terça-feira, 31 de maio de 2011

XILOGRAVURA - A ARTE DOS BORGES DE BEZERROS-PE

Estive semana passada em Bezerros-PE, cidade das cavalhadas, dos Papangús, da Serra Negra e principalmente, da Xilogravura e dos Cordéis do poeta J. Borges e da sua privilegiada família de artistas (irmão, cunhada, filhos, sobrinhos que trabalham com a xilogravura e literatura de cordel.)
Um verdadeiro clã de artistas espalhando há décadas, de Pernambuco para o Mundo, a sua visão mais pura do homem da região, seu trabalho, seu lazer, sua vida, muitas vezes atribulada pela necessidade da sobrevivência e pela inclemência do clima e da terra.  
 Gosto de visitar Bezerros e sempre que posso estou por lá, ora para curtir um pouco de frio na Serra Negra e de lá admirar a paisagem ainda tranquila da região, ora para pular atrás dos blocos de papangús no Carnaval autêntico daquela boa terra.
Desta vez fui com uma missão específica de comprar umas xilogravuras para mandar para o meu filho Fred, que reside nos Estados Unidos e pensa dia e noite na terrinha aqui. Na oportunidade, conheci um Atelier exemplar, a Casa da Xilogravura, do Sílvio Borges, de quem fiquei amigo e fã. Um artista, filho de artistas (sua mãe Nena Borges, é cunhada de J.Borges , casada com Amaro Francisco, irmão já falecido do líder do clã.)

Gravei um depoimento do Sílvio, que disponibilizo aqui para vocês, a fim de que possam conhecer melhor o seu trabalho e o seu amor por essa Arte tão nossa. A música de abertura e encerramento do vídeo, esqueci de colocar nos créditos, é de minha autoria, executada pela Banda de Pífanos Flor de Taquari.
Chama-se "O pife de Rico" e é uma homenagem que fiz ao meu filho flautista Enrico.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

10.000 VISITANTES ..(E EU PENSAVA QUE NEM CHEGARIA A0S 1.000)


Sei não.. mas acho que está dando certo.  O Blog comemora hoje mais de 10.000 visitas e mais de 100 postagens.   Estou muito feliz com isso.  É uma prova do quanto a nossa história e cultura, a nossa terra e nossa gente brasileira de todos os rincões, as nossas praias e montanhas, pampas e caatingas, as nossas maravilhas naturais, enfim, vêm despertando a atenção de gente do mundo inteiro.  Fico surpreso quando constato que o nosso modesto blog, em menos de cinco meses, já foi lido por pessoas de países como: Portugal, Espanha, Alemanha, Japão, Reino Unido, Rússia, Vietnam, Taiwan, Estados Unidos, Hungria, França, Luxemburgo, Holanda, Coréia do Sul e tantos outros, incluindo Belarus, antiga Bielo-Rússia, que tem a bela Minsk como capital.

Além de mostrar esse Brasil-continente pela ótica de um turista-nativo apaixonado por sua terra, procurando fazer justiça aos nossos encantos geográficos, enfatizo também a nossa riqueza cultural.   Claro que. colocando-me como narrador embasbacado com o que vejo pelo Brasil, em 41 anos de viagens (por enquanto), também exponho a vocês, queridos leitores, coisas da minha vida, da minha família, dos meus escritos e poesias, fotos e vídeos, como se estivéssemos, quase todos os dias, nos reunindo na mesa da cozinha para tomar um café, comer uns bolinhos, num final de tarde, jogando conversa fora, falando dos nossos passeios e aventuras,com a alegria de quem voltou pra casa..  Muito obrigado pelo carinho de você todos e pela paciência de ouvir minhas histórias, minhas memórias, de ler esses rabiscos e prestar atenção às musiquinhas que coloco por aqui.. Um beijo pra todos !    

                                   

domingo, 29 de maio de 2011

SOLDADINHO DO ARARIPE - UM ALERTA





"Em 1997, o Professor e Ornitólogo Galileu Coelho, em parceria com o Biólogo Weber Andrade e Silva  em visita à Chapada do Araripe, descobriram um pássaro endêmico daquela região, que nomearam de "Soldadinho-do-Araripe". Esse pássaro, com população estimada entre 50 e 250* indivíduos espalhados  em 60 quilômetros, tem alimentação constituída por frutos e, por isso, é um  importante lançador de sementes.  O macho da espécie é branco, com a cauda e as penas de vôo das asas pretas, e um penacho vermelho na cabeça, enquanto a fêmea tem cor verde-musgo e sem penachos. O soldadinho-do-araripe(Antilophia  Bokermanni),pássaro que só ocorre próximo às fontes de água da Chapada do Araripe, no Sertão,  entrou para a edição 2000 do Livro Vermelho de Espécies Ameaçadas de Extinção.  A obra é publicada pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

De acordo com o Ornitólogo, a espécie Antilophia bokermanni está em extinção porque é, entre outros pontos, uma ave considerada sensível às alterações ambientais. Apesar de  viver em uma área de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), ainda existe, na região, o corte indiscriminado de mata.

