quarta-feira, 27 de junho de 2012

NÃO CUSTA NADA LEMBRAR (1) SERENATA PERNAMBUCANA

Compus e gravei cerca de 90 músicas, sendo muitas dessas também gravadas e mesmo regravadas por outros cantores e grupos musicais de Pernambuco e do Brasil.  Ultimamente tenho me dedicado ao estudo do violoncello e não componho mais com a mesma frequência, mesmo porque o ato de compor requer paciência e espera, para que não se caia na tentação de, fazendo em quantidade, perdermos em qualidade ou, no mínimo, começarmos a nos repetir.  No começo deste ano, resolvi fazer uma experiência com música para cordas.   Dois temas musicais foram então escolhidos dentre 28 "marchas-de-bloco" já gravadas e conhecidas do público carnavalesco: "Mascate das Lembranças", em que homenageio os pregoeiros do Recife e "Saudade de Olinda", dirigida à nossa cidade-irmã.

O arranjo é do Maestro Edson Cunha e a interpretação de quatro excelentes musicistas, todas atuantes em Conjuntos de cordas e Orquestras do Recife: Gizelle, Valquíria, Aline e Roberta.  Fiquei muito feliz com o resultado e ainda este ano pretendo repetir a experiência com outras músicas minhas, sempre enfatizando a melodia e deixando de lado o aspecto ritmico dos mesmos.  No clipe presto também uma homenagem às duas cidades e ao elemento que as une: o Carnaval.

sábado, 23 de junho de 2012

A INCRÍVEL ODISSEIA DE FÁBIO JR

Um dia desses, conversando com minha irmã Marta sobre as crianças da família, surgiu uma lembrança bem interessante.
Estava ela tentando fazer dormir o filho recém-nascido, embalando-o na cadeira de balanço no terraço da casa dos nossos pais.  Aliás, nessas histórias de recém-nascidos, a casa dos pais está sempre presente.  É ali, no ninho antigo, que todos nós vamos buscar auxílio e experiência nos primeiros dias da gratificante tarefa de ser pais e mães.
Uma das irmãs, a caçula Ana Lúcia, tinha ganho um papagaio muito engraçado, metido a falante e assoviador.
Como toda adolescente da época, fã apaixonada do cantor Fábio Jr, Ana Lúcia pôs nele o seu nome.


E Fábio Jr fazia suas gracinhas pela casa, bem à vontade, até por essa época.
Marta cantava, embalando o filho, e Fábio Jr remedava de longe.
Mas Guilherme era (e continua sendo) do "agito".  E nada de dormir.  E Marta a embalar.  E Guilherme a berrar.  E Fábio Jr a aprender todos os detalhes do seu choro.
Finalmente, a paz.  A mãe, satisfeita, olhando para o filho que agora dormia, sereno.


Silêncio total na casa.  Marta, pé ante pé, vai levando o filho para o berço, com todo cuidado para não acordá-lo.  Mas, de repente, não mais que de repente, quem chega pela sala, no seu rebolado natural de papagaio?
Ele. Em pessoa e em choro: Fábio Jr. demonstrando toda a sua potência vocal chorava e berrava de uma maneira tal que o próprio Guilherme não conseguiria imitar.  Mas tentou e tentou até conseguir. Acordado pelo choro do papagaio, abriu o berreiro novamente e a ladainha recomeçou em dueto.
Tempos depois de muito perturbar, Fábio Jr foi dado de presente a uma tia que gostava muito dele. Um dia fugiu para o apartamento do vizinho.  Passou alguns dias por lá, voltou ao apartamento da tia até que dali -de novo- alçou o voo para o estrelato definitivo. Se é verdade que papagaios chegam facilmente ao centenário, deve estar por aí, em algum lugar, aprendendo novas cantigas de ninar e novos berros infantis para desespero de mamães de primeira viagem.

domingo, 17 de junho de 2012

VERSOS A GRANEL - 1

Vou começando por aqui uma série publicando uns versos que venho fazendo sem a menor pretensão. Às vezes me dá essa vontade de poetar e dano-me a comentar coisas em blogs e colunas por aí afora de forma a matar minha vontade de ser poeta cordelista.  Mania que peguei ultimamente, por conta do Jornal da Besta Fubana, onde tenho uma coluna (Mascate das Lembranças).  O JBF é lugar de poeta de primeira linha e é com eles que eu tenho aprendido muito nessa arte tão leve e gostosa de literatura. 

