
pra investigar a mutreta
da compra de deputados
que eram cooptados
com o dinheiro da falseta

Aí em 12 de agosto
vem o Presidente Lula
Afirmar que foi traído
isso quem quiser engula
desculpou-se na TV
e até hoje se vê
que sua fala foi chula

A essa altura da novela
Falou-se até em renúncia
a oposição tão fraca
afrouxou  e sem denúncia
ficou quase que encerrado
o "impeachment" desejado
pensamento sem pronúncia

Chegou o mês de agosto
afinal, aos 31
A Polícia indicia
os cabeças do fartum
escândalo fedorento
esse acontecimento
de humor não tem nenhum

Dançou Delúbio Soares
O  Genuíno também
Marcos Valério foi outro
que dançou como ninguém
e até o marqueteiro
Duda Mendonça encrenqueiro
quase fica sem vintém

Cassaram Roberto Jefferson
em 14 de setembro
por corrupção das brabas
e de tudo ele foi membro
sem falar na Eletronorte
no IRB, falta de sorte
além de gordo era zembro

A CPI concluida
e novembro no final
provocou imensa ira
porque mesmo no geral
não houve uma conclusão
naquela investigação
virando coisa banal

em 1° de dezembro
O Zé Dirceu foi cassado
pela quebra do decoro
e logo foi apenado
não pode se eleger
e dez anos vai sofrer
por seu erro comprovado

2006 foi chegando
e era 5 de abril
a CPI dos Correios
encerrou como se viu
comprovou o envolvimento 
desses 18  nojentos
de um Congresso servil

Mais de 100 denunciados
e a sorte está lançada
a denúncia afigurou-se
muito bem apresentada
o senhor Procurador
da República firmou
a tramóia bem traçada

Antonio Fernando Souza
no dia 11 de abril
levou 40 ladrões
desse esquema tão vil
ao Supremo Tribunal
pra prestar contas do mal
que fizeram ao meu Brasil

Mesmo assim oito ladrões
do dinheiro da nação
foram eleitos em 2 de outubro
pois a lei não disse não
ficha-suja nesse tempo
flanava sem contratempo
e ganhava a eleição

6 de dezembro chegou
covardes renunciaram
dos 19 acusados
outros 12 escaparam
os 3 que foram cassados
e um deles, desculpado
muito contentes ficaram

Mas a coisa ficou dura
depois que o Tribunal
O Supremo em forma pura
a denúncia afinal
aceitou e nomeou
para ser o Relator
Um Juiz fenomenal

Corria o ano da graça
de 2007 então
desde que o STF
conheceu do "mensalão"
que assim era chamado
por ser mensal o acertado
com deputado ladrão

2008, janeiro
e 28 era o dia
quando Silvio Land Rover
abriu o jogo e não via
hora de aceitar o falho
trocar cadeia em trabalho
e livrar-se da ingrizia

em 14 de setembro
de 2010, chegado
bateu as botas de enfarte
aquele tal deputado
do PP, José Janene
que foi de forma perene
pagar no inferno o pecado

Finalmente chega o dia
7 de julho era o mês
da entrega do libelo
que a PGR fez
Dr Roberto Gurgel
fez denúncias a granel
e condenou 36

Dos 38 implicados
tirando Janene e Silvio
escapou Luiz Gushiken
O Lamas sentiu alívio
foi o Antonio, um irmão
de outro do mensalão
Jacinto, seu nome trívio

Finalmente foi chegado
esse julgamento agora
dia 22 de agosto
que é o mês da caipora
O Relatório foi lido
Joaquim Barbosa aplaudido
viu chegar a sua hora

Eu aqui abro uma brecha
pra saudar esse Juiz
que representa o desejo
do brasileiro que diz
Eu quero minha Nação
sem mancha de danação
um vero e honesto País

Então eu mudo a toada
rimando em modos diversos
em décimas arranjando
esses meus modestos versos
louvando um Juiz decente
orgulho da nossa gente
e aqui não tergiverso

*************
Era um vez um Juiz
um exemplo de carreira
não era de brincadeira
era um sujeito feliz
e tudo o que sempre quis
conseguiu sem falação
até fora da Nação
tinha fama de rochedo
'Tem muita gente com medo
Da toga do Joaquinzão.'