Entre anotações de campo e pesquisa bibliográfica,  revelou o Professor Galileu a ocorrência de sete aves ameaçadas de extinção só na região da Chapada. São citadas no trabalho o zabelê, a jacucaca, a araponga-do-nordeste e o pintassilgo. O soldadinho-do-araripe é hoje o símbolo  da conservação das espécies da Chapada do Araripe – Decreto municipal Nº 24/2009.

Para contribuir com a preservação do soldadinho-do-araripe foram  cultivadas plantas que dão frutos e alimentos, na diversidade que a espécie requer, para sua conservação e procriação. Sobre esse belo pássaro, foram feitos e publicados vários estudos científicos".

*Boa Notícia: Recentemente esse número foi ampliado para cerca de 800 indivíduos:



Para contribuir com a preservação do Soldadinho do Araripe foram  cultivadas plantas que dão frutos  e alimentos, na diversidade que a espécie requer, para sua conservação e procriação. Sobre esse belo pássaro, foram feitos e publicados vários estudos científicos.

A riqueza da nossa flora e fauna está sob permanente ameaça.. Urge que cuidemos de alertar aos mais velhos e educar os mais jovens no sentido de lutar pela restauração do meio ambiente, onde ele está sendo mais descaracterizado, de observar muito atentamente qualquer descumprimento das leis ambientais e acima de qualquer coisa, de cultivarmos o amor à Natureza, da forma mais sincera possível, sem fanatismos e exageros que logo são esquecidos tão logo terminem passeatas e atos públicos.  Precisamos, isso sim, é tornar essa atitude uma coisa tão arraigada à nossa personalidade, tão comum ao nosso modo de viver que passemos a ter repulsa por qualquer ato contrário à Vida, na sua expressão mais plena !  Longa vida ao Soldadinho do Araripe, criatura tão linda e canora, tesouro precioso do nosso imenso patrimônio natural..  No áudio, o canto do Soldadinho, nas fotos a sua beleza de porte e de cores.
(Fotos: cortesia de Galileu Coelho e W. Silva - Aúdio: canto do Soldadinho, gravado por Ciro Albano)

sábado, 28 de maio de 2011

WESTON, FL - 14TH JULY 1998 - TEM FREVO DESFILANDO !

Jamais poderia imaginar, anos atrás, como seria comunicar-me com gente do planeta inteiro.

Quando a Internet surgiu, em sua fase experimental, era restrita a Universidades e Órgãos federais pelo mundo afora. Tive o privilégio, através do meu filho, então concluinte do Curso de Ciência da Computação, de entrar no seleto grupo dos internautas pioneiros aqui em Pernambuco.

Como Diretor do Museu do Frevo Levino Ferreira entre os anos de 1995 e 1999, mantive na Rede a primeira webpage voltada para a música pernambucana, em especial para o frevo, a contar com recursos áudio-visuais e texto.

A página do Museu do Frevo permaneceu por esses anos levando nosso ritmo pelo mundo. Um dos motivos do meu orgulho quanto a isso foi receber de um professor de artes, indiano de Nova Delhi, pedido de vídeos sobre o frevo.


Outro foi haver colaborado para a difusão do frevo nos EEUU (Florida e Pennsylvania), através da prestação de suporte cultural a duas amigas residentes naqueles estados americanos.

Enviei, por cortesia da Transbrasil, 11 sombrinhas de frevo e cds com os nossos melhores frevos de rua, para serem tocados no desfile. E não foi um desfile qualquer !

O Frevo foi  apresentado, ineditamente, justo na mais famosa festa cívica americana: o desfile do 4 de Julho, o Independence Day americano. Na Pennsylvania, o desfile aconteceu no Carnaval Latino, em Novembro.

Infelizmente, ninguém da mídia brasileira noticiou ou comentou esse fato cultural importante, o que faço agora, quase 13 anos depois, voltando a agradecer à minha amiga Dulce Tavares, dirigente da "Estilo Brasil", em Weston e do centro Cultural Brasil/Estados Unidos, em Miami.

Nas fotos, o folder comemorativo que dispensa comentários..

quinta-feira, 26 de maio de 2011

DELTA DO PARNAÍBA

Dunas dos Tatus
Esse Brasil tem tanta paisagem bonita, tanta gente interessante, tanta coisa boa pra se ver que às vezes fico pensando como é difícil para mim escolher qual o Estado mais bonito que conheci.  O litoral do Piauí é pequeno.  Mas tem uma diversidade de paisagens bem interessante.  Uma das maiores atrações é o chamado Delta do Parnaíba, no Norte do Estado.  Ali começa a região de grandes dunas, no deserto dos Tatus, o prenúncio dos fabulosos Lençóis Maranhenses (qualquer dia desses eu vou falar deles).

Rendeiras do Morro da Mariana
Mas navegar pelo Rio Parnaíba rumo à sua foz, é algo muito legal.  Conversar com as rendeiras do Morro da Mariana, presenciar o seu trabalho criativo e belo, atestar a forma de como transmitem sua arte às filhas e sobrinhas, é sentir a cultura popular se perpetuando através das gerações.  

Macapá















Pedra do Sal























Praias desertas, selvagens e tranquilas, como a dos  Coqueiros, Atalaia, Macapá e a fantástica Pedra do Sal, onde num imenso lajedo as ondas prenchem reentrâncias na rocha, que retêm a água do mar que se evapora, deixando uma camada de sal em cada canto.

