quarta-feira, 28 de setembro de 2011

ANA LÚCIA E O CÔCO DE OLINDA

Certa vez, em meados de 2002, a pedido de um amigo o baterista Fernando Souza, aceitei  o convite para gravar uma senhora que é uma referência entre os "coquistas" de Olinda:  Ana Lúcia, do Coco do Amaro Branco.  Dona Ana é uma das mestras mais queridas entre a comunidade que adotou o "côco de roda" como forma de expressão musical.  Suas loas simples e poéticas varam as noites e os terreiros onde se cultua essa forma singela e antiga de música e percussão. 
Anos depois, vejo editado, em primoroso CD essas e mais outras músicas do repertório de Ana Lúcia e sinto irreprimível orgulho de ter participado da divulgação dessa arte popular.

Gravei, nesse meio tempo outros excelentes coquistas, todos de Olinda: Amaury (Acordes das Olindas), Viola, Aurinha (filha de Dona Selma do Côco) e uma grande incentivadora dessa arte, a Professora Isa Melo, do Grupo Serra Véia..

Montei e trago para vocês, um pot-pourri com os cinco temas por mim gravados, com Ana Lúcia, seu coral e os batuqueiros trazidos por Fernando Souza.  São loas tradicionais e da sua criação (Boa noite, Lua Bonita (adaptação da canção folclórica), Jogador, A Natureza e Me Leva, Canoeiro.)

A temática simples, a música e o rítmo em seus estados mais puros se evidenciam, como nunca, nesses artistas por vezes tão esquecidos, mas que têm um valor incomensurável na formação do tesouro musical nordestino.

Nas imagens, ainda, os autógrafos dos amigos coquistas Amaury, Viola, Isa e o Grupo Serra Véia, Andreza e Aurinha, gravadas na parede do estúdio, entre os muitos autógrafos de artistas que por lá passaram, desde 1997.




Aqui, o som puro do côco da Mestra Ana Lúcia:



A CÂMARA ESCURA


O meu primeiro contato com a fotografia foi um encontro mágico com uma arte que depois se tornaria uma paixão constante na minha vida. E essa paixão me foi transmitida por Paizinho.
Num dos banheiros da casa da Torre, ele montava seu laboratório fotográfico ou "câmara escura", conforme se dizia no meio.
E ali, às voltas com suas bandejas, vidros, produtos químicos, tanque de revelação, lâmpadas vermelha e verde, ampliador, câmeras e papéis, ele realiza uma alquimia que me marcou para sempre, desde a primeira vez que dela participei.
Paizinho, sempre muito aplicado naquilo que faz, não podia ser diferente com relação à fotografia.
Tinha um equipamento de primeira linha, como uma câmera Agfa portátil, daquelas de fole, mais uma Flex-A-Ret, então concorrente da famosa Rolei-Flex.
Uma câmera 6X6, "twin-lens", ou seja com lentes duplas, e visor de vidro fosco que até hoje -na era digital- ainda faz sucesso entre colecionadores e aficionados.
Seu equipamento de ampliação era da mesma marca, com tempo de exposição controlado por cronômetro próprio e outras regalias da época.
Como viajava muito, trazia-nos sempre paisagens de lugares distantes, em fotos preto-e-branco de excelente qualidade.
Selecionava os melhores negativos e os ampliava até o tamanho de 21x15, em papel linho/fosco, o que dava às suas fotos uma qualidade profissional, mesmo.
O que mais eu gostava de ver, era o momento da ampliação. Num tempo em que não existia televisão, aquilo me parecia milagroso.
O negativo era projetado num pedaço retangular de papel durante segundos e em seguida o papel era levado ao banho de solução reveladora.
Aí o milagre acontecia..
No branco do papel, começava a aparecer muito lentamente uma imagem tênue, que aos poucos ia se tornando nítida, até se transformar num quadro vivo, indelevelmente impresso. Em seguida, uma rápida lavagem na torneira para ir ao banho com solução fixadora (hipossulfito de sódio) na bandeja ao lado. Depois, mais uma lavada, e o papel era pendurado para secar.
Eu ficava o tempo todo inquieto, acompanhando o processo e mal contendo a emoção de presenciar aquela maravilha da tecnologia pouco mais que cinqüentenária, então.
Infelizmente, tive também o desprazer de ver um dia, numa enchente sofrida em Casa Forte, 1966, todo o acervo fotográfico do meu pai virar uma lama pastosa dentro da gaveta de um armário, levando junto todas as lembranças da nossa infância, fotografada com tanto carinho por ele.
As poses e instantâneos de quando éramos os seus modelos fotográficos preferidos, ou as paisagens magistrais que ele captou nas suas viagens sumiram como por um desencanto brusco, uma alquimia às avessas que me doeu muito fundo e também me marcou para o futuro.

