segunda-feira, 31 de outubro de 2011

TRAVESSEIRO DE MACELA




Vou começar este texto de hoje dando uma de botânico.
Assim, transcrevo a definição científica dessa planta cujas flores ilustram o post:
A Achyrocline Satureioides, da família asteracea, vulgarmente conhecida como macela ou marcela e por eloyatei-caá em Tupi-guarani.
As flores da macela costumam ser usadas pela população como estofo de travesseiros para os bebês, por se acreditar que tenha efeitos calmantes.
De fato, lembro bem de quando era pequeno de observar que minha mãe fazia uso, para acalmar o sono dos meus irmãos ainda bebês, de um travesseirinho pequeno e muito cheiroso.
Como fui asmático até os dez anos, ou um pouco mais, acho que usei bastante esse artifício, porque as recordações me acompanharam por muitos anos.
Então, uns anos atrás, bateu uma saudade inexplicada das férias que eu passava no interior, observando a vida simples do povo do campo e tentando ser e pensar como um nativo.
Remoendo essas lembranças, achei por bem perpetuá-las num xote que chamei de “Travesseiro de Macela”. Aqui vai a letra dele:

Já faz tempo que eu não vou lá na terrinha
Pra comer mel com farinha, rapadura e munguzá
Assar um milho bem na brasa da fogueira
Dançar xote a noite inteira, ouvir o galo cantar

À tardinha, montar no meu burro velho
Prosear com “seu” Orélio, encostado na porteira
Ah que saudade eu sinto da minha terra
Ver o rio descendo a serra, tomar banho de cachoeira

Quando eu chego lá em casa é o latido
Do cachorro preferido e um cheirinho de canela
De madrugada o travesseiro de macela
Vai saber que eu estou chorando, morto de saudade dela

Saudade dela, ai, ai, saudade dela ai, ai
Eu estou roendo é morto de saudade dela...

Gravei a música, que consta do repertório do cd “Eu sou assim”, juntando composições que fiz para os meus familiares: pai, mãe, avó, madrinha, esposa, filhos.
Aos poucos vou trazendo essas lembranças aqui para o nosso espaço.

Aqui o link para a música


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

FLORES, SORRISOS DE DEUS 6

Duvall-WA

Mais flores, daqui e dali.
A beleza delas está em toda parte, para ser sentida pelos olhos e pelo coração.
Selvagens ou cultivadas, elas com suas cores e perfumes nos cativam da mesma forma.
Não canso de admirá-las e sou capaz de parar o que estou fazendo, por mais importante que seja,
para fotografá-las, sempre que possível.

Aldeia-PE



Duvall-WA



Por mais insensível que uma pessoa possa parecer e por mais que ela tente ignorá-las, as flores estão alí. Sempre à disposição do nosso sentimento. 

Seja para nos acalmar, seja para nos fazer pensar no Criador.

Naquele Jardineiro do Universo, que as plantou nos mais distantes rincões do Globo, nos mais distantes espaços entre as estrelas.


Duvall-WA






Sim... eu creio que em qualquer lugar perdido do Universo, hão de estar presentes essas jóias vivas.


Key West-FL

E, para acompanhar essas imagens simples, um belo poema musical (da Suíte Quebra Nozes) de Tchaikovsky: A Valsa das Flores.




quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O DISCO QUEBRADO


A quantas vai a inocência de uma criança...

