segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

OUVIR ESTRELAS

“Ora (direis) ouvir estrelas! certo 
perdeste o senso!” E eu vos direi,no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”. 

(Olavo Bilac)

Este lindíssimo e conhecido soneto de Olavo Bilac, o nosso poeta maior, que inúmeras vezes li, reli e declamei para mim mesmo, sempre teve uma importância fundamental na minha vida, em suas múltiplas etapas. 

Sou um apaixonado pela Música e pelas Estrelas. Há no Universo um ritmo, uma música, que contagia todos os seres humanos, desde as cavernas até os imensos edifícios de hoje, nossas cavernas tecnológicas. 

Quantas e quantas vezes me surpreendi, enquanto ouvia Mozart, ou Saint-Säens, Beethoven ou Bach, Lizt ou Schumann, enfim qualquer grande compositor da Música eterna e universal ! 
Não foi somente uma surpresa daquelas que a gente sente quando encontra o novo. 

A Música nunca é a mesma. Até mesmo aquele estudo que enfrentamos, no aprendizado, de olho na estante, traduzindo cada nota e sua expressão, cada pausa e seu significado na execução, nos surpreende a toda hora. 

E paro, e penso. O que está por trás da criação musical ? Que mistério se esconde atrás dessa divina manifestação ? Que força nos impulsiona para a criação, quando passamos a compor ? E eu mesmo tento responder: o Homem não é um ser comum, como qualquer criatura viva do planeta. Tendo o dom da criação ele reflete, na sua obra, a Grande Obra Daquele Ser Incriado e Misterioso que buscamos. 

Sim. Todo Músico, desde o mais humilde aprendiz, ao mais iluminado Maestro, Arranjador, Compositor ou Exímio Executante, deve ser um mandatário do Poder da Criação. E eu sinto que assim é mais fácil seguir nossa missão de Músico. Uma missão muito nobre, diferenciada, às vezes mal entendida. 

Missão que causa uma pontinha de inveja sadia em quem não recebeu esse dom musical. Claro, não somos os únicos. Outros privilegiados têm outros dons, outras Artes. Mas a nossa, sem falsa modéstia, passa por todas as outras. A nossa Arte só pode ser amada por quem aprendeu a ouvir e a entender as Estrelas!

(Publicado no Informativo Banda Dabanda  Ano I - Nº 10 AMPARO (SP), FEVEREIRO DE 2012)