quarta-feira, 5 de outubro de 2011

NARCISO DO BANJO - PATRIMÔNIO DOS BLOCOS

Narciso, o mestre-banjista dos Blocos

Quando eu ainda era um garoto de 13 para 14 anos, costumava ir brincar o carnaval no centro da cidade entre o bairro da Boa Vista,  (de onde iniciava-se o desfile dos clubes, blocos, troças e maracatus, na sede da Federação Carnavalesca)  e a Pracinha do Diário, no bairro de Santo Antonio, lugar do palanque da Comissão Julgadora e dispersão das agremiações.  Fazia questão de sair acompanhando as grandes orquestras dos Clubes de Frevo como Prato Misterioso, Lavadeiras de Areias, Vassourinhas, Lenhadores e tantos outros afamados Clubes.  Mas o que me chamava atenção, igualmente, eram as chamadas Orquestras de Pau e Corda dos Blocos Mistos como o Batutas de São José, Banhistas do Pina e Madeira do Rosarinho. E nessas Orquestras com muitos violões, cavaquinhos e instrumentos de sopro, destacava-se um instrumento para mim muito importante: o Banjo.  Eu admirava demais um banjista que pontificava nas orquestras desses três e de outros Blocos também.  Seu nome: Narciso do Banjo.  O nome de pia de Narciso só vim conhecer quase 40 anos depois quando comecei -depois de aposentado- a tocar meu banjo-tenor nos blocos do Recife, depois que fundei em Casa Forte, o Bloco Flor da Vitória-Régia.  Que, na sua estréia, por sinal, contou com esse banjista tão querido de todos nós recifenses, o Mestre Narciso.   Na época ele comandava a orquestra do Bloco da Saudade, o mais antigo da nova onda de blocos iniciada nos anos 70.  Mas a Narciso, humilde como era, apesar do nome, nunca foi dado o destaque que mereceu.  A ele e a outra excelente musicista chamada Clarisse Amazonas, uma dedicada violinista que introduziu no Recife o ensino do violino às crianças, pelo Método Suzuki e de quem falarei futuramente aqui no Blog.  Como sempre, os músicos são os eternos esquecidos em agremiações onde predominam mais a vaidade e o amor ao nome do Bloco, do que aos seus integrantes mais humildes e que, no fundo, fazem realmente a diferença nos desfiles, pela energia e pela música que tocam.

Narciso, anos depois da entrevista, volta ao Fstudio.
Quase uma despedida. Ele morreria no mês seguinte.
Pois, impressionado com a história desse músico, convidei-o no dia 08 de fevereiro de 1998 para prestar um depoimento no meu estúdio, que encaminhei posteriormente ao acervo do Museu do Frevo.  Nesse cd de uma hora de duração Narciso me contou toda a sua vida e o seu empenho em construir seu próprio Banjo, a partir de uma calota de automóvel Impala Chevrolet.  Trago aqui trechos desse depoimento, para mim histórico, em que um simples homem do povo, pintor de paredes, mas com uma alma musical comparada à dos pioneiros, fez do banjo a sua lira, e com uma dessas deve estar agora, qual querubim dos Blocos do Recife a alegrar, junto como tantos outros irmãos musicais, os dias e noites infindáveis das esferas musicais superiores, trinando as cordas com suas "palhetadas" que nos davam tanta energia e tanta alegria.

O depoimento, aqui: 

E aqui um vídeo especial do primeiro desfile do Bloco Flor da Vitória-Régia em 1999:

http://www.youtube.com/watch?v=fAVFcY2N2kU


2 comentários:

  1. Morei no Jardim Beira Rio, no Pina, e presenciei muitas vezes o Narciso com o seu banjo, no Banhistas do Pina.

    Parabéns pela postagem de merecida homenagem.

    Abç fraterno.

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    1. COmo sempre, aqui no Recife, os verdadeiros artistas caem no esquecimento tão logo cumprem sua missão na terra, amigo. Mas ficam as lembranças de quem os admira e respeita sua arte. Abraço!

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