quinta-feira, 18 de agosto de 2011

CRÔNICA PARA UM ESQUILO


            Eu sei onde ele mora: a 5 metros de altura, último buraco de frente para o Norte, no tronco de um velho pinheiro morto e seco, numa área de preservação de florestas, bem atrás da casa do meu filho, em Duvall.
           Nesse buraco no tronco, cavado por um pica-pau azul, está guardando suas provisões para o Outono/Inverno que se avizinha.
            É arisco esse meu novo amigo, como todo esquilo que se preza.  Escapole correndo pelas cercas dos "backyards" das casas do Condomínio.  Às vezes parece voar.  Como no dia em que descobri onde ele mora.   Saltou numa distância de mais de um metro sobre o vão do portão da cerca, correu pela cerca do vizinho, deu um salto enorme até o galho mais baixo do seu pinheiro-edifício, subiu como um raio castanho pelo tronco cinza e finalmente chegou à sua morada.
            Mas dois dias antes eu o havia flagrado.  Por uma fração de segundo, na sua olímpica corrida, ele parou de repente.  Diante da minha lente, permitiu-me apenas um disparo.  Um milissegundo de emoção.  No "take" seguinte capturei somente o rastro borrado da sua longa cauda.  Para mim, foi o suficiente.      
            Esquilos podem ser amigáveis, mas somente nessa ordem de suficiência..  Milissegundos para uma pose.  Eles têm muito o que fazer, na sua luta pela sobrevivência no gelado inverno daqui... See you later, Mr Squirrel  !... I hope...

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

KEY WEST - A ILHA DE HEMINGWAY

Fachada da Angelina's Guest House
Promessa é dívida.. E eu prometi que atualizaria o blog mesmo nas férias.
Na intenção única de quebrar em dois um vôo entre o Recife e Seattle que dura boas 14 ou 15 horas, resolvi passar 4 dias na Flórida.  Fizemos um tour rápido por Miami para no dia seguinte viajar para Key West e ficar dois dias por lá.  Key West me atraiu por sua história e por sua arquitetura.  Casario secular, de uma beleza cativante.





O belo edif'icio da Corte do Condado

"Cayo Huesso", ou Ilhota dos Ossos, para os seus primitivos habitantes, foi anglicanizado para Key West, por sonoridade similar.  É a mais ocidental das Keys, dezenas de ilhotas interligadas pela US-1, a Overseas Highway, que avança sobre o mar do Golfo, de um lado e o Atlântico, do outro.  174 milhas, cerca de 280 quilômetros de belas paisagens que desfilam pela janela do ônibus.  Interessante notar que Key West fica mais próxima da caribenha Cuba (90 milhas ou cerca de 150 quilômetros) do que do continente americano.




Nomes nas portas

Escolhemos para hospedagem uma pousada simpática, chamada Angelina's Guest House, instalada numa casa de madeira (como praticamente todas da ilha), do início do século XX e que um dia foi um bordel cujas "meninas" divertiram sobremaneira os elegantes da ilha, incluido aí o seu mais importante frequentador, o famoso Ernest Hemingway.  Aliás, esse grande escritor é onipresente em Key West.  Sua casa-museu é o pricipal  ponto de atração turística, para onde acorrem todos os aficcionados da sua valiosa obra literária capitaneada pelos premiados romances O Velho e o Mar, Adeus às Armas e Por Quem os Sinos Dobram, entre tantos.



Casa-museu Ernst Hemingway

A família proprietária (Mr Kevin, Mrs Janet e sua filha Stephane) recuperou e decorou com extremo bom gosto cada canto da casa, atendendo os hóspedes com uma amabilidade inesperada.
Um dos detalhes interessantes são as plaquinhas pintadas em cada porta de quarto, com o nome das "meninas" da época: Susie, Dolly, Kitty, etc.
Passeios em Key West não faltam, museus e lugares interessantes se contam às dezenas; parques e praças, restaurantes e bares para todos os gostos.  Sinceramente, é o tipo do lugar que mereceria uma visita bem mais demorada. Famosos são os bares que Hemingway frequentava, sendo o principal o chamado Captain Tony's Saloon, que ainda nos anos 30 mudou para uma quadra adiante, na Duvall Str, a rua principal da cidade e passou a chamar-se Sloopy Joe's Bar.. A briga é feia, para disputar a primazia do ilustre cliente.  Outro passeio bem interessante é pelo mar caribenho. 