Tanto que, traumatizado com essa perda inestimável, passei a fotografar e filmar, tão logo pude, tudo quanto me aparecia pela frente, na ânsia de guardar as imagens e perpetuar as lembranças, coisa que até hoje continuo a fazer com grande prazer, louvando e agradecendo sempre aos meus mestres Daguèrre, Lumière e Frederico Monteiro, por me terem mostrado essa possibilidade de parar o tempo e adiante revivê-lo com toda a intensidade contida em 1/30, 1/60, 1/120, 1/500 de segundos que valem, às vezes, por uma vida inteira.

(do livro de crônicas "Caçador de Lagartixas")

sábado, 24 de setembro de 2011

MOTES E GLOSAS

Aceitando o convite do romancista e poeta Luiz Berto, palmarense da gema e grande figura humana, autonomeado Papa da sua inventada Igreja Católica Apostólica Sertaneja (ICAS), passei a colaborar com uma coluna chamada “Mascate das Lembranças”, no seu blog “Jornal da Besta Fubana” (http://www.luizberto.com/)

O JBF desponta, no meio virtual como um dos blogs que mais cresce no Brasil e conta entre seus colunistas e colaboradores com gente famosa e também milhares de comentaristas  do Brasil inteiro, sendo motivo de muita alegria para este blogueiro participar deste movimento fubânico.
Hoje de tarde, lendo matéria sobre poesia de cordel, deparei-me com um mote muito especial oferecido pelo poeta de São José do Egito, Jorge Filó.  Um belo tema e um mote excelente:  

“Baixa a face, o pranto desce,
ao som da Ave Maria”

De bate pronto, remeti uma glosa no contexto, assim:

“Meu tempo de curumim
Uma lembrança um açoite
Sempre ao cair da noite
o sol explode em carmim
um sino dizendo assim
chorando sua latomia
Com seu badalar que cresce
baixa a face e o prato desce
Ao som da Ave Maria”

Só que na glosa seguinte, o pessoal da coluna começou a brincar com o tema, no estilo do “poeta do absurdo”, José Limeira, personagem do livro do grande poeta  e escritor paraibano Orlando Tejo..  Apareceram, então duas glosas muito legais.. Não me fiz de rogado e mandei estas, também:


Um capeta que me atenta,
uma dô lá no vazio 
um soco no pau da venta 
uma cachorra no cio 

o sargento entrou na dança
rapariga se oferece
começou a imboança 
lá na casa de Sofia
BAIXA A FACE, O PRANTO DESCE 
AO SOM DA AVE MARIA.


Se é pra limeiriar
Tô aí limeiriando 
se é pra filosofar
eu chego filosofando 
Num injeito verso e rima 
Nem o calô da porfia 
Quem aprende num si esquece 
Bom macaco num assubia, 
baixa a face o pranto desce 
ao som da ave maria

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

KEY WEST (MUSEU ERNEST HEMINGWAY)

Uma casa-museu já soa estranho aos olhos de quem não tem tantas assim no Brasil.

E uma casa-museu de um laureado escritor como Ernest Hemingway,  atrai qualquer turista curioso por saber como vivia uma celebridade do mundo das letras, no início do século passado. 

Ainda mais, porque escolheu para viver numa ilha bastante afastada do continente, em meio aos seus gatos, suas pescarias, “margaritas” e charutos cubanos.



Pois muita gente curiosa como nós tem como primeiro destino, logo que chega a Key-West, a maior e mais famosa das “Keys” da Flórida, justamente essa casa-museu de Hemingway.
Muito bem preservada, com jardins maravilhosos, de plantas tropicais e uma enorme piscina, a primeira construída na ilha, a enorme casa abriga um acervo valiosíssimo de quadros e móveis rebuscados, entre eles um especial, oferta do seu amigo Pablo Picasso retratando (o que mais poderia ser, senão uma das paixões do escritor): um gato bem “picassiano”.   