Meu pai sempre gostou muito de música.
Então, na nossa casa em Olinda, parte da sala de estar era ocupada por uma vitrola RCA (A voz do dono), cuja marca nunca me saiu da cabeça: um cachorrinho sentado ouvindo um "gramophone."
Tempos depois viria a saber que o nome vitrola, ou victrola, se reportava justamente a essa fábrica de discos e produtos correlatos e do seu nome, RCA Victor, partiu a marca victrola, ou vitrola, em bom português brasileiro.
Paizinho ouvia muito os cantores Carlos Gardel, Gregorio Barrios e Bienvenido Granda.
Mais: Orlando Silva, Francisco Alves, Augusto Calheiros e Ataulfo Alves. Havia também, uma dança da moda que veio a tornar-se nosso símbolo de nordestinidade: o baião, recém-lançado por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.
Mas Paizinho gostava, ainda, de ouvir música erudita e foi na nossa discoteca que me encantei com os primeiros trechos de belas peças clássicas, como a Marcha Triunfal da Aída, de Verdi, peças de Beethoven, Chopin, Strauss, Bach e Tchaikovsky.
Pois bem: eu estava sempre por perto da vitrola e aprendi a mexer nela bem precocemente, mais ou menos como meus filhos, que aprenderam desde cedinho a usar os vídeo-games e o computador.
Gostava muito de um disco de Luiz Gonzaga que continha a música Baião ("eu vou mostrar a vocês, como se dança o baião e quem quiser aprender é favor prestar atenção..").
Numa dessas vezes que fui botá-lo para tocar, o disco escorregou e espatifou-se no chão da sala.
Esses discos de 78 rpm eram pesados e muito frágeis, não resistindo, em absoluto, a uma queda de certa altura.
Fiquei desesperado.. Mãezinha e Dedé, sempre na lida doméstica, talvez nem tenham percebido o desastre e eu, na minha angústia para consertar a situação, saí pela porta da frente da casa e ganhei a praia.
Com as duas bandas do disco nas mãos, chorava feito um bezerro desmamado, parando cada banhista que se atravessava em meu caminho: - Meu senhor, cole esse disco do meu pai que eu quebrei agora...
Devo ter parado uns cinco ou seis, até que um senhor muito educado, que estava fazendo a sua caminhada matinal (naquele tempo ainda não se chamava "cooper”..) me falou com muita paciência: - Oh, meu filho, volte pra casa e não fique aperriado. Depois seu pai compra outro igual. Disco quando quebra não pode ser mais colado não. Vá pra casa, vá...
Desconsolado e sem jeito, voltei e contei pra minha mãe o sucedido...
Ainda bem que minha fuga foi breve e não causou mais uma contrariedade afora a de, mais tarde, levar um "carão" bem humorado de Paizinho e prometer que não ia mais me aventurar nas gavetas do armário da discoteca, nem mexer nas agulhas da vitrola.

(Crônica extraída do meu livro "Caçador de Lagartixas", Ed.LivroRápido/Elógica, Recife, 2008)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

COISAS DE IRMÃOS – A MINI-SAIA

Minha família é bastante grande.  13 filhos, todo o patrimônio dos nossos Pais.    Treze filhos e uma casa de tamanho proporcional, para abrigá-los.   Oito mulheres e cinco homens.   Todos, graças a Deus e aos nossos Pais, muito unidos e solidários.

Muitas histórias engraçadas ocorrem nessas famílias que só existiam há tempos atrás.  Muito difícil que, nos dias de hoje, um casal goste tanto de crianças, que chegue a fazer esse sacrifício de gerar, criar, educar, alimentar, formar, uma ninhada tão extensa.

Mas as recompensas também foram grandes.   Apesar da luta constante, meus pais tiveram alegrias constantes, também.  Vou dividir por aqui com vocês uma historinha-quase-anedota.

Meu pai, que cuidava da prole com muita atenção e carinho, redobrava esse zelo quando se tratava do lado feminino da ninhada.  Oito moças bonitas despertam a atenção de pretendentes e o meu Velho não dormia em serviço.

Na sala de jantar da casa, um relógio de pêndulo batia as horas e meias-horas.  Religiosamente. Era o vigia dos horários da família e meu Pai o tratava muito bem, sempre o alimentado de corda, no mecanismo.

Quando as festinhas ou o cinema do fim de semana se prolongavam um pouco mais das dez da noite e os namorados ou noivos vinham trazer as moças em casa, o Velho estava lá, vigilante e atento.  Mas ficava calado, no seu quarto..

