Um dos meus objetivos deste ano de 2011 era escrever um livrinho, ou um pequeno manual, narrando minhas experiências e observações de corredor veterano. Ou duas vezes veterano, porque, aos 65 de idade e com 28 anos ininterruptos de corrida acho que passei por tudo o que um corredor veterano tem que passar.
Esse tempo todo, posso assegurar, sem grandes traumas, sem qualquer contusão mais séria, a não ser aquelas dores normais da fase de condicionamento físico (as famosas dores nas canelas, nas panturrilhas e coxas, na musculatura das costas, tendinites e unhas roxas, etc). Todas absolutamente previsíveis e perfeitamente superadas sem grandes problemas, sem remédio nem internação. Ou como eu costumava dizer.. às vezes a gente cura uma dor de corrida com repouso, às vezes com mais corrida, mas sempre com muita cautela.
Eu falei duas vezes veterano porque já comecei a correr “velho”, isto é aos 37 anos de idade.
Na linguagem popular eu já era um “vovô” para começar um programa sério de treinamento para quem ambicionava correr a prova-tabu de todo corredor de longa distância: a Maratona.
Antes de mais nada, porque este blog é lido também por leigos no Atletismo, cumpre dizer que Maratona é aquela prova de 42.195 metros e não, como infelizmente muitos organizadores de provas ainda insistem em fazer, qualquer corrida pedestre, ou rústica. Dito isto, passemos ao que interessa.
Correr é uma atividade humana tão natural quanto andar, comer, falar, etc.. Ninguém nos ensina a balbuciar os primeiros sons, ou a nos levantar nas duas pernas e, desajeitadamente, sair andando, aos poucos (mesmo depois de alguns tombos). Ninguém também ensinou aos nossos ancestrais a fugir do perigo representado por um enorme tigre ou leão faminto, correndo em busca da segurança da caverna (ou da árvore) mais próxima.
Não vou aqui me meter na seara de treinadores e professores de educação física, que têm por objetivo aperfeiçoar nos seus pupilos aspectos técnicos do treinamento, da dieta, dos cuidados paralelos com calçados, roupas adequadas e planilhas de treinamento. De forma alguma.
Essas linhas são escritas para aquelas pessoas que, como eu, querem se iniciar na corrida sem grandes pretensões, mas com um mínimo de conhecimento do que os espera pela frente.
Eu li bastante sobre corrida, a medida em que iniciava minhas primeiras aventuras no esporte.
De vários livros e revistas sobre corrida, tirei ensinamentos úteis e necessários para evitar cometer muitos erros (porque erros sempre cometemos). Agradeço de coração, hoje, a gente que preocupou-se em transmitir suas experiências pessoais, pondo outros milhares de corredores pelas ruas, trilhas e estradas do mundo afora, a usufruir dos maravilhosos benefícios da corrida. Destaco, dentre esses, os livros de Kenneth Cooper (Aerobics- Aptidão física em qualquer idade), James Fixx (The complete book of running – Guia completo de corrida), Werner Sonntag (Spass am Laufen – Alegria de correr) e um manual muito simples e eficiente escrito por um veterano corredor brasileiro chamado Airton Ferreira – Diário do Corredor.
Bons artigos em revistas de corrida foram de grande utilidade no meu aprendizado dessa arte-esporte, em especial os cuidadosamente selecionados e publicados pela VIVA-A revista da Corrida, cujo editor foi o José Inácio Werneck, também competente corredor, como todos os demais citados.
A VIVA tinha, aliás um acordo editorial com “The Runner”, uma das grandes revistas de corrida da época. Estamos aqui falando dos anos de ouro da corrida pelo mundo, os anos 80, que coroaram o “boom” do esporte iniciado por Cooper, nos anos 60, com a publicação de “Aerobics” e o lançamento dos fundamentos científicos do condicionamento aeróbico, oriundo principalmente do treinamento da Força Aérea Americana dirigido aos seus pilotos e astronautas em plena “corrida espacial”, sendo K. Cooper o cardiologista-chefe da US Air Force, por aqueles anos.
Dito isto (o que já foi muita coisa para se ler em tela de computador), parto para uma primeira e óbvia afirmativa, repetida por todos os grandes mestres da corrida:
O SEGREDO DO ESTILO É CORRER NATURALMENTE !
Observa James Fixx : “Seu corpo é um sistema biomecânico singular. É diferente de todos os outros corpos. Possui seus próprios centros de gravidade e articulações. Por isso é que se comete um erro ao se tentar imitar o estilo de correr de outra pessoa. Simplesmente mantenha o corpo empertigado, a cabeça alta, e fique ligeiramente inclinado para a frente. Não exagere os movimentos dos braços. Corra com os cotovelos dobrados, mas não comprimidos contra o corpo. As mãos devem estar relaxadas, não se correndo com os punhos cerrados. A tensão em uma parte do corpo causa tensão em outra. Ao correr, não se preocupe com a extensão da sua passada; faça apenas o que sentir que for natural."