Há originais dos seus livros por toda parte, como se a qualquer momento, ele apanhasse um da estante para folhear. Utensílios da casa demonstram o bom gosto do ilustre morador.  Lembranças da guerra que lutou, também estão expostas, como capacetes e medalhas.. E ainda fotos das suas famosas caçadas.

 Um ar europeu no quente e seco clima da ilha, refrescado pelas inúmeras palmeiras e árvores de porte e amenizado pelo frescor de um imenso gramado, palco de andança de dezenas de gatos descendentes dos seus famosos “polidáctilos”, animais que –por defeito genético- possuem seis dedos nas patas dianteiras.  Não só nos jardins, em toda a casa os gatos são a alegria dos turistas, que os catam com suas cameras a postos, loucos para fotografar suas patinhas, principalmente... 

Outra curiosidade felina, e uma prova do amor do escritor e da sua familia, que continuou a preservá-lo, é o “Cemitério de Gatos”, num lugar de destaque nos jardins da mansão.


Mais curiosos ainda, são os nomes dos bichanos.. todos têm nome de artistas de cinema e teatro famosos já naquela época e amigos de Hemingway.. Podemos ler, nas pequenas lápides, o nome de cada um deles e o ano de nascimento e morte: Frank Sinatra, Errol Flynn, Marilyn Monroe, Doris Day, Kim Novak, Zsa Zsa Gabor, Liz Taylor, etc..

Uma obra de arte perpetuada no bronze e até hoje muito útil, é a “fonte dos gatos”, que está situada bem no caminho de entrada da bela residência.  



Confiram no vídeo abaixo um resumo do que vai por aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=eOtWf_yWin4



domingo, 18 de setembro de 2011

MEUS AMIGOS ANIMAIS (4) DESTA VEZ, OS DE LONGE..

Canguru australiano-Zoo de Seattle. WA
 O Zoológico de Seattle abriga espécies de todas as partes do mundo, em suas cinco seções, cada uma correspondendo a um continente.
 Assim, conhecemos alí um pouco da fauna de cada região do Globo..


 Ao lado vemos um dos vários exemplares de cangurus australianos lá existentes, com cores, tamanhos e pelagens bem diferenciadas.






Siamês desconfiado-Museu Hemingway-Key West-FL
Este aí, com seus olhos azuis e atentos, é um das dezenas de gatos polidáctilos (com seis ou sete dedos) descendentes dos gatos que pertenceram ao escritor Ernest Hemingway, e que até hoje vivem e se reproduzem em sua casa-museu, em Key West, Flórida, uma ilha quase  tropical, entre o Caribe e o Atlântico.  Os gatos são uma das atrações do Museu e chamam a atenção pela tranquilidade com que desfilam pela casa às dezenas.  Foi difícil clicar essa pose do felino ao lado.. Tímido, ele desviava sempre o olhar da câmera e eu tive que gastar uns bons 5 minutos para conseguir esta única foto em mais de uma dezena de tentativas frustradas.

Gnu tímido- Zoo de Seattle, WA
Outro bicho grande mas tímido era esse gnu, também habitante do Woodland Zoo, de Seattle, legítimo representante do continente africano e que mora em sua particular savana recriada junto a leões, zebras, girafas e hipopótamos.
Hipos - Zoo de Seattle, WA 

Leões tranquilos - Zoo de Seattle, WA

















Dragão de Komodo, Zoo de Seattle, WA


Do continente asiático, fotografamos um representante da Ilha de Komodo, Indonésia.  Uma lagarto prehistórico, que vive naquela ilha, cuja datação geológica remonta a 50 milhões de anos: o terrível e venenoso Dragão de Komodo, que chega a medir 3 metros. 








Pombo metido a águia - Key West, FL



Finalmente, ao lado, vemos um pacato habitante de Key West, morador da Mallory Square, fazendo pose de águia americana.  Como em todos os lugares do mundo, eles continuam a ciscar pelas ruas e praças, à cata de tudo quanto os turistas lhes atiram, transmitindo doenças, mas sempre agradando aos fotógrafos, com poses interessantes como a desse pombo comum.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

OS NAZARENOS E UMA QUEDA


Da esquerda para a direita: Jaime, eu, Zélia e Maria-Foto de Alexander Berzin
1947 - Foto AB - A única foto que ficou da minha infância.. As enchentes do
Recife, entre os anos de 1965 e 1975 carregaram todas as outras
A nossa casa no bairro do Hipódromo tinha uma varandinha simpática arrematada por uma mureta e uma arcada, que estavam muito em voga nas construções da época.
Eu gostava de ficar em pé nesse murinho, que devia ter uns 50 ou 60 cm de altura e dali observar o movimento da rua, pois o muro do jardim era baixo e permitia uma visão total da mesma.

