terça-feira, 29 de março de 2011

DE PAI PRA FILHO




Falei  um pouco de cada filho aqui, em outros posts.  Sempre com a música a permear nossa conversa.  E vou continuar fazendo assim, porque a música sempre cimentou nossa relação de pais e filhos.  Claro, as viagens e acampamentos que fizemos durante toda uma vida, também.. as leituras também, a poesia também, acima de tudo o amor que temos uns pelos outros, também.  Por essas e outras, fiz para Fred, quando ele deixou o Brasil para ir viver nos Estados Unidos, um chorinho bem significativo para nós: “De pai pra filho”.  Essa música resume tudo quanto um pai tem a dizer num momento assim, em que a separação é inevitável.  Uma oferta de emprego irrecusável, na Microsoft, e lá se foi nosso Engenheiro de Software praticar sua profissão por lá.  Embaixo das mangueiras de Aldeia tocamos e nos divertimos muito..  
Esses registros ficaram indeléveis nas nossas memórias e o chorinho que eu fiz pra Fred só faz realçar as cores da lembrança.  Ele existe só por isso.  Gostamos de ouvi-lo e recordar, com a sua mensagem, todos os anos bons que temos vivido.  Graças à Internet, hoje é mais fácil, muito mais fácil, para aqueles que se amam, suportar a ausência física.  Falamo-nos todos os dias pelo telefone: ele no celular, deslocando-se pelas “highways” de lá até chegar ao seu posto de trabalho, na imensa sede da Microsoft, em Redmond, eu aqui, geralmente na hora do almoço ou pouco depois (são 5 fusos horários a nos separar).  Mas é como se estivéssemos –como sempre estivemos, naquele encontro sempre esperado pela família, à mesa do almoço, falando sobre as coisas do dia, contando piadas, e logo retomando cada um suas rotinas.  Um papo gostoso, que sempre existiu e sempre vai continuar existindo. Daqui pra lá e de lá pra cá..

Aqui, a letra do chorinho, cantado por mim, com o acompanhamento fantástico do "Arabiando", com Rafael no bandolim..

Descendo a Rua da Matriz, solfejo um choro de Jacob
"Doce de coco" é muito bom, "Simplicidade é bem melhor
Me lembra um tempo em que havia umas mangueiras no quintal
Eu tão feliz e não sabia, achava tudo natural

A vida passa sem saber que a gente chora no final
Se a saudade aperta o peito, não tem jeito, isso é fatal
Mas é tão bom saber que o meu chorinho vai continuar
parmanecendo na memória popular

Um bandolim trinando notas de um canoro sabiá
Um cavaquinho delirando, acordes soltos pelo ar
Um violão de sete cordas tão dolente a acompanhar
e um pandeiro ritmando, platinelas ao luar

E o meu chorinho vai tomando a forma de uma canção
que se esvai correndo as veias rumo ao teu coração
Alegre mas plangente, vai tingindo o amanhecer
com as cores rubras da minha emoção...

sábado, 26 de março de 2011

DIAMANTINA, A MAIS BELA DAS CHAPADAS


Canion do Buracão
Tenho uma paixão declarada pela Chapada Diamantina, na Bahia.   Estive por lá em três ocasiões: a primeira em 1988, com meus filhos, quando a Chapada não tinha sequer um bom Hotel para hospedar os turistas que para lá acorreram, a partir de uma série de reportagens da Rede Globo enfocando suas belezas naturais, em especial a famosa Cachoeira da Fumaça.





Pousada de pedra, em Igatu

 Naquele ano, de passagem para Brasília e Minas, acampamos em Lençóis e conhecemos os principais pontos abertos à visitação: o Serrano, o Salão das Areias, Cachoeirinha, tudo pertinho da cidade e de fácil acesso. Afinal, meu filho caçula tinha apenas 8 anos e ainda não tinha condições de enfrentar uma trilha. Dois anos depois, em 1990, ficamos por mais tempo.

Deu para conhecer outros lugares fantásticos como a Cachoeira do Sossego, a Gruta da Pratinha, a Lapa Doce, subir o Morro do Pai Inácio (naquele tempo quase uma escalada). Mas, em 2008, agora sem as “crianças”, casadas e independentes, voltamos para conhecer todo o Parque. Começamos por Mucugê, e subimos por Ibicoara, Andaraí, Igatu, Palmeiras, Nova Redenção, Iraquara até chegarmos novamente a Lençóis, hoje um dos maiores e mais bem estruturados polos de ecoturismo do Brasil.  

Trilha da Fumaça- ao fundo o Morrão

Apesar de outras Chapadas brasileiras (dos Veadeiros, dos Guimarães, da Borborema), terem atrações de beleza sem par, a Diamantina é para mim a rainha delas. Suas cachoeiras são ainda selvagens, grutas e cavernas bem preservadas, trilhas espetaculares, enfim, há muita coisa por explorar na Região. Até mesmo um sítio arqueológico muito importante, como a Serra das Paridas, descoberto por acaso, após um incêndio que devastou uma grande área de vegetação nativa, fazendo surgir paredões de arenito recobertos por milhares de inscrições rupestres de grande interesse histórico e arqueológico.


Vista de cima do Morro do Pai Inácio
 
Voltarei outras vezes por aqui para mostrar mais vídeos e fotos da Chapada. É inesquecível !













Vegetação da Chapada

 

Rio Paraguassu, Toca do Morcego
 

Por de sol, na Serra das Paridas

Morro do Camelo

sexta-feira, 25 de março de 2011

CINTURA FINA NA ILHA DE PÁSCOA?



Quando estive no Chile, em 1997, tive a oportunidade de jantar no Bali-Hai, único restaurante polinésio das Américas (pelo menos naquela época, é o que se dizia.. hoje não sei se há outros..)  Assitimos,então, a um belo show de um grupo folclórico de Santiago, que nos apresentou ao rico folclore chileno, desde as "diabladas" do deserto de Atacama, às "cuecas" e outras danças da região central do país.  Para o final do show, estava reservada a grande atração: o grupo Tahiti Muroroa, trazendo as danças tradicionais da Ilha de Páscoa, possessão chilena isolada no imenso Pacífico Sul e que a todos fascina, pela misteriosa civilização dos chamados "homens-pássaros", com uma singular escrita e milenares tradições.  Eu filmava e fotografava tudo (mas, chamo a atenção de que este trecho de vídeo faz parte de uma fita que estava à venda no local) e no decorrer do show, minha câmera travou.  Provavelmente pelo frio excessivo a que foi exposta pela manhã, quando eu visitava as estações de esqui de Farellones, Eldorado e Valle Nevado, no alto dos Andes, a mais de 3 mil metros de altitude e na época do inverno.  E de repente, ouço uma música mais que familiar.. ou por outra, um trecho dela.  Levei um tremendo susto e passei o resto da noite a me perguntar: o que diabos Luiz Gonzaga tem a ver com isso?.. Aí chegou a vez de vocês me perguntarem:  - Luiz Gonzaga?... Pois é.. ouçam o vídeo e me digam se os tahitianos e pascoenses aí não estão cantando e dançando "Cintura Fina" (vem cá cintura fina, cintura de pilão, vem cá minha menina, vem cá meu coração...) sucesso de Lua nos anos 50 !  Em 2000, 2001 eu mantive numa Rádio FM do Recife, dois programas chamados "Pernambuco Musical" e "Pop 60", que tiveram uma boa audiência.  Trouxe esse assunto a público e despertei uma polêmica bem interessante entre o pessoal ligado ao forró... Realmente, fica até hoje a pergunta: isso aí foi mera coincidência ou o Rei do Baião e seu parceiro Zé Dantas andaram ouvindo melodias de soldados e marinheiros vindos dos Mares do Sul e de passagem pelo Rio de Janeiro, onde estavam nessa época?..Quem sabe?

segunda-feira, 21 de março de 2011

UM POUCO MAIS DO MESTRE SOUSA





John Philip Sousa

A admiração e o respeito que tenho pela obra de John Philip Sousa é intrigante.  Sempre que estou sem energia, chateado com alguma coisa, costumo ouvir música.  E não tem coisa mais revigorante do que uma marcha de Sousa.  Engraçado... Tem gente que sente o mesmo com pagode, rumba, mambo ou axé (que significa energia em idioma nagô/baiano/bantu/ou sei lá qual mais).  Mas experimentem a caminho do trabalho, andando, ou parado dentro de um congestionamento tipo "paulistano na hora do rush", botar no som do carro ou no mp3 player, uma das dezenas marchas de Sousa que ouvimos vida afora, sem ao menos sabermos que eram da sua autoria.  Tiro e queda.   O ponteiro da energia vai aos 100%.. se o reservatório estiver pertinho do zero, chega no mínimo a uns 90.. podem tentar..dá certo mesmo.  Eu tentei um dia fazer uma homenagem a esse Mestre e não sei se consegui.. .mostro pra vocês aqui.   Chama-se "Sousa, o Rei da Marcha".  O arranjo é do maestro Duda.  Tive a honra de ter sido esse dobrado escolhido como fundo musical no programa "Evocação-Bandas de Música", que o Hugo Martins apresenta na Rádio Universitária aos domingos a partir das 7 da manhã.

domingo, 20 de março de 2011

CURITIBA, ONDE A MÚSICA E A BELEZA FIZERAM MORADA





 

Jean Marie et sa limonaire

Deu uma saudade repentina de Curitiba, agorinha mesmo.  Mas, assim, de repente?.. Pois é..músico não tem hora pra ter saudade.  Em Curitiba, ouvir música e admirar a beleza são coisas como a ar que se respira.  Certa tarde, passeando pela tranquilidade da Rua das Flores, deparei-me com um cantor francês que se encontrava em tournée por Curitiba.  Parei para ouvi-lo cantar aquelas cançonetas francesas que apaixonam qualquer ser vivente e só saí de lá quando ele terminou o show.  Não sem antes comprar o seu CD, gravado ao vivo com essas pérolas, uma das quais divido com vocês.   Jean Marie,é o nome do cantor.  Nome bem comum para um cara incomum, que encarna da melhor maneira o espírito de um francês: sua simplicidade, gentileza e sensibilidade musical rimavam a cada nota com a sua antiga (eu diria até histórica) "limonaire", uma pequena harmônica de manivela, bem antiga, com um som inesquecível, que nos faz sentir em Paris, num Café com mesinhas e cadeiras espalhadas pela calçada de algum Boulevard sombreado por árvores seculares.. Em resumo: uma tarde de prazer puro, de enlevo poético e musical.  Aliás, acho que esse será o primeiro de outros posts que pretendo trazer aqui sobre Curitiba, um dos lugares mais maravilhosos que conheci pelo imenso Brasil, cidade em que moraria para sempre, com muita alegria !

Rua das Flores

sábado, 19 de março de 2011

MEGALUAR SOBRE O CAPIBARIBE



Hoje, 19 de março, a Lua em perigeu (ponto máximo de aproximação da Terra) nos proporcionou um espetáculo quase inédito de luz e beleza.. Há 18 anos atrás foi assim também e eu a fotografei, na época,  com minha velha câmera Zenith, uma russa pesada e lenta.. Hoje com lentes e câmera mais sofisticadas, digitais, mais rápidas e eficientes, sem a necessidade de laboratório e aquela torturante espera, para ver a foto em papel dias depois, compartilho com vocês as fotos que fiz, exatos 20 minutos atrás. dessa maravilhosa Lua Cheia.  E para acompanhá-la, céu afora, pela ondas da Música, segue também um frevo de bloco que escrevi, faz uns 10 anos, inspirado num pedido do colega Paulo Aloise, trompetista e quase-fundador, com sua esposa Beatriz, de um Bloco Lírico que seria chamado Raios de Cristal.  Gravei essa música com o Coral Stalo e nossa Orquestra de Pau e Corda, em 2009.  A música está ali em cima, com as fotos da Lua..  Abaixo, segue a letra:

ESPELHO DO CAPIBARIBE



A lua derramou sobre o Recife

Seus raios de cristal
E o Capibaribe refletiu
Imagens de um antigo Carnaval
Em que eu me perdi apaixonado
Por uma pastorinha angelical

A orquestra tocava uma marcha tão linda
Sorrindo a menina de longe me olhou
Um acorde fiz soar ao violão
Mas ela se perdeu na multidão

E agora eu aguardo o Bloco passar
Pra minha pastorinha admirar...(BIS)

(dedico este post aos apaixonados pela Lua, pela Poesia e pelos Blocos Líricos do Recife aqui muito bem representados por: Paulo Aloise e Beatriz, Ana Pottes e Paulo Fernando)

quarta-feira, 16 de março de 2011

A CANETA PARKER E UMA PEQUENA TRAGÉDIA





trilhos de bonde no Recife Antigo(foto do autor)
No "tem-tem" do bonde a gente ia levando aquela vida mansa , na rotina de casa pro colégio e do colégio pra casa.
Por isso, as emoções de qualquer descoberta eram supervalorizadas pela garotada afoita do meu bairro.
"Tem-tem" é a expressão mais próxima que encontrei pra imitar o barulho característico das rodas de aço do bonde, ao passar nas emendas dos trilhos altos e brilhosos, polidos como prata ao sol do meio-dia e traiçoeiros como o diabo nos dias de chuva, pra quem andava de bicicleta.
Uma das grandes aventuras da gente era saltar do bonde em movimento.
O salto tinha que ser perfeito, do estribo para a calçada, caindo nos calcanhares com o pé de apoio, normalmente o direito, para trás e os braços descontraídos mas abertos, para equilibrar o movimento no momento do contato como o solo que, para quem saltava, parecia uma esteira rolante em velocidade.
A gente aproveitava quando o bonde se aproximava o máximo do ponto de parada e quando ele já estava bem lento, saltava.
"reclame" de jornal da Parker 51 (google imagens)
Uma carreirinha curta depois do salto e pronto ... virávamos homens feitos em alguns segundos e saíamos, elegantemente, assobiando qualquer coisa e olhando de lado, pra ver se alguma menina bonitinha que estivesse por acaso sentada na ponta dos bancos do veículo admirava nossa maluquice.
Depois, era só curtir os comentários elogiosos e vangloriar-se um pouco, avaliando a velocidade do bonde com uma lente de -pelo menos- duas vezes de aumento.
Pra não dizer que estou contando vantagem, confesso que um dia me estrepei numa dessas peripécias.
Paizinho tinha me dado como presente de conclusão do curso de admissão ao ginasial, sua caneta Parker 51, uma jóia que hoje deve custar bastante a algum colecionador fanático e que eu já tive oportunidade de ver , Brasil afora, exposta em vários Museus, em posição de destaque.
Era linda minha Parker 51: corpo de baquelite grená escuro, tampa de 18 e pena de 21 quilates, sendo a tampa arrematada pela célebre seta característica da marca.  A bomba de tinta era de borracha de látex muito macia e a pena fazia gosto de ver e, principalmente, de escrever.
Vou, um dia, bem lampreiro no estribo do bonde e ao aproximar-se o mesmo do ponto de parada bem em frente ao portão do Colégio São Luiz, na calçada do palacete dos Batista da Silva, resolvi saltar à maneira dos aventureiros.
Pra que fiz isso?... a caneta, que estava no bolso da camisa, desprendeu-se na hora da minha desastrada aterrissagem e, desequilibrado, saí  "catando tostão", como se diz na gíria, tentando evitar um tombo maior.

Um dos últimos bondes da PTPC (do blog "Júlio Ferreira")

Não cheguei a cair de todo, mas a caneta pulou do meu bolso e foi direto, como se estivesse imantada, para a roda traseira do bonde.

Nem preciso dizer qual o seu estado, quando fui juntar os pedaços que sobraram  daquela prensagem entre a roda e o trilho: somente restaram a tampa amassada e a seta de ouro empenada, apontando pra mim, como a dizer: - Bobão.. você devia saber que isso podia acontecer a qualquer hora...
Nunca mais, até o último bonde calar o seu "tem-tem" alegre nas manhãs de Casa Forte, me dei ao direito de viajar no estribo.



(Do meu livro de crônicas "Caçador de Lagartixas", Ed.do Autor, impr. pela Editora Livro Rápido - Elógica, Recife, 2008)



sábado, 12 de março de 2011

E POR FALAR EM CINZAS

ETERNO CARNAVAL

Este é o título de um poema, que musiquei como frevo-de-bloco e que foi classificado nas eliminatórias do Festival do VII Recifrevo, juntamente com outra música minha "Sol na Moleira", em 1995.  Infelizmente só uma delas fez parte do disco do Festival, já que o Regulamento da época era explicito ao estabelecer que cada compositor só podia vencer com uma música, não importanto quantas classificasse pelas 5 categorias existentes. Assim, somente muitos anos depois gravei essa música, com a excelente Woleide Dantas, que foi "crooner" da famosa Orquestra do Maestro Nelson Ferreira.

Eis aqui o poema original:

Meio cinzenta vem chegando a quarta-feira
Sua tristeza apertando os corações
Anunciando que acabou-se a brincadeira
e a vida nem sempre é formada de ilusões

Mas, resistimos agarrados nas lembranças
Feito crianças recusamos despertar
E um belo sonho de amor, tão colorido
pelas ruas do Recife insistimos em sonhar

Virá um dia de alegria sem igual
e um grande sol dourando as pontes da cidade
Vai nos dizer que eternamente é Carnaval
e o nosso bloco não precisa ser saudade..

quarta-feira, 9 de março de 2011

CINZAS SOBRE O RECIFE E OLINDA





Em 1994 compus meu primeiro frevo-de-bloco.   Chama-se "Saudade de Olinda" e foi escolhido para participar do VI RECIFREVO, o concurso de músicas de carnaval promovido pela Prefeitura de então. Fiquei muito feliz por ter feito essa música.  Conto a vocês como ela nasceu..  Era uma quarta-feira de cinzas e chovia fino, garoava, sobre as cidades gêmeas.  Ainda ressacado daquele carnaval, que brinquei intensamente, estava na varanda do apartamento aqui em Casa Forte, olhando para Olinda, através do véu da garoa, e sentindo ainda nos ouvidos o som das orquestras de frevo, imaginando-as a tocar as marchas-regresso tão dolentes que nos impregnam a alma nessa hora de despedida da folia.  Subitamente, fui até a sala,  peguei meu violão sobre o sofá, caneta e papel e, a música fluiu toda, de repente, quase uma psicografia.  Pronta e acabada.  Satisfeito com o resultado, invadiu-me uma sensação de paz profunda e adormeci ali mesmo no sofá.  No final de semana seguinte, cantei esse frevo-de-bloco para os familiares que me incentivaram -no final desse mesmo ano de 2004- a inscreve-lo no Festival.  Fiquei com a quarta colocação na categoria, não tendo alcançado o objetivo de incluir a música no disco do Festival (só entravam as 3 primeiras).. Mas, eu gosto muito dessa música e a gravei.  Agora, estou fazendo uma releitura dela e de outro frevo de bloco meu chamado "Mascate das Lembranças", numa linguagem clássico-ligeira.  Arranjei-as numa pequena suíte para quinteto de cordas e começo ainda esse mês a gravação.  A peça vai se chamar "Serenata Pernambucana para Quinteto de Cordas, n.1".. O que significa que já tenho outras escritas e a caminho de gravação.  Oportunamente vou trazê-las para este espaço.

NO CHÃO OU NO TELÃO ?




















Carnaval é festa do povo, certo? Sei não.. pelo andar da carruagem, aqui no Recife isso em breve será apenas uma frase no inconsciente coletivo dos recifenses.  Ser festa popular não basta?  Levar o povo às ruas da maneira mais pura e simples não basta ?  Deixar o povo se organizar livremente e organizar seus folguedos pobres, baratos, mas que atraem turistas do mundo todo (e sempre atraíram) não basta? Não.. não para os políticos que lidam com vultosas verbas, dizem que a deste ano beirou os 34 milhões de reais se não estou enganado.. Deve até ter passado disso, pois há caminhos e descaminhos nas estradas financeiras do dinheiro público do Brasil. No entanto, toda essa dinheirama na certa não foi destinada às pequenas ”troças”, aos “bois de carnaval”, às “la ursas”, aos blocos que se vestem, como no passado, com o esforço e o suor dos seus participantes..

Esses são esquecidos pelos subúrbios, não sobem o palco dos espetáculos para turista ver, como um bando de ovelhas, apertadas no curral do Marco Zero, em meio a toneladas de equipamentos de som, holofotes, telões monstruosos, todos empenhados em mostrar mais um capítulo da “novela do carnaval multicultural ”.. Já estou farto de gritar: perguntem ao povo do Recife se eles preferem botar o pé no chão e brincar atrás do seu grupo preferido, ou quedar-se hipnotizado no meio de milhares de “ovelhas” espremidas num grande curral, simplesmente olhando para o palco brilhante com colunas de som de milhares de watts a explodir pagodeiros, rockeiros, reggaeiros, baianos do axé, que quase já nos levam a alma, nos horrendos tempos do Recifolia..   Por que os baianos, cariocas, paulistas, gaúchos, catarinenses, paranaenses que eu conheço se encantam tanto com o nosso “carnaval participação” ?   É isso que eles vieram buscar.. é isso que eles não têm, nos seus Estados !  Nessa fonte popular vieram beber.. Não na sua própria cultura, nortista ou sulista, não importa..   Eles querem ver o povo na rua, brincando, correndo atrás de uma “la ursa” que eles não têm; vibrando com as bandinhas de pífano que nem sequer conhecem e estão morrendo à míngua; eles querem ter a liberdade de ir brincar atrás do Elefante, da Pitombeira, do Maracatu que nunca viram, do Bloco da Saudade e de tantos outros lindos Blocos que temos para lhes mostrar.  Já devem estar cansando dessa  "história de trancoso" de lhe venderem um pacote das nossas tradições mais puras, mas lhe entregarem um palco iluminado onde um telão ilumina com seus reflexos coloridos, uma multidão inerme, calada, passiva.. Como convém às multidões,  quando vistas pelos donos do Poder e da Cultura alheia !

domingo, 6 de março de 2011

CARNAVAL DE PERNAMBUCO É ASSIM


Carnaval, carnaval..de tantas lembranças, de tanta alegria que mal cabe numa vida só.
Desde criança vejo no carnaval a forma mais pura de manifestação desse estado de alegria que deveria permear a vida de todos.  Essa maneira quase infantil de ver o mundo, quando a gente pouco se interessa por horários (a não ser o da saída da troça, do bloco, da laursa preferida), nem por comida (a não ser quando o estômago quase colado nas costelas implora por um "sanduba", um "churrasco de gato"  feito numa grelha de marrom indeterminado, ou ainda um "cachorro quente" de porta de clube, daqueles em que o recheio pode conter papelão  ensopado em colorau, com uns pedaços de tomate verde e cebola ardida)...
Com a bebida, aí a coisa já rola mais solta: sempre tem um isopor salvador por perto dos brincantes.. Interessante como a cerveja quente nos persegue em qualquer rua do Recife nos dias de carnaval.  Mas num calor de mais de 40 graus dentro do Bloco, quem quer saber da temperatura? O termômetro alí funciona de forma invertida.  O carnaval, aliás, inverte tudo mesmo: o cara mais "nerd" do mundo faz besteira de metro, a menina mais recatada bota uma roupa de arrasar quarteirão e se pinta mais do que "as meninas" do meu tempo de adolescente e aceitam beijo até de quem nunca viu..

Depois? não tem depois.. tem saudade..

