terça-feira, 30 de abril de 2013

O BUEIRO DA TACARUNA - UM TÓPICO, DUAS HISTORINHAS

A chaminé, ou bueiro, da Tacaruna


Um tópico, duas historinhas.

Entre o Recife e Olinda, na Estrada de Salgadinho, existiu outrora uma grande fábrica de tecidos e cobertores.  Muito antes disso, a fábrica foi uma Usina de Açúcar, que chegou a pertencer ao lendário Delmiro Gouveia.  
Fechada pela crise, passou quase 30 anos inativa, voltando, em 1924, como industria têxtil e finalmente de cobertores populares.  Encontra-se hoje desativada, em vias de ser transformada num grande centro cultural, ou ter destinação comercial.

1. A POEIRA DA ASMA

Pois bem.  Lá pelos idos de 1950, quando eu ainda morava em Olinda, passei muita vezes por ali e -de ônibus ou no jipe do meu pai- todos nós crianças tínhamos o hábito disseminado na época de tapar o nariz e a boca ao cruzarmos a vizinhança da fábrica, com sua enorme chaminé (que aqui também chamamos de bueiro) listrada em preto e branco dominando a paisagem plana de areal e vegetação.
Dizia-se que a poeira do algodão e da lã dos cobertores provocava crises de asma.  Eu, que já era asmático de nascença, ficava mais temeroso ainda.
Puro folclore, lenda urbana, mas em que muitos acreditavam.

2. O BUEIRO DA TACARUNA

Já passado da adolescência, que naquela época findava mesmo aos 18, não aos 40, como hoje, nessa moda esdrúxula de "filhos-cangurus", eu ouvi e repassei dezenas de vezes uma piada que até hoje considero engraçada, embora bobinha  para os padrões da nossa época.

Uma velhinha, muito compenetrada, com vestido de seda preta atacado até o pescoço, onde pousa um camafeu, vai sentada no banco do bonde Recife-Olinda, ao lado de um moço, talvez escriturário ou bancário, bem trajado, mas que, distraído ou apressado, deixara  aberta  a braguilha da calça.

Seguia a anciã admirando a paisagem do lado direito (a Tacaruna ficava no lado oposto) das praias do Istmo, quando o rapaz nota que a sua braguilha está aberta e, todo enrolado, tenta desviar a atenção da senhora para o outro lado, a fim de fechar os botões da calça. Vale lembrar que calças com braguilha de botões são contemporâneas dos bondes...

Pergunta, então, o moço, com muito respeito:

- Madame, a senhora já viu o bueiro da Tacaruna ?

A velhinha, dedo em riste, sobrinha pronta para um combate, ameaça com toda a raiva do mundo:

- Não vi,. não quero ver, e se botar pra fora eu meto-lhe a sombrinha !!!!

15 comentários:

  1. Olá Fred,
    A ilustação é linda!
    E as histórias do passado com uma graça, de certa forma inocente, são sempre bem interessantes e o Bueiro da Tacaruna confirma o que digo.
    Meu abraço

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    1. Amiga Dalinha: Na coluna aí ao lado, onde listo os marcadores (assuntos) botei um título ASSUNTO AQUI NÃO FALTA. Eu tenho uma memória pra gravar essas coisinhas do dia-a-dia que às vezes me impressiona. Besteira na minha cachola nunca falta. Já dos problemas, graças a Deus, me esqueço ligeiro, hahaha

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  2. Fred Mano Veio,
    Cavucador de memórias,
    Será esse caminho de sua infância o mesmo do bares simpatíssímos com "peixe guia" fritos, carangueijos decorados passeando?
    Fiquei triste ao saber que a Capela que abriga o corpo do Aleijadinho(oops não pode falar assim, tem que ser politicamente correto) Antonio Francisco Lisboa. está à mingua e periga desabar...Foi interditada!
    Que diabos, para estádios de futebol farônicos tem grana de sobra!
    Tem "gente" querendo que esqueçamos de nossa História para erigir Novos deuses e Novos altares(maíúsculas & minúsculas absolutamente intencionais).
    abs Gentes Finas,
    Elvio

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  3. Jesus Amado,
    A raiva impotente é péssima conselheira, e a falta de pensar e respirar só piora, confundí Ouro Preto com Olinda.
    Desculpem, mas o pouco caso não é muito diferente...
    Tentar remendar só piora, sentei na graxa. ponto. Que mico!
    Next!!!
    Elvio

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    1. Sem problema, Élvio. Eu também misturo estação de vez em quando. Mas Ouro Preto e Olinda tem tudo a ver. Até que a mistura é ótima. Mico nenhum. Amizade sempre. E abraço fraterno !

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  4. Caro Fred, nunca soube que chaminé tambem eta onhecimento como bueiro.
    Ahahahah! A velhinha tambem nao devia saber...
    Ótima anedota!
    Quanto a insalubridade da fabrica, acho que nao e lenda, nao, ate hoje eu sou alergica a la e derivados....
    So uso cobertor tipo edredon, voce deve conhecer, ne?
    Abraço fraterno,
    Ligia

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    1. Oi Líogia ! Pois é. Um bueiro vertical. O pernambuquês tem seus mistérios. E olha que no Nordeste a gente fala Nordestinês com muitos sotaques, quase dialetos. Mas sabe o que eu acho ? é que nesse Continente chamado Brasil, isso fica muito divertido. Cada sotaque desse é um mundo a descobrir. Abração!

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  5. Oi, Fred: novidade grande saber que chaminé é também bueiro, que aqui são subterrâneos. Temos aqui também inaugurada em 1928 a Usina do Gasômetro uma das primeiras edificações em concreto armado do Estado, projetada para gerar energia elétrica à base de carvão mineral, a que foi acrescida enorme chaminé. Depois de desativada, transformou-se num dos principais centros culturais da capital gaúcha.
    maria-maria

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    1. Maria-Maria. O por-de-sol no Guaíba, lá de cima do Gasômetro é uma coisa realmente inesquecível. Tenho excelentes lembranças do Rio Grande do Sul e não sei dizer do que mais gosto: se de Porto Alegre, da Serra, das coxilhas de São Chico e aquele frio gostoso de CAmbará do Sul, dos cânions, do Vale do Vinho, do Caminho de Pedra, ave Maria, Maria, quanta coisa linda tem nisso tudo. E ainda mais comendo um churrasco de fogo de chão, noite fria, dançando uma polonaise e ouvindo a gaita ponto lastimando as coisas dessa terra abençoada. Deu saudade agora, viu?... Eu volto lá, qualquer dia ! Abração, guria!

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    2. Ôigale, guri, que entendes das coisas deste pago; concordo que os pontos que destacaste são bonitos como laranja de amostra; moro ao sul, na várzea, na planície; quando vieres a Porto, te aprochega, para fazer uma charla buena, tchê.
      maria-maria

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    3. Vou levar a sério esse convite, Maria-Maria... Tenho um amor especial pelo Rio Grande do SUl e pretendo fazer um trecho do Caminho das MIssões, como também cruzar a fronteira e ir até o Uruguay. Está na pauta das viagens.
      E vamos charlar numa boa rodada do amargo, ora se vamos ! Abração !

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  6. Caro Fred! Ler os seus textos é mergulhar no passado, voltar para o presente e pensar no futuro.
    Sempre achei o "Bueiro da Tacaruna" parecido com o Farol de Olinda, que sempre exerceu uma enorme atração sobre mim. Por ter sido muito ousada, uma vez consegui entrar e subir até o topo do farol; é a visão do paraíso. Nunca entrei no bueiro da Tacaruna, mas, acho que sairia chamuscada, né não?
    Gostaria de saber que a antiga fábrica será mantida como ponto cultural.
    Um grande abraço!

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  7. É verdade, Zulma.. a semelhança é imensa. E acho, sim, que futuramente teremos ali um grande centro cultural. Vamos aguardar.

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  8. Olá, Fred!
    Eu e meus irmãos conhecemos essa história desde pequenos. Sempre que passamos por lá, repetimos para alguém. Ótima lembrança.

    Grande abraço!

    Meca Moreno

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    1. Grande Poeta ! Satisfação ve-lo por aqui ! Realmente essa historinha da Tacaruna é velha que só garçon da Ceia Larga, hahaha Mas até hoje eu rio quando conto (mesmo que a platéia nem dê bola!).. Abração, meu caro !

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