Pensando em só agradar
nosso afrodescendente
o Lula, ex-presidente
convidou-o pra atuar
como cotista vulgar
N’ Alta Corte da Nação
pra fugir do mensalão
Mas Joaquim mudou o enredo
'Tem muita gente com medo
Da toga do Joaquinzão.'

Assim resumo a história
de um novo herói brasileiro
que não curvou-se ao dinheiro
nem à fama e à falsa glória
mas já ficou na Memória
Honrou sua tradição
rejeitou a omissão
Revelou o seu segredo
'Tem muita gente com medo
Da toga do Joaquinzão.'

**********************
(Aviso aqui por justiça
que este mote arretado
não pertence a este escriba
e foi só por mim glosado
é de Wellington Vicente
um poeta inteligente
em Rondônia baseado)

Agora eu passo a falar
como foi o julgamento
à medida em que o Juiz
Relator com sentimento
ia apresentando os fatos
fatiando seus relatos
com grande discernimento

Desenrolando o enredo
como se fosse novela
o Dr Joaquim indica
a trama como era ela
e assim facilitando
o roubo foi explicando
o crime claro na tela

Fatiou o Mensalão
e provando em cada parte
como se dava a mutreta
fez isso com muita arte
os banqueiros para um lado
para o outro, os deputados
disparou seu bacamarte

Num setor, publcitários
que desviaram recurso
para bancos estrangeiros
foi de vigarice um curso
mas no faro dessa grana
esse bando de sacana
ganhou um abraço de urso

A vantagem disso tudo
foi explicar a tramóia
mentiras a descoberto
político em paranóia
foi cabra dando chilique
descobriram seu trambique
e ficaram sem tipóia

Alguns até se livraram
por falta de prova certa
mesmo assim foi complicado
e o sapato lhes aperta
foi como se nús ficassem
e assim todos achassem
que nada mais lhes conserta

Até que chegou o tempo
das penas discriminar
e novamente o Joaquim
o nosso herói singular
começa a meter a peia
vai mandá-los pra cadeia
para seus crime pagar

Um deles já tem contados
40 anos de cana
multa de uns 2 milhões
pra deixar de ser sacana
foi o careca Valério
que não vai ter refrigério
na sua vida cigana

Outros mais já estão vindo
pra mira do Joaquinzão
e passando no seu crivo
mais cadeia pegarão
pois os crimes cometidos
por magote de bandidos
impunes não ficarão

O Brasil já precisava
acabar com essa agonia
de político ladrão
roubar com toda alegria
tirando a paz da nação
deixando os pobres na mão
sem nenhuma primazia

Um deputado que rouba
mata cem mil duma vez
são crianças sem escola
numa grande insensatez
e a saúde dos velhinhos,
que de si já são fraquinhos ?
tudo é grande estupidez !

O país está quebrado
Segurança não existe
A inflação desenfreada
O plano Real, que triste,
sendo vilipendiado
tudo isso é um pecado
não pode virar um chiste

Mas, mensaleiros punidos
foi uma grande passada
para um Brasil mais sério
de ética consagrada
já basta de tanto roubo
o povo não é mais bobo
vai ganhar esta parada !

Aqui agradeço a Deus
por me conceder a graça
de assistir a tudo isso
de ver cessar a desgraça
que pairava em nossa terra
a Justiça agora encerra
toda essa vil arruaça

Eu espero que a gente
aprenda a lição agora
e também que só eleja
quando for chegada a hora
um político decente
que mude esse ambiente
e esse dia não demora

O Mensalão foi julgado
condenado pelo povo
nós devemos isso tudo
(e por isso eu me comovo)
à nossa Democracia
que trouxe com galhardia
A Esperança de novo !

Fred Monteiro
Recife, 25-10-2012