Lembranças boas são sempre bem-vindas. Principalmente quando nos evocam coisas dos tempos de criança, no aconchego da família, ouvindo histórias de avós, de terras distantes, de sabores e cores de outrora.
E foi assim que hoje pela manhã me deparei com uma boa motivação para escrever esta crônica.
Procurando uma receita bem nordestina, no livro "Comes e Bebes do Nordeste" de Mário Souto Maior, advogado, folclorista e escritor, acima de tudo um apaixonado pela cultura da nossa região e com quem tive a honra e o prazer de conviver à época em que trabalhei no Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, hoje FUNDAJ, encontrei um referência ao Engenho Barra do Dia, que pertenceu ao meu bisavô, ao meu avô, e onde nasceu meu pai.
Ao que sei, o Mestre Mário era afilhado da minha avó Maria Felipa, tal como inúmeros e ilustres palmarenses.
Barra do Dia ficou marcado nas minhas lembranças do menino por muitas razões. A maior de todas foram as histórias que meu pai me contava, falando da terra, da família, de todo o entorno que cercava a sua história pessoal de menino dos Palmares.
Pois bem. A receita que encontrei (não a que motivou a abrir o livro) está na página 148, da 3a. edição ampliada e se reporta ao "pão de minuto". Foi recolhida por Mário de um livro de receitas de Dona Amélia Jorge Ferreira. Trancrevo aqui o que interessa a esta matéria:
"Da parte referente ao pão como alimento consta, além de outras, esta receita muito antiga de Pão de Minuto, que encontrei no livro de receitas de Dona Amélia Jorge Ferreira (1863-1935), do Engenho Barra do Dia, encravado nas terras doces de Palmares, Pernambuco."
E segue a receita, fielmente descrita. Tal como outras, igualmente desse mágico "livro de receitas" perdido na poeira dos tempos.
Ouvi algumas vezes, de meu pai, referências carinhosas a essa tia ancestral que - a julgar pela idade - foi contemporânea do meu bisavô Joaquim. Pelo sobrenome Ferreira, julgo que era parenta da minha avó paterna Maria Felipa Ferreira Gomes. E a qualidade de doceira e quituteira de minha avó e de minhas tias avós era bastante conhecida.
Ficou então a saudade -mais uma vez- de tudo isso: do engenho de cana que não cheguei a conhecer, a não ser pela memória carinhosa do meu velho, pelas histórias que minha avó Dindinha me contava.. E, para alimentar um pouco essa saudade boa, deixo aqui uma foto que deve ter sido feita lá pela década de 1930, com a família reunida no alpendre da casa do Engenho Barra do Dia.
Família Monteiro da Cruz - (anos 1930) |