No dia seguinte, vinha a observação
- A sessão do cinema atrasou?,  ou  
- Perderam o horário do ônibus?..

Mas, havia também o lado engraçado dessa vigilância toda.

Certa noite, Ruth e o noivo,  hoje seu marido, iam para uma festinha, um “assustado”, na casa de uma amiga.  O noivo e meu pai conversavam no terraço, enquanto ela se aprontava.

Quando passa pelos dois, ela de mini-saia, a moda da época, recebe o olhar de desaprovação do Velho e uma pergunta à queima-roupa (literalmente):     

- Posso saber para onde vai a pastora?

Sem perder a pose, mas também rápida no gatilho, responde Ruth

- Direto para o quarto, para trocar de roupa... 

Risos gerais, inclusive do noivo e do Patriarca.

(Muito obrigado à mana Dulce que, num papo gostoso, ontem à noite, enquanto tomávamos  uma canja deliciosa, relembrou essa historieta)

sábado, 22 de outubro de 2011

VELHAS FOTOS, BOAS LEMBRANÇAS E UM TRIO DIFERENTE

Não sei ao certo a idade destas fotos.  Só sei que foi um dos melhores presentes que recebi do meu amigo José Otamar de Carvalho, Engenheiro Agrônomo residente em Brasília-DF, apaixonado pelo Nordeste e pelas Artes em geral.   Otamar é contraparente, por ser casado com minha prima Ana Maria.  Elas representam muito para mim, porque são a única lembrança que tenho de um instrumento muito querido: meu primeiro instrumento musical, uma das pioneiras guitarras de corpo maciço, chegadas ao Recife. Comprei-a no ano de 1964, na Casa Publicadora Batista.  


Já falei sobre ela numa crônica neste Blog. Aqui: http://www.seteinstrumentos.com/2011/01/violoncello.html

Otamar e Ana estavam nos visitando na casa do meu pai, em Casa Forte.  Ele, que gosta muito de música, fez questão de posar com a guitarra.  Outra prima, a Margarida, estava com meu violão e eu, na falta de outro instrumento, apareço tocando ...  uma pá !
Além de antigas, a fotos me remetem aos tempos de solteiro, quando eu ainda sonhava em formar um conjunto musical e dar trabalho àquela guitarra, que também por pesada demais que era, me causou uns problemas de coluna.
Tive várias e excelentes guitarras, antes de trocar de instrumento, deixando-as pelo órgão elétrico, esse que hoje chamam genericamente de “teclado”.  Uma pena, pois eu gostava demais das minhas magrelas: essa Gianinni; mais outra da mesma marca, modelo Sonic; uma outra que era réplica da Gibson LesPaul semiacústica e por fim, uma muito linda e sonora, a Phelpa Apache.

Por outro lado, as fotos também me fazem lembrar a velha casa em que passei boa parte da minha vida, com meus pais e irmãos, num bairro que era quase uma cidadezinha de interior.  Infelizmente, a falta de espaço urbano foi nos tirando a beleza suburbana de Casa Forte e do Poço da Panela, à medida em que cresciam o Recife,  sua população e seus problemas. 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

UM ALAGOANO EM OLINDA

O carnaval sempre me fascinou. Aquela alegria incontida, aquele colorido que toma conta de tudo, música, barulho, movimento, em Olinda tudo isso se multiplica. Olinda é a síntese do carnaval. Não é à toa que -ainda hoje- se pensa assim. A cidade convida ao prazer da folia. Então, como morador, eu tinha aquilo tudo aos meus pés, durante uma semana inteira.
Blocos de mascarados, com seus macacões folgados e máscaras de papel-marchê, com cabeleiras de agave colorido, saiam quase todos os dias, levando de roldão os foliões, percutindo suas castanholas de madeira.
Isso tudo, somado ao som forte dos trombones e trompetes das orquestras e ao ritmo infernal de um frevo de rua, contagiava até a mais fria das pessoas.
Dedé, minha madrinha e segunda mãe, tinha também uma certa paixão pelo carnaval.
Bisneta de africanos, corria-lhe nas veias o calor dos tambores do maracatu e das orquestras.
- Avia, Fedim, me dizia Dedé, com sua voz doce, quando os primeiros acordes do hino do Guaiamum na Vara feriam o calor morno de Olinda nas tardes de Carnaval, ou quando já noitinha, soavam ao longe os primeiros toques das alfaias e repinicavam os gonguês e agogôs do Maracatu Elefante.
Eu não me fazia de rogado e segurava com gosto na mão de Dedé, pra cair na folia.