Atalaia
A Lagoa do Portinho é também um caso à parte. Dunas de areia branca, lagoa azul, boa estrutura para o turista.  Enfim, conhecer Parnaíba, cidade acolhedora, seu Rio e seu Delta, seus manguezais e seus barcos coloridos, sua gente amiga e generosa só nos trouxe felicidade e a certeza de saber que os irmãos brasileiros do Piauí têm muitos motivos para se orgulhar do seu lugar !





Coqueiros

quarta-feira, 25 de maio de 2011

TÁRTAROS, O FESTIVAL


A partir de hoje, vou publicar aos poucos crônicas do meu livrinho "Tártaros, os Seis do Recife", que escrevi para comemorar, em 1995, os nossos trinta anos de fundação.  O nome tem a ver, vocês já devem ter percebido, com "os quatro de Liverpool".  Não fomos apenas seis.  Passaram pelos Tártaros, depois que o grupo original se dissolveu em março de 1969 (qualquer semelhança com a dissolução dos Beatles foi realmente mera coincidência..), dezenas de excelentes músicos do Recife.

Portanto, aguardem muito mais desse livro que teve a extraordinária tiragem (copiada em meu computador pessoal, inclusive a capa por mim desenhada) de ... 6 (seis) exemplares, um para cada um dos componentes; Zé Araújo, Djilson, Walter, Didi, Raimundo Carrero e eu.

Divirtam-se !

"Não tínhamos quase nenhuma experiência de palco e encaramos de frente, em 1965 (setembro/outubro) o I Festival do Iê-iê-iê do Recife, no Teatro Santa Isabel.  Nos bastidores, discutia-se à boca miúda qual dos oito ou dez conjuntos presentes, afora mais de uma dezena de cantores e cantoras que concorriam à parte, venceria o concurso.

As preferências eram para The Silver Jets, quarteto liderado por Reginaldo Rossi, que imitava descaradamente os Beatles e, em seguida, para The Lords, grupo bem arrumadinho que, para variar, também imitava descaradamente os Beatles.

Nós havíamos ensaiado, salvo engano, umas canções do Roberto Carlos. Mas, na última hora, resolvemos inovar.  Faltando apenas uns dez minutos para a nossa entrada em cena, reviramos tudo: o único que permaneceu tocando o seu próprio instrumento foi o Djilson, o baterista, pois o Zé Araújo, contrabaixista, fez o violão-base; o Walter, guitarrista-solo, passou ao contrabaixo e eu, que fazia a guitarra-base, executei o solo.

A música (como esquecer?) foi "Consolação", de Baden Powell.  Pois é: uma bossa-nosa da melhor qualidade, num Festival de Iê-iê-iê ! A platéia, "puxada" pela nossa torcida (quase toda de alunos do Colégio Marista e familiares) surpresa pela mudança inesperada de planos e de gênero, aplaudiu para valer.  Tanto que, apesar de termos perdido o primeio lugar para os Silver Jets, ficamos com a medalha de vice-campeões e a simpatia, daí para a frente, de todo o contigente de fãs da bossa-nova e da música romântica do Recife.

Foi nesse Festival que marcamos (quase por acaso), a nossa linha de atuação, que mantivemos até o final: tocar qualquer gênero musical, do baião ao erudito, embora a intenção inicial do grupo fosse a de seguir a influência do Rock'n'roll.

Outro detalhe que marcou essa nossa apresentação, foi o despojamento.  Enquanto mudavam o cenário do palco, que continha elementos decorativos condizentes com o clima jovem do Festival (guitarras, fotos grandes dos Beatles e outros ícones, faixas coloridas, etc) pedimos ao pessoal do teatro para passar uma cortina no palco, deixando vazia a área frontal, exceto por um banquinho, onde sentou o Zé Araújo, um estrado, onde ficou o Walter e uma escada-tesoura, onde apoiei-me para, de pé mesmo, executar "Consolação".

Deu certo.  AfinaL, a gente nunca teve a pretensão de ser "Os Reis do Rock" ...

domingo, 22 de maio de 2011

LAST TRAIN TO CLARKSVILLE - THE MONKEES






É meio difícil faltar assunto neste blog, posso garantir.  O de hoje será sobre uma música do meu tempo de roqueiro. "Last train to Clarksville" foi um sucesso de um fantástico conjunto dos anos 60.  Numa contraofensiva ao rock dos Beatles que dominava o mundo naquela época, surgiu nos Estados Unidos um grupo de quatro talentosos jovens músicos com uma proposta semelhante à dos Beatles: um rock'n'roll de qualidade, aliado ao humor de televisão e uma massiva propaganda da sua marca.  Assim surgiram "The Monkees" que se aqui no Brasil não obteve o sucesso que teve no próprio país e em muitos países do mundo (não tanto quanto os Beatles, é claro !), preencheu muitos espaços e marcou presença com pelo menos duas músicas de ótima qualidade: Last train to Clarksville e I'm a Believer..   Eu estava há duas semanas atrás, numa aula de Inglês, com nosso excelente Professor Fernando Ramos, que nos trouxe letra e música dessas canções dos Monkees, como tema de classe.  Excelente a idéia do Fernando !

