quarta-feira, 18 de setembro de 2013

GALOPANDO NO REPENTE



Trago hoje mais um folheto de cordel, em parceria com a poeta amiga Claude Bloc, do Crato_CE, escritora, pintora, fotógrafa e sobretudo uma pessoa sensível às coisas do sertão, do seu Cariri.  Já falei aqui da Claude, e para os que ainda não conhecem a sua poesia, renovo o convite agora .
E dentro do estilo "martelo agalopado", fizemos essa parceria em torno de temas mais subjetivos, falando de música, poesia e sentimento.
O mote "E assim vou vivendo de improviso, para um dia não morrer de repente", assim foi glosado:

Fred Monteiro (FM)
 1.
Desisti e guardei minha viola
bem guardada, pra não me arrepender
Pois confesso, cansado de sofrer,
nesse afã a saudade deita e rola
Quase nada hoje em dia me consola
Mais do que escrever diariamente
Eu agora estou sendo coerente
no caminho escolhido com juízo
"E assim vou vivendo de improviso
para um dia não morrer de repente"

Claude Bloc (CB)
 2.
Na sacola guardei a minha lida,
No silêncio, guardei meu coração
Num poema secreto a emoção
De viver a saudade sem guarida
Sonhos tolos bordados pela vida
Nos retalhos de luz bem transparente
Alegria que passa tão silente,
Vai embora sem dar nenhum aviso
"E assim vou vivendo de improviso
para um dia não morrer de repente"

FM
 3.
Minha lira calou, emudeceu
E Euterpe então me abandonou
A Estrela da Tarde se apagou
Foi chegando a noitinha e fez-se o breu
Um silêncio profundo aconteceu
quando a lua surgiu incandescente
um torpor foi nublando a minha mente
e ao calar-me, fiquei tão indeciso
"E assim vou vivendo de improviso
para um dia não morrer de repente"
  
CB
4.
A saudade sentida se escondeu
Numa concha de estrelas, ao luar
No silêncio a aurora foi cantar
Exaltando um amor que já foi seu
E o poeta cansado adormeceu
Dedilhando uma música plangente
Que revira essa tristeza da gente
E acende o amor se for preciso
"E assim vou vivendo de improviso
para um dia não morrer de repente"
  
FM
5.
Nesta vida o cansaço fez seu preço
e a resposta ao esforço diário
sem apreço ao suor do operário
que na luta relembra o seu começo
Atitudes banais que não mereço
são desprezo por tal esforço ingente
Não se pode quedar indiferente
apagou-se o motivo do sorriso
"E assim vou vivendo de improviso
para um dia não morrer de repente"
  
CB
6.
O sorriso é sempre o brilho primeiro
No olhar e na vida do operário
Se a chama se apaga do cenário
O esforço esmorece bem ligeiro
E as horas desandam do ponteiro
De um relógio calado, displicente
Que só atrasa e sai pela tangente
Mas sorrir é o destino que eu viso
"E assim vou vivendo de improviso
para um dia não morrer de repente"
  
FM
7.
Se o sorrir faz a vida mais feliz
Eu esqueço minhas adversidades
vou passando a borracha nas saudades
retomando aquilo que eu mais quis
e pra tudo que é bom eu peço bis
da tristeza  não vou ser dependente
volto a ser um sujeito paciente
me livrando de qualquer prejuízo
"E assim vou vivendo de improviso
para um dia não morrer de repente"
  
CB
8.
A saudade é a força dos remidos
Faz fogueira no nosso coração
E transforma a nossa emoção
Num balão que remexe os sentidos
Relembrar o que houve em tempos idos
É sofrer outra vez  impunemente
É morrer um pouquinho,  tão somente
E jurar que amar não é preciso
"E assim vou vivendo de improviso
para um dia não morrer de repente"

FM
9.
Sendo a vida, afinal, grande mistério
Só me resta vivê-la com coragem
Enfrentar seus meandros na viagem
Aprendendo ao sabor do seu império
Respeitando o sublime Magistério
A lição vai-se tornando patente:
Ou me torno um aluno obediente
Ou assumo essa falta de juízo
"E assim vou vivendo de improviso
para um dia não morrer de repente"

CB
10.
Esta vida é feita de engrenagens
Que nos ligam a outros elementos
E nos somam milhões de sentimentos
Que transbordam e parecem até miragens
Desenhando os sonhos com as imagens
De projetos que vêm à nossa mente
Cada passo se torna diferente
Quando um gosto se mantém impreciso
"E assim vou vivendo de improviso
para um dia não morrer de repente"

FM
11.
Eu tentei ser leal às teorias
Mas na escola da vida eu aprendi
que no simples trinar de bem-te-vi
o que existe é mais que melodias
eles cantam assim todos os dias
e eu fico feliz por tão somente
escutar esse canto e de repente
eu esqueço a razão pois não preciso
"e assim vou vivendo de improviso
para um dia não morrer de repente"

CB
12.
Eu me rejo por essa sinfonia 
Que em silêncio, absorvo em plena paz
E num sopro, a saudade já me traz
O solfejo embalado em melodia
Numa pauta desenho a harmonia,
Esses ecos da nota mais dolente
Que me tocam como a brasa mais quente
No calor de um poema interciso
"e assim vou vivendo de improviso
para um dia não morrer de repente"
  
FM
13..
É a Música a mais mimosa Musa
que encontrei nesta vida peregrina
Musicar sua estrada é minha sina
e quem come esse mel não se lambuza
Mas se alguém deste doce não abusa
Viverá um sorriso eternamente
Ao cantar pela vida, simplesmente
Antecipa na Terra o Paraíso
E assim vou vivendo de improviso
Para um dia não morrer de repente

CB
14.
Só a música embala a alegria
De viver tal e qual manda o destino
E liberta o teu sonho de menino
Como o sol pontilhando a sinfonia
Nessas claves de pura melodia
Que a alma carrega docemente
Tudo isso germina da semente
Que desdobra esse verso tão conciso
E assim vou vivendo de improviso
Para um dia não morrer de repente








9 comentários:

  1. Caro Fred, bom dia.
    Recebi os dois cordéis que você me enviou, o que me deixou muito honrado. Tenha certeza que é um dos presentes que mais estimo, não só pela qualidade dos poetas, mas, também, pela consideração do caro amigo com esse paulista abestado.
    Escondido atrás de um certo Ciro Lappenna, me atrevi a fazer minha primeira poesia, e, como havia prometido à Dalinha Catunda, dediquei a ela e ao caro amigo.
    Confesso que jamais me imaginei fazendo poesia, ms como dizem, tem sempre a primeira vez. Saiba que é uma honra enorme tê-lo como amigo.
    Tomo a liberdade de usar seu Blog cheio de encantamento para publicar minha primeira poesia.
    Um forte e fraternal abraço
    Mauro Pereira

    Eu achu qui mi lasquei
    Pois num sei fazê poesia
    I eu nunca imaginei
    Qui essi dia chegaria

    Mais tem sempre a premera veiz
    Si num fizé percu u exami
    Poetas, relevi meu portuguêis
    I discurpa si eu dé vexami

    Muiér tamém faiz glosa
    Mais bunita qui a minha
    Elas tamém iscrevi prosa
    I verseia sempre im cima Dalinha

    Pros poeta tiro u chapéu
    Pois tem certus elementu
    Qui além di imprimi cordel
    Toca sete Instrumentu

    Prá poesia num levo jeitu
    Pois mi farta inspiração
    Meu consolo é gurdá nu peitu
    Meu amor pur Reberão!

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    1. Caríssimo Mauro, parabens por sua coragem em adentrar a seara poética, ante essas feras fubanicas!

      Acho que voce leva jeito!
      Com seu talento literário e a expressiva criatividade, presente em seus textos, se voce quiser, poderá se destacar tambem na poesia ou prosa poética!
      Grande abraco,
      Ligia.

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  2. Uma honra pra mim e pro Blog ter você inaugurando essa seu novo experimento nas rimas, caro amigo. Suas crônicas e seus personagens da surreal Ribeirão dos Pradas já me cativaram faz tempo. Volte sempre, Mauro !

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  3. Uma honra pra mim e pro Blog ter você inaugurando essa seu novo experimento nas rimas, caro amigo. Suas crônicas e seus personagens da surreal Ribeirão dos Pradas já me cativaram faz tempo. Volte sempre, Mauro !

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  4. Caríssimos, Fred e Claude, pelos seus versos inspiradissimos, nesse galope agalopado da melhor qualidade!
    Ja deu pra perceber que essa parceria poética vai looooonge!
    A comunhão de ideias, sentimentos e emoções expressas por vocês, e admirável!
    Grande abraco aos dois, considerem-me sua fa incondicional!
    Ligia

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    1. Lígia Barreto,

      Quando acontece a afinidade entre os gostos e a escrita o desafio se torna uma alegria e um estímulo nessa construção da poesia.

      Foi assim que essa parceria decolou e está prosseguindo de vento em popa.

      Abraço pra você e obrigada pelas palavras de estímulo.

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  5. Obrigado, Lígia, por mim e tenho certeza por Claude também; já está rendendo boas coisas a parceria.. Qualquer hora publico mais outra peleja nossa. Abração, minha cara amiga !

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  6. ZULMA - IRMÃ Z (SEMPRE FUBÂNICA).21 de setembro de 2013 às 11:55

    Claude Bloc (francesinha arretada do Cariri)e Fred Monteiro, dois fila duma égua de bom, de puro talento e de uma qualidade cordelística de tal forma sintonizada, que dá pra pensar que trata-se de uma só criatura. Que venha mais rima boa, que eu tô aqui só esperando para me deliciar.
    Um grande abraço para ambos.
    Eu também estou fazendo esses "considerandos' de improviso, para não morrer de repente. Ô motezinho invocado!

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  7. Realmente, Zulma, uma boa parceria é como uma irmandade de princípios, uma comunhão de idéias, um entrosamento, mesmo a léguas de distância, que a internet reduz a milésimos de segundos. E a rima flui fácil, quando isso acontece, tal como nos desafios de pé-de-parede nas noites das fazendas e nos barracões das vilas do interior. Muito obrigado pelo incentivo. Mande seu endereço postal pelo fredcrux@gmail.com para que eu possa lhe enviar uns cordéis produzidos pela Cordelaria Monteiro. Abração!

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