Adorava ouvir os mascates, vendedores de frutas e verduras, balaieiros que vinham da feira da Encruzilhada, vendedores de "doce japonês", sorveteiros, o homem com um cilindro de lata às costas vendendo "cavaco chinês" e tocando triângulo, enfim, todos aqueles tipos populares que faziam os sons de um Recife "já tão distante do que havia sido o da sua infância", como diria o saudoso Mestre Mário Sette.

E nesse observar gostoso, passava o tempo, me encantava e aprendia a amar o meu lugar.

Mas não somente esses tipos cruzavam minha rua.. Havia, naqueles idos de 1949, uma espécie de seita cujos adeptos se intitulavam "nazarenos", que jamais cortavam a barba e os cabelos e andavam com camisolões à guisa de hábito religioso, talvez inspirados nas imagens de Jesus.

Eu tinha um certo temor desses nazarenos que, esporadicamente, passavam pela minha particular "Ponte da Aliança"...

Mas, talvez para superar esse medo, achei por bem desafiar um deles que certo dia cruzou a rua em direção à Estrada de Belém.

Tão logo o beato passou em frente ao nosso muro, entoei meu grito de guerra aos nazarenos e na minha voz de criança repetia: -Cabelo de mulher, cabelo de mulher, cabelo de mulher....

O beato, certamente só pra me assustar, parou e fez menção de entrar pelo portão do jardim... foi a conta para que eu emudecesse e cuidasse de pular da mureta pra desabalar na carreira, atrás do socorro materno.

Mas, qual... na ânsia de fugir, embaracei-me nos meus próprios pés e caí feito uma jaca madura no piso de ladrilhos vermelhos e brancos do terraço.. logo, os brancos do ladrilho também ficaram vermelhos com o sangue que saiu do profundo corte na nuca, em decorrência da queda.

Soube depois, pois perdi os sentidos na hora do acidente, que causei um tremendo susto e muita confusão para me prestar socorro e costurar no Hospital próximo aquele ferimento de uma batalha inglória contra as madeixas de um "nazareno"...

Do livro de crônicas "Caçador de Lagartixas"

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A PERUCA

Os Tártaros, em 1968, num trabalho artístico muito bacana, da Rayama., uma fã da nova geração !
O Gordo Walter é mesmo uma figura.. Certa vez, num show de que participamos, na antiga FECIN, Cidade Universitária, o Walter escondeu a peruca de um travesti/cantor chamado Mendez, que fazia um sucesso danado imitando Ângela Maria e seu sucesso "Babalú"..
Artístico, mas hilário.  Pois bem: faltava coisa de cinco minutos para o Mendez entrar em cena, quando deu por falta do seu instrumento de metamorfose: uma longa e cacheada peruca castanha..
A gente embolava de rir vendo o Mendez que era baixinho e gordote, careca bola-de-bilhar, andando pra á e pra cá, de vestido prateado e sapatos de salto alto por dentro dos bastidores a urrar, possesso, com uma fala grossa de meter medo:  - Roubaram a minha peruca !  Eu mato !! Eu quero saber quem foi o filho da puta que roubou a minha peruca !!
E o Gordo, sério feito um sacristão, de braços pra trás, passeando lentamente, como quem não tinha nada a ver com o caso:  - Isso é um absurdo !  Coisa mais feia, tirar a peruca do cara.. essa turma.. sei não, viu ?
Ah, cara de pau !!
No sentido dos ponteiros do relógio, o
Gordo é o 4° Tártaro.. O primeiro é
Didi, irmão dele, que estava "na berlinda", coitado..
Até hoje, quando lembro essa história, ele nega dá um sorriso meio monalisa, escorrega uma desculpa de amarelo e disfarça:  - Nada, Magro, juro que não fui eu, juro...
No entanto, continua, safadão como sempre, a "botar rabo" (isto é, pendurar um rabo de pelo de coelho no cós das calças de qualquer cristão que ouse comparecer a um ensaio da sua banda de rock "Expresso 60", uma legítima sucessora dos Tártaros.)  O "inocente" fica desfilando pela sala com o rabo de coelho pendurado e o resto da turma só curtindo..  
Por Deus do Céu, Gordo, um dia desses você confessa !.. Tem medo não, cara.. O pobre do Mendez, aliás, já passou pro andar de cima e, gente fina que era, já deve ter lhe perdoado.. Coitado.. Em vida, nunca chegou a descobrir que foi o "ladrão" da sua peruca ...


