Era assim que ele se definia. Um amante da Lua. De profissão, era Engenheiro-Agrônomo. Foi colega de repartição, nos tempos em que se podia ir para as ruas e praças do Recife à noite, para observar os astros. Omena, como eu o chamava, era um apaixonado pela Astronomia. Das muitas conversas que tivemos sobre o assunto, aprendi muito com ele. Fotógrafo competente, era também um poeta da luz. Especializou-se em "escrever com a luz" (foto - grafar) a Rainha da Noite. A Lua foi sua musa durante anos a fio. Omena, com muita competência, realizou inúmeras exposições de suas belas fotos da Lua. Ora em Shoppings Center, para atingir o grande público, ora em Grupos de Astronomia, em escolas da rede pública, etc. Não perdia oportunidade para divulgar a sua Rainha.
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Nosso belo e misterioso satélite, mostrando orgulhoso suas crateras, montanhas e mares (foto do autor, às 02:46 de hoje)
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Certa vez, contou-me o amigo, estava ele fotografando no meio da rua, com tripé e câmera, olho no visor e alma voando livre pela noite, quando sentiu uma presença estranha ao seu lado. Um sujeito alto e forte, barba por fazer, mal-vestido e cheirando a álcool. Perguntou o que observava o Omena com tanta atenção. Ao que ele respondeu: - A Lua. Quer dar uma olhada? O sujeito quis. E passou longos minutos extasiado com a beleza do astro.
De repente, tirando o olho do visor da câmera, bateu delicadamente no ombro do Omena e falou:
- Olha, o senhor precisa tomar cuidado com esse seu "esporte". Estou lhe avisando porque este bairro está ficando muito perigoso. Eu mesmo assalto muita gente por aqui. Vá por mim.... guarde seu equipamento e vá pra casa. E muito obrigado por ter-me deixado ver essa beleza de lua.
Foi o que ele fez, claro...
Lembrei-me hoje de homenagear este velho amigo, por conta do meu amor às coisas do firmamento. Fiz o Curso de Iniciação à Astronomia, dirigido por um Astrônomo e Professor sem igual: o Padre Jorge Polmann, um salesiano dedicadíssimo à Ciência, que fundou o Clube Estudantil de Astronomia ( CEA) e seu Observatório, no Colégio São João, da Várzea.
Com muito orgulho, faço parte da Turma do Cometa Halley (1985-1986), criada especialmente para comemorar a última aparição daquele astro, cujo ciclo é de 75/76 anos. A próxima será, portanto, em 2062. Pouca gente (e minha Avó Maria Anna foi uma dessas privilegiadas pessoas) conseguiu ver o Cometa mais de uma vez. Ela, que faleceu com 102 anos, teve esse prazer.
Nasceu em 1896. Em 1910, ano da sua penúltima aparição, Vovó Anna contava apenas 14 anos de idade e dela, já bem velhinha, ouvi histórias incríveis sobre o astro e o pânico que ele trouxe à população da época.
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As diversas "fases" da Lua , em apenas duas horas de paciente observação.. O horário da foto está registrado nos originais, juntamente com as "fichas técnicas" de cada fotografia (Fotos do autor) |
Voltando ao Padre Jorge, holandês de nascimento, aqui chegado no pós-guerra... Era conterrâneo e homônimo de outro grande Astrônomo, que aportou no Recife em 1638 para compor a caravana científica do Conde Maurício de Nassau, e logo fundou o primeiro Observatório da América Latina. Georg Markgraf era o seu nome. Pioneiro dedicado, Markgraf foi um naturalista alemão, com formação em matemática, história natural, astronomia e medicina.
Pois bem... Ontem à noite fui dormir inquieto com um evento astronômico que eu já presenciei (e fotografei) algumas vezes: um eclipse total da Lua. Não canso de me entusiasmar com os eclipses. Devido à previsão de tempo nublado, preocupa-me sempre perder as fases principais do acontecimento. Mas, como disponho de um relógio mental que funciona muito bem, programei-o para me acordar às 2 ou 2 e meia da madrugada, para não perder nada. E assim (graças à minha insônia amiga) ocorreu.
Xingando as nuvens que teimavam em obstruir minha visão (hábito adquirido desde início de 1985, no CEA), fui teimosamente esperando e dando graças a Deus pelas "janelas" de céu limpo. A Lua, como sempre estava linda, cheia, brilhante, exibindo seus mares, montanhas e crateras com muito orgulho. Fiz dezenas de fotos. Aquela mania adquirida desde o advento das câmeras digitais. No final, quase que perdia a "apoteose". Um banco de nuvens imenso tomou conta do céu. E cadê vento para empurrá-lo dali? Desesperado, mas agradecido à Providência, consegui uma única foto da Lua, ainda avermelhada, mas já em processo de reversão do eclipse. Separei e trouxe aqui para vocês todas as "fases" do mesmo. E, de brinde, um "detalhe" do nosso satélite tão belo. Pela manhã, corri para os telejornais, a fim de admirar as fotos que sempre colocam no noticiário do "day after" dos eclipses. Qual o que! Só umas fotos antigas de outros eventos, inclusive fora do Brasil.
Bom.. Pelo menos, mais uma vez, consegui meus registros e curti, com prazer, essas quase três horas olhando o firmamento e me extasiando com os mistérios desse imenso Universo. E garanto que meus amigos Padre Jorge Polmann e Carlos Omena estavam lá também grudados na janela do apartamento e pedindo pra dar uma espiada no visor!