quarta-feira, 2 de maio de 2012

CORREDORES E "CORREDORES"

No camping, à véspera da Maratona da Paraíba
Existe um blog direcionado a corredores de rua, mantido pela revista Veja e escrito por um jovem professor de educação física. Deve ter uma boa aceitação, vez que é vinculado a uma das maiores e mais conceituadas revistas brasileiras, da qual, aliás, sou assinante.
Decepcionado pela falta de resposta a um comentário meu (sinal de que o jovem mestre não é lá muito de aceitar críticas, mesmo fundamentadas, reproduzo-o aqui no meu blog.
Muitos dos meus leitores por certo discordarão de mim. Não sei se o professor sequer vai tomar conhecimento deste post agora publicado, mas com certeza, como todo blogueiro, leu e (como alguns avessos ao princípio da livre opinião dos seus leitores) deve ter meditado sobre ele. E achado por bem jogá-lo na lixeira virtual.  Julguem vocês mesmos se tenho ou não razão em rebater semelhante afirmativa (ao que tudo indica, feita com certa revolta – vide o ponto de exclamação na manchete.  A propósito, o título do tal artigo era “PRATICAR CORRIDA: ISSO JÁ FOI MAIS BARATO ! “ 

Com minhas desculpas antecipadas ao jovem colunista, este foi o artigo mais ridículo e sem fundamento que li na minha vida de corredor de rua.

Chegando na I Maratona do Recife

Referir-se à corrida como esporte caro é no mínimo um contrasenso. Creio que o post visa a despertar polêmica mesmo, senão vejamos: a corrida é o ÚNICO esporte que você pode praticar sozinho, a qualquer hora do dia ou da noite, em qualquer lugar, de qualquer cidade ou região do mundo. Desde que você esteja vestindo (pra não ser preso por nudismo) um mero calção, até mesmo descalço você pode correr sem malefícios maiores para a saúde. Desde que esteja bem alimentado (o que não significa entupir-se de “produtos para corredores” e líquidos miraculosos que não chegam aos pés da boa e velha água potável, você pode correr a vida toda e gerar saúde para si mesmo e estimular seus semelhantes a fazerem a mesma coisa. O que ocorre, meu caro, é que querem tornar a corrida um esporte comercial, que rende lucros inimagináveis para fábricas, produtores de qualquer coisa vendável a uma multidão de “corredores da moda”, gente que quer correr porque hoje correr é chique, dá status e aumenta a sensação de prestígio na sociedade. Estou falando, agora, dessa corrida fashion, com academias promovendo seus "personal trainers" e outros berloques completamente desnecessários à atividade. Quem quiser correr, a qualquer hora pode simplesmente levantar-se da cadeira, colocar um pé à frente do outro e iniciar o movimento mais antigo que o homem realiza desde que se pôs sobre duas pernas e ergueu a coluna. Sou corredor há exatos 29 anos e um mês. Ajudei a fundar um clube de corredores aqui no Recife, o CORRE, defendo a corrida como atividade básica e não como esse “esporte” de que o nobre colunista fala, com medalhinhas, chips, tênis que valem fortunas, “maratonas” de 5 quilômetros e que ainda admitem “revezamento”.. Tenham dó ! Acho que a “popularidade” da corrida não interessa à atividade física mais básica, mais barata, mais popular, mais simples, tanto que era praticada pelos pré-históricos, quando saiam das suas cavernas para correr atrás da caça ou entravam nelas pra fugir dos predadores. Se o enfoque de corrida que tem a sua coluna é esse, perdão: entrei na caverna errada ! Grande abraço e boas corridas… de verdade...não corridinhas sociais !

14 comentários:

  1. Excelente resposta...o cara deve ter engolido a lingua depois dessa...:D
    Tati

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    1. Nada.. é a profissão dele.. fazer o que? mas não custa admitir que correr é correr. E não gastar dinheiro à toa. Isso aí é para quem quer aparecer (ou colecionar medalhinhas de plástico, tênis caros e muita conversa fiada)

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  2. Ele tenta conseguir algum tentando fazer merchandising de empresas de tênis e roupas esportivas, e suplementos alimentares, etc... E você como sempre com sua inteligência aguçada, saca tudo antes e dá a resposta. Abraços, Amigo Fred.