E segue Fixx demonstrando com muita competência outros aspectos como respirar naturalmente, coisa que preocupa demais treinadores e orientadores de corrida e principalmente os corredores iniciantes. Já Werner Sonntag faz melhor minha cabeça: “A corrida não exige uma técnica complicada. Aprendemos a andar e a correr na primeira infância, sem que ninguém nos desse lições de estilo. A corrida é uma função natural no ser humano. Todos os erros que cometemos no início da mesma foram adquiridos no decorrer da vida e por isso, em minha opinião, podem ser corrigidos. Por que iniciar a correção justamente no primeiro dia de corrida? Comece a correr conforme seu gosto. Com o tempo, o corpo racionalizará os movimentos. Quase sem perceber você passará a movimentar-se de maneira mais racional e desse modo adquirirá um “estilo”. E se você nunca adquirir um “estilo”, não se importe. Zatopek, a “locomotiva”, cultivou o anti-estilo. .... Mas é bom você saber como se corre certo. Só lhe peço que não fique treinando diante do espelho.”
O importante de tudo isso, penso eu, é iniciarmos a prática da corrida, ou de outro exercício aeróbico que se escolha, o mais breve possível. Depois de visitar o seu médico, fazer um teste de esteira ergométrica para saber do seu nível de condicionamento físico e ter dele a sua aprovação para a prática do exercício, comece imediatamente ! Na corrida aprendemos uma coisa curta e certa: correr pode não aumentar a duração da sua vida, mas certamente acrescentará muito mais vida aos anos que você ainda tem por viver !
oi, fred!!!
ResponderExcluirnossa, amei este artigo!
parece que foi escrito para mim rss
explico: é que justamente por esses dias, em que estou ainda me recuperando da fascite, e voltando aos poucos aos treinos, comecei a pesquisar sobre técnica de corrida...
eu treino muito em ladeiras, e acho que andei cometendo um errinho de principiante ao descer um ladeirão aqui em barueri/sp numa corrida de 8.5km de que participei em dezembro... a descida, de quase 100m em 1km, era bem no finalzinho da corrida... eu estava toda empolgada, e desci com tudo, pra tirar o atraso rsssssss e agora eu me vejo descendo: a passada bem aberta, colocando todo o peso do meu corpo no calcanhar, que tocava o solo bem a frente do meu centro de gravidade... uma semana depois, dor onde??? no calcanhar! fascite plantar...
comecei a pesquisar vídeos de grandes corredores, para tentar encontrar o que eles tinham em comum (veja bem, não é para imitar a técnica de um deles isoladamente, o que eu queria era justamente o que eles tinham em comum)
olhei, olhei... olhei mais uma vez, e eu vi o corpo deles alinhado... quenianos, americanos, índios tarahumaras: ombros, quadris, braços, pés em perfeita sintonia... encontrei semelhanças também no modo como o pé tocava o solo...
numa citação que você colocou em seu texto, o Fixx diz que é importante saber como se corre certo...
concordo! cada um de nós tem um jeito de correr, um estilo, mas a nossa corridinha pode se tornar ainda melhor se a gente conseguir lapidar esse estilo!
olha, amei de paixão uma frase sua: "às vezes a gente cura uma dor de corrida com repouso, às vezes com mais corrida, mas sempre com muita cautela."
e já peço licença pra colocar lá no meu blog;)
parabéns pelo excelente post!
anotei as dicas de leitura;)
abraços!
http://elismc.blogspot.com
Elis, minha querida!
ResponderExcluirse esses rabiscos conseguiram atingir e fazer feliz uma corredora do seu nível, a sua resposta conseguiu me emocionar de verdade.. juro !.. fiquei muito mais feliz do que você com esse comentário..prometo que vou continuar a série (desculpe se ela vai ser escrita aos pouquinhos, mas blog é assim mesmo, hehe.. a única maneira de a gente conseguir botar nessa gráfica eletrônica imensa, que é a internet, nossos projetos de artigos, livros, manuais, o que for). Eu sou muito atrevido em escrever sobre corrida, sabendo que vou ser lido por tanta gente boa que nem você e a turma das "baleias", já caminhando pra projetos até mais ambiciosos do que os que eu consegui concluir nesses 28 anos de amor ao esporte.. mas, juro, elis: faço isso de coração mesmo ! Pra mim nunca houve dor maior do que NÃO PODER CORRER! A gente se sente péssimo, o pior dos seres vivos do planeta, quando não pode por qualquer motivo, botar o pé na estrada, de madrugada, sentir o perfume da chuva no asfalto, no barro, na areia, sentir a brisa no rosto e ouvir os pássaros abrindo a sinfonia matinal.. Eu queria poder transmitir esse prazer pra todo mundo que ainda não o sentiu:
fazer parte dessa sinfonia, ser uma pequena nota nesse concerto divino é um privilégio que nós corredores de rua desfrutamos diariamente. Demos graças a Deus por poder fazê-lo ! Um beijo grande e volte logo às suas "ultras" !
Olha aí, Fred! Justamente quando me deu vontade de começar a correr, dou de cara com este ótimo artigo. Aumentou a vontade.
ResponderExcluirNaturalmente não pretendo ser maratonista nem mesmo participar de qualquer "corrida pedestre", mas fazer o que as pessoas comumente chamam de "cooper" parece ser uma boa idéia, mesmo para quem já está com 47 anos.
nunca é tarde para começar qualquer coisa, paulo.. principalmente a cuidar do corpo e da mente, como vc sempre cuidou, já que é um expert em exercícios físicos e lutas marciais.. eu comecei a correr aos 37 anos, depois de ter feito a besteira de fumar dos 18 aos 32.. vá em frente, comece caminhando e depois siga trotando e correndo até os 110 anos de idade..aí pode pensar em dar uma maneirada, hehehe
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