Capt Tony`s Saloon, na Duvall Str

 Uma visita aos corais próximos à costa (cerca de quarenta minutos navegando num enorme catamarã com casco formado por placas de vidro, por onde temos uma excelente visão do fundo do mar, dos corais e dos peixes e outros animais marinhos.
Visitamos alguns dos museus muito bem organizados e que despertam de imediato o interesse do turista: o museu do caçador de tesouros Mel Fischer é um dos principais.. Imperdível, a coleção de moedas, jóias e barras de ouro que renderam ao descobridor cerca de 200 milhões de dólares, tudo resgatado do galeão espanhol Nuestra Señora de Atocha, valendo lembrar que Mel Fischer também descobriu outro galeão similar, o Santa Margarita.

Jardins de Hemingway
Museu interessantíssimo, também, é o que cuida da história dos faróis da região das Keys, o Lighthouse Museum, com farta documentação, objetos, iconografia e uma subida ao topo do farol, que tem cerca de 90 degraus e 25 metros de altura, com uma vista panorâmica da cidade e do mar nos arredores.
O mais importante de todos é -novamente- o museu-casa de E. Hemingway, uma bela residência cercada por um rico jardim tropical, com muitas palmeiras e até plantas bem conhecidas nossas como ninféias primas da vitória-régia. 
Um patrimônio muito querido do escritor eram seus gatos polidáctilos (com 6 e até 7 dedos) que
transmitiram à descendência até hoje esse defeito genético. 

Descendente de algum  dos gatos do Escritor

Os contemporâneos do escritor estão sepultados num insólito cemitério em meio aos jardins e os seus tataranetos passeiam dolentemente pela casa toda às dezenas, fazendo a alegria dos visitantes.

Para não estender demais esse texto, acho que vão ser necessários mais uns posts falando sobre esse destino muito legal, incluindo ainda Miami e Everglades.  Voltaremos depois.


sexta-feira, 5 de agosto de 2011

BLOGUEIRO FOLGADO (3)


Viajando de novo?.. ô blogueiro folgado, este aqui ! Amanhã estarei no cilindro de aço, voando por aí..
Mas vocês não vão se livrar de minhas histórias não..Vou tentar manter o Blog mesmo de férias (mais umas) ..  Desta vez o destino é Key West e Everglades, mais uma voltinha em Miami, só pra não dizer que eu não quis conhecer.. Eu não curto muito essas cidades grandes, porque meu negócio é Natureza, vocês sabem... E da Florida, vou direto (aí sim !) para o motivo principal da viagem: rever os meus queridos que moram lá no outro extremo, o Noroeste dos USA.   Fred, Juliane e meu querido neto Diogo me esperam e até o dia 4 de setembro estarei com eles..  Se der, mando alguma coisa de Key West, se não atualizo a partir de Duvall -WA, onde mora Fred Filho.. Abração a todos !

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

CARRERO - "STAR", A SEU MODO

Raimundo Carrero, primeiro à esquerda

Personalidade forte, jeito de star.  Pintou de repente, em 66, sorriso de orelha a orelha.
Um sax-tenor tenor no estojo.  Cabelão a Beatles. 
Por fora do estojo, botou graúdo: RAY CARRERO. 
Acho que pra ficar parecido com Ray Conniff (vide, hoje, as inúmeras referências ao Maestro e a outros grandes músicos do jazz, em alguns romances de sua autoria (Maçã Agreste, Os extremos do Arco-Íris, Sinfonia para Vagabundos..)
Soprava legal o tenor.  Tirava dele um som rouco, estilo Manito, dos Incríveis, seu ídolo declarado.
Quando queria, era renitente.  Ensaiava seus solos e -na hora certa- mandava som.
Quando não, a gente tinha que tocar no tom mais favorável para o si-bemol  do seu instrumento.

