sábado, 16 de junho de 2012

MEMÓRIAS DO F STUDIO - 7 - MAESTRO DIMAS SEDÍCIAS

Comecei esta série relembrando momentos muito importantes da minha vida de músico, compositor e produtor musical, focando alguns posts em personalidades da música pernambucana que cruzaram nossos caminhos e muito me honraram em participar da sua arte, através do meu modesto trabalho de perpetuar suas músicas em gravações que hoje, para mim, têm um grande significado.

Muito além do mero registro sonoro, são momentos inesquecíveis.  Aprendi muito com esses amigos/clientes/instrumentistas/cantores/arranjadores/compositores e maestros.
Por isso tudo sinto-me na obrigação de tornar públicos esses momentos de grande enlevo profissional e musical.

Trato hoje de um grande artista, de um grande músico, compositor, maestro, arranjador e amigo: Dimas Sedícias, nascido em Belo Jardim, em 1930, falecido no Recife em 2001. (mais dados biográficos aqui: http://www.enciclopedianordeste.com.br/nova328.php)


Genial e criativo, Dimas, infelizmente desconhecido do grande público, deixou uma obra vasta, comparável a dos nossos melhores Mestres.

Sua carreira brilhante desenvolveu-se sobretudo no Brasil, mas também na Espanha, Portugal, França e Itália, levando a outros povos a marca da nordestinidade pujante, mostrada  com toda ênfase no seu trabalho musical.

Em contrapartida, trouxe também para nós suas experiências européias, sua vivência de cultura universal e erudita. É o que ouvimos, por exemplo na música a seguir, uma pequena suíte para fagote e flauta magistralmente interpretada por Valdir Caires e Paco diGea, respectivamente, ambos seus colegas na Orquestra Sinfônica do Recife.

Trata-se de uma peça em três movimentos representando uma "festa de touros", que ele compôs para presentear ao seu amigo alcaide da vila de Molledo, no Norte da Espanha. Os elementos da rica cultura ibérica estão aí tão vivos que dispensam comentários, parecendo-nos estar numa "plaza de toros" assistindo o desenrolar desse drama secular do jogo de vida e morte entre o animal e o humano.



Mas Dimas era extremamente regionalista, também.  Neste disco que mal havíamos começado a gravar, quando sobreveio a doença que o levou à morte, há um exemplo disso, numa pequena peça que lembra o nosso decantado baião.

A execução primorosa do dueto entre o clarone de Crisóstomo Santos e o clarinete de Erilson Oliveira ilustram a música dedicada a um amigo de Dimas: Na Granja do Manoel, tem o balanço de um baião de pé-de-serra saído da mente desse bomjardinense fiel às origens.



Estas gravações que ora apresento são inéditas, fazem parte do acervo do FStudio e estão provavelmente sendo apresentadas pela primeira vez ao público, delas existindo até então apenas mais 2 cópias, uma delas com a viúva do Maestro e outra com seu discípulo e músico do Grupo SaGrama Crisóstomo Santos.