(do livro de crônicas "Tártaros, os Seis do Recife")

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

008 - UM DETETIVE BEM NORDESTINO !

O detetive 008 em seu escritório, detetivando..
Hugo Martins é um cara de sete instrumentos.. ou setenta, sei lá !  Grande figura humana, paraibano de Rio Tinto, pernambucano de coração e atuação..Já foi até jogador do Íbis, seu time de futebol (?) até hoje..Conheço Hugo há quase 20 anos e nunca o vejo triste ou cansado.  É uma atividade constante.  A seu pedido, dirigi por 5 anos o Museu do Frevo Levino Ferreira, braço do CEMCAPE, Centro da Música Carnavalesca de Pernambuco, por ele fundado, e que tem sede na Casa da Cultura, 3° andar, Raio Oeste.
Desde então, temos trabalhado em conjunto e quase todo dia ele bate ponto no meu estúdio de gravação, sempre com mil idéias novas para desenvolver.

Um puxavante de orelhas na Secretária,
Otávia Xoxogina (Edy Anselmo)
Temos produzido ultimamente, dois discos, ou no mínimo um, por ano, para o CEMCAPE.  Quando os discos ficam prontos, lá vai Hugo em busca de verba para os do ano seguinte.  E nesses discos, o que se ouve?  Frevo, muito frevo, mesmo.. De bloco, de rua, canção.. Que ele divulga nos seus programas de frevo, pela Rádio Universitária (AM e FM) todos os fins de semana, há décadas, nos programas "O Tema é Frevo", do sábado e do domingo.  Mas Hugo tem muitas outras coisas pra lhe ocupar um dia de 36 ou 48 horas.  Música erudita, Música de cinema, Música tradicional brasileira e internacional (Programa Evocação) e mais outro gênero musical quase esquecido: a música das Bandas de Música.. 

Mané do Abano (Hamilton Florentino)
espantado com tanta detetivação

Hugo é há mais de quarenta anos, o responsável pela Sonoplastia do maior espetáculo teatral do Brasil, o Drama da Paixão, da Semana Santa, em Nova Jerusalém, realização do saudoso Plínio Pacheco. Não é só um sonoplasta.  Hugo é um compositor (e dos bons) da trilha sonora do espetáculo, que é inspirada na trilha do filme " O Rei dos Reis", composta por Miklós Rózsa, de quem é fã incondicional.

Como compositor, Hugo é autor de dezenas de frevos marchas e dobrados. Tive a oportunidade de gravar alguns deles no meu estúdio.  Uma das suas façanhas musicais é a composição do gênero criado por ele, o "frevo-fantasia", uma espécie de junção de frases da sua autoria com frases de obras clássicas dos mais diversos compositores eruditos ou da música do cinema, com resultados simplesmente fantásticos.

Até na foto ele aparece de costas, de tão secreto que é
Não bastasse tanta atividade diária, Hugo pontifica como autor e ator em perto de uma dezena de filmes hilários, quase todos com um personagem da sua criação chamado 008.  Esse detetive, que nada tem de 007 (aquele cara que já ficou chato de tanto matar gente nas telas e aparece desde os letreiros já de revolver em punho, matando Deus e o mundo);  008 é um detetive mais pacato, completamente maluco, aloprado mesmo.  
Participei da série várias vezes, ora filmando e editando, ora atuando, ora como autor de um dos episódios, o quarto da série.
Aniceto Pinguela, seu Auxiliar e a confusão instalada

Prometo para breve mais alguma coisa com esse paraibano/pernambucano genial.. Tenho gravada um longo depoimento em video digital em que Hugo discorre sobre sua vida artística super produtiva e de grande valor para a história da nossa cultura.

Hugo Martins é, no final de contas, um patrimônio de todos nós.. Para mim, é um orgulho tê-lo entre os meus grandes amigos !