Tinha um certo medo infantil dos mascarados, mas estranhamente nunca me amedrontei com a presença solene do Maracatu. Aqueles bombos enormes, batidos com toda garra, dezenas deles, pulsavam no mesmo ritmo do meu coração quase pernambucano.
Quando eu nasci, meus pais moravam em Maceió, Alagoas, terra dos Marechais. Paizinho havia sido transferido para a gerência do Laboratório Raul Leite de lá e foi na Avenida Thomaz Espíndola, no bairro do Farol, que eu vim pro mundo.
Três meses depois, a asma me consumindo, numa passagem por Palmares, Engenho Barra do Dia, terra dos meus avós, fui batizado "pra não morrer pagão", conforme diziam ... escapei e vim bater no Recife, esta cidade cativante, que adotei e que me adotou, desde então.
Por conta da minha asma, Paizinho estava sempre se mudando, buscando novos ares, pra que eu respirasse melhor. Moramos no Hipódromo, num sítio em Beberibe, em Olinda, na Torre e finalmente em Casa Forte, até hoje. Os médicos, na época, o aconselharam a me fazer caminhar pela praia no comecinho da manhã e iniciar-me na natação, no mar mesmo. E era assim, quase todos os dias. Saía com ele e Jaime, um ano mais velho que eu, fazíamos uma caminhada pela areia e em seguida ele me botava pra bater braços e pernas nas águas outrora transparentes do mar olindense. Será que veio daí o meu gosto pelos esportes? Mas, isso é assunto pra outra conversa. Olinda, o frevo e o maracatu, me marcaram para sempre.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

UM BOMBARDINO MAXIXANDO



Um amigo músico da Banda Sinfônica estava saindo para o exercício da sua justificada aposentadoria compulsória, ao completar ano passado os seus 70 janeiros.
Meio atarantado com a idéia de partir “na marra” para o “otium cum dignitatis” de que fala o grande Cícero, expressão rebuscada mas às vezes odiada, o Américo (este é o seu nome) ficou  ressabiado, como costuma acontecer nessas horas.
Chateado, aparecia lá pelo Estúdio de vez em quando e me falava da sua preocupação no seu novo "status quo".
Américo, Bombardino de Ouro, como eu costumo chamá-lo é um cara simples, de poucas palavras, humilde mesmo.  Mas o som que tira do seu bombardino, tocando um frevo-de-bloco, um dobrado, um maxixe, é algo para se aplaudir.
Aquele som que, no meu tempo de menino, ouvindo as Bandas pelos Coretos do Recife e Olinda, eu aplaudia com fervor.
O Bombardino, para mim, está na Banda de Música como o Violoncello está na Orquestra Sinfônica.  Um instrumento que fala como os humanos. O seu nome oficial, nos meios musicais é EUFONIUM  ou EUFÔNIO. De origem grega, significa O SOM IDEAL, PERFEITO.   Uma voz sonora que aconselha a Banda ou a Orquestra, naquele timbre que nos lembra um Pai cuidadoso. Um timbre que soa entre o tenor e o barítono, entre a energia de uma repreensão e o conselho de um amigo.
Assim, para expressar o meu respeito pelo músico e pelo bombardino, compus, em homenagem a ambos, um Maxixe, a que dei o nome de  “Americando”.
Gravei  esta música, arranjada por Edson Cunha, com os amigos da “Bandinha do Fred” (é assim que o Hugo Martins denomina a Banda que formei lá no F Studio) e além da percussão, fiz questão de tocar o Banjo-tenor, com aquele “sacolejo” que somente o banjo sabe transmitir.  Então, para relembrar os Anos 20, 30, do século passado, vai aqui minha homenagem ao “Bombardino de Ouro”.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