O post de hoje é uma miscelânea de estrofes soltas, a maior parte tendo servido de comentários a textos, crônicas, charges, artigos e outros poemas e cordéis ali publicados.

LATRINAMÉRICA


A Latrina americana
vai se arrepender um dia
quando a Democracia
não for mais a soberana
quando um tirano sacana
pisar no povo indefeso
esmagar todo o seu peso
em cima do pobre povo
sem trazer nada de novo
arrostando o seu desprezo


***

SAUDADE, FLOR TRISTONHA
(à minha maneira e à maneira de Zé Limeira)

A saudade é flor tristonha
Sem perfume, nem beleza
E possui uma natureza
que parece coisa estranha
Uma dor extemporânea
Que em segundos sumiu
E o tempo consumiu
Na mesma celeridade
Você não mede a saudade
Que deixou quando partiu.

A saudade é uma bola
Correndo dentro do peito
Deixando a gente sem jeito
Com cara de graviola
Cutuca essa radiola
Bota um disco de vinil
Daquele que a gente ouviu
Num recanto da cidade
Você não mede a saudade
Que deixou quando partiu

****








NOME DE CACHORRO

Eu fico muito pimpão
quando vejo um vira-lata
com nome que sai da mata
do mar ou de um riachão
Mas um absurdo, então
é botar nos animais
nomes de racionais
tem Xôla, Tupi, Piaba
É nome que não se acaba
se não tem a gente faz

Cachorro bom não atende
esses nomes de madame
e não gosta que lhe chame
de Zé, Carlinhos, João
não é um nome pro cão
nome de cão é Traíra,
Fura-Nuvem, Macambira
é Xerife, é Ferrabraz
é Malhado e Capataz
Saci, Cotó, Curupira

sábado, 16 de junho de 2012

MEMÓRIAS DO F STUDIO - 7 - MAESTRO DIMAS SEDÍCIAS

Comecei esta série relembrando momentos muito importantes da minha vida de músico, compositor e produtor musical, focando alguns posts em personalidades da música pernambucana que cruzaram nossos caminhos e muito me honraram em participar da sua arte, através do meu modesto trabalho de perpetuar suas músicas em gravações que hoje, para mim, têm um grande significado.

Muito além do mero registro sonoro, são momentos inesquecíveis.  Aprendi muito com esses amigos/clientes/instrumentistas/cantores/arranjadores/compositores e maestros.
Por isso tudo sinto-me na obrigação de tornar públicos esses momentos de grande enlevo profissional e musical.

Trato hoje de um grande artista, de um grande músico, compositor, maestro, arranjador e amigo: Dimas Sedícias, nascido em Belo Jardim, em 1930, falecido no Recife em 2001. (mais dados biográficos aqui: http://www.enciclopedianordeste.com.br/nova328.php)


Genial e criativo, Dimas, infelizmente desconhecido do grande público, deixou uma obra vasta, comparável a dos nossos melhores Mestres.

Sua carreira brilhante desenvolveu-se sobretudo no Brasil, mas também na Espanha, Portugal, França e Itália, levando a outros povos a marca da nordestinidade pujante, mostrada  com toda ênfase no seu trabalho musical.

Em contrapartida, trouxe também para nós suas experiências européias, sua vivência de cultura universal e erudita. É o que ouvimos, por exemplo na música a seguir, uma pequena suíte para fagote e flauta magistralmente interpretada por Valdir Caires e Paco diGea, respectivamente, ambos seus colegas na Orquestra Sinfônica do Recife.