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

FLORES, SORRISOS DE DEUS 5 - FLORES E CORES DO HEMISFÉRIO NORTE

De um jardim em Duvall-WA





Começa a Primavera brasileira e eu gostaria de prestar minha homenagem às flores de outro hemisfério..No Norte, o Verão está acabando, mas restam muitas flores ainda.. Redmond, Duvall, Monroe, Snohomish, Seattle, Bellevue, todas ainda estão floridas.. 









De um jardim em Duvall-WA
Pelas ruas, pelas praças, nos jardins das casas, nos restaurantes e shoppings veêm-se flores de todas as cores e formatos, umas idênticas às nossas, outras bem diferentes.. Todas muito bem cuidadas.. 




Anderson Park, Redmond-WA






O Outuno está na porta e já começa a colorir de outras tonalidades as ruas de lá... São vermelhos, laranjas, amarelos e marrons, misturados à ramagem verde de maples, plátanos e ao pinheiro que é símbolo do Estado de Washington..






Nas ruas de Duvall-WA


Não é à toa que WA é conhecido como o Estado Verde.. Verde na sua bandeira e no seu pinheiral, que cobre a maior parte das suas terras de um tom intensamente verde-escuro que nem a neve consegue esconder.. 





Caem todas as folhas de todas as árvores, que ficam mirradas, esqueléticas, com seus galhos nus apontando para o céu quase sempre cinza, como a pedir a benção de umas migalhas de sol..Mas os pinheiros continuam lá, a 10, 15, 20 metros de altura, zombando do frio, da neve e dos ventos.. Impávidos, soberanos e verdes, reinando sobre todo o imenso reino vegetal daquele Noroeste americano tão distante e belo !

De um parquinho em Duvall-WA

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

VOLTEI, RECIFE..

Vovô Carequinha  fotografado por Diogo Cruz
A saudade me trouxe por um braço e está me segurando pelo outro.. Saudade dos que ficaram por lá, num Paralelo frio e distante do nosso tropical e desmantelado reduto.. E saudade também dos que estão por aqui, da vidinha provinciana de que tanto gostamos, das rotinas de que reclamamos, mas que nos fazem falta, no fundo, do clima morno e úmido do nosso Recife, da água verde-azulada e da areia branca das nossas praias, de uma lista interminável de coisas, pessoas e lugares... É nisso que dá ter filho que mora fora do Brasil.. Depois de um dia inteiro entre aviões e aeroportos, cheguei à velha Vila dos Arrecifes dos Pescadores, na Capitania de Paranambuco.  Estropiado e sem dormir há 24 horas, cansado de 4 embarques e desembarques (Seattle, Dallas, Miami, Salvador), com intervalos mínimos e aquele medo de perder o vôo, voando baixo pelos corredores e esteiras dos monstruosos aeroportos americanos, estou dominando o sono e a diferença de cinco fusos horários somente para dar uma satisfação aos meus amigos do Blog.  Pausa para uma reflexão: quantos aeroportos de São Paulo (Guarulhos), apenas para citar o nosso principal e maior Aeroporto, cabem apenas num terminal de qualquer um desses ? Somente num dos muitos terminais desses labirintos modernos, com trens elétricos, esteiras rolantes imensas e corredores entupidos de gente de toda parte do mundo, num dia comum de semana ou de feriado, a gente tem que ficar muito atento para descobrir em que Portão, dos seus 4, 5 ou 6 terminais cada qual com 40, 50, 60 "fingers", vai embarcar.  Aí vem a dúvida e a quase certeza que nos aflige como brasileiros: como é que um país sem estradas decentes, sem aeroportos dignos desse nome, sem trens de passageiros (bala, cartucho vazio ou "traque de velha" que seja), sem mão de obra qualificada para receber milhões de viajantes e milhares de esportistas durante um exíguo mês de Copa do Mundo ou Olimpíada, se atreve a aceitar um desafio desse porte, apenas para "fazer bonito" perante o mundo ? ou seria "fazer de conta" que finalmente estamos nos afirmando como nação desenvolvida, educada, culta e responsável ao mesmo tempo que que a miséria degradante, a violência desbragada, a falta de educação e saúde, a roubalheira e corrupção sem freios dos políticos arrasa-quarteirões, o "estilo brasileiro" irresponsável e "demodée" de ser nos avassala ?  Respostas e sugestões para o Centro de Decisões instalado no Palácio do Planalto, Brasília-DF.. Perguntar não ofende !

Crédito da foto: Diogo, 6 anos, um neto de ouro! (Eu só fiz enquadrar e entregar a câmera para ele)