sábado, 30 de março de 2013

DALU E CEMINHA


Praça de Casa Forte - foto do autor
Quem não é de Casa Forte, pode não saber de quem estou falando.
Mas, quem for daqui e não conhecer, nem de ouvir falar, essas duas grandes mestras, da Escola Padre Donino, ou é muito novo, ou então chegou agora.
Elas foram responsáveis, durante uma vida inteira dedicada à Educação, com E maiúsculo mesmo, pela formação de uma legião de crianças e jovens que hoje ocupam posições de destaque  na sociedade pernambucana.
Idalina Costa Lima e Iracema Costa Lima, ou Dona Dalu e Dona Ceminha, foram estrelas raras num universo de idéias pálidas, nesse campo.
O amor que elas tinham pelo ensino era intenso.
Pelos alunos, também... sabiam ouvir e aconselhar cada um de nós, como segundas-mães afetuosas e ternas, porém firmes e rigorosas, no momento necessário.
Ceminha era a criatura mais doce que alguém pode imaginar.
E assim continuou por toda a vida, até encantar-se aos mais de 90 anos.
Há até bem pouco tempo, eu ficava muito feliz de vê-la cruzar com seus passinhos curtos, mas firmes, a calçada da velha Praça de Casa Forte.
Sempre que a via, parava para conversar com ela beijando, respeitosamente, a sua testa larga, enrugada de tanto amor.
Eu mesmo sou testemunha tanto do carinho de ambas, quanto dos puxavantes de orelha (mais do que merecidos que recebi) -nunca de Ceminha- mas de Dalu.
Também ela, que gostava demais de Matemática, insistia pra que eu estudasse e pelo menos procurasse gostar da matéria, que sempre me causou repúdio.
Eu ainda não consegui entender os números até hoje... sou um fracasso nessa área.
Certa vez, num 7 de Setembro, acho que de 1954, eu já na 4a. série primária fui "convidado como voluntário" a participar de uma cena de teatro escolar,  que Dalu dirigia,para integrar o quadro do Grito da Independência. Fui, mas fui muito amuado.
Achei muito infantil aquele negócio de um monte de meninos montados em cabos de vassoura com uma cabeça de cavalo pintada e recortada numa cartolina azul claro; chapéu de cartolina branca na cabeça, um laço de fita crepe azul no braço esquerdo, que teria que ser rasgado dramaticamente quando "Dom Pedro I", gritasse "Independência ou Morte".
E mais (essa era a pior parte para mim, que assistia, nos seriados do cinema Luan às lutas dos melhores espadachins do mundo): uma ridícula espada feita de um cone muito fino e comprido de papel do jornal Diário da Noite.
Mas, minha vingança foi total !
Com uma cara de meter medo, desafiando a História do Brasil, fui o único soldado a não romper os laços com a Coroa Portuguesa, recusando-me a rasgar a fita crepe do braço esquerdo e a levantar aquela espada fuleira de papel de jornal.
Salvei minha fama de valente espadachim, mas levei um puxavante de orelhas de Dalú. Mais um deles...pena que tenha sido o último. Terminei o Curso Primário, fui para o Ginásio São Luís.   Depois a Universidade, a vida e o tempo tomaram conta do resto. 

(do meu livro de crônicas "Caçador de Lagartixas", Recife, ed. Livro Rápido, 2008)