Uma coisa me faz contrariado
Nessa terra que não dá mais valor
Aos valores que merecem penhor
Animais deste chão nordestinado
Numa seca que deixa o chão crestado
Com barrocas de terra quente e dura
O castigo maior da mãe Natura
Não consegue parar essa alimária
O trator de um sertanejo pária
Salvação dessa pobre agricultura
Veja que um jumento na cangalha
Come pouco, não se faz de rogado
Dá as horas zurrando seu recado
Passa o dia suando e só trabalha
Ara a terra, e também carrega a tralha
Do seu dono pra onde ele quiser
Inda puxa a carroça da mulher
Pras crianças serve de montaria
Sem jamais reclamar dessa agonia
Labutando sem férias seu mister
Mas agora me chega uma notícia
Que atormenta a cabeça de um cristão
Lá pras bandas da China ou do Japão
Mais parece um caso de polícia
Ou de gente que age com malícia
Querem exportar nossos animais
Os jumentos que são tradicionais
Nesta lida diária do sertão
Vão virar bife, couro e até sabão
Só para enriquecer orientais
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Gostei muito estas belas estrofes, muito bem feitas... Já me tornei seu fã e estou sempre passeando aqui e ouvindo poeticamente o seu 7 Instrumentos.
ResponderExcluirMas, quanto a veracidade da noticia, eu vejo com bons olhos a venda dos jumentos, seja para a China ou Japão ou qualquer outro país. Hoje, o jumento não tem mais nenhum valor aqui no nordeste, nem mesmo sentimental... Os donos que tanto usaram o bichinho em suas labutas, hoje em nome da modernidade os abandonaram e eles vivem soltos nas estradas pondo em risco a vida dos que trafegam pelas rodovias.
Para evitar a extinção, então vamos criar os jumentos com responsabilidade e não com o abandono que se ver hoje...
Desculpe o meu ponto de vista se o desagrada, mas é assim que eu vejo a situação.
Abraços
Gonzaga Filho
Sem problemas, meu caro Gonzaga Filho.. Este aqui é um espaço democrático que acolhe qualquer opinião e não seria eu a censurá-lo.. Versejei com o coração, pensando mais em proteger um animal como qualquer outro. Se o jumento realmente estiver tão abandonado a esse ponto e sem mais serventia, o máximo que se podia fazer era incentivar o seu reaproveitamento como animal de trabalho em outros pontos do Brasil que dele necessitassem, facilitando esse intercâmbio. Se isso também não pode ser ou não compensa ser feito, não há porque nos objetarmos a sua exportação para abate. Afinal exporta-se a abate-se garrotes e bois aos milhões pelo planeta afora, para nos servir de alimento, não é?
ExcluirInfelizmente, Gonzaga disse uma grande verdade...não sei o que é pior: explorar os bichinhos e depois abandoná-los para morrer de fome ou importar para abate...Mesmo assim estou com pena dos jumentinhos...:(
ResponderExcluirTati
Tati, não sei se vc chegou a ver o filme (com Charlton HEston) Terra, ano 2023 (Solent Green), em que os defuntos humanos eram transformados em proteína em forma de biscoitos "Soylent Green", praticamente a única fonte de alimentação na terra naquele futuro então distante e hj tão próximo.. O filme é dos anos 70, salvo engano. Terrível essa hipótese, talvez premonitória, tanto quanto o BigBrother de 1984 ou Alphaville, ou a violência da Laranja Mecânica e a mais real ainda Aldeia Global de Hermann Khan, que vivemos atualmente, como agora, na web.. Dias terríveis nos esperam.. Os pobres jumentos apenas estão indo na frente !
ExcluirAmigo Fred, aqui em nossa cidade já ocorreram vários acidentes provocados por jumentos nas rodovias e eu falei para o prefeito, recolher e transportar esses coitados, para pequenas cidades do sertão onde eles poderiam servir para transporte de lenha, água de açude, etc... E a resposta que recebi é que isso não é viável, pois estaríamos transferindo o problema para outro local.
ResponderExcluirInfelizmente, é de dá dó ver o ponto que o ser humano chegou, em desprezar aquele que tanto trabalhou em prol do crescimento das cidades interioranas deste nosso nordeste... Infelizmente, a sorte deles foi lançada e quando se fala em dinheiro, a gabiruzada de Brasília vendem até a própria mãe.
Abraços
É isso, Gonzaga.. não dá pra fugir da realidade. O ideal é que se distribuíssem melhor esses excedentes pelos que necessitam deles. A venda para abate não vai fazer tanta diferença na nossa balança comercial, mas vai ser um caminho para a extinção desse animalzinho servidor. Uma pena!
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