Além de fazermos uma imersão e estudo da letra, curtimos demais a lembrança dos bons tempos de juventude ouvindo e cantando esse sucesso.. A quem interessar possa, vão aqui um vídeo-clipe e a letra completa.  Uma história até comum por aquele tempo: um rapaz, provavelmente um recruta em véspera de viajar com a sua tropa, na certa para a Guerra do Vietnam telefona à namorada instruindo-a para tomar o último trem para Clarksville, onde ele a encontraria e onde poderiam passar uma última noite juntos, porquanto ele não sabia se isso seria possível ocorrer num futuro que lhe parecia incerto.

LAST TRAIN TO CLARKSVILLE

Take the last train to Clarksville,
And I'll meet you at the station.
You can be be there by four thirty,
'Cause I made your reservation.
Don't be slow, oh, no, no, no!
Oh, no, no, no!
'Cause I'm leavin' in the morning
And I must see you again
We'll have one more night together
'Til the morning brings my train.
And I must go, oh, no, no, no!
Oh, no, no, no!
And I don't know if I'm ever coming home.
Take the last train to Clarksville.
I'll be waiting at the station.
We'll have time for coffee flavored kisses
And a bit of conversation.
Oh... Oh, no, no, no!
Oh, no, no, no!
Take the last train to Clarksville,
Now I must hang up the phone.
I can't hear you in this noisy
Railroad station all alone.
I'm feelin' low. Oh, no, no, no!
Oh, no, no, no!
And I don't know if I'm ever coming home.
Take the last train to Clarksville,
Take the last train to Clarksville

sexta-feira, 20 de maio de 2011

DIÁRIO DE CORREDOR - PARA AFERIR O PROGRESSO





Nunca foi bom em Matemática.. Eu me virava, nem sei como, pelo Ginasial.  Como queria fazer Direito, cursei o Clássico (hoje seriam Humanas). Livrei-me assim de uma só vez de alguns fantasmas terríveis, como Física, Química, Trigonometria e outras coisas que não me entravam pelo cocoruto.  Mas, alguma coisa sempre você tem que utilizar, em que letras são substituídas por números.  É a linguagem da vida se metamorfoseando em valores, sejam financeiros, de avaliação, de equiparação, sei lá..  Valores numéricos são símbolos primordiais na civilização e você termina tendo que lidar com eles.  Eu preferia que não fosse assim.   Mas, desde os pré-históricos que mantinham seus calendários riscados na pedra contando luas e colheitas, até os "managers" de Wall Street, muito número rolou por esse mundo velho sem fronteiras.  Enfim, o Universo é Matemática pura ! No Esporte não seria diferente.. Em treinamento esportivo temos que nos basear nos nossos números particulares para melhorarmos ritmo, resistência e velocidade.  Somente com uma observação constante de certos valores numéricos isso é possível. Eles se referem -principalmente- a: frequência cardíaca, ritmo, distância percorrida e o próprio peso corporal.  Tudo isso está mais do que relacionado, os números se entrelaçando numa equação simples, porém aparentemente indecifrável para quem não gosta de lidar com eles.  Portanto, à medida em que o corredor evolui, se ele anota seus números e os acompanha com cuidado, vai verificar que, na medida em que ele melhora seu condicionamento, sua frequência cardíaca basal e o seu peso corporal diminuem em proporção inversa ao aumento do ritmo de corrida e das distâncias percorridas. É muito importante que se observem também fatores  subjetivos e objetivos que interferem no treinamento, como:  indisposições, pequenas lesões de estresse, condições físicas gerais, condições do percurso escolhido, topografia, temperatura, etc.  Um treino pode ser perfeito num determinado dia e no mesmo percurso e terrível no outro.  Basta a umidade do ar, o aumento anormal da temperatura, uma gripe mal-curada, uma entorse de que descuidamos no dia anterior, um estado emocional
conturbado por algum problema doméstico ou profissional, para estragar a melhor das corridas.  Para tudo isso, não há nada melhor do que anotações diárias desse desempenho geral.  Se você mantém um "diário", vai ter muito melhor condição de se observar do que um corredor que não o mantém. 

Aprendi, com  Ayrton Ferreira, corredor baiano, veterano e muito competente, a anotar tudo que se relacionasse com meus treinamentos e fiz disso um hábito diário, tão constante como vestir o calção, amarrar os sapatos e sair correndo pela madrugada. Durante 11 anos, os mais produtivos dos meus mais 28 de atividade constante, anotei religiosamente  os valores de cada treinamento e competição realizada.  Com isso constitui uma ótima base de dados que ainda hoje guardo como um dos troféus importantes que consegui na prática da corrida.  Hoje dispomos de programas e tabelas pre-moldados em softwares dirigidos a corredores de todos os níveis.  No meu tempo de iniciante, 1983, não havia nada disso, que fosse do meu conhecimento.  As anotações era em papel mesmo e a sua interpretação idem.  A partir desses dados  desenhei gráficos para um período de 36 meses de autoavaliação, em três fatores que me interessavam: frequência cardíaca basal, distância e ritmo. Coisa simples, somente para entender mesmo o porque dos resultados muito bons que eu obtive com a corrida. Passo para vocês agora uma amostra do meu "diário de corredor" e desses mal-desenhados gráficos.  O primeiro volume do "diário" foi o próprio livro do Ayrton Ferreira.  O segundo mandei fazer numa gráfica de um amigo, com tabelas idênticas às do livro original.  Claro que hoje há maneiras mais fáceis de se manter essas anotações.  Mas as minhas, eu garanto, nunca sofreram com o surgimento de vírus, "bugs" de softwares, queima de HDs e outras mazelas eletrônicas. O papel dos livros está amarelado pelo tempo, mas as anotações estão lá, testemunhas dos meus progressos. Escolhi aleatoriamente 2 páginas desses diários para comentar. 

Abrindo a tabela 01 , vocês poderão observar o treinamento de um iniciante, com um ano de corrida, quilometragem baixa e tempos ainda muito abaixo do exigido para me considerar um corredor razoável.  Depois de uma corrida de 9,2 km num ritmo de 5,25/km, por exemplo,  tive um resfriado por dois dias, apesar de fazer uma recuperação..e já vinha sentindo dor no tendão dois dias antes..típico de iniciante, mesmo.


Na tabela 02 (quando já tinha alguma experiência) nota-se um ritmo bem melhor e mais regular (correndo 12 km x 2 no final de semana a um ritmo de 4,35/4.40) no tempo de  55 a 58 min..e a frequência basal chegando até 38 bpm .. se bem que geneticamente eu fui privilegiado.. na época pesava 63 ks, para 1,78 altura.

No gráfico 02 podemos acompanhar o aumento da quilometragem da minha época de maratonista iniciante (a primeira maratona em 1985) numa mínima de 80 km mensais  e máxima de 280 km mensais, em finais de período de treinamento. No gráfico 01, a queda bastante acentuada dos tempos para os 10 km (entre 54 min de 1984 a 39 min em 1987.. nas últimas anotações  que tenho cheguei a correr os 10 km para 37 minutos). O gráfico é inversamente proporcional ao aumento da quilometragem.. No mesmo sentido, inversamente proporcional à melhoria de ritmo e aumento de quilometragem é a queda acentuada também da frequência basal, indo de uma média de 56 bpm em 1984 até uns 40 bpm em 1987, como se vê no Gráfico 03.


Uma última tabela resume minhas últimas competições.. ao todo foram 62, entre dezembro de 1983 e outubro de 1991. Desde uma corrida de 2km que terminei em 6min13 segs (ritmo de 3min06 segs p/km) até o meu melhor tempo na Maratona, de 3hs49min, curti com muito prazer e continuo curtindo até hoje, esse esporte maravilhoso que é a corrida rústica ! Por tudo isso, considero de vital importância anotar tempos, percursos, sentimentos durante e depois da corrida, tomar a frequência basal (antes de levantar da cama para o treinamento), anotar tempos de treinamento, de competições, etc.. Claro, tudo isso sem estresse, tornando-se um hábito como de resto a corrida se torna um hábito e automatizamos todas essas coisas.  Relembrar, muitos anos depois, de tudo isso, é estender o prazer e colher os dividendos do que plantamos por toda uma vida sadia. Espero que estas lembranças sejam úteis, de alguma forma. E boa corridas para todos !

quinta-feira, 19 de maio de 2011

MISTÉRIOS DA PEDRA DO INGÁ





Um dos lugares intrigantes que a gente pode visitar no Brasil está bem próximo ao Recife. Faz parte do cenário dos Cariris Paraibanos, região de belas paisagens serranas que alternam a vegetação da mata e da caatinga com muitas formações rochosas e alguns rios e riachos, perenes ou não. Já falei sobre ele aqui.

Entre João Pessoa e Campina Grande, as duas maiores cidades do Estado da Paraíba, está um dos pontos de atração ao turismo. Arqueologia, mistério e apelo ecológico se misturam no município de Ingá do Bacamarte e no entorno da famosa Itacoatiara do Ingá.

Blocos imensos de pedra, o maior deles medindo cerca de 27 metros de comprimento por 3 de altura, completamente recobertos de inscrições gravadas na rocha dura, formam um paredão para lá de enigmático. 

Dezenas de livros já foram escritos sobre a origem da Pedra, atribuindo-lhe os mais diversos meios de gravação. Ora os povos pré-históricos que habitaram o lugar teriam gravado seus símbolos através do uso de madeira molhada e friccionada com areia por sobre a superfície da pedra, ora fenícios teriam aportado no Brasil e deixado no Ingá sinais de sua passagem, descrevendo rotas, mapas, calendários, figuras rituais, ora teriam sido seres extraterrestres vindo de galáxias distantes que insculpiram com alguma espécie de laser representações das suas naves, mapas estelares e outros misteriosos signos
.
Os arqueólogos, mais céticos, simplesmente levantam suas hipóteses acadêmicas situando a Itacoatiara como mais uma das muitas ocorrências do entorno, sem tantas preocupações filosóficas ou sensacionalistas sobre o assunto.