Da esq para a dir: Carrero, Araújo, Walter, Fred; na bateria Djilson

Sem grandes performances, a verdade é que todos nós, dos Tártaros, Raimundo incluído, fomos músicos à nossa maneira competentes.  Prova disso, são os inúmeros festivais que vencemos, medalhas e homenagens que recebemos, fã-clubes que centenas de garotas do Recife fundaram em nossa homenagem, discos que gravamos, etc.. Como atuávamos mais em bailes que em shows, tínhamos um repertório bem variado, mediando umas duzentas canções.  Quase tudo no órgão ou na guitarra.  Aqui, ali, vinha o Carrero no tenor.  Um solo, uma cervejinha, um arranjo, mais outra que ninguém é de ferro. Mas, no meio da festa, o cara se invocava e atacava de cantor, batendo um indefectível pandeiro na perna, como era moda.. O star aparecia.  O cabelão rodava: I can't get no, satisfaction...

Apontando o título, Carrero..

Grande Ray.. hoje acho que nem se lembra mais do nome artístico e se orgulha, com razão, de ser Raimundo Carrero, romancista consagrado, cartaz internacional.  Star, a seu modo...

(do meu livro de crônicas "Tártaros, os Seis do Recife" - Recife, 1995 - ed. do autor)

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

MINHA VIOLA



10 cordas e um som bem cheio, gostoso de ouvir, a viola sertaneja (ou viola caipira) sempre me fascinou.  No tempo das guitarras elétricas dos anos 60, plena efervescência das baladas dos Beatles, aquele som me levava às origens.  Inventaram uma tal de "craviola", que também era um desmantelo de boniteza sonora.. Nunca mais ouvi falar das craviolas.. Ficaram somente nas lembranças de talvez meia década de evidência.. Não colou, nem como instrumento de solo, nem como instrumento de harmonia.

As "guitarras de 12 cordas" também tiveram um sucesso temporário e eram comuns, entre o final dos anos 60, início dos 70, preenchendo junto ao órgão elétrico (em especial os Hammonds, Bentleys e Farfisas) a harmonia dos antigos "conjuntos". Mas a violinha de 10 estava ali, sempre presente, ora nas duplas de cantadores nordestinos, ora nas tradicionais modinhas mineiras, goianas, pantaneiras e paulistas, daquele som sertanejo que a gente não ouve mais.
Muitas décadas antes dessas duplas musicalmente assexuadas de hoje, sim, ouvíamos Pena Branca e Xavantinho, Milionário e Zé Rico, Tião Carreiro, Tonico e Tinoco e tantos outros da velha guarda, além dos mais recentes entre eles o já antológico Almir Sater, que mantém a tradição da viola em terras pantaneiras.
Aqui no Nordeste, comum nas duplas de repentistas do Piauí  às Alagoas, no sertão, nas praias, até mesmo nas cidades, o som cristalino das cordas dobradas da viola vai sobrevivendo a duras penas.  Em toda a minha vida de músico amador e profissional,  eu possuí duas violinhas muito queridas: ambas da marca Rei, a primeira da década de 70, época de ouro do Quinteto Violado recém formado aqui no Recife e a segunda, mais recentemente, que usei até bem pouco tempo, após o que a dei de presente ao meu caro amigo Hamilton Florentino, que tomou-se de paixão para usá-la no seu conjunto Forróviola. Gravei muitas e muitas músicas com essa violinha e gosto de todas..

 Uma porém, que fiz exclusivamente para a própria, chama-se "Minha Viola" e foi escolhida, nem sei bem porque, pois é uma música bem simples, ingênua até, para fazer parte do site oficial da "Música de Pernambuco".. Foi uma gravação bem intimista, em que eu fiz as bases com violão, viola de 10 e percussão, e também cantei.  Não reparem na simplicidade da letra, nem da melodia, muito menos da gravação.  É somente um registro do meu amor por um dos instrumentos queridos, nada mais.


Ouça aqui, no site "Música de Pernambuco", seção "Música Instrumental e Erudita" : http://www.musicadepernambuco.pe.gov.br/artista.php?idArtista=53  ou no Player abaixo: