sexta-feira, 21 de outubro de 2011

UM ALAGOANO EM OLINDA

O carnaval sempre me fascinou. Aquela alegria incontida, aquele colorido que toma conta de tudo, música, barulho, movimento, em Olinda tudo isso se multiplica. Olinda é a síntese do carnaval. Não é à toa que -ainda hoje- se pensa assim. A cidade convida ao prazer da folia. Então, como morador, eu tinha aquilo tudo aos meus pés, durante uma semana inteira.
Blocos de mascarados, com seus macacões folgados e máscaras de papel-marchê, com cabeleiras de agave colorido, saiam quase todos os dias, levando de roldão os foliões, percutindo suas castanholas de madeira.
Isso tudo, somado ao som forte dos trombones e trompetes das orquestras e ao ritmo infernal de um frevo de rua, contagiava até a mais fria das pessoas.
Dedé, minha madrinha e segunda mãe, tinha também uma certa paixão pelo carnaval.
Bisneta de africanos, corria-lhe nas veias o calor dos tambores do maracatu e das orquestras.
- Avia, Fedim, me dizia Dedé, com sua voz doce, quando os primeiros acordes do hino do Guaiamum na Vara feriam o calor morno de Olinda nas tardes de Carnaval, ou quando já noitinha, soavam ao longe os primeiros toques das alfaias e repinicavam os gonguês e agogôs do Maracatu Elefante.
Eu não me fazia de rogado e segurava com gosto na mão de Dedé, pra cair na folia.

Tinha um certo medo infantil dos mascarados, mas estranhamente nunca me amedrontei com a presença solene do Maracatu. Aqueles bombos enormes, batidos com toda garra, dezenas deles, pulsavam no mesmo ritmo do meu coração quase pernambucano.
Quando eu nasci, meus pais moravam em Maceió, Alagoas, terra dos Marechais. Paizinho havia sido transferido para a gerência do Laboratório Raul Leite de lá e foi na Avenida Thomaz Espíndola, no bairro do Farol, que eu vim pro mundo.
Três meses depois, a asma me consumindo, numa passagem por Palmares, Engenho Barra do Dia, terra dos meus avós, fui batizado "pra não morrer pagão", conforme diziam ... escapei e vim bater no Recife, esta cidade cativante, que adotei e que me adotou, desde então.
Por conta da minha asma, Paizinho estava sempre se mudando, buscando novos ares, pra que eu respirasse melhor. Moramos no Hipódromo, num sítio em Beberibe, em Olinda, na Torre e finalmente em Casa Forte, até hoje. Os médicos, na época, o aconselharam a me fazer caminhar pela praia no comecinho da manhã e iniciar-me na natação, no mar mesmo. E era assim, quase todos os dias. Saía com ele e Jaime, um ano mais velho que eu, fazíamos uma caminhada pela areia e em seguida ele me botava pra bater braços e pernas nas águas outrora transparentes do mar olindense. Será que veio daí o meu gosto pelos esportes? Mas, isso é assunto pra outra conversa. Olinda, o frevo e o maracatu, me marcaram para sempre.