De minha parte, nas três ocasiões em que lá estive, ficou a admiração pela paisagem do lugar, pelos caprichos das civilizações que por ali passaram, pelos mistérios que o cercam. E ficou também uma grande preocupação: em cada uma das vezes que visitei a Itacoatiara, surpreendeu-me o estado de abandono, até de desprezo por essa nossa herança, constituída de um monumento único no mundo, de capital importância para um estudo sério e criterioso sobre sua real origem.



quarta-feira, 18 de maio de 2011

O PAPEL DAS BANDAS DE MÚSICA (LIVRO DE RENAN PIMENTA)

Um livro que estava fazendo falta na estante de qualquer pernambucano e brasileiro que admire a boa música e em especial a música orquestrada.. Longe de ser um gênero ultrapassado e destinado a um determinado público, a música executada pelas bandas vai até o mais íntimo da nossa formação.  Tanto a dos mais velhos que ainda alcançaram as retretas dominicais, os desfiles cívicos, as solenidades seculares e religiosas, enfim todas as ocasiões em que as bandas saiam às ruas para emocionar o povo com o som dos seus metais, o garbo dos seus desfiles e principalmente a qualidade do seu repertório, como os mais novos que ainda hoje escutam e se apaixonam por um dobrado de John Philip Sousa ou Antonio do Espírito Santo, um frevo de Levino Ferreira ou de Zumba, uma valsa, uma mazurca, uma polka, um maxixe.. Todos os ritmos, incluindo as solenes marchas de procissão, tão brasileiras e tão maravilhosas, na sua harmonia rebuscada e no seu estilo único.

Renan Pimenta conhece profundamente o assunto. É, além de tudo, o maior incentivador do movimento pela preservação das bandas e da sua música. Fundou e dirige a Federação das Bandas de Música de Pernambuco, que congrega quase duzentas Bandas ainda em atividade no nosso Estado.  Renan tem formação sólida: é sociólogo, professor, membro de inúmeros órgãos de pesquisas relacionados à área da cultura, escritor, jornalista, enfim um homem dos sete instrumentos ( e por isso está aqui).  Recomendo com todo o entusiasmo que vocês leiam esse livro, de preferência ouvindo uma banda de música da qualidade, tocando um dobrado daqueles que nos remete à infância e aos tempos de escola, como o "Cisne Branco", de Antonio do Espírito Santo.


http://www.seteinstrumentos.com/2011/03/um-pouco-mais-do-mestre-sousa.html#links

segunda-feira, 16 de maio de 2011

008 EM BUSCA DA BARCA PERDIDA



Hugo Martins, o “Paladino do Frevo”, segundo o médico e compositor Paulo Fernando, é também um mestre do humor, da sonoplastia e criador de tipos hilários para cinema e tv, a exemplo de muitos personagens que apresentou ao Chico Anysio, em seu começo de carreira.

Hugo escreveu muito também para novelas de Rádio, tendo criado, em vídeo, o detetive 008, um Agente mais que secreto, trapalhão e meio maluco.  Realizou, com esse personagem, uma série de 3 vídeos (O Homem que descobre tudo, O Caso do Guarda Napo e O ET de Dona Varginha).  

Depois desses, pediu-me que escrevesse e produzisse o Quarto Episódio da série usando o seu personagem 008,  seu  Assistente Aniceto Pinguela e a Secretária Inalva Gina dos Santos.  Deu-me carta-branca para criar todos os demais personagens e fazer o enredo que bem entendesse.

Pois bem..  Mantendo o clima de deboche que norteia a Série do 008, pus mãos à obra e criei uma história muito doida envolvendo o irmão-gêmeo de 008, um arqueólogo chamado Imburana Gomes, uma dupla de terroristas, uma cigana que se comunicava com o ET do último episódio no seu centro espírita e outros malucos que tais. Na verdade, tudo isso pra fazer uma grande gozação com “Indiana Jones” e seu seriado, do qual, por sinal, sou fã.. Aliás, 008 tem seu tema musical por mim composto e executado, com a participação extraordinária do Maestro Edson Rodrigues num solo-improviso de sax-alto, em grande estilo.

Nesse trechinho de vídeo que aí vai, a música-tema de "Imburana Gomes", é uma composição e arranjo sinfônico do meu filho (também saxofonista, flautista e pianista) Enrico Monteiro: A Marcha da Barca Perdida..

O vídeo teve lançamento (no Teatro Apollo), com direito a coquetel e noite de autógrafos de todos os atores, atrizes e equipe envolvida.  Uma noite de muito humor e amizade! 

Montei nesse pequeno vídeo que acompanha este texto, um trechinho que gosto de rever, de um diálogo entre os terroristas Omalah-Al-Guidar  (Paulo Fernando) e o soturno Professor Etelvino Malagueta, vivido por Samuel Valente.  Curtam aí e aguardem novidades.. Hugo está preparando o quinto episódio da série, que provavelmente eu vou editar e montar.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

FREVO PATRIMÔNIO CULTURAL DE PERNAMBUCO

Um projeto cultural fantástico para Pernambuco, este representado pelo livro e CD ROM que acabo de ler, e que me foi enviado pelo amigo Gustavo Paz, que faz parte da equipe da Casa do Carnaval, órgão vinculado à Prefeitura do Recife.  O livro detalha toda a organização que precedeu ao produto final, um CD ROM com partituras digitalizadas de frevos-de-rua, de bloco e frevos-canção, pertencentes ao acervo da Casa e que estavam, a maioria delas, em precário estado de conservação.. Técnicas avançadas foram utilizadas para trazer de volta este acervo, depois digitalizado e reunido nessa mídia .

Sem dúvida nenhuma um grande passo para recuperarmos a história do nosso ritmo maior e perpetuá-la na memória de todos.

O projeto conta com a supervisão musical de um grande nome da música pernambucana, o Maestro Edson Rodrigues, ele mesmo um compositor de sucessos inesquecíveis como o histórico frevo "Duas Épocas" e ainda de outro excelente musicista da Banda Sinfônica da Cidade do Recife, o clarinetista e compositor Erilson Oliveira.  De parabéns toda a grande e operosa Equipe que trouxe à tona esse empreendimento de grande valor para a nossa cultura.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

VAMOS DANÇAR CIRANDA !

Nunca mais ouvi falar em ciranda...   nem em Dona Duda do Janga , com sua ciranda, nas noites de luz e de lua.. ou em Lia de Itamaracá, com seu sorriso aberto e seu dançar feliz..   E, de repente deu uma saudade daquela brisa, daquelas palhoças, do caldinho de peixe, da agulha frita, das rodas de ciranda nos anos 70, tão em moda, que atraiam turistas do Brasil inteiro e onde a gente se irmanava numa grande roda a cantar e dançar noite/madrugada adentro.. Inspirado nessas noites e nesse ritmo tão gostoso e tão praieiro, escrevi uns versos que agora passo pra vocês.

CIRANDA DO MAR DA VIDA

Sou cirandeiro por destino e sorte
no mar da vida nasci pescador
Se na jangada eu desafio a morte
No coração eu vivo sem amor

(Ah, morena, dos olhos verdes do Mar
Tu não tens pena desse jangadeiro ?
Sem rumo e Norte ele vai se afogar..)

No Mar da Vida tem areia e água
e só tem mágoa quem não sabe ver
Mas na ciranda eu vou tirando loa,
pois a vida é boa e é pra se viver

Sou cirandeiro por destino e sorte
No mar da Vida sei que vou morrer
Enquanto isso eu vou tirando loa
Pois a vida é boa e é pra se viver

Musiquei logo em seguida esta ciranda, que gravei acompanhando-me ao violão, com o arranjo brilhante do trompete de Bruno Dias e a percussão do Mestre Márcio Carvalho, do Maracatudo Nação Camaleão, um dos melhores e mais autênticos grupos do Recife e Olinda. Fazendo coro comigo, a voz mais linda do Recife, que só podia ser a de Tatiana Monteiro, minha filha querida e companheira de arte.   Posteriormente, num arranjo mais livre, foi gravada pela extraordinária Maria DaPaz, que fez um pot-pourri da minha ciranda com uma toada belíssima de Dorival Caymmi, "Morena do Mar".. Essa gravação é a primeira faixa do CD "Da Cor Morena" de Maria DaPaz, uma das vozes mais doces e afinadas do Brasil..  Deixo abaixo, para vocês conhecerem (ou relembrarem) o áudio com a minha gravação e o link para um vídeo com um clipe de show de Maria DaPaz, a querida Pazinha, dando um banho de voz e de interpretação.









quinta-feira, 5 de maio de 2011

O VALE DO CATIMBAU E O SEU PROFETA "MEU REI"

Estivemos no Vale do Catimbau em 1993, quando ele não era ainda esse Parque Nacional hoje conhecido e difundido pelo Brasil e pelo mundo afora.  Nessa vida de viajantes, desde as primeiras  aventuras  de “camping selvagem", como era conhecido o nosso lazer aventureiro, viajávamos desfrutando ainda de um Brasil meio desconhecido.  Tanto assim é que -em 1988 - a primeira vez que visitamos a Chapada Diamantina, sequer havia um Hotel por lá. Acampamos numa área particular completamente improvisada, que hoje é conhecida como Camping da Lama...  Já em 1990, quando voltamos, além de um esboço de uma Associação de Guias da Chapada, começava a ser construído um pequeno hotel (no qual nos hospedamos) chamado “Pousada Canto das Águas”.  Agora em 2010, terceira viagem à Chapada Diamantina, verificamos que o “Canto das Águas” é um ótimo Resort, muito bem decorado e com a localização fantástica que tem desde o início da sua construção e que lhe justifica o nome.
No Vale do Catimbau também foi assim.. Não havia nada além de um pequeno convento de freiras, que oferecia pouso às pessoas que se aventuravam para  conhecer a região.  Nunca mais estive por lá (pretendo voltar). A beleza agreste do lugar convida à meditação e os seus horizontes recortados por pedras e morretes  dão uma intensa sensação de paz e comunhão com a natureza rústica do lugar. Uma figura humana de grande carisma marca toda a história do Vale do Catimbau.  Tive o prazer de conhecê-lo, de conversar com ele por um dia inteiro, de ouvir suas histórias fantásticas, de admirar a sua tenacidade de levar adiante suas idéias para a construção de um mundo mais justo e pacífico.  