Saudade por mais 360 dias (se a gente computar somente os cinco dias 'oficiais' de folia, do sábado de zé-pereira à quarta de cinzas).. Sim, porque tem gente que gostaria também aqui de reverter a conta: 360 dias de carnaval pra 5 de trabalho.. Mas aí também já é demais, também, como dizem os "feras" !
E vamos pra rua que ninguém é de ferro.  No áudio aí em cima, um frevo de rua de minha autoria chamado "SEU BITA MAIS ELISA", em homenagem ao Mestre Beethoven e sua musa Elise: eu os imaginei nas ladeiras de Olinda, atrás de uma "mutreta" daquelas em que a tuba ronca e o trombone desafina, mas que o surdo e a caixa, a 160 batimentos por minuto, rasgam o frevo mais gostoso que Deus já botou no mundo !  É Pernambuco de verdade !! 

quinta-feira, 3 de março de 2011

O SERTÃO NO CARNAVAL





Tempo de carnaval, mas também tempo de banda de pífanos ?
Como é que é?.. Eu respondo: tudo a ver !
Num certo carnaval – acho que foi em 2003 ou 2004 – encontrei, no Recife Antigo, uma bandinha de pífanos tocando frevo. Um frevinho buliçoso, animado, quase um forrozinho desse que a gente chama de arrasta-pé, ou rastapé. Pífano, zabumba, bombo, caixa e pratos.
Soube depois que eles eram, quase todos, de uma mesma família. Pai, irmão, filho, primo.
Coisas da tradição nordestina. Música, no Nordeste se faz muito em família (tenho exemplo vivo disso na minha ..) Pois bem.. Fiquei na roda formada por turistas de todos os recantos do Brasil escutando aquela beleza de som. Mas não me contive e pedi ao “pifeiro” emprestado um triângulo que estava sobrando por alí, em cima de um chapéu de palha, aos seus pés. Toquei com a bandinha por cerca de uns 15 minutos.. A roda de curiosos aumentava, a animação também.. Aí o líder comentou com os outros: “ Tá na hora de passar o chapéu...” 



Mas notei que nenhum deles se animava a fazer isso.. Tomei a iniciativa e perguntei se podia “passar o chapéu”.. Ele, aliviado, consentiu.. Eu imediatamente botei umas duas notas de 5 e 2 reais, mais umas moedas que eu tinha no bolso, dentro do chapéu e comecei a estender o chapéu para a turistada da “roda”.. Hehehe.. Correu quase todo mundo.. Afora meus caraminguás, e mais uma ou duas cédulas e umas moedinhas, voltei pro “pifeiro” e entreguei a magra coleta. Mas o papo continuou e eu os convidei pra gravar no meu estúdio.. Quase morreram de susto com a idéia. O resultado foi um disco muito legal.. Chama-se Flor de Taquari, que é o nome dessa bandinha, do interior de Pernambuco (Lajedo). Aproveitei e inclui no disco um pequeno vídeo de uma performance deles no estúdio, tocando “Asa Branca”, o Hino do Nordeste como também um frevinho para banda de pífanos chamado “frevança na chuva”... Estão aí, pra vocês curtirem, a foto da capa do CD (fotografia que fiz num terreiro de fazenda em Taquaritinga-PE. Divirtam-se !

quarta-feira, 2 de março de 2011

O REALEJO DOS BLOCOS



Acabo de chegar da Livraria Cultura, onde participei -tocando meu banjo- do lançamento do CD do meu caro amigo Geraldo Azoubel um dos grandes gaitistas (ele prefere ser chamado de "tocador de realejo") que conheço.  Gente da melhor espécie, Geraldo completa um naipe de 6 (seis) cds dedicados ao pequeno e sonoro instrumento que também é conhecido como harmônica de boca, gaita de boca ou realejo (esse último termo é muito corrente aqui no Nordeste).  São 13 músicas escolhidas a dedo pelo Geraldo, que me agraciou com a inclusão de um  frevo-de-bloco da minha autoria no seu disco.  É essa música que vocês podem ouvir aqui, clicando aí em cima.. Chama-se "Deusa Amazona" e foi feita para homenagear meu querido e saudoso Bloco Flor da Vitória Régia, que desfilou em Casa Forte entre 1999 e 2005.. Era o Bloco feito pela nossa família, para congregar as famílias do Bairro e os amigos mais queridos.  O show foi um sucesso e o público participou dançando e cantando o tempo todo.  Produção da Professora e Coreógrafa Juliana Azoubel, filha do Geraldo.  Tão logo as tenha, postarei fotos do evento.  Por enquanto, fiquem com a capa do CD, de muito bom gosto..