O Maestro Lafayette, decano da música olindense, co-autor do Hino de Fernando de Noronha, tinha umas tiradas muito bem humoradas.
Segundo relato de sua neta Junita, odontóloga e também musicista ele, já bem velhinho, passado dos 90, costumava ficar assistindo às novelas com sua esposa Donzinha.
Sempre muito apegados, dividiam suas lembranças, nas horas fartas da velhice, conversando sobre amenidades e revivendo o passado.
Uma certa noite, passando pelos dois, a neta Junita ouviu o seguinte diálogo:
-Donzinha, você pode me trazer um copo d’água?
-Vou buscar, meu velho.. e vou trazer um para mim também...
E saiu em busca da água. Voltou, entregou o copo ao Maestro e sentou ao lado dele.
E o Maestro, puxando um envelope de comprimidos do bolso do pijama:
- Donzinha, eu vou tomar uma Cibalena **. Você quer uma também?
- Quero meu velho. Me dê uma dessas..
Vai Junita até a sua avó e diz:
-Vovó, você não deve tomar remédio assim não. Pode lhe fazer mal.
Responde Donzinha:
- Mas minha filha, ele me deu com tanto carinho que eu já tomei. E outro dia, tomei também um Beserol** e um Vagostesil**.
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Isso me fez lembrar uma história de Capiba, que ele gravou em depoimento do Museu da Imagem e do Som.
Tinha deixado de fumar e um belo dia, passando por um “fiteiro” (para os que não conhecem o termo, bem pernambucano, fiteiro é uma barraca para vender cigarros, balas, canetas, miudezas em geral).
Parou e pediu ao comerciante um maço de cigarros. Atendido, abre o maço e sai pitando o seu cigarrinho. Logo encontra um conhecido que lhe pergunta:
- O que é isso, Capiba? Voltou a fumar?
Responde o Mestre:
- Eu passo todo dia por aquele fiteiro e o dono está sempre arrumando uma fileira de maços de cigarros com tanto cuidado. Tudo tão arrumadinho, tão colorido. Fiquei com pena dele e comprei um maço...e já que comprei, vou fumar !
Vá entender a lógica dos velhinhos !
** Para os mais moços: Cibalena, Beserol e Vagostesil eram remédios muito populares para dor de cabeça, estômago e calmante, respectivamente.