Trata-se de uma peça em três movimentos representando uma "festa de touros", que ele compôs para presentear ao seu amigo alcaide da vila de Molledo, no Norte da Espanha. Os elementos da rica cultura ibérica estão aí tão vivos que dispensam comentários, parecendo-nos estar numa "plaza de toros" assistindo o desenrolar desse drama secular do jogo de vida e morte entre o animal e o humano.



Mas Dimas era extremamente regionalista, também.  Neste disco que mal havíamos começado a gravar, quando sobreveio a doença que o levou à morte, há um exemplo disso, numa pequena peça que lembra o nosso decantado baião.

A execução primorosa do dueto entre o clarone de Crisóstomo Santos e o clarinete de Erilson Oliveira ilustram a música dedicada a um amigo de Dimas: Na Granja do Manoel, tem o balanço de um baião de pé-de-serra saído da mente desse bomjardinense fiel às origens.



Estas gravações que ora apresento são inéditas, fazem parte do acervo do FStudio e estão provavelmente sendo apresentadas pela primeira vez ao público, delas existindo até então apenas mais 2 cópias, uma delas com a viúva do Maestro e outra com seu discípulo e músico do Grupo SaGrama Crisóstomo Santos.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

O PARAÍSO, TÃO PERTO...


Conhecem o Paraíso?  Ainda não?  Pois eu conheço.  Fica em Aldeia, no meio da paz e das plantas. Seus guardiões são gente de carne, osso e alegria: Jaime, meu irmão, e Elena, minha cunhada, que não medem esforços para nos fazer sentir especiais.  E assim nos sentimos.Ali o tempo passa lento, a pressa fica do lado de fora, a trilha sonora é executada por bentevis e sabiás.


De vez em quando  a chefe da segurança solta um latido forte para mostrar que está tudo sob controle. O nome dela é Kelly e é o xodó do casal.
Mas, essa introdução toda foi somente o pretexto para mostrar a vocês o outro xodó dos donos do Paraíso: as flores.  Lindas, em cada estação renovadas, criadas soltas, feito os passarinhos, jóias naturais no meio da exuberância do verde do lugar.  E, no entanto, cuidadas como se estivessem num vaso especial, dentro de casa, destacando as cores e a leveza das formas.
O Paraíso é o nosso ponto de encontro com aquele outro Paraíso mais famoso.  Enquanto não o temos, vamos aproveitar este aqui, tão perto.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

GERALDO AZOUBEL - UM PEQUENO REALEJO, UM IMENSO MÚSICO !

"Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas"..  Olavo Bilac



Partiu ontem um bom amigo.   
Voltou para o Pai, onde com toda certeza hoje tem seu abrigo e conforto, junto à sua querida Inez, que há dois anos também voltou para a Casa Eterna.

Geraldo, com sua filha Juliana

Geraldo Azoubel, um músico de grande sensibilidade, devotado ao seu instrumento que sempre trazia consigo. Uma pequena gaita-de-boca, ou realejo, como gostava de chamar.

Dela tirava sons suaves, ora vibrantes, ora dolentes, conforme lhe aprazia e cabiam no imenso e variado repertório.

Um dia, em 2004, Geraldo me procurou no Estúdio.  Estava entre sério e sofrido, preocupado com a notícia que havia recebido, acerca  da luta que haveria de travar durante quase oito anos.  


Guerreiro como sempre foi, naquele mesmo dia deixou gravadas várias melodias de belas músicas natalinas.  Seria seu presente de Natal para a família e amigos, disse-me.  Pediu-me que complementasse as linhas sonoras com uma harmonia, que deixou a meu critério fazer.


E assim nasceu o primeiro disco de uma série que fizemos juntos, num trabalho de parceria e cumplicidade musical, como ele aliás deixou escrito na dedicatória de um dos seis discos que gravamos. 


Foram eles, pela ordem: O Realejo do Natal; O Realejo da Paz; O Realejo Romântico de Olinda; O Realejo de Sempre; Meu Pequeno Realejo e O Realejo dos Blocos.