LITTLE HAVANA


Bairro dos imigrantes cubanos que se estabeleceram em Miami, Little Havana é um pedaço de Cuba no Estado da Florida muito querido pelos cubanos e americanos e seus descendentes. Ruas com casas  típicas, calmas e sempre animadas pelo estilo de vida bem latino dos habitantes. É comum ver pelas ruas e parques idosos jogando dominó, um dos jogos mais populares daquela ilha.  


Fábricas e manufatura dos famosos charutos cubanos também são encontradas nos bairros, sempre lotadas de turistas e apreciadores.  A mais conhecida e famosa rua do bairro, porém, é a Calle Ocho.  Cafés tipicamente cubanos, restaurantes e a conhecida calçada dos artistas latinos atraem turistas do mundo inteiro para fotografá-los.  


Respira-se nesse bairro a nostalgia de um exílio forçado e o cultivo das tradições gastronômicas e musicais da ilha.  Como sou fã incondicional das músicas do mestre Ernesto Lecuona (grande pianista cubano, autor de Siboney e Maria La O, por exemplo), fiz questão de fotografar a sua estrela na calçada.


Como também de provar o excelente peixe Mahi mahi, servido com arroz, feijão preto e banana frita. Uma delícia.  Mas Edla achou interessante o típico índio da charutaria (deve ser o índio mais fotografado de Little Havana).  Enfim, um passeio que vale a pena ser feito e bem curtido.

sábado, 15 de outubro de 2011

OBRIGADO PELA PACIÊNCIA .. 20.000 VEZES, OBRIGADO !

A Sagrada Família, de Manoel Santeiro-Ibimirim-PE
Nova marca inesperada, mais um agradecimento a vocês que pacientemente me aturam, lendo essas coisas que escrevo por aqui.  A compulsão de dividir minhas alegrias, surpresas, encantamentos, descobertas ainda que tardias, emoções, tristezas, decepções, amores e desamores, enfim, tudo quanto permeia a vida e os pensamentos de um ser humano em contínuo processo de aprendizado terreno, é tão grande que ultrapassa meu desejo de deixar vocês em paz.  Mas, como vocês continuam visitando meu modesto Blog só me resta, como forma de agradecimento, tentar melhorar esse espaço que é nosso.  Muito obrigado mesmo, de coração, por me aturarem e se interessarem por esses lampejos de vida que eu tento colocar por aqui.  Na foto, uma das belas razões para minha vida ser cheia de Luz.  A Família Maior dos Cristãos, no Amor da qual procuro me espelhar para seguir com a minha família, que está para ser acrescida de mais um/uma netinho/a.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

MINIBIOGRAFIAS DOS TÁRTAROS (WALTER)

- Walter, seu displicente!
- Displicente, não ! Tudo menos isso, Zé.. isso aí eu não sou.  E se disser de novo eu saio!

Mas era, e como.. Ah, gordinho relaxado pra tocar bem uma guitarra.  Solava de tudo: de chorinho a clássicos, de Baden Powell a Luiz Gonzaga; dos Beatles a improvisos jazzísticos, que hoje são sua especialidade e deleite, junto com meu sobrinho Fred Andrade, um músico do tamanho do mundo.

Sempre nos demos muito bem, talvez por sermos tão opostos em gênio e físico. Éramos “o Gordo e o Magro” (e somos, ainda. Assim nos tratamos até hoje).

Brincalhão, o Walter era um grande contador de “causos” do Interior, principalmente da sua Pesqueira querida.  Herdou isso do seu pai, Luiz Neves, ex-prefeito de lá, jornalista de um humor inesquecível.