Estou  falando de “Meu Rei”, um místico, um profeta, um ser humano muito digno e admirável. Disse-me, na ocasião, ter 113 anos de idade.  Morreria em 1996, aos presumíveis 116 anos.  Construiu, para a sua Comunidade, uma enorme casa com vários pavimentos, onde armazenava em imensas cisternas recobertas com grossas pranchas de madeira, um verdadeiro tesouro aquático.  Milhões de litros d’água estariam armazenados por ali. Em cada cômodo, dos pavimentos subterrâneos aos térreos e superiores, que visitei guiado por ele, havia cisternas cheias do ouro líquido tão necessário à vida naquela região inóspita.  Seus seguidores, dezenas deles, viviam na Comunidade, observando os preceitos e regras de respeito à Natureza, de amor ao próximo. 

Recomendo, aos interessados, um vídeo em duas partes, postado no YouTube pelo
documentarista Luca Pacheco, com fotografia excelente de Nildo Ferreira  
(primeira parte aqui) :    http://www.youtube.com/watch?v=kJrwHPIufAc  
Vale a pena conhecer a história do Profeta do Vale do Catimbau !

quarta-feira, 4 de maio de 2011

15 ANOS DA ORQUESTRA CIBERNÉTICA DO FREVO






Ouçam aqui O TOM É ESSE,  de Fred Monteiro Filho

Lourival Oliveira
Em Setembro de 1996 tive uma idéia que somente consegui realizar em inícios de 1997. Era o embrião do que eu chamava do meu projeto do "frevo cibernético". As dificuldades de produção musical nessa época, para quem fazia música popular no Recife eram imensas.  O preço dos estúdios era proibitivo.Havia pouquíssimos estúdios de gravação no Recife, diferentemente de hoje, quando justamente a abertura  para mesas de gravação e softwares de edição musical digital multiplicaram por mil as possibilidades de qualquer músico ter seu próprio home-studio e assim gravar em casa mesmo, na maior parte dos casos, as suas músicas. O uso do computador na música expandiu as fronteiras da criação e da possibilidade material e econômica de gravarmos nossos trabalhos sem mais aquela dependência total dos grandes estúdios.  Até hoje conservo o meu pequeno estúdio digital e nele tenho produzido trabalhos de certa relevância no contexto da música pernambucana, em especial do frevo-de-bloco. 
Capiba
Maestro Duda
Gostaria de dividir com vocês, neste espaço, na ocasião em que comemoro os 15 anos da CIBERNÉTICA DO FREVO um dos trabalhos que inclui no primeiro CD do gênero, que eu tenha conhecimento.  É o frevo-de-rua que vocês podem ouvir aí em cima, de autoria do meu filho, o excelente compositor Fred Monteiro Filho.  O arranjo é de Edson Cunha e o arranjo sinfônico das cordas é do meu filho caçula, também músico e compositor Enrico Monteiro. CIBERNÉTICA DO FREVO foi totalmente digitalizado desde a capa até todos os instrumentos tocados no disco.
A capa também foi uma criação digital em 3D


Somente as vozes dos cantores e cantoras são humanas, nesse cd, fato que causou apreensão entre os músicos locais, coisa facilmente superada e explicada em várias entrevistas que concedi a jornais, rádios e emissoras de tv, à época.   Aberto o caminho, desde então, o uso dos computadores em estúdios de gravação tornou-se não somente uma necessidade.. Foi uma imposição mesmo!    A qualidade inegável do som digital começou a transparecer, e o que era  um instrumento rudimentar no meu disco pioneiro, tornou-se, com o tempo, mais sofisticado com a modernização cada vez mais evidente dos samplers, do instrumental de estúdio, dos  softwares, enfim, de toda a parafernália eletrônica que hoje substitui pesadas e caríssimas mesas de gravação analógica, colunas de gravadores de fita e seus respectivos sincronizadores, módulos de efeito volumosos, etc.   Sei que estou levantando ou reacendendo um debate que se instalou entre os que adotam a gravação digital como padrão, sejam meus contemporâneos ou gente que aderiu mais tardiamente à novidade..   Há sempre os saudosistas do gravador de rolo de fita desde os antigões de apenas uma ou duas pistas, com fitas magnéticas de 8 mm, aos antigões de 4 , 8 ou 20 pistas com aquelas largas fitas magnéticas de 2 polegadas que partiam, enrolavam e davam tanta dor de cabeça na hora da edição e montagem das matrizes.  Da mesma maneira, há saudosistas que ainda lutam contra o som digital de altíssima definição, preferindo os bolachões de vinil ou os discos de acetato e cera de carnaúba em 78 rpm..  Eu os respeito, ouço sem discutir as suas manifestações acerca da "quentura" do som analógico e  fico calado, somente pensando em ouvir, depois daquela conversa toda um bom cd sem chiados.. (E, aqui pra nós, eles também, no silêncio das suas salas, não hão de querer ouvir um disco chiado, não.. a não ser que sejam fánaticos mesmo !)  Aliás, prefiro os vinis e 78 rpm já remasterizados digitalmente, porque na verdade, desde pequeno nunca fui fã de uma audição musical  em  que  a  chiadeira do disco  superasse  aquele  "pianíssimo"  delicado de um violino num solo plangente de um certo trecho de uma Sinfonia.