Não sei de qual eu mais gosto. Em cada um deles, ficou um pedaço do amigo e do seu amor pela Música.  Ficou também um pouco da minha vontade de, nos arranjos que fiz para acompanhá-lo, dizer da minha amizade e admiração pela sua musicalidade.

Sinto demais não termos feito o sétimo disco. 
Ainda na festa de lançamento do último deles, de frevos-de-bloco e marchas-rancho ( clique aqui para ouvir) conversamos sobre a vontade de fazer um trabalho juntando o som do seu realejo ao de um quarteto de cordas, explorando temas clássicos. Até cheguei a sugerir o título, no espírito dos demais discos da série: "O Realejo de Casaca".

Conheci Geraldo há coisa de trinta anos atrás.  Juntamente com Waldilson e Walter Neves, meus amigos/irmãos do conjunto musical Os Tártaros, fizemos alguns shows beneficentes destinados a entidades assistenciais.

Geraldo teve esse cuidado de dividir sua arte com aqueles que dela necessitavam, para esquecer seus dramas terrenos e aliviar seu sofrimento espiritual.  Um benemérito, sempre.

A imagem que persistirá na minha mente, acerca desse amigo que ontem partiu, será sempre a da bondade e da alegria, da força que transmitia, mesmo precisando de forças para lutar contra a doença, de amor à sua família e de lealdade à sua profissão e aos seus milhares de amigos.

Vá companheiro, gozar hoje a paz dos Justos e ouvir a Música das Estrelas que -como disse o Poeta Bilac- é reservada aos que amam profundamente a vida.  "Pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas !"

sexta-feira, 1 de junho de 2012

THEO, MEU ALMIRANTE DE ESQUADRA !

Theo, desembarcando ontem à noite, cheio de vontade ! 
THEO, MEU PEQUENO ALMIRANTE
(para Theo, de Vovô Carequinha)

Tua nau aportou em berço puro
Consolou-me esse teu choro tão sincero
E a Paz que já trouxeste, bem seguro,
de que o amor que te envolve é todo vero..

Dorme Theo, Almirante estrelado
O amanhã te reserva imensa Glória
O teu mar, verde-amar,  iluminado
porque tu já és parte da História

Singra os mares desta vida com justeza
Sem tormentas e procelas, teu Destino
Será grande, forte, belo...só certeza
de Vitória, Força e Luz, meu pequenino !

Por mais que a gente pense que está acostumado a certas emoções e que elas não nos afetarão tanto, até por conta de outras já vividas, a Vida, a manifestação dela, da forma mais primitiva e bela, o Nascimento de um Ser, nos pega de surpresa e desencadeia mais uma torrente de sentimentos.  Aconteceu comigo, novamente, ontem à noite.  O milagre de um novo Ser, o filho de minha filha, mais um neto querido e esperado, me fez encher os olhos d'água e o coração de alegria incontida.

Paisagem marinha, pintada por Tio Enrico, um
presente especial para Theo
Novo marujo à bordo da Nau da Vida, esse pequenino já nasceu imenso: Almirante de Esquadra !

Eu sei, há um posto acima, ainda ( e uma estrela a mais), a ser galgado por Theo. Mas esse, ele o alcançará por si mesmo, pelo seu esforço, inteligência e caráter, que já foram delineados pelo pai e mãe dedicados e amorosos, de cujo amor nasceu.
A vida apenas começou, para Theo. Os sete mares que se cuidem ! Nenhuma gota d'água, nenhum raio de sol, nenhum sussurrar de brisa será segredo para esse marinheirinho valente que hoje pôs nos ombros as suas dragonas de Viajante dos Mares do Tempo !

Bem vindo Theo.. e que os mares dos dias sejam sempre de bonança e lhe levem sempre a portos seguros e de bom calado. Levante âncoras, meu neto, e que toda a Felicidade, Paz e Saúde lhe acompanhem nessa viagem tão bacana que você tem pela frente !


Ouçam aqui o "Cisne Branco" de A.M Espírito Santo, para homenagear o novo Almirante !