quinta-feira, 7 de junho de 2012

GERALDO AZOUBEL - UM PEQUENO REALEJO, UM IMENSO MÚSICO !

"Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas"..  Olavo Bilac



Partiu ontem um bom amigo.   
Voltou para o Pai, onde com toda certeza hoje tem seu abrigo e conforto, junto à sua querida Inez, que há dois anos também voltou para a Casa Eterna.

Geraldo, com sua filha Juliana

Geraldo Azoubel, um músico de grande sensibilidade, devotado ao seu instrumento que sempre trazia consigo. Uma pequena gaita-de-boca, ou realejo, como gostava de chamar.

Dela tirava sons suaves, ora vibrantes, ora dolentes, conforme lhe aprazia e cabiam no imenso e variado repertório.

Um dia, em 2004, Geraldo me procurou no Estúdio.  Estava entre sério e sofrido, preocupado com a notícia que havia recebido, acerca  da luta que haveria de travar durante quase oito anos.  


Guerreiro como sempre foi, naquele mesmo dia deixou gravadas várias melodias de belas músicas natalinas.  Seria seu presente de Natal para a família e amigos, disse-me.  Pediu-me que complementasse as linhas sonoras com uma harmonia, que deixou a meu critério fazer.


E assim nasceu o primeiro disco de uma série que fizemos juntos, num trabalho de parceria e cumplicidade musical, como ele aliás deixou escrito na dedicatória de um dos seis discos que gravamos. 


Foram eles, pela ordem: O Realejo do Natal; O Realejo da Paz; O Realejo Romântico de Olinda; O Realejo de Sempre; Meu Pequeno Realejo e O Realejo dos Blocos.

Não sei de qual eu mais gosto. Em cada um deles, ficou um pedaço do amigo e do seu amor pela Música.  Ficou também um pouco da minha vontade de, nos arranjos que fiz para acompanhá-lo, dizer da minha amizade e admiração pela sua musicalidade.

Sinto demais não termos feito o sétimo disco. 
Ainda na festa de lançamento do último deles, de frevos-de-bloco e marchas-rancho ( clique aqui para ouvir) conversamos sobre a vontade de fazer um trabalho juntando o som do seu realejo ao de um quarteto de cordas, explorando temas clássicos. Até cheguei a sugerir o título, no espírito dos demais discos da série: "O Realejo de Casaca".

Conheci Geraldo há coisa de trinta anos atrás.  Juntamente com Waldilson e Walter Neves, meus amigos/irmãos do conjunto musical Os Tártaros, fizemos alguns shows beneficentes destinados a entidades assistenciais.

Geraldo teve esse cuidado de dividir sua arte com aqueles que dela necessitavam, para esquecer seus dramas terrenos e aliviar seu sofrimento espiritual.  Um benemérito, sempre.

A imagem que persistirá na minha mente, acerca desse amigo que ontem partiu, será sempre a da bondade e da alegria, da força que transmitia, mesmo precisando de forças para lutar contra a doença, de amor à sua família e de lealdade à sua profissão e aos seus milhares de amigos.

Vá companheiro, gozar hoje a paz dos Justos e ouvir a Música das Estrelas que -como disse o Poeta Bilac- é reservada aos que amam profundamente a vida.  "Pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas !"