Como em tantos outros lugares do mundo civilizado, em Seattle músicos e outros excelentes artistas gostam de exibir-se nas ruas. Não sei por que aqui no Brasil essa coisa ainda não se tornou rotina. Estranhamente, tenho observado que, quanto mais civilizado o lugar, mesmo aqui no Brasil, mais fácil você presenciar em plena rua um concerto, uma performance artística, uma execução primorosa de instrumento. Basta dizer que certo dia, em Curitiba, em plena Rua das Flores, tive o prazer de - sentado no meio-fio da calçada de um Banco- assistir a uma apresentação de ninguém mais, ninguém menos que o grande pianista Arthur Moreira Lima.. O povo, educadamente, respeitosamente, ouviu e aplaudiu ao final de cada número em pé ou sentado, como eu, nas calçadas, o Mestre Arthur. Um exemplo de civismo e cultura. Aqui no Recife, a não ser os repentistas, violeiros ou pandeiristas de embolada, que por questões muito mais financeiras mesmo, que de pretensão artística, pouquíssimos músicos já ouvir tocar numa praça, numa rua movimentada, numa esquina famosa. Somente nas grandes festas de rua, como o Carnaval, principalmente, a gente ainda tem a sorte de se deparar com maestros e músicos de primeira linha tocando no meio do povo. E só. Qual o problema de sacar do estojo seu instrumento, deixar o tal estojo servir de bandeja para que o público retorne em cédulas ou moedas o seu prazer de ouvir uma música bem interpretada por um músico honesto, que está ali desempenhando a sua função ? Não sei... Fosse eu um grande músico, certamente não teria a menor vergonha de mostrar-me diretamente ao povo, sem bilheterias, palcos iluminados ou platéias a rigor.. Qual a diferença? Serão por acaso melhores os aplausos concedidos por um público de teatro, que os ofertados, emocionadamente, pelo popular que não tem o privilégio, nem o dinheiro suficiente para pagar caros ingressos, e somente pode render sua homenagem ao artista depositando umas cédulas ou umas poucas moedas no seu chapéu, ou no "case" do seu violão, do seu saxofone ? Um dia a gente muda essa mentalidade e os saltimbancos, músicos e artistas do mundo serão mais felizes pelos aplausos e pelas moedas tão merecidamente recebidos.
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