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    1. É isso Gonzaga ! As coisas mais simples e gostosas da vida, como por exemplo, uma corridinha pelas areias das nossas praias lindas do Rio Grande do Norte, uma água de côco na beira da lagoa de Arituba, um peixinho frito numa barraca da orla de Natal, custam somente alguns trocados e nos dão um prazer imenso e insubstituível. Sofisticar a vida também é uma maneira de matá-la. Um grande abraço e obrigado pela sua amizade !

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  3. Mas, bah, Guri, como fiquei tanto tempo sem conhecer teu blog?! Excelentes matérias. Voltarei sempre.
    maria-maria

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    1. Maria-Maria, que prazer te reencontrar por aqui. Eu sou seu leitor atento e saiba que jamais abandonei o nosso Grupo valoroso. Apenas sinto-me pouco capacitado a comentar tanta coisa boa que vcs me mandam e leio religiosamente. Tenho mantido um contato mais ou menos frequente com o IXmael e às vezes ainda faço algum comentário na coluna do Augusto, ora como o velho "zé mané do recife", ora em meu nome mesmo. Um forte e fraternal abraço. PS (sou do tempo do PS, hehehe) Somente depois mais de um ano de blog é que me toquei de mandar para a lista dos Inconfidentes. Eu e minha cabeça voadora, hehehe!

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  4. Parabéns pela resposta amigo. Como praticante da corrida, concordo en gênero e número contigo. Abraço irmão. Salatiel

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  5. Meu caro amigo Salatiel: Estou aqui torcendo pelo seu sucesso na sua primeira Maratona. Você vai sentir uma emoção tão forte quanto todos nós maratonistas sentimos quando cruzamos a meta dos 42.195 mts. É inesquecível, mesmo ! E compensa todo o sacrifício de meses de treinamento específico e anos de dedicação a esse esporte tão valoroso. Meus parabéns pela decisão de correr a Maratona e conte com seu amigo aqui, que está à sua disposição para o que der e vier!

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  6. Dá-lhe Fred!
    Perfeitas as suas colocações.

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  7. Obrigado Doutor Armindo. Apesar de ter participado de várias corridas "oficiais", não troco por nada deste mundo uma corridinha pela beira da praia, descalço e feliz, ouvindo a onda cantar e o mundo acordar com o sol. É da gente babar de prazer !

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  8. Grande Fred Monteiro!
    Gotei da reposta! Porem, com muita humildade de iniciante (apenas 2 anos correndo), gostaria de discordar do ponto. Não acredito que a “comercialização” seja um ponto necessariamente ruim para a corrida.
    Uma das coisas que atletas do mundo inteiro sempre reclamaram é a falta de apoio(financeiro) e divulgação do esporte. Não vejo outra forma de se fazer isso sem o apoio das empresas (Essas que fabricam e comercializam tenis caros) e academias. Inclusive, tenho visto muitas reportagens de Kenianos usando cada vez mais essas tecnologias e conseguindo melhorar ainda mais os seus tempos!
    Mas o meu principal ponto é que, acredito que por conta da comercialização, a corrida está se tornando cada vez mais um esporte popular! Popular no sentido que, cada vez mais voce encontra pessoas correndo mais e mais! Vejo pessoas que, como eu, não nasceram com o fisico de corredor, mas que tem encontrado cada vez mais ajuda na tecnologia (Tenis especificos para quem tem pé chato, por exemplo. ) para conseguir completer uma Maratona. Coisa que antes só conseguia quem tinha fisico natural de corridor (com raríssimas excesses). Vejo cada vez mais aqui nos EUA, pessoas que tem pé chato, com uma perna só (amputados) e com ajuda de fisioterapeutas/nutricionistas e Personal Trainer conseguem terminar Maratonas completas. Nesses casos correr se torna um esporte caro (porém concord contigo, que mesmo esse caro é bem mais barato do que qualquer outro esporte! ).
    Claro que concordo que existem muitos exageros, muitas bebidas e comidas “esportivas” que poderiam ser muito bem substituidos por uma boa banana ou Água com Sal, mas acho que isso é bem comum em toda evolução de espostes. No final temos que sempre ouvir os bons conselhos dos experientes e usar o nosso bom senso quando estamos gastando dinheiro demais com o esporte! :D
    Espero ter sido claro no meu ponto! :D E vamos continuar correndo! E continue com os seus excelentes posts (principalmente sobre corridas!). Grande abraço do seu amigo Angelo Ribeiro.

