sábado, 15 de janeiro de 2011

OS TÁRTAROS

Eu tinha oito anos quando ganhei meu primeiro instrumento, uma gaita de boca Hering cromática, linda e sonora.  Foi presente de aniversário de minha tia Mary, que tocava acordeon e cantava no Coral do Carmo, no Recife. Logo aprendi umas melodias simples e levava a gaita sempre comigo, até os dez anos, quando fui estudar no Ceará, na Serra de Baturité e a perdi, numa dessas viagens.
                Só recomecei aos 16 anos, quando comprei um violão para acompanhar-me nas muitas serenatas que fiz pelo bairro de Casa Forte, com nossa turma.  Isso até o dia em que um amigo que estava montando uma banda de rock (naquele tempo, a gente dizia “conjunto de iê-iê-iê”) me convidou para participar.  Eu havia acabado de comprar minha primeira guitarra elétrica e estava mesmo doido pra montar um grupo.
             

Assim, em maio de 1965, fundamos “Os Tártaros” (nada a ver com dentes.. era uma referência aos povos bárbaros da Mongólia, do famoso guerreiro Gengis Khan). Atuamos muito nos clubes sociais, casas noturnas e estações de rádio e TV do Recife e por todo o Nordeste.  Aliás, hoje fazemos parte da história dos 50 anos de televisão pernambucana, citados que fomos num livro recentemente publicado para comemorar o cinquentenário.
                Os fundadores dos Tártaros foram José Araújo Neto (contrabaixo), Walter Neves (guitarra-solo), Djilson Beirão (baterista), eu (guitarra-base e órgão elétrico) e um saxofonista chamado Ferreira, que passou pouco tempo conosco.  Logo depois dele, convidamos o  Raimundo Carrero, hoje conhecido escritor que, naquele tempo chegava de Salgueiro para estudar no Recife e tocou sax-tenor conosco por pouco mais de um ano.
                Depois de Raimundo, veio o irmão do Walter, o Waldilson (guitarra-base) que ficou até o final desse primeiro grupo, em março de 1969, coincidentemente na mesma época em que os Beatles terminavam uma fase de ouro da música pop global.  Fomos também contratados pela maior fábrica de discos do Nordeste, a Rozemblit, tendo gravado vários compactos e também acompanhado outros artistas dos selos Mocambo e Artistas Unidos, pertencentes à Rozemblit.
                O conjunto foi refundado e ainda permaneceu na ativa por muito tempo, até os anos 90, pelo menos. Mas aí, já num caráter muito mais profissional, com uma troca constante de componentes, de forma que dezenas de músicos recifenses chegaram a tocar com o conjunto.
                Ano passado, por ocasião do aniversário do Djilson, juntamos muitos desses músicos conosco, participantes da primeira formação numa noite de muito rock e de muita alegria, juntamente com os familiares.  O evento foi por mim registrado em vídeo e oportunamente vou editá-lo para divulgação aqui no blog.


Quem viveu os anos 60, com toda aquela renovação de estilos musicais, comportamentais e de atitudes perante o mundo em crise, só pode lembrar com saudade de tempos românticos e ao mesmo tempo de uma intensa mudança que nos levou pela vida afora a outra visão do mundo, a outra visão da vida.

9 comentários:

  1. Tio Fred,
    que massa! Que fotos ótimas!
    Beijo bem grande
    Beta

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  2. José Araújo A. Neto15 de janeiro de 2011 às 19:11

    Fred, amigo e irmão Tártaro, foi muito bom o documentário feito por você, no aniversário de Djilson.Complementando com essa excelente matéria, onde registra fielmente a música dos anos 60 em que participamos e fomos fundadores em Recife, deste movimento musical como você bem disse no depoimento do seu documentário.
    Precisamos de nos reunir mais vezes para relembrar esta época e também compartilharmos com a música atual.
    Um forte abraço do irmão e amigo TÁRTARO, JOSÉ ARAÚJO.araujodp@gmail.com

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  3. Como é bom ter uma banda!:) É como uma família! Com os mesmo aperreios, diga-se de passagem...

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  4. Tive o prazer de, nos idos dos anos 80, pazer parte muito ligeiramente, dessa escola chamada "Os Tártaros", a convite de um grande amigo, o excelente tecladista Mário. Passei muito pouco tempo, um ano ou dois, talvez, mas o suficiente para aprender, aprender muito sobre música e profissionalismo artístico. Tenho muito saudade e orgulho dessa época em que os colegas se respeitavam, se ajudavam e, principalmente eram competentes para o ofício. Valeu 'Tártaros', valeu Mário. Gilson Sobral - gilsobral@globomail.com

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  5. amigo gilson ! realmente, como digo num documentário que fiz ano passado, por ocasião de uma festa pra comemorar os 63 anos do djilson e os 45 anos de fundação do conjunto os tártaros, nosso conjunto (hj chamam banda, né?) foi uma escola para muitos músicos do recife, incluindo o nobre amigo...quando fizemos 30 anos de fundação, em 1995, escrevi um livrinho de crônicas que chamei "tártaros, os seis do recife".. relembrar essas coisas todas, para nós, que fundamos os tártaros e todos os demais que continuaram esse trabalho tão belo, foi muito gratificante.. mário continuou nosso trabalho até bem pouco tempo atrás e djilson beirão foi o "tártaro" que mais tempo carregou nossa bandeira.. toda essa história nos emociona e faz ver que sempre valeu a pena acreditar na amizade, na fraternidade, na música e na paz e alegria que ela nos proporciona.. grande abraço, amigo/irmão tártaro mais novo.. e vamos seguir com nossa bandeira !!

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  6. Vocês tocaram na minha formatura do magistério. Olinda Praia Clube, 20 de dezembro de 1972.

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  7. Muito boa a matéria Fred, faz a gente lembrar dos tempos dos assustados e, claro, os Tártaros estão incluídos nesse contexto. Parabéns!!!
    Cristina Monteiro

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  8. Sou filho de Fred Maranhão, adorei este site e o vídeo que vi no youtube, sou fã numero 1 dessa banda.

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  9. Abraço grande, Guilherme. Outro também para o seu pai e meu xará Fred ! E viva a Música !

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