segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

FANFARRA SILVA JARDIM (UM DISCO ESPECIAL)

É grande meu amor pelas Bandas. Também pelas Fanfarras.
Quem, garoto ou rapaz feito, na sua juventude, não sonhou em tocar na banda da Escola e desfilar, garboso, nas paradas do Sete de Setembro ? As meninas sonhavam ser balizas e fazer malabarismos à frente da Fanfarra, sempre aplaudidas pela multidão que acompanhava os desfiles, sob o sol inclemente do Recife.
Sob um sol também inclemente, num dia quente de setembro de 2003, entrei na Quadra esportiva do Colégio Estadual Silva Jardim, para atender a um pedido da minha irmã Dulce.
Professora muito querida por todos de lá, hoje aposentada, havia-me solicitado que gravasse algum número da banda do Grupo. Dulce vivia me elogiando a banda, porque muitos dos seus alunos tocavam nela, eram meninos e meninas carentes e sonhavam em um dia ouvir a Fanfarra gravada. Desde logo, ela explicou que o Grupo Escolar, como todos os da rede pública, não tinha a menor condição de pagar um tostão que fosse pelo trabalho.  Não seria um disco oficial, pois. Não estava nos planos orçamentários da escola, que não dispunha de verba própria para qualquer pagamento desse tipo de coisa.
Eu disse a ela que não queria saber de dinheiro e que faria mais. E resolvi fazer. Gravei um disco inteiro. Seria meu presente para ela e para a meninada da banda.
Com autorização da Direção, ela combinou com o regente uma tarde para a gravação e lá vou eu, com toda a tralha de um estúdio de gravação, mesa digital portátil, microfones, pedestais, fones de ouvido, etc.
E lá estou eu, nesse belo dia, preparando tudo sob o sol das duas da tarde.  Alvoroço geral, quando entram na quadra cerca de 70 moças e rapazes, com uniforme impecáveis, prontos para a gravação e as fotografias.  Sim.  Porque também levei câmera e tripé para fotografar toda a turma, antes da sessão, a fim de preparar uma capa condigna para o disco.  Feitas as fotos, (foram muitas, por naipes de instrumentos e depois com toda a banda formada, com suas bandeiras e cartazes), iniciamos a gravação. Tudo realizado a contento, desmontei minha tralha e durante os dois dias seguintes, tendo o disco já mixado e masterizado, providenciei a impressão da capa, mandando fazer um número suficiente de cópias para entregar à Direção do Grupo, ao Regente e a cada um dos jovens músicos.

Missão cumprida.  Não me perguntem se a existência desse disco -ou o próprio- chegou aos ouvidos do Secretário de Educação, do Governador, ou de alguma outra autoridade do Estado.

Acho que não. Na verdade, tenho certeza que não.  Foi apenas um disco de uma banda juvenil.
Se bem que -pelo que sei- é um dos raros discos de Fanfarra gravados no Brasil todo.  Tenho conhecimento de uns dois ou três, de escolas do Sul do País, não mais que isso.
Apesar de tudo, levei o disco ao meu amigo Hugo Martins, da Rádio Universitária, onde ele apresenta e produz vários programas culturais, inclusive um dedicado à música marcial, e fizemos o devido "lançamento".
Tudo isso me veio à mente agora, 8 anos depois de ocorrido, quando eu estava catalogando meus muitos trabalhos de produção musical em 18 anos de atividade que farei no próximo mês de março de 2012.
Na verdade, eu fiz esse disco por 3 motivos: 1. para agradar a minha irmã; 2. para realizar o sonho de cada jovem musicista e músico ou baliza daquela fanfarra juvenil tão vibrante e sonora; 3. acima de tudo, fiz este disco para o menino que ainda existe em mim, e que sonhava tocar na banda da sua Escola também, marchando numa parada estudantil do Sete de Setembro, pelas ruas do Recife, tocando o seu tarol.
Só por isso.