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    1. Obrigado, caro Angelo, pela participação e pelo lúcido comentário. Já mandei por email uma resposta mais detalhada sobre certos pontos de vista sobre a corrida que insisto em manter.. Mania de velho saudosista, hehehe

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    2. Grande Fred.

      Você, como seu singular domínio da palavra, consegue ser claro ao ponto de ninguém ter a coragem de retrucar o que você afirma.
      Realmente, correr, praticar esportes, etc., pouco custo tem. Preocupa-me, entretanto, a manipulação do corpo humano quando o cidadão "inventa" ou mesmo, é obrigado, a passar por certos condicionamentos, visando o tal aprimoramento dito "profissional", e que pode ter consequências graves. Falo das substâncias, suplementos, certas drogas, etc., que são utilizadas para aumentar a performance, buscando não a saúde, mas apenas a resultados que podem até trazer resultados financeiros agora, mas no futuro, consequências terríveis. Vejamos atletas como Pelé, Ayrton Senna, etc., até então nunca ouvimos falar que eles tenham usado qualquer coisa para melhorar o que fazem, com excessão de praticar e praticar. No entanto, ouvi uma entrevista, não me recordo o jogador, já aposentado, porém ainda jovem, que para manter-se em campo, submeteu-se a injeções para recuperação rápida de contusões que simplesmente, hoje, não o deixam sequer bater bola com o filho pequeno. Os patrocinadores estão matando e aleijando nossos atletas em busca de retornos financeiros. Veja você, Fred, mais engajado e a mais tempo no esporte do que eu, lembra de alguma época que tenha havido tanta morte súbita de jogadores de futebol quanto agora? Esse puro esporte que você tanto prega (e concordo plenamente), é o que havia décadas atrás, e era saudável, as pessoas faziam o que podiam, e aí sim, era realmente um esporte. Verdadeiras competições buscando uma superação natural, sem adicionar nada. E mais, porque insistir num esporte, se há um impedimento físico? Muda-se de esporte. Um problema no pé, por exemplo, por má formação, porque não deixar a corrida de lado, e parte-se para a natação, ou mesmo uma simples caminhada? Parabéns pela energia e saúde. Abraço. Flávio Lima

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  9. Caro Flávio: O ser humano é realmente -de todas as criaturas do Universo conhecido- o mais privilegiado e ao mesmo tempo o mais paradoxal. Enquanto procura -e consegue- superar-se de maneira quase sobrenatural, em tudo o que faz, cai em tremendas armadilhas por ele próprio engendradas, no afã de conseguir se superar mais e mais. Quando essa busca é sadia e respeita as condições do indivíduo, isso é ótimo. Mas quando o prejudica, por não saber respeitar seus limites, é (ou pode ser) fatal. Caso não houvesse a busca pela melhoria de marcas e objetivos, não haveria os recordes e a consequente descoberta de novos horizontes. Mas daí a forçar a Natureza e tentar artificialmente "saltos" de qualidade e desempenho, vai uma distância muito grande. Só para citar um exemplo: de que adianta um nadador olímpico bater seu próprio recorde somente porque usou uma roupa de natação tipo "pele de tubarão" e conseguiu meio segundo a mais nos 100 mts livres? Quem bateu o recorde? O nadador ou a roupa "tubarão"? Um tênis de corrida de última geração, que impulsiona o corredor alguns centímetros a mais em sua passada pode ser responsável por tantos recordes quebrados na maratona. Mas isso não seria desleal para com os corredores que correm descalços porque não têm dinheiro suficiente para comprá-los? Onde então ficaria o objetivo do Barão de Coubertin? Nas salas de pesquisa de novos materiais? Nos laboratórios que inventam drogas para aditivar recordes? Acho que tudo tem limite. Entre conhecer melhor o que se faz e procurar melhoria individual, com a consequente melhoria da saúde e qualidade de vida e forçar essa melhoria com fatores externos, fico com a primeira opção. Se a minha melhor maratona, aos 45 anos, foi corrida em 3h37m, porque aos 66 eu quereria estar correndo uma maratona abaixo disso? Corredores de rua não são gente que vive financeiramente da corrida. O investimento de um amador na sua própria saúde e longevidade com qualidade é o trote diário, sentindo o prazer do esporte pelo esporte, curtindo a Natureza e o próprio desempenho, sem se importar com reconhecimento público ou posicionamentos perante o grupo. Em resumo, o meu lema sempre foi: "correr para viver melhor!"

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