Facilitou com o Gordo, era gozação na certa. Sem maldade, claro.

Tinha umas manias pra lá de malucas.  Uma delas era o método para concentrar-se e aprender o solo de alguma música nova.  Trancava-se no banheiro com um violão, sentava-se na privada e passava umas duas horas lá dentro. Do lado de fora, a gente só ouvia os bordões e o rasqueado da palheta de plástico nas cordas.

Quando saía, parecia um iogue que atingiu a iluminação: sereno, tranqüilo e feliz.

- Bicho, não tem lugar melhor pra se aprender a tocar. É a melhor acústica do mundo. Dá de dez num estúdio de gravação. Eita banheirinho bom!

(extraído do livro "Tártaros, os Seis do Recife")

sábado, 8 de outubro de 2011

MEUS AMIGOS ANIMAIS - 5




Nas três vezes que fui visitar meu filho, estive em três casas diferentes. 
Ele morou primeiro em Redmond, próximo da sede da  Microsoft; depois num outro apartamento, um pouco mais afastado e tranquilo e em seguida comprou uma casa numa cidadezinha linda, em ambiente quase rural.  
Feito Aldeia, aqui próximo do Recife.
Em todos esses lugares, a presença da Natureza, em toda sua pujança, é impressionante.
Washington, no Noroeste dos EEUU é um lugar muito verde, expressão que em inglês, é o codinome do Estado:  Evergreen State. 
Uma referência aos pinheirais que cercam pequenas cidades e enchem condados inteiros de um verde escuro muito bonito, que nem as nevascas do inverno conseguem acabar.
Os Parques são uma constante em toda cidade de lá. De todos os tamanhos e para todos os gostos. 
Muito bem equipados, com brinquedos e quadras de esporte sempre novos e limpos.
E em praticamente todos, a presença permanente de animais livres: pássaros, pequenos veados, coelhos do mato, esquilos de todos os tamanhos e espécies, etc.
Aparecem do nada, num gramado, pelos arbustos,no meio do parque, das ruas.


Sem medo, calmos, quase como animais domésticos.  

Por que?  Porque são respeitados. 
Ninguém ousa espantá-los, atirar-lhes pedras, caçá-los.

E também ninguém lhe atira migalhas ou outro tipo de alimento. Permitem que procurem por eles mesmo o que lhes interessa. Assim deveria ser por aqui também. É sinal de civilidade, de respeito aos bichos e à natureza. Mas por lá também há leis severas a serem cumpridas. Há polícia, para lembrar a lei aos cidadãos menos escrupulosos. Mas, pelo que sei, isso não é muito utilizado.



O longo aprendizado da arte de viver e de cumprir a lei, mais a preocupação do cidadão consciente com o meio ambiente e com a vida animal, levam a esse resultado.
Somente isso.
Sem mais segredos ou fórmulas mágicas. 
Educação é tudo !

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

SKATE A CACHORRO

http://www.youtube.com/watch?v=owax9rDLTpU



Esse mundo velho sem fronteiras tem tanta coisa diferente pra gente curtir, que dá pra encher um Blog diariamente com essas coisas que a gente encontra pelas ruas de qualquer cidade, de qualquer região e país do planeta.

Ainda tenho andado pouco, por fora do Brasil. Além de caras, as viagens pelo exterior são dificultadas pelas distâncias continentais e também pela falta de tempo.
Mas o pouco que tenho andado, venho registrando coisas muito engraçadas, e também muito instrutivas, tanto aqui no Brasil, como em outras paragens.
Feito essa, especial, de Key West, Florida, lugarzinho muito legal, em meio ao Atlântico e ao Caribe, ilha de histórias de piratas e História muita, terra que encantou Ernest Hemingway e tantas celebridades, incluindo o fato de ter sido residência de verão de inúmeros Presidentes dos Estados Unidos.
Este filminho de 10 segundos mostra a descontração de uma garota da ilha voltando das compras.
Eu a vi pela primeira vez quando ela cruzava a Whitehead St, defronte ao Lighthouse Museum, de Key West. Uma hora e pouco depois, quando volto a atravessar a rua, para continuar meu passeio, após a visita ao Museu, ela quase me atropela com seu transporte genial.
Voltava das compras, com uma sacola a tiracolo e seu possante cão Boxer puxando um skate !
Pois é.. Já vi de tudo no mundo (quase tudo, diria eu..) mas Skate a Cachorro é a primeira vez...
Espero que seja a de vocês também.... foi bem engraçado e curioso.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

NARCISO DO BANJO - PATRIMÔNIO DOS BLOCOS

Narciso, o mestre-banjista dos Blocos

Quando eu ainda era um garoto de 13 para 14 anos, costumava ir brincar o carnaval no centro da cidade entre o bairro da Boa Vista,  (de onde iniciava-se o desfile dos clubes, blocos, troças e maracatus, na sede da Federação Carnavalesca)  e a Pracinha do Diário, no bairro de Santo Antonio, lugar do palanque da Comissão Julgadora e dispersão das agremiações.  Fazia questão de sair acompanhando as grandes orquestras dos Clubes de Frevo como Prato Misterioso, Lavadeiras de Areias, Vassourinhas, Lenhadores e tantos outros afamados Clubes.  Mas o que me chamava atenção, igualmente, eram as chamadas Orquestras de Pau e Corda dos Blocos Mistos como o Batutas de São José, Banhistas do Pina e Madeira do Rosarinho. E nessas Orquestras com muitos violões, cavaquinhos e instrumentos de sopro, destacava-se um instrumento para mim muito importante: o Banjo.  Eu admirava demais um banjista que pontificava nas orquestras desses três e de outros Blocos também.  Seu nome: Narciso do Banjo.  O nome de pia de Narciso só vim conhecer quase 40 anos depois quando comecei -depois de aposentado- a tocar meu banjo-tenor nos blocos do Recife, depois que fundei em Casa Forte, o Bloco Flor da Vitória-Régia.  Que, na sua estréia, por sinal, contou com esse banjista tão querido de todos nós recifenses, o Mestre Narciso.   Na época ele comandava a orquestra do Bloco da Saudade, o mais antigo da nova onda de blocos iniciada nos anos 70.  Mas a Narciso, humilde como era, apesar do nome, nunca foi dado o destaque que mereceu.  A ele e a outra excelente musicista chamada Clarisse Amazonas, uma dedicada violinista que introduziu no Recife o ensino do violino às crianças, pelo Método Suzuki e de quem falarei futuramente aqui no Blog.  Como sempre, os músicos são os eternos esquecidos em agremiações onde predominam mais a vaidade e o amor ao nome do Bloco, do que aos seus integrantes mais humildes e que, no fundo, fazem realmente a diferença nos desfiles, pela energia e pela música que tocam.

Narciso, anos depois da entrevista, volta ao Fstudio.
Quase uma despedida. Ele morreria no mês seguinte.
Pois, impressionado com a história desse músico, convidei-o no dia 08 de fevereiro de 1998 para prestar um depoimento no meu estúdio, que encaminhei posteriormente ao acervo do Museu do Frevo.  Nesse cd de uma hora de duração Narciso me contou toda a sua vida e o seu empenho em construir seu próprio Banjo, a partir de uma calota de automóvel Impala Chevrolet.  Trago aqui trechos desse depoimento, para mim histórico, em que um simples homem do povo, pintor de paredes, mas com uma alma musical comparada à dos pioneiros, fez do banjo a sua lira, e com uma dessas deve estar agora, qual querubim dos Blocos do Recife a alegrar, junto como tantos outros irmãos musicais, os dias e noites infindáveis das esferas musicais superiores, trinando as cordas com suas "palhetadas" que nos davam tanta energia e tanta alegria.

O depoimento, aqui: 

E aqui um vídeo especial do primeiro desfile do Bloco Flor da Vitória-Régia em 1999:

http://www.youtube.com/watch?v=fAVFcY2N2kU


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

KENNETH COOPER E A CORRIDA NA TERCEIRA IDADE


Cascading em Alto Paraíso-GO
Quando eu corri minhas primeiras Maratonas (ao todo completei oito treinamentos específicos de 4 meses cada (numa média de 275 km mensais em cada um deles), eu prometi a mim mesmo que correria maratonas até pelo menos uns 80 anos de idade.

Um belo dia, num passeio pelas prateleiras de uma livraria (outro dos meus esportes ), deparei-me com o mais novo livro (naquela época) de Kenneth Cooper versando entre outras coisas, sobre o esporte na chamada “terceira idade.”
Recomenda Cooper uma freiada na intensidade e qualidade dos exercícios a partir de certa idade.  Fiquei meio furioso: afinal de contas, o nosso guru estava contra-indicando a corrida?  Um contrasenso, no meu entender.


Hoje, mais maduro, vejo que Cooper (como sempre) está coberto de razão.
A corrida depois dos 50, 60 anos, pode ser uma fonte de problemas também.. Aliás (palavras do Mestre Cooper),: “Isso varia conforme a idade. As pessoas na faixa dos 30 anos devem ter uma rotina dividida em 80% de exercícios aeróbicos e 20% de condicionamento de músculos. Aos 40, a proporção deve ser de 70% de corrida e 30% de musculação. O ideal é fazer um programa pessoal de treinamento de forma que se aumente, com o passar dos anos, o tempo destinado ao condicionamento muscular e se diminua a carga de exercícios aeróbicos. Aos 60 anos, essa relação deve ser de 55% de exercícios aeróbicos e 45% de musculação, segundo as pesquisas que realizamos.

Remo no Lago Paranoá, Brasília-DF
E, ainda, sobre o risco enorme que o exagero no exercício pode ocasionar (e tem ocasionado, sempre, riscos inclusive de morte na prática do esporte), uma constatação do criador do método aeróbico: “Mas as pessoas comuns devem estar atentas aos sinais de alerta que o corpo emite, para não se machucar. É melhor não ir além do limite, porque isso pode prejudicar as articulações. Em 1989 concluímos estudos que mostram que os benefícios obtidos com uma caminhada em ritmo acelerado são quase idênticos aos que se consegue com uma corrida. Se você caminhar 3,2 quilômetros em trinta minutos, três vezes por semana, irá reduzir o risco de ataques cardíacos, derrames e câncer em 58%. Só isso já é suficiente para aumentar sua expectativa de vida em seis anos. Os ganhos com corridas são pouco maiores. Por isso, se você não é um atleta, não vale a pena arriscar.

É por essas e outras (e também por ter perdido dois excelentes amigos corredores que ao exagerar na dose faleceram em pleno exercício de corrida) que posso assegurar que caminhadas diárias em um ritmo mais acelerado por 45 minutos; natação e ciclismo, tudo de forma compatível com a idade, trarão muito mais benefício para quem passou dos 55 ou 60 anos, que maratonas e supermaratonas que muitas vezes nos lesionam e até mesmo nos incapacitam em definitivo, um risco muito mais frequente do que se imagina.   Nestes quase 29 anos de prática diária de corrida, natação e ciclismo, nunca sofri qualquer lesão mais grave que uma dor de canela ou na panturrilha e nunca dei  folga para a preguiça.


Trilhas em Alto Paraíso-GO
 Ao todo, segundo meus diários de corrida, devo ter corrido, nesses anos o suficiente  para mais do que uma volta em torno do Equador: uns 48 mil quilômetros.   E não estou mais contando caminhadas, que adotei a partir dos 58 de idade até hoje.  Apenas em raras ocasiões motivadas por trabalho ou viagens, deixei de correr ou caminhar e nadar por alguns dias. 
E assim, garanto que já esqueci aquela promessa de correr maratonas até os 80 anos de idade.  Tudo tem seu tempo, tudo tem seu preço, essa é a lei...